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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CAMILA WADA ENGELBRECHT

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DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010

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CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

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CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Setor de Ciências Sociais Aplicadas.

Ponta Grossa, _____ de _____________ de 2011.

_______________________________________ Orientador: Emerson Urizzi Cervi

_______________________________________ Professor (a) do Departamento de Comunicação

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

Ata de Avaliação de Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ)

Aos ____ dias do mês de _____________ do ano de 2011, nas dependências do curso de Comunicação Social – Jornalismo, situado no Campus Central da Universidade, reuniu-se a Banca Examinadora composta por:

__________________________________________ (Orientador) __________________________________________ (Convidado)

__________________________________________ (Professor Indicado pelo Departamento)

para avaliação do Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) sob o título ______________________________________________________________________, de autoria de ______________________________________.

Após apresentação e questionamentos realizados pelos membros da Banca, chegou-se aos seguintes resultados:

Professor orientador, nota (___) Convidado, nota (___)

Professor indicado pelo Decom, nota (___) Nota Final (___)

Aprovado (___) Reprovado (___)

Indicado para reapresentação (___)

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TERMO DE RESPONSABILIDADE

DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL

Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo sob o título DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS – O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010, atestando que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme normas e padrões da ABNT vigentes.

Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente caso infrinja tais disposições.

Ponta Grossa, 24 de outubro de 2011

Nome: Camila Wada Engelbrecht Número do RA: 081040667

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AUTORIZAÇÃO

Ponta Grossa, _____ de ____________ de 2011.

Eu, _______________________________, estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, portador do R.G _________________ e R.A. ______________, autorizo o Departamento de Comunicação a divulgar por qualquer meio de comunicação o produto artístico/científico intitulado _______________________________________________, desde que tal exibição não resulte em ganho financeiro para nenhuma das partes envolvidas.

Assumo, para todos os fins, total responsabilidade pela autoralidade do conteúdo escrito, de áudio e visual constante neste produto.

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Agradecimentos

São muitas as pessoas e instituições que tiveram papel fundamental para minha formação e conclusão deste trabalho. Minha gratidão é a todos que fizeram parte desses quatro anos de graduação em jornalismo, que de alguma forma contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional, pelo apoio, incentivo, companhia e ensinamentos.

Pela compreensão, amor e apoio incondicional, agradeço primeira e principalmente à minha família, que esteve sempre ao meu lado. Aos meus pais, Maria Regina Wada Engelbrecht e Marcos Engelbrecht, obrigada pela confiança, apoio, ensinamentos, amor e incentivo fundamental para que aos poucos eu aprendesse a fazer minhas escolhas e andar com meus próprios passos. A minha irmã, essencial em minha vida e que com suas visões críticas me ajudou a perceber os caminhos que devo trilhar, me lembrando sempre de meus princípios e motivações para escolha da profissão de jornalista – obrigada Marina Wada Engelbrecht pelo amor e carinho, sempre fundamentais em minha vida.

Aos meus amigos, que estiveram sempre ao meu lado em períodos de dificuldade, angústias e alegrias, compartilhando comigo todos esses momentos e me apoiando sempre, incondicionalmente. Em especial àquelas que foram para mim minha família no Paraná, minha alegria de todos os dias, as companheiras de vida sem as quais nada faria sentido. Obrigada Isadora Camargo, Cintia Amaro Damasceno, Beatriz Bidarra, Mônica Bueno, Camila Montagner Fama e Milena Rezende. Vocês foram parte essencial desses quatro anos de UEPG e as levarei para o resto de minha vida como amigas, companheiras, parceiras, e alegrias do meu cotidiano.

A Luan Guerreiro, pelas cobranças e preocupações diárias com este trabalho, pela grande ajuda e apoio. Agradeço por todos os momentos que passamos juntos, por ser fundamental em minha vida, pelo respeito, carinho, companheirismo, amizade e amor. Pela pessoa linda e incrível que é, amo muito você.

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A todos os professores do Departamento de Comunicação, que tiveram enorme contribuição em minha formação. Em especial Sérgio Luiz Gadini, pelas aulas, conversas, dicas e participação crítica de minha banca de qualificação, Marcelo Engel Bronosky, Carlos Alberto Souza e Zeneida Alves de Assumpção, agradeço pelo apoio, incentivo, conversas, ensinamentos e amizade durante meus quatro anos de graduação.

À Universidade Estadual de Ponta Grossa, pela oportunidade de ensino de qualidade e pesquisa acadêmica. Ao grupo de pesquisa de Mídia, política e atores sociais, ao núcleo sobre internet e todos os seus integrantes, que me ajudaram no percurso universitário a complementar parte fundamental de minha formação acadêmica e intelectual. Aos autores dos artigos, textos e livros utilizados para a realização desta monografia, obrigada pela enorme contribuição e ensinamentos.

Por fim, aos queridos amigos familiares, sempre presentes alegrando meus dias e mostrando a simplicidade e alegria de viver, companheirismo e amor incondicional que sempre estarão em meu coração aonde quer que eu estiver: meu poddle Tobby, já falecido mas eternamente presente, e meu akita Astor. Pela alegria, loucura e carinho, obrigada meus fiéis companheiros caninos. Há quem não compreenda, mas o amor de vocês foi e é essencial.

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RESUMO

O trabalho analisa como ocorreu a utilização da web a partir dos weblogs de candidatos à presidência do Brasil em 2010, já que pela primeira vez a lei eleitoral autorizou seu uso nas campanhas no país. A pesquisa trata da produção de conteúdo e do debate político nos weblogs dos principais candidatos: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). O estudo verifica como se dá o debate nesses novos espaços liberados à campanha eleitoral para verificar como foi utilizado esse novo instrumento, já que a internet é tida como um meio promissor de interatividade. A análise conta com um corpus empírico de 617 postagens e 12.457 comentários, relacionado com teorias e conceitos do jornalismo, comunicação e política.

Palavras-chave: debate político, internet, campanha presidencial de 2010, weblogs

ABSTRACT

The research analyzes how was the use of the web, more specifically the candidates weblogs to the run of brazilian presidency in 2010, since it was approved the first electoral law that authorizes their use in campaigns. The research deals with the production and content of political debate in the weblogs of the leading candidates: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) and Marina Silva (PV). The study analyzes how the debate takes place in these new spaces allowed to the campaign to see how this new instrument was used, since the Internet is seen as a promising vehicle of interactivity. The analysis has an empirical corpus of 617 posts and 12.457 comments, related to theories and concepts of journalism, communication and politics.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 IMAGEM PRINCIPAL DO WEBLOG PETISTA DURANTE CAMPANHA ELEITORAL DE 2010... 59

FIGURA 2 IMAGEM DE ABERTURA DO WEBLOG DE JOSÉ SERRA PARA CAMPANHA DE 2010... 63

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 INTERNET EM DOMICÍLIOS BRASILEIROS... 38

