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3 ESTRATÉGIA INTERNACIONAL: CONTEXTO, MOTIVAÇÃO E CAMINHOS

3.2.2 Internacionalização de empresas

Há diferentes abordagens teóricas para caracterizar a internacionalização da empresa enquanto fato concreto. Alguns autores oferecem uma visão mais restritiva, indicando que internacionalização estaria ligada necessariamente a oferta de produtos ao exterior. Em uma visão mais ampla, como veremos adiante, diversos autores indicam que internacionalizar a

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In summary, most measures of cross-border economic integration have increased significantly in the last few decades, but still fall far short of the theoretical extreme of total integration. This empirical conclusion of semiglobalization is valuable in and of itself given the ongoing debate between two polar perspectives: one maintaining that we have achieved a state of (near) globality, in which there is so much integration across national borders that the latter can, for many practical purposes, be ignored, and the other professing kepticism that there is anything fundamentally new about the levels of cross-border integration that have been achieved to date (GHEMAWAT, 2003:146, grifo do autor).

empresa implica levar a empresa a fazer negócios com o exterior, seja de venda, seja de compra, sejam outras formas de negociação envolvendo parcerias, trocas, fusões, transferências tecnológicas, cessão de uso de marcas e patentes, entre outras formas de relacionamento internacional.

Ressalte-se, no entanto, que boa parte dos modelos teóricos dá conta da situação de venda ao exterior. Possivelmente porque boa parte das empresas de países desenvolvidos logra êxito em atividades internacionais vendendo seus produtos a diferentes países estrangeiros, enquanto as empresas de países emergentes ainda se encontram no pólo passivo dessa relação (como distribuidoras locais de produtos importados ou produtoras locais de itens desenvolvidos em outros países) ou simplesmente têm como prioridade a internacionalização de seus negócios apenas para adquirir know-how para garantir suas operações domésticas. Essas questões, no entanto, são alvo desta pesquisa, cujos resultados serão apresentados ao final do trabalho. Nas seções seguintes, apresentam-se as visões de diferentes autores sobre modelos de internacionalização em seus diferentes matizes.

Segundo Garcia; Lima (2005), a internacionaliação consiste na “ obtenção de parte ou totalidade do faturamento a partir de operações internacionais, seja por meio de exportação, licenciamento, alianças estratégicas, aquisição de empresas em outros países, seja pela construção de subsidiárias próprias” (FUNDAÇÃO DOM CABRAL, 2002: 5 apud GARCIA; LIMA, 2005). Os mesmos autores enumeram os principais modos de internacionalização, com ênfase pelos mais utilizados por empresas de menor porte:

Vários são os modos de internacionalização que uma empresa pode adotar: exportação indireta, exportação direta, consórcio de exportação, subsidiária própria no exterior, jointventure, licenciamento, investimento direto e franchising que são trabalhados por diversos autores (ANDERSON; GATINGNON, 1986; ANDERSON; COUGHLAN, 1987; KOTABE; HELSEN, 2000; KOTLER, 2000). Em comparação às demais modalidades, as pequenas e médias empresas têm-se utilizado mais dos três primeiros modos devido, principalmente, ao menor grau de comprometimento, investimento e riscos envolvidos (NOONAN, 1999; JEANNET e HEBESSEY, 2001; PALIWODA e THOMAS, 2001, BENKO, 1999 apud GARCIA; LIMA, 2005:1).

Segundo UNCTAD (2006), a decisão e o processo de internacionalização derivam da busca de vantagens competitivas que permitirão à empresa aumentar e/ou proteger a sua lucratividade e seu valor:

A base lógica para o IDE por parte das empresas num mercado global é aumentar ou proteger a sua rentabilidade e / ou valor do capital. Uma das maneiras em que TNCs estão atingindo este objetivo é a engajar-se em IDE, quer para melhor explorar as suas vantagens competitivas já

existentes ou para proteger, aumentar ou acrescentar a estas vantagens. Os drivers econômios e políticos que desencadeiam a internacionalização da TNC (ou resultam na sua maior expansão no exterior) podem ser muito abrangentes, mas incluem frequentemente um mercado doméstico pequeno (relativamente às operações ou ambições da empresa), às pressões concorrenciais (que se intensificam em um mundo cada vez mais liberal) e às políticas governamentais destinadas a incentivar a expansão externa. Estes drivers podem variar, com diferentes impactos sobre as empresas, dependendo, por exemplo, da sua situação concorrencial, motivações e escolhas. (UNCTAD, 2006:142, grifos do autor).

