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CAPÍTULO 2 NA TOCA DO COELHO

2.3 Internet: a revolução digital da nova civilização

2.3.3 Internet 3.0

As fases da internet representadas por web 1.0, web 2.0 e web 3.0 (esta última também chamada de web-semântica) são divisões meramente ilustrativas, de forma que não representa a internet em sua dinâmica, pois segundo Levy (1999, p. 17), o ciberespaço é o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores, dessa forma os seres humanos podem navegar e alimentar estas interconexões fazendo com que a internet seja um espaço de constante evolução.

Vale ressaltar que essa constante evolução se deve ao controle de produção que as pessoas têm sob os computadores, que são utilizados para fazer essas interconexões. Os computadores têm propriedades diferentes das tecnologias anteriores, como um martelo ou uma caneta, pois estas tecnologias digitais podem ser programadas, conforme explica Rushkoff (2010, p. 8):

Isso significa que não vem apenas com instruções para o seu uso, mas também sobre como funciona. E como essas tecnologias vêm caracterizar o futuro do modo como vivemos e trabalhamos, as pessoas que as programam acabam por moldar o nosso mundo. E, são especialmente as tecnologias digitais que darão a forma neste processo de moldagem, seja com a nossa cooperação explícita ou sem ela.

Por isso é que este momento é relevante. Estamos criando um projeto juntos – um projeto para o nosso futuro coletivo. As possibilidades para os progressos sociais, econômico, artístico, e mesmo para o progresso espiritual, são tremendas. Da mesma forma como as palavras deram às pessoas a habilidade de transferir conhecimento para o que chamamos de civilização, a atividade em rede poderia em breve nos oferecer

acesso ao pensamento compartilhado – uma extensão da consciência, ainda inconcebível para a maioria de nós.

A afirmação de Rushkoff demonstra fenômenos tecnológicos que modificam tanto a linguagem como a própria composição biológica do ser humano, por isso, é possível perceber duas linhas de atuação na fala do autor: a web semântica e o cibridismo.

A ideia da web semântica, a web 3.0, foi apresentada a partir de discussões e considerações do artigo de Berners-Lee (2001, s.p.), no qual é demonstrado que os computadores ainda não são capazes de reconhecer elementos, interpretar significados, distinguir textos e compreender informações. Os computadores conseguem apenas fazer a codificação e decodificação das sequências de impulsos elétricos. Se for possível desenvolver tecnologias e linguagens que possibilitem os computadores de entenderem as informações como os seres humanos, será possível tornar mais colaborativo a relação entre o homem e a máquina.

Segundo Negroponte (1995, p. 22), atualmente existem dois tipos de ambiente – o formado por átomos (ambiente material) e o formado de bits (ambiente digital) –, cada qual com sua natureza completamente diferente e características específicas que passam a integrar o cotidiano do ser humano. Gabriel (2013, p.58) demonstra que, com a hiperconexão e a proliferação das plataformas digitais, grande parte dos seres humanos passa a transferir parte de si para o mundo digital, e assim, criando possibilidades de viver transitando entre o ambiente digital (online) e o ambiental material (offline).

Anders (2013, apud Gabriel, 2013, p.58) define esta transição entre o online e o

offline como cibridismo:

Cíbridos – híbridos de material e ciberespaço – são entidades que não poderiam existir sem reconciliar a nova classe de símbolos com a materialidade que eles carregam. [...] Cíbridos são mais que simplesmente uma separação completa (entre material e simbólico). Entre esses dois podemos ter componentes compartilhados.

Com a popularização dos dispositivos móveis e da banda larga, o ambiente digital está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, e consequentemente, estamos nos tornando pessoas online e offline ao mesmo tempo, o que possibilita maior interação e comunicação de diversas formas e lugares.

Moravec (2013, p. 40) exemplifica, de forma concisa e significativa, o propósito da web 1.0, 2.0 e 3.0 e relaciona com a educação:

Tabela 2.3.3.1 – Propósitos da web 1.0, web 2.0 e web 3.0

Web 1.0 Web 2.0 Web 3.0

O significado é... Ditado Socialmente construído

Socialmente construído e contextualmente reinventado A tecnologia está... Confiscada na porta

de sala de aula (refugiados digitais) Cautelosamente adotada (imigrantes digitais) Em todo lugar (universo digital) O ensino é... Feito pelo professor

para o aluno Feito pelo professor para o aluno e do aluno para o aluno

Feito pelo professor para o aluno e do aluno para o aluno e pelo aluno para o professor

As escolas são... Localizadas em salas Localizadas em salas

de aula ou online Localizadas em todos os lugares e completamente integrada com a sociedade Os pais veem as

escolas...

Como creches Como creches Como creches e também um lugar para aprender Os professores

são... Profissionais licenciados Profissionais licenciados Todos em todos os lugares O hardware e o

software são nas

escolas...

Comprados de grandes empresas de desenvolvimento

São open-source São Recursos Educacionais Abertos (REA) FONTE: Moravec (2013, p. 40)

Com esse quadro, é possível perceber que há uma enorme diferença nos efeitos que internet, desde o seu surgimento, tem gerado no contexto educacional, ou seja, a internet não só apareceu, mas também tem modificado profundamente a configuração nos papeis do professor, do aluno, na concepção do que é aprender e do que é ensinar na contemporaneidade. E, claro, também nas formas em como o conhecimento é produzido e compartilhado na sociedade, tanto acadêmica quanto em geral.

Impedir a entrada das tecnologias digitais em sala de aula não é somente um ato ditador e de resistência, seja da escola ou do professor, mas é um ato de não contribuição para que a humanidade continue a evoluir e produzir, por meio da educação formal, produtos e serviços, de forma criativa e inovadora, que sirvam para o contexto social, ao qual os alunos

estão imersos. Na verdade, impedir que as tecnologias digitais interajam com a educação formal é relegar o papel da escola ao status de desnecessária ao contexto social, pois se não prepara os alunos nem para o mercado de trabalho (pois está desatualizada), nem para vida (conteúdos não significativos e contextualizados) ou muito menos para a continuidade da vida acadêmica (alunos não acreditam na educação formal), o questionamento óbvio é: para que serve a escola, então?

A economia do conhecimento (produção, disseminação, compartilhamento e aquisição) baseada na estrutura da web 3.0, portanto, demonstra que as tecnologias digitais estão cada vez mais próximas dos alunos e são utilizadas para ajudá-los a desenvolverem melhor suas competências em aprender no contexto social atual.

“Então, Senhor Gato, agora seremos professores 3.0? Acho que ainda não tenho esse dom”, disse Alice já bem aflita. Com aquele sorriso largo, o Gato disse: “E desde quando ser professor é ter dom e não ser profissional competente, Alice?”. A professora ficou muito envergonhada, mas muito pensativa com as palavras do Gato.