GRÁFICO 2 NÚMERO DE POSTAGENS POR SEMANA DE

CAMPANHA... 73

GRÁFICO 3 NÚMERO DE COMENTÁRIOS NAS POSTAGENS

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 TIPOS DE ATIVIDADES REALIZADAS POR USUÁRIOS DE

INTERNET NO BRASIL... 40

TABELA 2 TIPO DE POSTAGEM NOS WEBLOGS... 75

TABELA 3 AUTOR RESPONSÁVEL PELAS POSTAGENS... 76

TABELA 4 RELAÇÃO DE TEMAS ABORDADOS PELOS CANDIDATOS.. 79

TABELA 5 VALÊNCIA PREDOMINANTE DAS POSTAGENS... 82

TABELA 6 CLASSIFICAÇÃO DAS POSTAGENS... 84

TABELA 7 CONTEÚDO DOS COMENTÁRIOS NOS BLOGS DAS CANDIDATAS... 90

TABELA 8 VALÊNCIA PREDOMINANTE DOS COMENTÁRIOS... 93

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS... 11

LISTA DE GRÁFICOS... 12

LISTA DE TABELAS... 13

INTRODUÇÃO... 15

CAPÍTULO 1: ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA E POLÍTICA NO BRASIL... 19

1.1 A esfera pública e os meios digitais... 19

1.2 Representação política na mídia... 24

1.3 Processo eleitoral e panorama do pleito presidencial de 2010... 28

CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET... 35

2.1 Internet e índices sócio-econômicos... 36

2.2 O uso dos meios on-line de comunicação e sua vertente política... 40

2.3 Breve histórico das campanhas políticas na internet... 43

CAPÍTULO 3: ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS: WEBLOGS DE CANDIDATOS NO DEBATE POLÍTICO DE 2010... 52

3.1 Análise de conteúdo como eixo metodológico quantitativo... 52

3.2 Análise descritiva dos weblogs: material presente na propaganda eleitoral de 2010... 57

3.3 Análise das postagens: o conteúdo diário das campanhas... 71

3.4 Análise dos comentários: a interatividade entre público e campanha... 85

CONCLUSÃO... 96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 102

APÊNDICE A: Relatório Analítico... 107

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INTRODUÇÃO

O debate político nos weblogs foi discutido neste trabalho por meio de conceitos como esfera pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de comunicação em debates políticos, opinião pública e internet. Tais conceitos foram diretamente relacionados com os dados empíricos sobre os blogs, com descrição de seus conteúdos, análise de postagens e comentários.

Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas” (CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado1. A concepção de blogs apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e SANTOS, 2009).

A utilização de ferramentas on-line por campanhas eleitorais tem início em 1992, quando pela primeira vez no mundo a internet é utilizada para propaganda política eleitoral, com a disputa para a presidência dos Estados Unidos entre Bill Clinton (democrata) e George Bush (republicano). No Brasil é a partir de 2002 que as campanhas para eleições presidenciais iniciam o uso dessa ferramenta com fins eleitoreiros, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) como principais candidatos. As discussões a respeito da temática se voltam principalmente para as potencialidades que a internet proporciona, como a multimidialidade e o diálogo de mão dupla entre políticos e cidadãos, o que poderia indicar maior possibilidade de democratização do processo de campanhas eleitorais.

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A questão central deste trabalho é explorar o debate político nos weblogs (ou blogs) dos três principais candidatos à presidência do Brasil de 2010 – Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). As redes sociais compõem os novos espaços liberados à campanha eleitoral a partir de 2010. A novidade das campanhas on-line desse ano ficou por conta, principalmente, da interatividade entre candidatos e produtores das campanhas com a população de forma geral. E é essa interação o ponto principal do estudo.

A partir de uma breve recuperação histórica sobre a temática „campanhas on-line como ferramenta alternativa de propaganda política eleitoral‟, contextualização da política e sua relação com a mídia, o estudo chega às eleições de 2010 no Brasil, quando pela primeira vez a internet foi utilizada de maneira mais intensa e regulamentada. Visto que foi ao final de 2009 que a lei eleitoral brasileira autorizou para as eleições de 2010 o uso de propagandas políticas na internet, antes proibidas no país.

O trabalho também apresenta o contexto em que a internet está inserida no cenário brasileiro (principalmente no ano de 2010, período das eleições estudadas). E então chega à parte empírica, em que há uma análise do blog de cada candidato, das postagens publicadas no período de pesquisa e dos comentários de internautas nesses posts. Os resultados são demonstrados a partir de gráficos, tabelas e análise de ambos.

A metodologia utilizada para o trabalho foi a quantitativa, por meio de análise de conteúdo, mas com algumas análises qualitativas, para exemplificar os dados numéricos, complementando-os com parte do conteúdo estudado. A coleta apresenta informações de todos os 90 dias de campanha dos três candidatos para primeiro turno do pleito presidencial de 2010. Além disso, havia um prazo de uma semana para que os internautas comentassem em cada postagem, já que após sete dias eram escassas as mensagens e esse período foi suficiente para obter um amplo quadro de como foi a interação entre internautas e campanha. O corpus empírico possui 617 postagens e 12.457 comentários, correspondendo ao primeiro turno do pleito presidencial (de seis de julho a três de outubro de 2010).

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Considerando que no Brasil há 135.804.433 eleitores2 (no Brasil e exterior) e que esse número corresponde a 70,8% da população do país que é o maior da América do Sul e o quinto maior do mundo em território e população, pode-se inferir que o primeiro turno de uma disputa presidencial brasileira tem grande importância e trata-se de um período relevante para análise. Além disso, o banco possui dados suficientes para embasar a pesquisa, oferecendo fundamento empírico para as teorias apresentadas.

A questão principal do trabalho é: “de que forma os candidatos utilizaram o espaço on-line analisado e como se dá o debate político nos weblogs?”, partindo da hipótese de que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para postagem da campanha tradicionalmente transmitida já em outros veículos de comunicação e de ampliação, onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois a internet, com suas características, oferece maior disponibilidade de arquivar e apresentar mais conteúdos, apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de possibilitar a interatividade entre população e campanha. Então, pretende-se responder as questões pertinentes ao estudo, que surgiram ao longo de seu desenvolvimento, partindo de um diálogo entre os capítulos iniciais que conceituam o assunto pesquisado e a última parte do trabalho, voltada principalmente à análise empírica. Mas as conclusões finais visam não apenas uma tentativa de expor respostas às indagações iniciais, mas de gerar novas hipóteses e perguntas, com a finalidade de dar continuidade a uma pesquisa que se mostra extensa, atual e pertinente.

O estudo parte de teorias da comunicação e do jornalismo. Para tratar do assunto o trabalho é composto por três capítulos. O primeiro faz uma discussão sobre esfera pública, chegando aos meios digitais, com breve levantamento teórico a respeito dos conceitos de Habermas e trazendo-os aos dias atuais; as representações políticas na mídia, observando a relação que há entre meios de comunicação e a política; finalizando com um resumo do processo eleitoral brasileiro e do pleito presidencial de 2010.

O segundo capítulo se concentra nas perspectivas políticas na chamada web 2.0, desenvolvendo um contexto da internet no país, relacionando-o aos índices sócio-econômicos brasileiros, seguindo então para o uso dos meios de comunicação e sua

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vertente política, desta vez com a discussão centrada no meio on-line. E, por fim, é apresentado o histórico das campanhas políticas na internet. Essas duas primeiras partes do trabalho, mais teóricas, pretendem contextualizar o estudo com breves considerações de referências conceituais, para que dialoguem com a análise empírica.

