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4 MARKETING INTERNACIONAL

4.6 Segmentação, targeting e posicionamento em mercados globais

4.6.1 Marketing estratégico em mercados globais

Segundo Kotler (2000), em virtude da mudança das fronteiras, das questões ligadas a legislações e governos e ao câmbio, além dos altos custos de adaptação de produtos e de comunicação – para citar apenas as principais - o marketing global constitui uma atividade mais arriscada do que a atuação doméstica, embora oferecendo prêmios proporcionalmente maiores.

Conforme já discutido acima, ao considerar um mercado estrangeiro, a empresa deve inicialmente avaliar as características econômicas, legais e culturais desse mercado; avaliar qual proporção das vendas totais deverá ser obtida com as atividades no estangeiro; com quais produtos e em quais países; e finalmente decidir em quais mercados ingressar (sementação e targeting) – o que por sua vez exige uma avaliação dos prováveis retornos em comparação com os riscos – e como ingressar em cada um destes mercados (posicionamento).

O processo de internacionalização inclui ainda decisões sobre as formas de atuação - exportações diretas ou indiretas, licenciamento, investimento direto, bem como o ritmo e forma da evolução de um formato para o outro, geralmente envolvendo um crescente

comprometimento de recursos. Também envolve decidir sobre a adaptação do programa de marketing – desde a padronização total do mix de marketing até a adaptação total a cada mercado, segmento ou até cliente específico – bem como sobre a estrutura organizacional mais adequada, desde a simples criação de um departamento de exportação até uma organização de divisão internacional. Kotler (2002) afirma ainda que

uma empresa não pode servir a todos em mercados amplos, porque os clientes são demasiado numerosos e diversificados em seus requisitos de compras, de modo que é necessário olhar para segmentos específicos de mercado aos quais possam servir mais eficazmente. Escolher mercados exige três grandes etapas: (1) Identificar perfil de grupos distintos de compradores que possam exigir produtos ou compostos de marketing separados; (2) selecionar um ou mais segmentos de mercado para conquistar (mercado alvo), e (3) definir e comunicar os principais benefícios distintivos dos produtos no mercado (posicionamento mercado) (KOTLER, 2002)27

O trabalho de Rahman (2006), baseado em pesquisa com empresas exportadoras autralianas de sucesso, propõe um modelo de análise de mercados estangeiros, a partir dos indicadores de (a) custos, (b) compatibilidade estrutural e (c) políticas. O autor afirma haver consenso entre os autores de referência sobre o assunto quanto à necessidade a (a) uma avaliação tão profunda quanto possível das características gerais do mercado-alvo (b) tão cedo quanto possível, avaliar o tamanho do mercado e o nível de atividade econômica do país-alvo e (c) estimar com a maior precisão possível os custos de marketing decorrentes das políticas do governo local (barreiras tarifárias e não-tarifárias), bem como (d) os custos de distribuição e de vendas. O quadro abaixo resume estas considerações:

Tabela 4.6-1 – Variáveis relevantes do ambiente operacional Fonte: extraído de Rahman (2006)

27 a company cannot serve everyone in broad markets because the customers are too numerous and diverse in their buying requirements, so it is necessary to look for specific market segments that they can serve more effectively. Target marketing requires marketers to take three major steps: (1) Identify and profile distinct groups of buyers who might require separate products or marketing mixes (market segmentation); (2) select one or more market segments to enter (market targeting); and (3) establish and communicate the products‟ key distinctive benefits in the market (market positioning). (KOTLER, 2002)

Uma vez definidos os segmentos de mercado nos quais vai atuar, a empresa enfrenta o desafio de estabelecer e comunicar sua oferta aos clientes. Segundo Crego e Schiffrin (1995, apud KOTLER, 2000) as organizações devem estudar os valores para os seus clientes, cumprindo as etapas de (a) definir o modelo de valores para o cliente, (b) estabelecer a hierarquia de valores para o clienten e (c) decidir o pacote de valor para o cliente. Para conquistar um posicionamento sólido na mente dos cliente-alvo, a oferta da empresa deve se diferenciar das ofertas da concorrência, portanto diferenciação é o ato de desenvolver um conjunto de características significativas para distinguir a oferta da empresa das dos concorrentes, combinando as principais variáveis de diferenciação: Produto, Serviços, Pessoal, Canal, Imagem.

