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Intervalos intrajornada e folga dominical

2. PRINCÍPIO DA IGUALDADE NO TRABALHO DA MULHER

2.3. As discriminações de gênero e a proteção do trabalho da mulher no sistema

2.3.3. Execução do contrato

2.3.3.2. Condições de trabalho

2.3.3.2.1. Intervalos intrajornada e folga dominical

Mesmo após a Constituição de 1988, o art. 383 da CLT impõe tratamento diferenciado da mulher referente ao intervalo intrajornada ao dispor que “durante a jornada de trabalho, será concedido à empregada um período para refeição e repouso não inferior a 1 (uma) hora nem superior a 2 (duas) horas salvo a hipótese prevista no art. 71, § 3º”.

A primeira ilação possível é que o preceito celetista garante intervalo para refeição e repouso não inferior a uma hora nem superior a duas horas, qualquer que seja a extensão de sua jornada de trabalho, diferentemente dos homens que, em jornadas superiores a quatro horas e inferiores a seis horas, tem direito a 15 minutos de descanso (CLT, art. 71, §1º).

A esse respeito, Maurício Godinho Delgado, reputa ser discriminatória, redutora do mercado de trabalho e insensata a imposição à mulher de disponibilidade temporal mais dilatada, mesmo nos casos de jornadas inferiores a seis horas280.

A interpretação corrente, contudo, é no sentido de que o disposto no art. 383 da CLT equivale à do art. 71 e seus parágrafos, distinguindo-se em relação ao trabalho feminino, tão somente, pela exclusão da hipótese de prolongamento do limite máximo de duas horas.

Efetiva e diversamente, ao regular os períodos de descanso para o trabalhador em geral, o legislador adotou procedimento menos restritivo à ampliação do intervalo intrajornada que à sua redução. Nos termos do caput do artigo 71 da CLT, basta a formalização do acordo escrito individual ou contrato coletivo (norma coletiva) para ser válida a dilação do intervalo de duas horas.

A redução do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, por seu turno, não é permitida senão por ato do Ministério do Trabalho, conforme preceitua o § 3º do art. 71 da CLT. Mesmo as convenções coletivas, em que pese seu reconhecimento e valorização previstos na ordem constitucional (art. 7º, XXVI), não são instrumentos válidos para reduzir o intervalo para refeição e descanso do trabalhador. Nesse sentido, a Súmula 437, II, do TST281.

Segundo a jurisprudência do TST, o comando do art. 383 da CLT é expresso em vedar a dilação do intervalo, ao dispor que o intervalo não poderá ser “inferior a 1 (uma) hora nem superior a 2 (duas) horas salvo a hipótese prevista no art. 71, § 3º”. A única exceção à aludida proibição, admitida pelo legislador ordinário, é a do § 3º do art. 71 da CLT, que autoriza a

280 DELGADO, Maurício Goldinho. Curso de direito do trabalho... cit., p. 896-897.

281 “II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva”. Disponível em: < http://www.tst.jus.br/jurisprudencia > Acesso em: 04.09.2015.

diminuição do intervalo mínimo, desde que atendidas as exigências legais impostas por essa mesma disposição legal282.

Assim, o descumprimento do limite máximo legal destinado ao intervalo para refeição e descanso da mulher, de que trata o art. 383 da CLT, importa o pagamento de horas extraordinárias do período dilatado, por se tratar de norma de ordem pública, dirigida à proteção do trabalhado da mulher, infensa à disposição das partes.

Ainda no que tange aos intervalos que ocorrem dentro da jornada de trabalho, o art. 384 da CLT dispõe que: “em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de quinze (15) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho”.

De um lado, o entendimento de que o preceito celetista conflita com o art. 5º, I, da CF, em que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, já que não há idêntico descanso para o homem. Além disso, a disposição soa discriminatória, pois o empregador, por conta dessa restrição, poderia preferir a contratação de homens, a de mulheres283. De outro lado, o posicionamento de que tal dispositivo legal foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, pela máxima do princípio da igualdade de tratar desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades, em atenção as diferenças fisiológicas da mulher.

O Plenário do STF, confirmando jurisprudência do TST284, firmou tese reconhecendo a constitucionalidade do descanso peculiar ao trabalho feminino, em vista das diferenças físicas entre homens e mulheres285.

282 Para o TST, a gênese do art. 383 da CLT, ao proibir, expressamente, a majoração do intervalo intrajornada de duas horas para a mulher, não concedeu direito desarrazoado às trabalhadoras, mas, ao contrário, objetivou preservá-las da nocividade decorrente da concessão de intervalo excessivamente elastecido, que gera um desgaste natural pelo excesso de tempo em que a trabalhadora fica vinculada ao local de trabalho, na medida em que ela necessita retornar à empresa para complementar sua jornada laboral. Considerou, para tanto, sua condição física, psíquica e até mesmo social, pois é de conhecimento que, não obstante as mulheres venham conquistando merecidamente e a duras penas sua colocação no mercado de trabalho, em sua grande maioria ainda são submetidas a uma dupla jornada, tendo que cuidar dos seus lares e de suas famílias. Nesse sentido E- RR - 5100-23.2002.5.12.0028. Data de Julgamento: 16/04/2009, Redator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT07/08/2009. Disponível em: < http://www.tst.jus.br/consulta-unificada > Acesso em: 04.09.2015.

283 Nesse sentido, MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho... cit., p. 577.

284 TST - Processo: RR - 154000-83.2005.5.12.0046. Data de Julgamento: 22/04/2009, Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/05/2009. Disponível em: < http://www.tst.jus.br/consulta-unificada > Acesso em: 08.09.15.

285 STF - RE 658312 RG / SC – Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. Relator(a): Min. Dias Toffoli. Julgamento: 08/03/2012. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/ listarConsolidada.asp > Acesso em: 08.09.15. De ressaltar que, em setembro de 2015, por unanimidade, o próprio STF acolheu os embargos de declaração com efeitos modificativos para, em razão de vício de intimação dos advogados do embargante, anular o acórdão proferido pelo Tribunal Pleno no recurso extraordinário, determinando, ainda, sua inclusão em pauta para futuro julgamento, com a devida notificação e intimação das partes representantes que atuem no feito.

Demais disso, o art. 386 da CLT dispõe que, “havendo trabalho aos domingos, será organizada uma escala de revezamento quinzenal, que favoreça o repouso dominical”. Assim como o trabalhador do sexo masculino, a mulher tem direito ao repouso semanal remunerado de 24 horas, de preferência aos domingos, conforme preconizado pelo art. 7º, XV, da CF, salvo motivo de exigência técnica ou conveniência pública, quando poderá recair em outro dia. A diferença imposta pelo preceito legal em questão é que, a mulher que trabalhar aos domingos terá uma escala de revezamento quinzenal para que o descanso coincida com o domingo.

Em todos os casos, apesar do entendimento jurisprudencial, a questão permanece polêmica e será melhor examinada no próximo capítulo, quando será tratado do controle de constitucionalidade.