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CAPÍTULO 1

ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA E POLÍTICA NO BRASIL

Neste capítulo será abordada a discussão sobre debate público, representação e eleições. Para tratar dessas temáticas é necessária a passagem por conceitos como esfera pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de comunicação em debates políticos e opinião pública. A partir disso, é possível chegar ao objeto central do estudo: as campanhas dos principais candidatos à presidência de 2010 nos meios de comunicação online – considerados os mais novos espaços públicos. E então observar como ocorreu o debate nesse espaço, mais especificamente nos weblogs, partindo da discussão realizada por autores como Wolton (1995), que acredita ser possível pensar num alargamento da esfera pública através dos novos instrumentos de comunicação de massa, que se tornam “uma condição estrutural do funcionamento da democracia” (BROTAS, s/d). Wolton (1995) prevê, então, possibilidades de formação de opiniões “num espaço público midiatizado”. E uma das formas mais apropriadas para a formação dessa opinião midiatizada é a das redes digitais.

1.1 A ESFERA PÚBLICA E OS MEIOS DIGITAIS

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assim como sua opinião pessoal, substituindo o predominante „monolitismo ideológico da Idade Média‟, o que reflete no conceito de opinião pública, agora “consistente e coerente, que deve ser considerada no processo decisório da elite política” (CERVI, p. 19, 2010).

A relação entre opinião pública e esfera pública é sintetizada por Habermas (1981) através da classificação de dois tipos de opinião: a ideal ou pragmática e a manipulada (CERVI, 2010). A primeira seria a participação dos cidadãos privados em “processos de comunicação racional, tendo como interlocutores os integrantes da esfera estatal, tais como os representantes de instituições políticas, para os quais há uma possibilidade real da realização de um debate público, aberto e democrático” (CERVI, p. 26, 2010). E a manipulada, por sua vez, estaria na esfera da recepção, em que indivíduos afastados e sem possibilidades comunicacionais reais com representantes de instituições políticas teriam apenas como reação a aclamação, sendo que essa forma de opinião pública tende, para Habermas (1971), a predominar em relação à outra (CERVI, 2010).

Habermas (2003) define a esfera pública burguesa como aquela que é oposta à esfera do privado e é onde se incluem os atores políticos ou então a mídia, que serve para que o público se comunique. Segundo o autor, é somente à luz da esfera pública que os assuntos e temas ganham liberdade e continuidade, pois é ali que os temas estão visíveis a todos e disponíveis para o debate. Silva (2001) analisa três diferentes momentos em que Habermas conceitua a noção de esfera pública, correspondendo às obras: A Mudança Estrutural da Esfera Pública (1962), A Teoria da Ação Comunicativa (1981) e Entre Fatos e Normas (1992). Em 1962 o sociólogo alemão fala sobre um confronto político sem precedentes na história, em que a esfera pública burguesa reclama que esta “fosse regulada como se estivesse acima das próprias autoridades públicas; de forma a incluí-las num debate sobre as regras gerais que governam as relações da esfera da troca de bens e de trabalho social basicamente privatizada, mas publicamente relevante” (Habermas, p. 27, 1962, apud Silva, 2001).

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predominante por ela desempenhado durante os séculos XVIII, XIX e XX” (Silva, p. 120, 2001), mas que a falta de observação de outras formas de “aparecer politicamente” foi uma das razões pelas quais estas não foram incluídas em suas teorias.

Ao citar o que foi, para Habermas, essencial para a criação de uma esfera pública política, o autor explica que “a esfera pública burguesa, na sua variante política, resultou de um processo de conversão funcional da esfera pública literária, que compreendia fóruns de discussão institucionalizados, no sentido de se apropriar da esfera pública controlada pelo poder do estado e de a transformar numa esfera de crítica à própria autoridade pública (leia-se estatal) (Habermas, 1962)” (Silva, p. 125, 2001)

A Constituição de países europeus durante o século XVIII é citada pelo sociólogo alemão, destacando os direitos em que a esfera pública era constitucionalmente garantida: liberdade de opinião e de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de associação e de reunião, direito de petição, direito de voto, liberdade individual, inviolabilidade do local de residência, igualdade perante a lei e proteção da propriedade privada (Silva, 2001). Consequentemente, essa definição constitucional trouxe consigo um caráter público das deliberações parlamentares e, para Habermas, “garantia à opinião pública sua influência; assegurava a relação entre representantes e eleitores como partes do mesmo público e [...] também os procedimentos legais nos tribunais começaram a ser tornados públicos” (Habermas, p. 83, 1962, apud Silva, 2001).

Para Silva (2001) um “ponto fundamental da teoria política democrática” é quando Habermas em 1992 analisa que a única forma de se desenvolver uma prática deliberativa de autolegislação é através da interação entre a formação da vontade parlamentar institucionalizada em procedimentos legais e tomada de decisões e a “formação da opinião política através de canais informais de comunicação política” (Habermas, 1992, p. 275, apud Silva, 2001).

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de fenômenos que existe em torno deste termo e “sua estreita relação com a dinâmica de poder e processos políticos” (Cucurella, p. 52, 2001).

Segundo Cucurella (2001), o espaço público seria um lugar onde surge a opinião pública, podendo esta ser manipulada e deformada, além de um espaço de sustentação da „coesão social, construção e legitimação (ou deslegitimação) política‟. A dinâmica desse espaço é que determinaria as liberdades individuais e políticas (Cucurella, 2001). Então, podemos concluir que embora deformada ou manipulada ela ainda tem um importante papel que é o de promover a coesão social.

Habermas, conforme afirma Cucurella (2001), acredita que o espaço público seria um campo da vida social em que os indivíduos privados se reúnem como público em conversas com liberdade de se expressar e opinar livremente, constituindo uma porção de espaço público. E no caso de um “público amplo, esta comunicação exige meios específicos de transferência e influência: jornais e revistas, rádio e televisão são hoje tais meios do espaço público” (Cucurella, p. 53, 2001). Os meios digitais são um grande exemplo contemporâneo que surgem como um novo espaço público de discussão e reunião.

Para Silva, é precisamente o fluxo de comunicação que evolui desde o plano da formação da opinião pública, através de discussões racionais orientadas para o entendimento mútuo, passando pelas eleições democráticas, reguladas por procedimentos que garantem a sua validade e legitimidade democráticas, até ao nível das decisões políticas em forma de lei, que assegura que a „influência‟ (Parsons) e o poder comunicativo sejam convertidos em poder administrativo, através, justamente, do direito (Silva, 2001, p. 131)

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atrás de outra que a confirme ou refute-a. Mas a internet expande as possibilidades de compartilhamento de opiniões quando reduz barreiras geográficas e agiliza os contatos, conectando os diversos públicos de todo o mundo entre si.

