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Interpretação do Fenômeno do Diálogo de Professores com o Vídeo Didático

No documento Paulo Eduardo Ferreira Machado (páginas 73-81)

2. Metodologia da Pesquisa

2.5. Procedimentos de Interpretação

2.5.2. Interpretação do Fenômeno do Diálogo de Professores com o Vídeo Didático

A compilação das textualizações originadas nas trocas de e-mails e nas conversas com os nove participantes desta pesquisa originou um considerável volume de textos sobre os quais me debrucei para proceder à interpretação. O que se busca, numa interpretação hermenêutico-fenomenológica é, segundo van Manem (1990), desvendar a essência ou estrutura de um fenômeno da

experiência humana. Essa estrutura se define através dos temas que emergem a partir do estudo das textualizações desse fenômeno. A esse respeito, van Manen (1990) nos diz:

“Phenomenological themes may be understood as the structures of experience. So when we analyze a phenomenon, we are trying to determine what the themes are, the experiential structures that make up that experience. It would be simplistic, however, to think of themes as conceptual formulations or categorical statements” (p. 79).

O caminho para o processo de tematização, conforme apontado acima, deve transcender as formulações conceituais elaboradas pelo pesquisador. Os temas são atingidos após um longo processo de busca, identificação, agrupamento e refinamento de unidades de significado encontradas no texto, como sugere Freire (1998, 2006, 2007a, 2007b). Esse processo é repetido

quantas vezes forem necessárias para se alcançar a estrutura de um fenômeno. Segundo van Manen (1990: 92), há três caminhos para se chegar às unidades temáticas, conforme dito anteriormente neste trabalho: a abordagem holística, a seletiva ou a detalhada. Optei, neste trabalho, pela abordagem seletiva, através da qual, segundo van Manen (1990: 93), lemos o texto várias vezes e perguntamos quais afirmações ou frases parecem particularmente essenciais ou reveladoras do fenômeno ou experiência investigada (van Manen, 1990: 93).

Para me auxiliar nesse processo de busca seletiva das unidades de significado, e, conseqüentemente, de tematização, recorri a um software concebido para auxiliar na interpretação qualitativa de dados: ATLAS. ti 5.0.

Com o ATLAS. ti 5.0 é possível proceder à organização de diferentes tipos de textos, inclusive arquivos de áudio e vídeo. Basicamente, há quatro formas de interagir com os dados através do ATLAS. ti 5.0: através dos Primary Documents, Quotes, Codes e Memos.

Primary Documents são os arquivos básicos dos textos com os quais lidamos. Devem ser importados para o ATLAS. ti 5.0 como arquivos tipo rich text format, mas ao final podem ser exportados como arquivos tipo .rtf, .txt ou .doc. No caso desta interpretação, importei todos os arquivos das

textualizações para o programa, e iniciei a interpretação a partir desse ponto. A figura a seguir ilustra o acesso aos textos que o programa permite:

Figura 1: Acesso aos textos importados para o ATLAS. ti 5.0

Minha interpretação começou por aquilo que me chamava a atenção nos textos, num sentido mais geral: frases cujo sentido me parecia peculiar, escolhas lexicais que saltassem aos olhos, colocações interessantes ou polêmicas. Sempre sob o meu ponto de vista, minha interpretação, procurava trechos que pudessem ser reveladores do fenômeno estudado. Esses trechos, selecionados, no programa, são chamados de Quotes, e podem ser nomeados. Para tanto, preferi manter exatamente o que estava escrito em cada citação, mas essa é uma opção que o pesquisador tem. Cada Quote vem acompanhada pelo número indicativo do Primary Doc em que se encontra, assim como do número da entrada dentro desse Primary Doc. Assim, ao clicar na barra de rolagem das Quotes, o pesquisador é levado diretamente ao trecho escolhido. Isso facilita bastante a busca por trechos que já foram selecionados no documento, conforme é possível ver na figura a seguir:

Figura 2: Tela ilustrativa do uso da ferramenta Quotes

Cada Quote pode receber um nome, dado pelo pesquisador; O programa lista esses nomes sob a menu Codes. Considero esse recurso muito importante, pois, ao dar um nome para uma Quote, o pesquisador já está, de certa forma, aprofundando sua interpretação e facilitando o trabalho de refinamento e agrupamento das unidades de significado. Além disso, através da barra de rolagens de Codes é possível saber quantas Quotes têm o mesmo nome, o que agrega bastante sentido para o agrupamento dessas Quotes numa busca pelos temas que estruturam o fenômeno. Pode-se observar esse recurso do programa na figura abaixo:

