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Interpretação de Chopin na actualidade

II Parte Prática interpretativa

4. Interpretação de Chopin e Bach: uma análise comparativa

4.3 Bach e Chopin: Práticas interpretativas na actualidade

4.3.5 Interpretação de Chopin na actualidade

A utilização, mais ou menos velada, de material popular pode ser apontada como uma das razões pela qual a interpretação da música de F. Chopin, fora do contexto cultural em que foi criada, e em que, por isso, estão inacessíveis as referências culturais a que aludem, se torna tão difícil. Por esse motivo, a interpretação da sua música, bem como a de

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muitos compositores do passado torna-se, muitas vezes, um falar uma ‘Língua morta’, uma Língua que é falada por um número reduzido de pessoas, mas que já se encontra desligada da sociedade e que, por isso, perdeu a sua capacidade de estabelecer uma empatia e de se recriar.

De forma a ilustrar a interpretação de Chopin na actualidade e a presença, ou não, de elementos bachianos efectuaram-se duas entrevistas com professores de piano, que mantêm uma actividade de concertista, e procedeu-se à análise de gravações áudio do Nocturno op. 55 no.1 de Chopin. A entrevista foi estruturada seguindo o seguinte esquema: Apresentação → Entrevista → Conclusão. A apresentação constou da informação dada ao entrevistado do motivo e teor da entrevista.

A entrevista seguiu um guião de nove questões, que se apresenta a seguir, na versão em Português e em Inglês, com as respectivas respostas. No caso da entrevista com o pianista Pedro Bumester, só os extractos da entrevista que contêm especificamente a sua resposta é que foram transcritos nesta alínea. A conclusão diz respeito ao final da entrevista e à despedida dos dois interlocutores.

A entrevista completa com Pedro Burmester, dada a sua extensão, situa-se no Apêndice III. Também a entrevista integral com Alexander Ardakov, que foi efectuada em Inglês, se encontra no Apêndice III, estando a versão resumida, em português, nesta alínea. Os dois entrevistados e o entrevistador são identificados pelas seguintes siglas: Alexander Ardakov - AA; Pedro Burmester - PB e Jorge Moreira - JM.

As duas entrevistas são distintas, nos meios utlizados. A entrevista com Pedro Burmester foi efectuada pessoalmente, com recurso a um gravador e está referenciada como A). Já a entrevista com Alexander Ardakov, a pedido do entrevistado, foi primeiro respondida por escrito, por correio electrónico, e depois, prosseguiu, por telefone, não tendo sido utilizada nenhuma forma de registo áudio e está referenciada como B).

Os dois entrevistados foram escolhidos por manterem uma carreira de concertistas, em que se distinguiram como intérpretes de Bach, ou Chopin, por terem realizado a aprendizagem do instrumento sob apostolados diferentes e por terem sido, por isso, expostos a realidades artísticas distintas, embora pertencendo ao mesmo espaço temporal, ou seja, pertencendo a gerações com uma vivência muito próxima. Desejou-se, desta forma, ampliar o leque de amostragem, sem alargar o número de entrevistados, o que

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poderia projectar o presente trabalho para além dos limites dos seus objectivos, pelo destaque dado a esta alínea e pelo volume total ocupado.

Estas entrevistas podem ser descritas como sendo semi-estruturadas, pois seguiram um guião de nove questões que serviu como base para um diálogo mais vasto e abrangente. O questionário básico foi o seguinte, nos dois idiomas utilizados:

1-No seu percurso como aluno, alguma vez os seus professores referiram a relação entre a obra de Bach e

Chopin? Se sim, qual?

When you were a student; did any of your teachers ever refer to the relationship between the work of Bach and Chopin? If so, please refer in which terms.

2-Encontra semelhanças entre a linguagem musical e/ou pianística de ambos os compositores? Se sim, quais?

Do you find any resemblances between the musical and pianistic language of both composers? If affirmative, please refer which.

3-Pensa que é essencial tocar Bach para a abordagem à obra de Chopin?

Do you think playing Bach is essential for approaching Chopin’s piano music?

4-Por favor, comente o emprego do pedal em ambos os compositores.

Please comment the use of pedal on both composers.

5-Por favor, comente a prática performativa em ambos os compositores, no que respeita à ornamentação,

arpejos e Tempo rubato.