Ao relacionar as redes sociais digitais com o debate de diversos assuntos publicamente por uma grande variedade de indivíduos, Wilderom (2009) explica que “O fato de esse espaço virtual permitir a interação traz à tona o conceito de opinião pública, uma vez que se trata de um amplo espaço de discussão de assuntos que concernem massas de pessoas. Tal inferência retoma o referencial teórico proposto pelo pioneiro da psicologia social norte-americana, Ross (apud ANDRADE, 1964: 111) que afirma que a opinião pública pode ser entendida como uma „discussão que atrai a atenção geral‟” (Wilderom, p. 163, 2009)

A proposta deste trabalho não é descobrir os impactos do que é produzido pela mídia na opinião pública, mas observar como se dá o debate em determinados espaços midiáticos. Para tanto o conceito de espaço e opinião públicos demonstram a importância do estudo sobre os debates e representações políticos nos meios de comunicação. E partir desses conceitos faz sentindo pelo fato de as novas mídias serem um espaço público que surgiu com a evolução do que Habermas teorizava a partir de discussões em cafés e outros espaços iniciais de reunião de pessoas privadas.

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a internet e as diversas modalidades de informação, interacção e discussão que permite podem constituir um impulso renovador da esfera pública e das instâncias mediadoras da ordem democrática. Por esse motivo o conceito de esfera pública tem sido revisitado em diversas pesquisas sobre os “novos media”, pois, supostamente, estes permitem ultrapassar bloqueios existentes através da diminuição da distância entre as pessoas e do alargamento do espaço de opinião (Carvalho & Casanova, p. 92, 2010)

Revisitar brevemente os conceitos habermasianos é um esforço de apresentar a internet como um novo espaço de socialização, tornando-se não uma nova forma de esfera pública, mas uma extensão desta, com o meio on-line proporcionando novas oportunidades devido a suas características específicas. E é por essas especificidades que o estudo procura se alinhar, trazendo temas já amplamente discutidos como política e eleições representativas, mas sob a ótica de transmissão por um meio de comunicação relativamente novo – a internet.

1.2 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NA MÍDIA

É importante atentar para a forma como os meios de comunicação tratam a temática política, devido ao seu papel relevante nas sociedades. Isso porque para Kunczik (2002), mesmo naquelas nações mais fracas e instáveis, são eles que servem de inspetor geral de todo o sistema político e que proporcionam a crítica pública necessária para garantir a integridade política por parte daqueles que detêm o poder (KUNCZIK, 2002). A “influência dos media é admitida sem discussão, na medida em que ajudam a estruturar a imagem da realidade social, a longo prazo, a organizar novos elementos da mesma imagem, a formar novas opiniões e crenças” (WOLF, 2006, p. 143). Dessa forma, os meios de comunicação auxiliam na formação da opinião pública em relação aos temas que são trazidos pelos mesmos e acabam por agendar os assuntos nos quais as pessoas vão pensar, mesmo que essa não seja a intenção principal (MCCOMBS, 1997).

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Essa relação entre mídia e política ainda é observada a partir de autores como Canavilhas (2009), que por sua vez destaca os interesses particulares por trás dessa relação:

se os políticos encontram nos media a forma mais eficaz para chegarem aos cidadãos, os media procuram na política os acontecimentos que interessam às audiências, o que por vezes contraria os interesses dos políticos (CANAVILHAS, p. 1, 2009) Os estudos sobre comunicação e política no Brasil se alargaram no final da década de 70 e início da década de 80, com a „ampliação dos espaços democráticos‟ no país, sendo a mídia vista como “aparelhos de luta política e principalmente ideológica” (RUBIM, 1998). As atenções eram claramente voltadas aos regimes autoritários vigentes na época, além da relação entre „classes dominantes e setores subalternos‟, mas esse cenário mudou de perspectiva a partir da campanha pelas “Diretas, já” em 1984 e o final da ditadura em 1985, que influenciaram nos estudos brasileiros sobre a temática, “sintonizando-os com as questões características das sociedades ambientadas pelas mídias” (RUBIM, p. 2, 1998). Houve então, a partir das eleições de 1989, que colocaram Fernando Collor de Mello na presidência do país, um grande aumento em relação às reflexões sobre a conexão mídia e política, observando essa nova circunstância de uma sociedade midiatizada (RUBIM, 1998).

No panorama em que o autor descreve sobre como surgiram os estudos sobre mídia e política, desde o que o autor chama de „Pré-História dos Estudos Sobre Mídia e Política no Brasil‟ até sua pesquisa em 1998, fica evidente que ações no campo político influenciaram fortemente os estudos sobre a temática, como foi o caso do impeachment de Fernando Collor em 1992 e as eleições de 1994 de Fernando Henrique Cardoso (RUBIM, 1998). Ao citar diversos autores, dissertações, teses, pesquisas, encontros e atividades sobre o assunto, o autor conclui que toda essa ação de pesquisa e estudos “vem permitindo que a área desenvolva uma mínima organização, imprescindível para sua afirmação como espaço acadêmico e interdisciplinar e para seu reconhecimento entre nós como campo relevante de estudos” (RUBIM, p. 4, 1998).

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eleitorado em partidos políticos, os quais antes „pareciam um reflexo de clivagens sociais‟ e hoje parecem inverter o papel e impor clivagens à sociedade – “No passado, os partidos propunham aos eleitores um programa político que se comprometiam a cumprir, caso chegassem ao poder. Hoje, a estratégia eleitoral dos candidatos e dos partidos repousa, em vez disso, na construção de imagens vagas que projetam a personalidade dos líderes” (MANIN, p. 5, 1995).

a eleição de representantes já não parece um meio pelo qual os cidadãos indicam as políticas que desejam ver executadas. Por último, a arena política vem sendo progressivamente dominada por fatores técnicos que os cidadãos não dominam. Os políticos chegam ao poder por causa de suas aptidões e de sua experiência no uso dos meios de comunicação de massa, não porque estejam próximos ou se assemelhem aos seus eleitores. O abismo entre o governo e a sociedade, entre representantes e representados, parece estar aumentando. (MANIN, p. 5, 1995)

No Brasil, a partir de 1989 com as eleições de Fernando Collor, ocorre aquilo que Manin descreve como os representantes sendo eleitos pelos governados, em que ainda há diferenças de status e função entre ambos e essa eleição periódica resultaria na „atribuição de autoridade a determinados indivíduos para que governem sobre outros‟, através de um método de escolha que legitima seu poder (MANIN, 1995). O autor ainda descreve o sistema eletivo como um processo decisório que não necessariamente cria identidade entre quem governa e quem é governado, podendo aqueles ser cultural e socialmente diferentes destes, mas que “como o governo representativo se fundamenta em eleições repetidas, o povo tem condições de exercer uma certa influência sobre as decisões do governo: pode, por exemplo, destituir os representantes cuja orientação não lhe agrade” (MANIN, p. 9, 1995).

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entanto, privilegiam determinadas qualidades pessoais: os candidatos vitoriosos não são os de maior prestígio local, mas os "comunicadores", pessoas que dominam as técnicas da mídia” (MANIN, p. 27, 1997).

Os canais de comunicação com a opinião pública são politicamente neutros, isto é, não têm uma base partidária. [...] O resultado dessa neutralização da mídia em relação às clivagens partidárias é que as pessoas recebem as mesmas informações sobre um dado assunto, a despeito de suas preferências políticas. Isso não significa que os assuntos ou os fatos - diferentemente dos julgamentos - sejam percebidos de maneira "objetiva", sem distorções, mas simplesmente que eles são percebidos de maneira relativamente uniforme através do amplo espectro das preferências políticas (MANIN, p. 32, 1995) Segundo os estudos de Baquero (2009) sobre campanhas eleitorais, a forma como os candidatos políticos conduzem sua campanha diante da opinião pública influencia na votação, concluindo que propagandas eleitorais eficazes „beneficiam o desempenho dos candidatos nas urnas‟ e, segundo o autor, pesquisas de opinião pública costumam mostrar que “parcelas significativas do eleitorado escolhem os seus candidatos pela propaganda” (BAQUERO, p. 265, 2009).