A decisão de internacionalização, portanto, pode ser motivada tanto pela percepção de ameaças nos mercados locais quanto pela identificação de oportunidades de (a) aproveitar vantagens competitivas existentes (asset exploiting) e/ou (b) buscar complementar as vantagens atuais, expandindo suas possibilidades de atuação (asset aumenting) em mercados estrangeiros. Estas duas opções estratégicas não são excludentes e se combinam de várias formas em um processo dinâmico, que geralmente visa a corrigir desequilíbrios entre os ativos da empresa, e do qual o aprendizado constitui um aspecto fundamental.

Portanto, as empresas se internacionalizam buscando “vantagens econômicas ou estratégicas que não estão acessíveis à organização na sua atuação exclusivamente no mercado interno” (GRINGS; RHODEN, 2005). A decisão quanto a internacionalizar-se ou privilegiar o mercado interno “decorre da busca de: (i) mercados, (ii) matéria-prima, (iii) eficiência de produção ou redução de custos; (iv) conhecimento e acesso à tecnologia ou (v) segurança e diversificação de riscos” (EITEMAN, STONEHILL e MOFFETT, 2002, apud GRINGS; RHODEN, 2005).

Uma vez tomada a decisão quanto ao investimento no exterior, sua implementação – onde,

quanto, quando e como investir – constitui uma questão complexa, especialmente para

MNCs originárias de países em desenvolvimento (que constituem o principal interesse do presente trabalho). Segundo UNCTAD (2006), estas questões podem ser abordadas utilizando uma variante da teoria da firma internacional denominada Investment Development Path (IDP), baseada nas premissas de que (a) o aprendizado (experiential learning) constitui um aspecto fundamental do processo e (b) o ritmo e a forma da internacionalização são determinados pelas interações dinâmicas entre “o comprometimento crescente com o mercado externo e o aprendizado adquirido no processo, incluindo os assim chamados learning

feedback loops” (JOHANSON; VAHLNE 1977, BLOMSTERMO; SHARMA 2003,

São de especial interesse as peculiaridades das MNCs de países emergentes (emerging TNCs), em particular as diferenças entre estas e as MNCs originárias de países desenvolvidos. Segundo a teoria do IDP, o nível de investimento externo de/para (outward/inward) um país está relacionado com o seu grau de desenvolvimento econômico. Consideram-se cinco os estágios, de subdesenvolvido (least developed) a desenvolvido (developed), durante os quais os fluxos de investimento externo evoluem de quase nulos a elevados e equilibrados (DUNNING 1981, 1986, 2005; DUNNING; NARULA 1996, DUNNING et al 1998). O quadro abaixo resume estes estágios e suas características.

A teoria do IDP tem sido corroborada por pesquisas conduzidas por UNCTAD*, que têm indicado forte correlação entre os níveis de PIB/capita (GDP/capita) e investimento externo líquido per capita, (NOI/capita) em pesquisas conforme se pode verificar no gráfico a seguir. Para chegar a essa conclusão,

Um total de 135 países foi incluído na equação de regressão, que postula uma relação entre o nível de desenvolvimento e ao investimento externo líquido (NOI) posição dos países (ou seja IDE menos introspectivas IDE). Apenas um número reduzido de países tem sido indicado na figura, a título ilustrativo. Os pontos sobre o fundo eixo em que os estádios estão divididos entre si, foram escolhidos para corresponder com previsões teóricas sobre a relação entre as NOI e o nível de desenvolvimento, e neste sentido são fictícios. Estes pontos dividindo as fases são aproximadamente US $ 2500 (entre as fases 1 e 2), US $ 10.000 (entre as fases 2 a 3), US $ 25.000 (entre as etapas 3 e 4), e US $ 36.000 (entre as etapas 4 e 5) (UNCTAD, 2004, apud UNCTAD , 2006:144).

Gráfico 2.5-2 – Relações entre PIB/capita (GDP per capita) e investimento externo líquido per capita, (NOI per capita), 2004

Fonte: extraído de UNCTAD, 2006:144

Segundo Dunning (2005); Liang (2006) (apud UNCTAD, 2006), embora os dados dêem suporte à teoria IDP, a mesma apresenta limitações e outros fatores além do PIB/capita – tais como “different levels and patterns of industrial development, [...] government policies [and]

contextual issues, especially location-specific aspects [...]”, influenciam e devem ser

considerados para a análise da posição líquida dos investimentos externos (NOIP) de um determinado país.

Feitas estas considerações gerais sobre a decisão de internacionalizar a empresa, a seção a seguir examina as razões e motivações presentes no processo de internacionalização.