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CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS

2.1 Internet e índices sócio-econômicos

A pesquisa de 2010 sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil do Comitê Gestor de Internet no país mostra que em áreas urbanas 39% da população possuem computador e nas áreas rurais esse número cai para 12%. Mas o principal contraste que o estudo traz é mostrado quando se faz a relação entre a renda familiar e o acesso a tecnologias como o computador e a internet.

O acesso ao computador em domicílios chega a 93% nas famílias de classe social A. Esse número cai conforme os salários diminuem, com 76% na classe B, 34% na classe C e 5% nas classes D e E. A classe C, com seus 34% de acesso a computadores, representa mais da metade da população brasileira (55,05%) segundo o estudo de 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV)5. Há também diferenças em relação às regiões do Brasil. Os computadores estão presentes

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Os dados retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no site www.fgv.br/cps - acessado dia 11/09/2011.

em domicílios, distribuídos da seguinte forma: 45% no Sudeste, 42% no Sul, 40% no Centro-Oeste, 23% no Norte e 14% no Nordeste (Fonte: NIC.br - set/nov 2010)6.

Quando se trata de internet os números são ainda mais baixos, com 3% de acesso das classes sociais D e E, 24% da classe C, 65% da população pertencente à classe B e 90% daqueles que são considerados economicamente pertencentes à classe A brasileira. Em área urbana a população que possui internet corresponde a 31% e 6% na região rural. O que significa que nem metade da população brasileira tem acesso à internet.

Enquanto a classe C representa 105.468.908 de habitantes (55,05% da população), com renda domiciliar mensal entre dois a nove salários mínimos, a classe A e B juntas correspondem a 11,75% dos brasileiros (22.526.223 de habitantes), com uma faixa salarial por família acima de nove salários mínimos, não esquecendo que ainda há mais de 63 milhões de pessoas sobrevivendo com no máximo R$ 751,00 ao mês7. Quando o assunto é computador e internet, a acessibilidade acompanha a desigualdade social presente na realidade do país.

18% 24% 27% 0 5 10 15 20 25 30

Percentual sobre o total de domicílios

2008 2009 2010

Gráfico 1 – Internet em domicílios brasileiros Fonte: NIC.br – set/nov 2008 – 2010

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Dados acessados a partir do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação. www.cetic.br – acessado em outubro/2010 e setembro/2011.

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Os dados sócio-econômicos foram retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, atualizados até o ano de 2011. www.fgv.br/cps - acessado dia 11/09/2011.

De acordo com o gráfico acima, com dados do Comitê Gestor de Internet do Brasil, é possível observar que ainda é baixa a porcentagem de domicílios que possuem internet no país. O gráfico representa os domicílios brasileiros – rurais e urbanos – que possuem internet e mostra que gradativamente esse quadro está se alterando e conforme passam os anos o acesso aumenta, embora de 2009 a 2010 o crescimento seja menor se comparado a 2008. Porém, é necessário que tal cenário ainda se modifique e continue aumentando o número de pessoas com acesso a esse meio, o que deve ser discutido pelas propostas e políticas de inclusão digital. Essa apresentação da acessibilidade à internet é apenas para ilustrar a situação brasileira, demonstrando o que Aldé, Escobar e Chagas (2007) discutem ao dizer que essa ainda é uma tecnologia restrita devido a fatores econômicos.

Foi apresentado apenas o uso da internet em domicílios pois a maior parte da população utiliza-a em suas casas: dados do mesmo documento mostram que 57% das pessoas acessam a internet em seus lares, 34% em centro público de acesso pago, 27% na casa de outra pessoa, 22% no trabalho, 14% na escola e 4% em centro público de acesso gratuito. Esses dados mostram que a internet pode e é acessada em outros lugares e não apenas em domicílios, o que aumenta o número de pessoas utilizando esse meio no país. Porém, se apenas 27% da população possui internet em suas casas e somente 4% utiliza-a em locais públicos de acesso gratuito, percebe-se que ou existem poucas formas de inclusão digital no Brasil, deixando uma grande parcela populacional fora das redes digitais, ou as políticas de incentivo e instrução são ineficientes. De toda forma, há uma desigualdade visível e grande quando o assunto é acesso ao meio de comunicação internet.