O declínio da imprensa partidário-opinativa e crescimento dos meios de comunicação de massa aconteceram em meados do século XX, com o media agindo conforme suas próprias lógicas e os atores políticos disputando o “espaço midiático como arena principal de inserção pública em sociedades “midiocentradas” (SARTORI, 2001; ALMEIDA, 2002, apud RIBEIRO, 2004)”.

A intenção dos agentes políticos é fazer com que cheguem determinadas mensagens ao público, tentando, por vezes, encontrar formas de o jornalismo não interferir no conteúdo com seleções e codificações de acordo com os valores jornalísticos, que tendem a retirar a persuasão de suas mensagens iniciais (CANAVILHAS, p. 1, 2009). E atualmente a ferramenta que surge como alternativa aos meios tradicionais de comunicação é a internet, tida como promissora para o campo político, que pretende um contato direto com seu eleitorado, evitando a intermediação jornalística (CANAVILHAS, 2009).

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expressam, interagem, dialogam, sem, necessariamente, se encontrarem no mesmo ambiente físico. O espaço de visibilidade mediática proporciona uma complexa interação entre os atores do sistema político e os da sociedade civil (MAIA, 2002; THOMPSON, 1998). (FRANCISQUINI, p. 1, 2011)

É necessário lembrarmos os conceitos discutidos no tópico 1.1 (A esfera pública e os meios digitais), em que foram apresentadas as teorias clássicas sobre esfera pública, observando brevemente uma revitalização do modelo habermaziano para o contexto atual, considerando principalmente as novas mídias. Francisquini (2011) observa na citação acima como as formas de relacionamento entre as pessoas se “reelaboraram”, ou seja, há atualmente uma grande interação via internet entre os indivíduos, seja por e-mails, mensagens, redes sociais, entre outras. Essa nova forma de diálogo se estende também ao campo da política, com interação popular entre si, com políticos e em sites/redes sociais sobre o assunto. Sendo a intenção deste trabalho um estudo sobre uma „fatia‟ dessa nova maneira de interação: o uso de weblogs por políticos.

Mas antes de apresentar de maneira mais concreta e específica a internet como meio de comunicação utilizado por atores políticos em período de campanhas eleitorais, se faz necessário realizar uma reflexão sobre o processo eleitoral no Brasil. Para tanto, é possível partir do período de redemocratização do país com início em 1985, pós ditadura militar, quando é considerada na verdade, por autores como Carvalho (2002), a construção da democracia brasileira.

1.3 PROCESSO ELEITORAL E PANORAMA DO PLEITO PRESIDENCIAL DE 2010

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De fato, Carvalho (2002), lembra que de 1822 a 1930 houve eleições ininterruptas no país (exceto durante a guerra contra o Paraguai – entre 1865 e 1870 – e a proclamação da República em 1889), relembrando desde o período do Império pós Independência à Primeira República, com as devidas considerações de como era o processo eletivo na época, com restrições de quem votava, o voto de cabresto, o coronelismo, entre outros (CARVALHO, 2002). Mas é a partir do período de redemocratização que as eleições no país ocorrem continuamente e com maior transparência: “A este respeito o Relatório do PNUD (2004) chama a atenção para o fato de que o Brasil é considerado um dos países com melhores avaliações na institucionalização e regras e normas que regulam as disputas eleitorais” (BAQUERO, p.245, 2009). Mas ele questiona se esse modelo funciona efetivamente no sentido de produzir melhores cidadãos, mais responsabilidade e responsividade dos gestores públicos em relação à opinião pública e se os partidos conseguem de fato fazer a intermediação entre sociedade e Estado (BAQUERO, 2009), pensando em um sistema democrático de governar. Este, segundo Bobbio (1998), teria como definição adotada alguns preceitos:

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Considerando a democracia3 como sistema vigente no país, o voto torna-se imprescindível no processo de eleição de representantes políticos. O ideal da cidadania plena (criada no Ocidente e termo que ganhou força no processo de democratização brasileira) abrange os direitos civis, políticos e sociais – todos indispensáveis (CARVALHO, 2002). Mas aqui discutiremos os políticos, para manter a linha de pensamento a respeito do processo eleitoral.

Os direitos políticos se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado à parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver direitos civis4 sem direitos políticos, o contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e organização, os direitos políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteúdo e servem antes para justificar governos do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como instituição principal os partidos e um parlamento livre e representativo. São eles que conferem legitimidade à organização política da sociedade. Sua essência é a idéia de autogoverno. (CARVALHO, p. 9-10, 2002)

A partir dos diretos políticos é possível traçar uma reflexão sobre o processo eleitoral brasileiro. O partidarismo é uma realidade no país: para se candidatar a cargos representativos governamentais (municipais, estaduais ou federais) é necessária a filiação a algum partido – o número é de 27 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme consulta ao site em setembro de 2011. Outros requisitos são cobrados para se candidatar, como o pleno exercício dos direitos políticos, entre outros. Se eleito, o mandato tem duração de quatro anos com limite de oito anos consecutivos no poder (com exceção de vereadores, que podem reeleger-se de forma ilimitada). E o direito de voto é dado a todo cidadão brasileiro, que pode exercer seus direitos a partir dos 16 anos de idade de forma facultativa e obrigatória aos 18 anos em diante. Os direitos políticos no Brasil são plenamente garantidos e as eleições são consideradas

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Atualmente se discute uma mudança do nome „democracia‟ para „poliarquia‟, amplamente adotado por cientistas políticos ao concordarem com DAHL (1977): “por considerar as democracias efetivamente existentes pobres aproximações do ideal democrático, Dahl sugeriu que estas fossem chamadas de poliarquias” (LIMONGI, p. 11, apud DAHL, 2005). DAHL, Robert (1977). Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo, Edusp.

4

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democráticas e “limpas”, com seu sistema de urnas eletrônicas, instalado em 2000, com a pretensão de eliminar as fraudes eleitorais.

Partindo de pesquisas empíricas e teóricas, Baquero (2009) chega a uma conclusão a respeito do comportamento eleitoral brasileiro, reforçando o que Manin (1997) discute ao falar sobre a democracia representativa:

os modelos eleitorais sugerem que o destino dos votos dos eleitores não depende de lealdades partidárias e sim de identificações com a figura do candidato, naquilo que se denomina de relações terciárias, que agem em detrimento das instituições políticas, particularmente os partidos. (BAQUERO, p. 266, 2009)

Em relação ao contexto das eleições presidenciais de 2010 é possível lembrar que no início de 2009, quando ainda se especulava quais seriam os candidatos a disputar a presidência do ano seguinte, as pesquisas apontavam caminhos diferentes do cenário político no qual ocorreram as eleições de 2010. José Serra se mantinha com favoritismo à vitória pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Dilma Rousseff, representando o Partido dos Trabalhadores (PT), começava a crescer nas pesquisas de intenção de voto, mas ainda mantinha-se em segundo ou terceiro lugar. Marina Silva do Partido Verde (PV) ainda não estava entre as especulações de prováveis candidaturas, mas havia Ciro Gomes pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Heloisa Helena pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e ainda a possibilidade de Aécio Neves concorrer pelo PSDB, no lugar de José Serra. Em 2010 o que aconteceu foi uma disputa entre nove candidatos: os principais – Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) – e os chamados “nanicos” (de menor representatividade política), Ivan Pinheiro (PCB), Zé Maria (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO).