Please, comment on the performing practice of both composers concerning ornamentation, arpeggios and

rubato.

6-Quais edições é que prefere utilizar em Bach e Chopin?

Which editions do you use or prefer in Bach and Chopin?

7-Alguma vez incluiu no mesmo programa e interpretou ambos os compositores, na mesma data? Se não,

porquê?

Have you ever played both composers at the same recital? If not, why not?

8-Por favor, comente a realização dos seguintes exemplos musicais:

Please, comment the performing practice of the following examples:

-Balade op. 23: mesure 7 (the arpeggio and the Eb); mes. 17-18 (use of left pedal, more piano y/n?)

-Nocturne op. 55 no. 1: mes. 6-8/14-16/30-32/46-47 and mes. 22-23/38-39 (the appoggiaturas, arpeggios in the beat y/n?); mes. 19, 35 (the quavers all equal?); mes. 59,61, 63 (the first chord arpeggiato y/n?); mes. 98- 101 (the arpeggios on both hands played at the same time or like one?)

9-Há outro comentário que gostasse de fazer sobre a relação Bach/Chopin antes de terminar esta entrevista?

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Na entrevista A) o guião não foi integralmente cumprido, tendo faltado a segunda e e nona questões. A razão para esta lacuna está ligada com a dinâmica da entrevista. Neste caso, o entrevistado tomou a iniciativa e deu respostas longas, que, nalguns casos, forneceram a resposta às perguntas em falta. Por exemplo, a segunda questão encontra-se respondida no decurso da resposta à primeira questão, quando Pedro Burmester diz:

...de construções melódicas e de melodias que parece que nunca acabam e que se encadeiam continuamente, que Chopin tem e Bach também tem, e na polifonia que não parece evidente à partida em Chopin, mas que existe quase sempre (…) em muitas obras dele (…) há uma escrita de contraponto… (Burmester 2011)

Na entrevista B) todas as questões do guião foram colocadas. Os dois entrevistados complementam-se, na medida em que Pedro Burmester se tem debruçado mais sobre a obra de J. S. Bach e Alexander Ardakov sobre F. Chopin. A ilustrar este aspecto, são apresentadas as biografias e discografias de ambos os pianistas, antes dos resumos das respectivas entrevistas, que se seguem:

Biografia e Discografia de Pedro Burmester

Pedro Burmester nasceu em 1963, no Porto. Durante dez anos estudou, particularmente, com Helena Sá e Costa. Terminou o antigo Curso Superior do Conservatório do Porto, em 1983. Entre 1983 e 1987 estudou nos EUA, com Sequeira Costa, Leon Fleischer e Dmitri Paperno. Foi premiado em diversos concursos, destacando- se o Prémio Moreira de Sá, o 2.º Prémio Vianna da Motta e o prémio especial do júri do Concurso Van Cliburn, nos Estados Unidos da América. No estrangeiro, são de realçar as suas apresentações em La Roque d’Anthéron, na Salle Gaveau, no Festival da Flandres, na Filarmonia de Colónia, na Frick Collection e na 92nd Y (Nova Iorque), na Gewandhaus de Leipzig, na Casa Beethoven (Bona) e no Concertgebouw de Amesterdão.

Destacam-se as colaborações com os maestros Manuel Ivo Cruz, Miguel Graça Moura, Álvaro Cassuto, Omri Hadari, Gabriel Shmura, Muhai Tang, Lothar Zagrosek, Michael Zilm, Frans Brüggen e Georg Solti. Em 2001 foi o organizador da programação do Porto – Capital Europeia da Cultura e um dos responsáveis pela programação da Casa da Música. Foi professor na Universidade de Évora. É professor na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto e na Universidade de Aveiro.

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Para além do disco Duetos com Mário Laginha, a sua discografia inclui quatro CD’s a solo com obras de Bach, Schumann, Schubert e Chopin e três gravações com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Em 1999 gravou a integral das Sonatas para Violino e Piano de Beethoven, com o violinista Gerardo Ribeiro. Em 2001 gravou, a quatro mãos, com Alexei Eremine, o CD The Circle of Life, com peças de Schubert.

A) Resumo da entrevista com o pianista e pedagogo Pedro Burmester

1. JM - Hum…então a primeira pergunta é…o seu percurso como aluno. Sei que estudou com Helena