Figura 3: Tela ilustrativa do uso da ferramenta Codes

É possível observar, pela figura acima, que havia, no conjunto de todos os meus Primary Documents, vinte e nove Quotes cujos Codes intitulavam-se imagem. Isso mostrava que imagem parecia se configurar como um tema, na interpretação dos dados, e poderia estar estruturando o fenômeno. No entanto, nas releituras de todos os dados, pude compreender que isso não se configurava dessa forma, indicando, talvez, a influência de idéias pré- articuladas que eu trouxera para a seara da leitura. Na verdade, imagem assumiu a dimensão de uma mera escolha lexical dos participantes da pesquisa, obviamente por estarmos lidando com um audiovisual; não se confirmou como um tema estruturador do fenômeno.

A releitura e o movimento de interpretações e re-interpretações das textualizações correspondem àquilo que van Manen (1990) denominou ciclo de validação e Ricoeur (2001) de círculo hermenêutico. A esse respeito, Ricoeur (1986/2002) afirma:

“Una interpretación deve ser no solo probable, sino también más probable que outra. Hay critérios de superioridad relativa que se puedem inferir fácilmente de la lógica de la probabilidad subjetiva” (p. 186).

A citação acima evidencia que um software, por si só, não é capaz de interpretar textos de experiências humanas. Antes, é uma útil ferramenta para a organização dos dados, sem configurar-se, entretanto, como um ente autônomo no campo da interpretação. O ATLAS. ti 5.0, em especial, oferece um conjunto de ferramentas para se chegar aos temas que estruturam o fenômeno a partir das unidades de significado: O Gerenciador de Famílias, conforme mostra a figura a seguir, pode ser um deles.

Figura 4: Tela ilustrativa do gerenciador de famílias

Utilizei o Gerenciador de Famílias da seguinte maneira: os Codes, listados à direita e abaixo no quadro, são todos os Codes presentes nos dados. Através das setas < e >, pude gerenciá-los e agrupá-los em famílias que, na realidade, resultam nos temas que estruturam o fenômeno. Essas famílias, contendo todos os Codes que as formam, podem ser impressas, ou salvas em arquivo, através do editor de famílias. Foi isso o que eu fiz: imprimi os arquivos das diversas famílias, para que pudesse lê-los impressos. A partir de então, preferi não mais utilizar o software ATLAS. ti 5.0. Premido pelo tempo, cheguei a um ponto onde precisava me concentrar mais no significado dos dados do

que no gerenciamento de um software que eu ainda precisaria estudar mais. A partir de então, com as textualizações agrupadas em famílias, passei a utilizar um editor de textos comum, continuando o processo de refinamento dos dados.

As famílias que emergiram desse trabalho foram: linguagem, interpretação, usos, questionamentos, aprendizagem, imagem, visão, gramática, sentido/significado, vídeo didático e professor. Através de mais leituras, refinamentos e agrupamentos, fui me aproximando da estrutura temática representada pelo rascunho a seguir:

Figura 5: Primeiras representações gráficas sobre a estrutura do fenômeno

Como é possível observar, a primeira organização temática do fenômeno estruturava-se através do tripé linguagem, interpretação e usos. Questionamento era um subtema de todos os três temas. No entanto, aprofundando-me ainda mais na interpretação, no sentido de incluir as famílias que haviam ficado ausentes dessa estrutura, cheguei a uma nova estruturação temática, que me pareceu mais coerente com o que emergia dos textos coletados. Ela é ilustrada pela figura abaixo:

Figura 6: Representação gráfica da estrutura do fenômeno

Com este aprofundamento, após novos refinamentos e re-considerações (como sugere Freire, 2006, 2007a, 2007b), cheguei ao resultado da seguinte estrutura temática para o fenômeno do diálogo de professores de inglês com um vídeo didático: Reflexão, Aplicação e Questionamento. Esse tripé, com seus subtemas, será detalhado no capítulo 4, no qual apresento minha interpretação do fenômeno do diálogo de professores de inglês com um vídeo didático

No documento Paulo Eduardo Ferreira Machado (páginas 73-81)