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As eleições de 2010 contaram com dois turnos de votação para presidente, pois nenhum candidato conseguiu mais de 50% dos votos. No primeiro turno Dilma Rousseff obteve 46,91% dos votos, José Serra 32,61% e Marina Silva 19,33%. O segundo turno definiu, com 55.752.529 votos (56,05%) a vitória de Dilma Rousseff para a presidência do país, contra os 43.711.388 (43,95%) do candidato do PSDB.

Nascida em 1947, a candidata Dilma Rousseff começa sua vida pública em 1986, quando pelo prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares (PDT), é escolhida para administrar a Secretaria da Fazenda. No final da década de 80, Dilma é diretora-geral da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e em 1993 assume o cargo de secretária estadual de Minas, Energia e Comunicação pelo Rio Grande do Sul, continuando no mesmo setor em 1998. Em 2002 é ministra de Minas e Energia pelo governo Lula e em 2005, com o escândalo do mensalão, José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil é afastado e Dilma ocupa sua cadeira. Em 2010 então é eleita presidente do país, com mandato de duração até o final de 2014 e Michel Temer (PMDB) como vice.

José Serra, nascido em 1942, dá início a sua trajetória política em 1982 no comando da Secretaria de Planejamento do governo estadual de São Paulo, com a nomeação de Franco Montoro (PMDB) para governador do estado. Afastou-se do cargo em 1986 e candidatou-se a Deputado Federal, vencendo pelo PMDB, e é reeleito em 1990. Em 1994 é eleito senador, mas sua vaga é ocupada por Pedro Piva, seu suplente, para que pudesse participar do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando Serra é convidado pelo presidente para ocupar o Ministério do Planejamento (1995-1996) e depois Ministério da Saúde de 1998 a 2002. Em 2002 disputou a presidência com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o petista vencendo o pleito no segundo turno. Em 2004 José Serra é eleito prefeito de São Paulo – SP no segundo turno, renunciando ao cargo em 2006, deixando a administração da cidade com seu vice, Gilberto Kassab (2006-2008), para se candidatar ao governo do estado de São Paulo, vencendo no primeiro turno. O peessedebista deixa o cargo para se candidatar à presidência do Brasil junto a Indio da Costa (DEM) como vice.

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1990, quando se candidata a deputada estadual e vence. Em 1994 concorre ao cargo de senadora e é eleita, sendo reeleita no ano de 2002. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina Silva é nomeada ministra do Meio Ambiente. Em maio de 2008 a ministra pede demissão do cargo, declarando dificuldades enfrentadas dentro do governo. Em 2009 deixa o PT e filia-se ao Partido Verde (PV), pelo qual lançou sua pré-candidatura à presidência em maio de 2010. A disputa pela presidência desse ano contou com Guilherme Leal (PV) como seu vice e, após perder a disputa no primeiro turno, manteve-se sem posicionamento em relação aos candidatos do PT e PSDB que disputaram o segundo turno do pleito.

As campanhas eleitorais foram liberadas no dia seis de julho de 2010 até três de outubro, quando aconteceram as eleições do primeiro turno. Em seguida houve mais um período para que os candidatos ainda em disputa fizessem propaganda política entre três e 31 de outubro. Mas o ineditismo nas eleições de 2010 não ficou apenas por conta de Dilma Rousseff que se tornou a primeira presidente mulher eleita no país. Foi também esse o ano em que as campanhas foram liberadas oficialmente para espaços midiáticos on-line.

Segundo o artigo 19 da resolução nº 23.191 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha política via internet poderia ocorrer a partir do dia seis de julho de 2010 para as eleições majoritárias presidenciais e de governo estadual, além das proporcionais. As propagandas eleitorais foram liberadas para veiculação por meio de sítios dos candidatos ou de partidos a que estes pertenciam. Além destes locais, permitiu-se a difusão de informações e apelos eleitorais através de redes sociais, como blogs, Orkut, Facebook e Twitter.

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ideias de partidos e coligações. As novidades são claras ao se pensar nas características peculiares da web, como interatividade, instantaneidade, multimidialidade, entre outros, destacando os baixos custos para uso desta mídia se comparada às tradicionais, como televisão e impressões de panfletos.

Os eleitores podem, por liberação oficial, expressar suas opiniões livremente num ambiente sem limitações de tempo e espaço, interagir com indivíduos de linhas de pensamento convergentes ou divergentes, responder a enquetes e, desta forma, colaborar para pesquisas estatísticas sobre as eleições correntes. Outro aspecto característico destas eleições no meio internet se deu através do imediatismo com que notícias e declarações dos candidatos eram postadas, quase simultaneamente à ocorrência dos fatos.

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CAPÍTULO 2

PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET

O segundo capítulo traz o histórico do uso das mídias on-line em campanhas políticas e discussões sobre o uso da internet como veículo de comunicação política, principalmente sobre o debate em ferramentas on-line específicas: os weblogs. A bibliografia sobre o assunto é recente, principalmente no caso brasileiro, devido à especificidade desse meio de comunicação – internet –, que começa a se consolidar agora como um instrumento com fins políticos e ainda possui uma “aura” de potencialidades e possibilidades em aberto.

A web 2.0 é explicada pelo pesquisador na área de novas tecnologias – Primo (2007) – como a “segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo” (PRIMO, p. 2, 2007). Segundo o autor, o termo web 2.0 seria a junção de técnicas informáticas, além de estar relacionado a um determinado período tecnológico, estratégias mercadológicas e a comunicação mediada por computadores (PRIMO, 2007). Ele explica que o surgimento do termo web 2.0 é a partir de “um trocadilho com o tipo de notação em informática que indica a versão de um software, foi popularizado pela O‟Reilly Media e pela MediaLive International como denominação de uma série de conferências que tiveram início em outubro de 2004” (O‟REILLY, 2005, apud PRIMO, p. 2, 2007).

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interesses segmentados ganham peso na rede a partir de sua interconexão com outros sub-sistemas. (PRIMO, p. 3, 2007)

Ao falar sobre a utilização da internet por atores políticos e as pesquisas sobre o assunto são consideradas três questões, fundamentalmente: as ferramentas, a forma como são utilizadas e seus consumidores. Estudos de Gomes e Aggio (2009), Iasulaitis (2007), Brandão (2008), entre outros, mostram que é recente o uso da internet para fins políticos, assim como as pesquisas acadêmicas. Mas em aproximadamente duas décadas – que marcam o início da utilização dos meios on-line para campanha eleitoral – foi possível observar como vem se estruturando a arena política nesse meio. E esse trabalho pretende observar casos específicos dessa estrutura no Brasil, a partir dos blogs de políticos brasileiros que disputaram as eleições presidenciais de 2010, analisando o debate que ocorreu nesses meios.