Em relação à área urbana, que concentra o maior número de usuários de internet, é possível observar através das pesquisas voltadas especificamente ao uso de computadores e internet do Comitê Gestor da Internet no Brasil que seu uso pode ser dividido nas seguintes atividades: comunicação, busca de informações, lazer, serviços financeiros e educação.

Tabela 1 – Tipos de atividades realizadas por usuários de internet no Brasil 2007 2008 2009 2010 Comunicação 89% 90% 90% 94% Busca de Informação 87% 83% 89% 87% Lazer 88% 86% 86% 87% Serviços Financeiros 18% 16% 14% 17% Educação 73% 72% 72% 66%

Fonte: CETIC.br/CGI.br/NIC.br – set/nov 20108

A comunicação tem sido o maior motivo de uso da internet com crescimento de 2007 a 2010, conforme demonstra a tabela 1. Mas além da comunicação, a internet é utilizada para diversas outras atividades, sendo que uma não exclui a outra e através dos percentuais apresentados acima é possível perceber que o usuário acessa a internet com diversas finalidades e não uma apenas. Mas trazendo esses dados para o presente estudo destacam-se duas informações: o uso para comunicação e busca por informações.

É possível observar que no Brasil aqueles que utilizam a internet fazem grande uso do dispositivo para as duas atividades citadas acima. Embora comunicação englobe diversas formas e tipos, a exposição de pensamentos e opiniões também é uma forma de se comunicar, remetendo a comentários em weblogs inclusive, lembrando que hoje as redes sociais são o principal instrumento de comunicação on-line. A busca por informação também, mesmo que tenha sido apresentado um dado de forma generalizada, visto que por informação entende-se todo e qualquer tipo de instrução ao conhecimento, dentre os assuntos está a política, eleições e campanhas, principalmente em períodos eleitorais. Mostra que o internauta brasileiro utiliza sim o ciberespaço para lazer, mas que os índices de busca por informações são tão altos quanto, sinalizando um bom indicador do uso da internet pelos brasileiros, ainda que os dados remetam apenas às áreas urbanas por não haver pesquisas sobre o assunto nas áreas rurais.

O período de campanha analisado de compreende 90 dias de propaganda política (primeiro turno – de seis de julho a três de outubro de 2010). Nesse espaço de tempo os blogs analisados produziram ao todo 617 postagens, com 12.457 comentários. O grande percentual de busca por informação e a quantidade de postagens no período estudado

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Pesquisa realizada através da parceria entre o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação (CETIC.br). www.cetic.br – acessado dia 11/09/2011.

demonstram que seguindo à tendência de um dos usos da internet pela população, os candidatos buscaram postar diariamente notícias em forma de postagem, principalmente Dilma Rousseff e Marina Silva, além de outros conteúdos que estiveram presentes nos blogs e não entram como postagem, mas podem ser considerados informação ao internauta e constam na análise descritiva de cada rede social analisada. E a comunicação é claramente o maior motivo de acesso das pessoas à internet, o que é possível perceber, de certa forma e voltando-se ao presente estudo, por meio do número de comentários de internautas nas postagens. É expressiva a interação que houve entre população e as postagens dos políticos estudados, mostrando que a comunicação é a maior forma de utilização que as pessoas dão à internet e que isso reflete-se também em blogs políticos, com grande número de comentários – considerando ainda que uma parcela destes não entrou devido à moderação e que o blog de José Serra não disponibilizou espaço para tal.

2.2 O USO DOS MEIOS ON-LINE DE COMUNICAÇÃO E SUA VERTENTE