Clawson oferece-nos um esquema interpretativo que, apesar de se referir ao Bender composto por nove figuras, pode servir para tirar conclusões na versão Santucci- Percheux, a nível tanto de aspectos emocionais como orgânicos.
Factores organizacionais
Referem-se aos aspectos de disposição das figuras na página usada pelo indivíduo.
Sequência
Arranjo ou ordem das figuras.
1 – Rígida: as figuras são desenhadas numa sequência directa na página. A colocação dos desenhos parece forçada e sem consideração por tamanho ou forma.
2 – Ordenada: sucessão regular de figuras com a excepção da realização de uma inversão (mudança de direcção).
3 – Irregular: mais de uma mudança de direcção mas, mudanças lógicas para possibilitar mais espaço para uma figura.
4 – Confusa: não são desenhadas mais do que três figuras em sequência e as restantes estão espalhadas pela página.
5 – Figura I no centro com as outras colocadas arbitrariamente à volta (confusa). A ordem do desenho é uma manifestação da abordagem intelectual do indivíduo. As crianças adaptadas normalmente arranjam as figuras numa sequência ordenada ou irregular. A ordem rígida está associada a um funcionamento intelectual rígido. A ordem confusa está associada com desorganização do funcionamento intelectual. O arranjo à volta da figura I está associado com comportamentos de passagem ao acto.
Coesão na página
1 – Tendência de borda: dois terços das figuras são dispostos ao longo da borda vertical de tal maneira que não se estendem além da linha média. A borda do papel parece servir como linha de indicação e de orientação do desenho.
2 – Tendência de topo: dois terços ou mais das figuras estão dentro do terço superior da página.
3 – Tendência de base: dois terços das figuras estão dentro do terço inferior da página.
A compressão das figuras numa pequena porção da página reflecte uma personalidade que tende a se retirar do seu ambiente. A criança sente-se ameaçada pelo mundo, tal como o percebe e tem uma necessidade excessiva de se apegar a alguém ou alguma coisa (pode ser indicador de disfunção cerebral mínima e como forma de compensar o transtorno perceptual usando a borda da página como ponto de referência).
Uso do espaço branco
Outras formas não habituais de usar o espaço:
1 – Arranjo expansivo: as figuras são espalhadas amplamente pela página com uma grande separação entre as mesmas.
Indica uma criança activa com sentimentos agressivos e rebeldes.
2 – Uso de mais do que uma página: está relacionado com a expansão do desenho.
Indica uma criança activa, auto centrada e agressiva que tende a agir de acordo com os seus impulsos para gratificação imediata das suas necessidades (pode indicar psicopatia).
3 – Papel mudado de orientação.
Comportamento de passagem ao acto e expressão de negativismo indica crianças resistentes e rebeldes.
Modificação do tamanho da figura
A alteração de tamanho diz respeito a flutuações de pelo menos um quarto do tamanho dos estímulos padrão.
1 – Tamanho da figura aumentado: quando mais de metade das figuras apresentam um aumento no eixo vertical ou horizontal.
Transformação no contrário da ansiedade (formação reactiva) através de uma supercompensação e expansibilidade do humor, característico de crianças expansivas e actuantes.
2 – Tamanho da figura diminuído: quando mais de metade das figuras apresentam uma diminuição.
Revela pobreza de impulsos. Característico de uma criança inibida, que se sujeita ao controlo adulto e reprimiu os seus impulsos e a sua responsividade emocional. 3 – Tamanho da figura irregular: aumento ou diminuição progressiva do tamanho das figuras ou, pelo monos, uma figura muito grande.
Um aumento do tamanho das figuras está associado a comportamento lábil, baixa tolerância à frustração, comportamento rápido e descontrolado aos estímulos. Pode revelar propensão a explosões de raiva com leve provocação. Quando existe uma diminuição progressiva pode revelar tendência a internalizar a ansiedade que pode ser acompanhada de conversão da ansiedade a reacções somáticas.
Modificação da forma (Gestalt) Fechamento
Refere-se à reprodução, sem coincidência parcial da união da figura total ou de qualquer sub-parte da mesma.
Pode apresentar os seguintes desvios: 1. Quebra de contornos;
2. Trespasse no ponto de junção; 3. Pequena separação de sub-partes;
4. Penetração de uma sub-parte por outra; 5. Deslocamento de uma sub-parte;
6. Absorção do vértice de uma sub-parte por outra.
Se cerca de metade das figuras apresentam os desvios descritos pode-se dizer que o protocolo demonstra dificuldades de fechamento. Estes desvios são vulgares em crianças adaptadas.
Estas dificuldades são expressão de medo ou excessivo atrito nas relações interpessoais, podem indicar que a criança nunca teve uma relação satisfatória com um adulto significativo: privação emocional.
Simplificação
Uso de conceitos menos maduros na reprodução das figuras. A figura é considerada imatura quando é típica de uma idade mental abaixo da idade da criança. Os desvios têm que estar presentes em, pelo menos, três unidades para que seja considerada regressiva:
1 Uso de círculos, traços ou vírgulas em vez de pontos ou laçadas; 2 Uso de pontos por laçadas;
3 Uso de arcos em vez de ângulos nítidos.
As figuras compostas por linhas apresentam simplificação quando:
1. A idade mental equivalente da forma básica está abaixo da idade mental da criança;
2. A junção das sub-partes não se aproxima da apropriada para a idade como é apresentada no quadro maturacional.
Os sinais regressivos aparecem tanto em protocolos normais como de crianças perturbadas ou com distúrbio orgânico, a quantidade é que faz a diferença (mais de
Rotação
Rotação da figura total sobre o seu eixo (mais de 15 graus).
As crianças perturbadas emocionalmente apresentam mais pequenas rotações (15 a 25 graus) que as crianças normais. Rotações no sentido dos ponteiros do relógio parecem indicar afecto embotado e pobreza de impulsos. As rotações no sentido inverso parecem indicar expansibilidade e por vezes oposicionismo. Uma rotação de 90 a 180
graus, a partir dos oito anos, é sugestiva de organicidade.
Mudança de angulação
Mudança maior de 15 graus no tamanho de qualquer ângulo.
Na figura II, a partir dos 10 anos, a presença de colunas verticais sugere a falta de expressão manifesta de sentimento ou embotamento de afecto. A presença de arqueamentos inusitados indica autocentramento.