2.1 INTERNET E ÍNDICES SÓCIO-ECONÔMICOS

A pesquisa de 2010 sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil do Comitê Gestor de Internet no país mostra que em áreas urbanas 39% da população possuem computador e nas áreas rurais esse número cai para 12%. Mas o principal contraste que o estudo traz é mostrado quando se faz a relação entre a renda familiar e o acesso a tecnologias como o computador e a internet.

O acesso ao computador em domicílios chega a 93% nas famílias de classe social A. Esse número cai conforme os salários diminuem, com 76% na classe B, 34% na classe C e 5% nas classes D e E. A classe C, com seus 34% de acesso a computadores, representa mais da metade da população brasileira (55,05%) segundo o estudo de 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV)5. Há também diferenças em relação às regiões do Brasil. Os computadores estão presentes

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em domicílios, distribuídos da seguinte forma: 45% no Sudeste, 42% no Sul, 40% no Centro-Oeste, 23% no Norte e 14% no Nordeste (Fonte: NIC.br - set/nov 2010)6.

Quando se trata de internet os números são ainda mais baixos, com 3% de acesso das classes sociais D e E, 24% da classe C, 65% da população pertencente à classe B e 90% daqueles que são considerados economicamente pertencentes à classe A brasileira. Em área urbana a população que possui internet corresponde a 31% e 6% na região rural. O que significa que nem metade da população brasileira tem acesso à internet.

Enquanto a classe C representa 105.468.908 de habitantes (55,05% da população), com renda domiciliar mensal entre dois a nove salários mínimos, a classe A e B juntas correspondem a 11,75% dos brasileiros (22.526.223 de habitantes), com uma faixa salarial por família acima de nove salários mínimos, não esquecendo que ainda há mais de 63 milhões de pessoas sobrevivendo com no máximo R$ 751,00 ao mês7. Quando o assunto é computador e internet, a acessibilidade acompanha a desigualdade social presente na realidade do país.

18% 24% 27% 0 5 10 15 20 25 30

Percentual sobre o total de domicílios

2008 2009 2010

Gráfico 1 – Internet em domicílios brasileiros Fonte: NIC.br – set/nov 2008 – 2010

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Dados acessados a partir do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação. www.cetic.br – acessado em outubro/2010 e setembro/2011.

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De acordo com o gráfico acima, com dados do Comitê Gestor de Internet do Brasil, é possível observar que ainda é baixa a porcentagem de domicílios que possuem internet no país. O gráfico representa os domicílios brasileiros – rurais e urbanos – que possuem internet e mostra que gradativamente esse quadro está se alterando e conforme passam os anos o acesso aumenta, embora de 2009 a 2010 o crescimento seja menor se comparado a 2008. Porém, é necessário que tal cenário ainda se modifique e continue aumentando o número de pessoas com acesso a esse meio, o que deve ser discutido pelas propostas e políticas de inclusão digital. Essa apresentação da acessibilidade à internet é apenas para ilustrar a situação brasileira, demonstrando o que Aldé, Escobar e Chagas (2007) discutem ao dizer que essa ainda é uma tecnologia restrita devido a fatores econômicos.

Foi apresentado apenas o uso da internet em domicílios pois a maior parte da população utiliza-a em suas casas: dados do mesmo documento mostram que 57% das pessoas acessam a internet em seus lares, 34% em centro público de acesso pago, 27% na casa de outra pessoa, 22% no trabalho, 14% na escola e 4% em centro público de acesso gratuito. Esses dados mostram que a internet pode e é acessada em outros lugares e não apenas em domicílios, o que aumenta o número de pessoas utilizando esse meio no país. Porém, se apenas 27% da população possui internet em suas casas e somente 4% utiliza-a em locais públicos de acesso gratuito, percebe-se que ou existem poucas formas de inclusão digital no Brasil, deixando uma grande parcela populacional fora das redes digitais, ou as políticas de incentivo e instrução são ineficientes. De toda forma, há uma desigualdade visível e grande quando o assunto é acesso ao meio de comunicação internet.

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Tabela 1 – Tipos de atividades realizadas por usuários de internet no Brasil 2007 2008 2009 2010 Comunicação 89% 90% 90% 94% Busca de Informação 87% 83% 89% 87% Lazer 88% 86% 86% 87% Serviços Financeiros 18% 16% 14% 17% Educação 73% 72% 72% 66%

Fonte: CETIC.br/CGI.br/NIC.br – set/nov 20108

A comunicação tem sido o maior motivo de uso da internet com crescimento de 2007 a 2010, conforme demonstra a tabela 1. Mas além da comunicação, a internet é utilizada para diversas outras atividades, sendo que uma não exclui a outra e através dos percentuais apresentados acima é possível perceber que o usuário acessa a internet com diversas finalidades e não uma apenas. Mas trazendo esses dados para o presente estudo destacam-se duas informações: o uso para comunicação e busca por informações.

É possível observar que no Brasil aqueles que utilizam a internet fazem grande uso do dispositivo para as duas atividades citadas acima. Embora comunicação englobe diversas formas e tipos, a exposição de pensamentos e opiniões também é uma forma de se comunicar, remetendo a comentários em weblogs inclusive, lembrando que hoje as redes sociais são o principal instrumento de comunicação on-line. A busca por informação também, mesmo que tenha sido apresentado um dado de forma generalizada, visto que por informação entende-se todo e qualquer tipo de instrução ao conhecimento, dentre os assuntos está a política, eleições e campanhas, principalmente em períodos eleitorais. Mostra que o internauta brasileiro utiliza sim o ciberespaço para lazer, mas que os índices de busca por informações são tão altos quanto, sinalizando um bom indicador do uso da internet pelos brasileiros, ainda que os dados remetam apenas às áreas urbanas por não haver pesquisas sobre o assunto nas áreas rurais.

O período de campanha analisado de compreende 90 dias de propaganda política (primeiro turno – de seis de julho a três de outubro de 2010). Nesse espaço de tempo os blogs analisados produziram ao todo 617 postagens, com 12.457 comentários. O grande percentual de busca por informação e a quantidade de postagens no período estudado

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demonstram que seguindo à tendência de um dos usos da internet pela população, os candidatos buscaram postar diariamente notícias em forma de postagem, principalmente Dilma Rousseff e Marina Silva, além de outros conteúdos que estiveram presentes nos blogs e não entram como postagem, mas podem ser considerados informação ao internauta e constam na análise descritiva de cada rede social analisada. E a comunicação é claramente o maior motivo de acesso das pessoas à internet, o que é possível perceber, de certa forma e voltando-se ao presente estudo, por meio do número de comentários de internautas nas postagens. É expressiva a interação que houve entre população e as postagens dos políticos estudados, mostrando que a comunicação é a maior forma de utilização que as pessoas dão à internet e que isso reflete-se também em blogs políticos, com grande número de comentários – considerando ainda que uma parcela destes não entrou devido à moderação e que o blog de José Serra não disponibilizou espaço para tal.

