• Nenhum resultado encontrado

Internacionalização das Instituições Brasileiras de Ensino e a Mobilidade Acadêmica

No documento Download/Open (páginas 62-69)

CAPÍTULO II INTERNACIONALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

2.1 Internacionalização das Instituições Brasileiras de Ensino e a Mobilidade Acadêmica

A peregrinação acadêmica, partir em busca do conhecimento, é um fenômeno antigo e faz parte da história da universidade. Esse movimento pode ser considerado como um dos primeiros indícios de internacionalização das IES (DUARTE et al., 2012).

Segundo dados da Education Indicators in Focus (201315), o número de estudantes matriculados em curso de graduação fora do seu país de origem aumentou de 1,3 milhão em 1990 para 4,3 milhões em 2011, e as expectativas eram de crescimento contínuo mesmo diante da crise mundial.

Em 2013, a Comissão Europeia lançou um comunicado intitulado “O Ensino Superior Europeu no Mundo”, com o intuito de promover o desenvolvimento de estratégias de internacionalização que permitam à Europa responder aos desafios globais de forma mais eficiente e assim concretizar os objetivos da estratégia Europa 2020 (CARVALHO; MAIA, 2014).

Diante desse panorama global, não é de se surpreender que no Brasil, no Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014), com vigência por 10 (dez) anos, a contar da data de publicação, a internacionalização da educação seja uma das estratégias contempladas:

Estratégia 12.12 - consolidar e ampliar programas e ações de incentivo à mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e pós-graduação, em âmbito nacional e internacional, tendo em vista o enriquecimento da formação de nível superior (PNE, Lei nº 13.005, 25/6/2014).

A internacionalização, também no Brasil, é um fenômeno antigo. Entre os anos de 1970 e 2000, de acordo com Mazza (2009), 16.000 brasileiros, das áreas das Ciências Humanas, Exatas e Biológicas, oriundos de diferentes Estados e

15 Disponível em: https://www.oecd.org/education/skills-beyond-school/EDIF%202013--N%C2%B013%20(eng)-

instituições, realizaram parte da sua formação profissional com bolsa de estudos em outros países obtendo esses dados a partir das listas nominativas de bolsistas no exterior, fornecidas pelas agências de fomento: CAPES, agência ligada ao Ministério da Educação; o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia; e a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ligada ao governo do Estado de São Paulo.

A partir de 2001, com as “parcerias universitárias” e “consórcios de universidades”, o país acelerou a inserção internacional das universidades brasileiras, originando programas bilaterais que financiam projetos conjuntos de pesquisa (IORIO; FERREIRA, 2013).

A evolução do número de estudantes no exterior, de 1999 a 2013 conforme dados publicados pelo Instituto de Estatística, da UNESCO (UNESCO-Institute for Statistics16) está apresentada na Figura 1.

Figura 1. Evolução do número de estudantes brasileiros estudando no exterior no ensino superior.

Fonte: Elaborado pela autora a partir dados da UNESCO (Institute for Statistics, 2014).

Em 2013, havia 32.051 estudantes brasileiros estudando no exterior, na educação superior (Fig.1). Um aumento de 97% no número de alunos em

16

Unesco - http://www.uis.unesco.org/Education/Pages/international-student-flow-viz.aspx. Acesso em 16 out. 2016 16268 32051 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Núm e ro de e s tud a nte s e m m ob il id a de

mobilidade no período analisado. Também, segundo dados da UNESCO (Institute for Statistics17), os dez principais países de destino são: Estados Unidos (12.631), Portugal (5.218), França (4.032), Alemanha (2.520), Reino Unido (2.184), Espanha (1.346), Austrália (962), Canadá (915), Itália (877) e Cuba (674).

Com base no Relatório CAPES (2015, p.52), no âmbito dos programas de ações de cooperação e fomento à mobilidade acadêmica internacional (ação orçamentária 0487) foram beneficiados, ao longo de 2015, 7.499 bolsistas. Os principais países de destino foram França (1.061), Portugal (1.090), Estados Unidos (674), Espanha (504) e Reino Unido (434). Nesse caso, incluindo alunos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado).

Em 2011, com a implantação do programa “Ciência sem Fronteiras”, que visava à mobilidade para universidades estrangeiras de estudantes, professores e pesquisadores mediante bolsa de estudo, houve uma expansão muito maior (FERREIRA, 2012. p. 459). Criado pelo Decreto nº 7.642, de 13 de dezembro de 2011, o Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) tinha por objetivo geral, nos termos do art.1º do documento legal, “propiciar a formação e capacitação de pessoas com elevada qualificação em universidades, instituições de educação profissional e tecnológica e centros de pesquisa estrangeiros de excelência”. O CsF foi colocado sob a responsabilidade da CAPES e do CNPq, agências governamentais que já dispunham de experiência na concessão de bolsas de pós-graduação no exterior, além de bolsas de diversas naturezas no Brasil. O número e a distribuição de bolsas concedidas no Programa CsF de 2011 a 2014 estão apresentados na Figura 2 e na Figura 3.