Os produtos variam muito quanto ao potencial para diferenciação. Os principais parâmetros da diferenciação do produto são: características, desempenho, conformidade, durabilidade, confiabilidade, estilo e design. Mesmo que o produto não ofereça grandes oportunidades para diferenciação, o serviço ao cliente pode ser o caminho para elaborar uma oferta de valor superior para o cliente. Entre os principais serviços geralmente percebidos como de alto valor, Kotler (2000) enumera, facilidade de pedido, entregas rápidas e precisas, serviços de instalação, treinamento suporte e orientação ao cliente e garantias de manutenção e conserto. O pessoal de uma empresa pode constituir um diferencial tão importante quanto o produto e os serviços, principalmente quando estes constituem uma parcela importante da oferta. Competência técnica, cortesia, credibilidade e confiabilidade, capacidade de comunicação e resposta ao cliente são exemplos de competências pessoais que podem constituir elementos de diferenciação importantes, tanto em mercados industriais quanto junto aos consumidores. Finalmente, o domínio dos sistemas e canais de distribuição pode constituir uma fonte de diferenciação, em relação a desempenho, cobertura, experiência e reputação junto ao mercado.

Finalmente, a imagem de uma empresa/produto é o resultado final de todos os aspectos discutidos até aqui; clientes reagem a uma oferta de marketing de acordo com a imagem que estabelecem do produto e da empresa. Enquanto a maneira como os profissionais de marketing procuram diferenciar e posicionar sua oferta constitui a identidade de uma empresa/produto, a imagem é como os clientes a veem. A imagem é construída ou reforçada a partir de símbolos, mídia, atmosfera e eventos; também é preciso manter em mente que nem todas as formas de diferenciação são significativas. De forma geral, a diferenciação deve

atender aos critérios de importância, destaque, superioridade, exclusividade, disponibilidade (de poder de compra do cliente-alvo) e rentabilidade: a diferença deve proporcionar lucro

superior.

Uma vez estabelecidas as bases para a diferenciação da empresa/produto, o posicionamento constitui “o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de maneira que ocupem uma posição competitiva distinta e significativa nas mentes dos consumidores” (KOTLER, 2000). O autor destaca que o princípio fundamental do posicionamento é escolher um atributo – ou combinação - relevante e promover-se como o primeiro nesse atributo.

Ainda segundo Kotler (2000), “empresas líderes só precisam procurar defender esta posição”, enquanto os concorrentes podem optar por uma (ou combinações) das estratégias de reforçar a posição atual, ocupar uma posição “vazia” ou buscar desposicionar a concorrência, atacando a posição do líder. Em resumo, a recomendação do autor é: “Escolha um posicionamento e faça-o verdade em todos os processos de marketing.” (idem). A falha em seguir esta recomendação traz os riscos de subposicionamento (os atributos de diferenciação não são vistos como tal); superposicionamento (imagem muito estreita ou distorcida); posicionamento confuso (muitos apelos e/ou mudanças) e posicionamento duvidoso (os compradores podem achar difícil acreditar em certos atributos). Finalmente, é importante que o posicionamento seja comunicado de forma eficaz e coerente.

Uma vez definidos os segmentos de mercado nos quais a empresa pretende atuar – o que, em se tratando de marketing interncaional, inclui identificar (a) os países, (b) as regiões e finalmente (c) os segmentos específicos em cada região geográfica - e o posicionamento a ser buscado em cada um destes segmentos, a empresa precisa formatar o seu marketing mix. Conforme já salientado anteriormente, a questão central da padronização x adaptação, presente desde a definição das estratégias empresarias (capítulo 4) e de marketing (itens anteriores deste capítulo) condiciona a construção de cada uma das ferramentas de marketing, como se verá a seguir.