2.2 O USO DOS MEIOS ON-LINE DE COMUNICAÇÃO E SUA VERTENTE POLÍTICA

A internet, ao proporcionar o chamado „fenômeno da inter-conectividade entre pessoas‟ por Wilderom (2009), tornou-se objeto amplamente discutido nos meios acadêmicos e a partir desse contexto, “as ciências sociais e a comunicação têm buscado compreender como essa grande massa de indivíduos está se unindo a uma velocidade cada vez maior para discutir desde assuntos menos importantes até criar mobilização em torno de temas complexos como política e religião” (WILDEROM, p. 161, 2009). É possível dizer hoje que o impacto da internet e da „rede global de computadores‟ nos meios de comunicação é muito visível, além de sua influência na sociedade, tornando-se um vasto campo de pesquisa sobre os mais diversos aspectos como comportamento, linguagem, entre outros (WILDEROM, 2009).

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Entre as redes sociais mais utilizadas através da internet está o weblog, que surgiu no final dos anos 90 como forma de diários públicos, temáticos ou livres (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, 2007). As perspectivas e expectativas ao redor das ferramentas que a internet oferece são, de maneira geral, em torno da possibilidade de democratização da comunicação. Essas possibilidades são exploradas por autores que consideram que “associados à pluralização da emissão de conteúdos, à autoexpressão e à interação e cooperação entre autores e leitores, os blogs poderiam apontar para uma experiência de comunicação horizontal, em que fosse possível estabelecer formas de debate público plural e democrático” (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, p. 1, 2007).

O incentivo para uma pesquisa sobre os weblogs pode ser o formato dessa ferramenta, que possui peculiaridades técnicas, e as possibilidades de diálogo, mas essa ainda é uma tecnologia restrita por fatores econômicos, o que não desanima os estudos de alguns autores, que consideram que o importante é estudar as potencialidades, e que a possibilidade de interação entre um grande número de usuários não significa que esse diálogo de fato ocorrerá (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, 2007). Segundo os autores, as estratégias comunicativas de campanha e governo já foram anteriormente exploradas, mas a atualidade do assunto „explosão dos blogs‟ continua, pois ainda que essa ferramenta não tenha a obrigação de manter-se atualizada a todo momento, essa característica é presente nesses espaços on-line.

Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas” (CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado9. A concepção de blogs apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e SANTOS, 2009).

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A rede on-line agora é utilizada por atores políticos para realizar campanhas, seja por candidatos a prefeito, vereador, deputado, senador, governador ou presidente. Seu uso é discutido como uma „mídia participativa‟ (BLOOD, p. 62, 2003, apud SINGER, 2005), que se bem utilizada pode conectar os jornalistas com as comunidades que estes servem (SINGER, 2005), podendo este conceito ser também adaptado ao uso dos blogs por políticos. Se bem explorada, a ferramenta weblog pode além de informar seus usuários, promover interatividade entre representante político e seus representados, com a capacidade de ser utilizada para aumentar e facilitar o diálogo entre ambos, proporcionando possibilidades de propostas políticas numa via de mão dupla, além de o ator político receber um feedback direto da sociedade, sem mediações, o que é de grande valia para a avaliação de suas ações políticas.

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2.3 BREVE HISTÓRICO DAS CAMPANHAS POLÍTICAS NA INTERNET

A partir do início da década de 9010 os partidos políticos começaram a utilizar ferramentas online como forma alternativa de campanha eleitoral, época em que o objeto de estudo torna-se relevante não apenas para o campo político, mas para as pesquisas acadêmicas sobre o assunto. Porém, até pouco tempo, a interatividade com os eleitores era desprezada (SCHWEITZER, 2005, apud GOMES e AGGIO, 2009).

Com a campanha on-line de Barack Obama nos Estados Unidos, em 2008, Gomes (2009) considera tais ferramentas como instrumentos que antes eram considerados acessórios nas campanhas, com apenas trocas de informações, transformou-se “numa via alternativa à campanha mediada pelos meios de massa” (GOMES, p. 39, 2009). Sendo assim, torna-se relevante estudar o impacto desse instrumento de debate político em campanhas nacionais. O estudo busca pesquisar brevemente como foi a produção da propaganda política nesses novos meios (com análise das páginas e postagens) e a interação entre candidato e eleitor nos blogs, observando o que a internet oferece de mais inovador: a interatividade.

As campanhas on-line foram observadas com mais intensidade primeiramente nos Estados Unidos na disputa presidencial entre Bill Clinton e George Bush em 1992. Elas restringiam-se a web sites que reproduziam o material off-line (os panfletos) em forma on-line. Por mais que não inovassem em formato ou conteúdo, traziam a possibilidade de arquivar essas informações, disponíveis a qualquer momento, diferente das propagandas políticas panfletárias. Mas é preciso lembrar também que o contexto da época desfavorecia o uso da internet e a evolução de sua utilização para campanhas vai de encontro à evolução do próprio meio – quanto maior o acesso e uso, mais investimento em propaganda on-line.

As primeiras experiências de utilização da internet em campanhas políticas aconteceram nas eleições nos Estados Unidos em 1992. O contexto em questão continha muitas restrições tecnológicas que implicavam num pequeno volume e velocidade de tráfego de dados associados, ainda, a uma quantidade reduzida de cidadãos com acesso

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à web. As conseqüências se materializavam no baixo nível de sofisticação e diversificação de conteúdos, formatos e ferramentas dos web sites. Em outra medida, surgiam questionamentos sobre a real importância e eficácia de se empregar esforços online de campanha, uma vez que a quantidade de eleitores atingidos pela comunicação digital era reduzida (Meyers, 1993, Davis e Owen, 1998; Bimber e Davis, 2003). (AGGIO, p. 11, 2010)

Mas ainda assim, Myers (1993) explica que já em sua primeira versão o uso da internet trazia um fator que diferencia as campanhas em meio on-line e outros meios de comunicação: a falta de um filtro noticioso (GOMES e AGGIO, 2009). Este entra no contexto de um processo de produção de notícias considerado por autores como Sousa (2002) e Schudson (1998) no chamado newsmaking – em que existem influências para que as notícias sejam da forma que as observamos nos meios de comunicação, pois “segundo Schudson, a ação pessoal, a ação social e a ação cultural, em interrelação, são as três principais explicações para que as notícias sejam como são” (SOUSA, p. 37, 2002). Na ação pessoal o jornalista vem como ator principal na influência do processo noticioso, como o “porteiro” da metáfora do gatekeeping, criada por White em 1950 (SOUSA, 2002). O processo de seleção das notícias incorpora um conjunto de critérios dos produtores das notícias que levam em consideração as supostas necessidades dos consumidores das mesmas. Um dos elementos centrais desse processo de seleção é o chamado gatekeeper, definido por Fuente (s/d) como: “um indivíduo situado em uma estrutura comunicativa para controlar o fluxo de mensagens ao longo do canal comunicativo previne a sobrecarga de informação, filtrando e separando as mensagens” (ROGERS e AGARWALA, 1980, apud FUENTE, p. 4, s/d). Para a seleção de histórias noticiosas, o autor lembra que os critérios podem ser identificados como “clareza, concisão e o ângulo da história”, para definir o que deve constituir uma notícia.

Referências

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