17

Unesco - http://www.uis.unesco.org/Education/Pages/international-student-flow-viz.aspx. Acesso em 16 de outubro de 2016.

Figura 2. Número de bolsas concedidas no Programa Ciência sem Fronteiras.

Fonte: Elaborado pela autora a partir dados do Relatório de Avaliação do Programa CsF, Senado/Brasil (BRASIL, 201518).

Figura 3. Distribuição de bolsas concedidas no Programa Ciência sem Fronteiras.

Fonte: Elaborado pela autora a partir dados do Relatório de Avaliação do Programa CsF, Senado/Brasil (BRASIL, 201519).

18

Relatório de Avaliação do Programa Ciências sem Fronteira. (BRASIL, 2015). Disponível em:

http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/185018.pdf. Acesso em 14 out. 2016.

19

Relatório de Avaliação do Programa Ciências sem Fronteira. (BRASIL, 2015). Disponível em:

No âmbito do Programa CsF, 13 chamadas de graduação sanduíche, lançadas em 2014, tiveram o desenvolvimento das atividades dos bolsistas no exterior ao longo de 2015. Em 2015, a CAPES manteve 35.223 bolsas ativas no exterior no âmbito do referido Programa (CAPES, 2015, p.51).

Pode-se verificar que há mais de 100 mil brasileiros estudando no exterior, com algum tipo de bolsa de estudo financiada pelo governo (Fig. 2 e 3). Esse número pode chegar a mais de 250 mil, conforme Maura Leão, presidente da Associação Brasileira de Organizações de Viagens Educacionais e Culturais (Belta20). Essa associação reúne as principais instituições brasileiras que trabalham nas áreas de cursos, estágios e intercâmbio no exterior.

O custo para estudar fora do país é elevado, principalmente para estudantes que não possuem financiamento. A título de comparação, na Figura 3 estão apresentados os valores aproximados de anuidades das principais universidades do mundo, segundo avaliação do World University Rankings by Subject (201621).

Figura 4. Anuidade das principais universidades do mundo (valor em dólar).

Fonte: Programa estudar fora22.

20

http://www.belta.org.br/quem-somos/revista-ei.php acesso em 20 nov. 2016.

21

http://www.topuniversities.com/subject-rankings/2016 acesso em 20 nov. 2016.

22

http://www.estudarfora.org.br/quanto-custa-estudar-nas-melhores-universidades-do-mundo/.Acesso em 16 out. 2016.

Os dados apresentados na Figura 4 podem dar uma indicação dos valores gastos pelo governo brasileiro com o Programa CsF. Segundo a análise efetuada por Marques (2017), entre os anos de 2011 e 2017 foi aplicado um montante de R$ 13,2 bilhões para a concessão de 104 mil bolsas. Do total desse recurso, R$ 6,4 bilhões foram recursos investidos em bolsas e R$ 5,9 bilhões foram faturas pagas às universidades parceiras. Esse valor deve chegar a aproximadamente R$ 15 bilhões até 2020, quando se encerram todas as bolsas vigentes. O Programa CsF foi encerrado em abril de 2017. Com o término desse programa também se observou decréscimo significativo das bolsas de intercâmbio para estudantes de graduação, principalmente nas universidades públicas. Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)23, Carlos Roberto Cury, essa redução é um desfecho cruel da crise econômica.

A cooperação internacional e a mobilidade acadêmica são aspectos estratégicos do desenvolvimento de um país, motivo de serem componentes de fundamental importância das agências de fomento, a exemplo da CAPES.

A internacionalização é encorajada de uma maneira ampla, não apenas através da mobilidade de discentes e docentes, mas também na troca de ideias, na integração da dimensão internacional ao ensino, pesquisa e extensão, funções das instituições de ensino superior (CAPES, 2017, p.6).

Esse fato reforça ainda mais a necessidade de uma avaliação rigorosa dos programas de internacionalização financiados pelo governo e seus impactos no desenvolvimento tecnológico, de serviços e inovações. Este capítulo trouxe no seu escopo um cenário sobre a internacionalização, em especial, a internacionalização do ensino superior. Mostrou também alguns dados sobre a mobilidade acadêmica no Brasil e os valores envolvidos nesses processos, tendo como exemplo um dos programas recentes mais conhecido - Ciência sem fronteira (CsF). Partindo dos conceitos sobre internacionalização ativa e passiva apresentados nesse capítulo e com as informações mostradas sobre o CsF, pode-se perceber que o país tem assumido muito mais uma política passiva de internacionalização, uma vez que o investimento está centrado na mobilidade de docentes e discentes para o exterior,

23

http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,com-fim-do-ciencia-sem-fronteiras-intercambio-em-graduacao- cai-ate-99,70002090320. Acesso em 21 abr. 2018.

do que o inverso.

No próximo capítulo será apresentado um panorama sobre a educação no Brasil, com ênfase no ensino superior, subsidiado pelos relatórios gerados por órgãos associados ao Ministério da Educação.

No documento Download/Open (páginas 62-69)

Documentos relacionados