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Capítulo 3 – Combate ao terrorismo

3.1. Contraterrorismo

3.1.2. Tipos de medidas de combate ao terrorismo

3.1.2.1. Medidas pacíficas

3.1.2.1.9. Intervenção dos órgãos da Organização das Nações

No âmbito da acção dos órgãos da ONU no contexto do combate contra o terrorismo, devemos começar por referir, quanto ao CS, que este órgão pode convidar as partes em conflito a resolvê-lo através de meios pacíficos (de acordo com o n.º 2 do artigo 33.º da CNU) 227, devendo intervir se as partes utilizarem todos os meios de resolução pacífica disponíveis e não conseguirem, ainda assim, pôr fim ao seu litígio (segundo o artigo 37.º da CNU e o parágrafo 7 da parte I da Declaração de Manila).

O CS poderá actuar por iniciativa própria ou na sequência de uma solicitação feita pelas partes em conflito. No primeiro caso, ele poderá, como já vimos, criar uma comissão de inquérito 228, para analisar se o conflito em causa poderá ameaçar a paz e a segurança internacionais (à luz do artigo 34.º) ou, nos termos do n.º 1 do artigo 36.º, “recomendar os procedimentos ou métodos de soluç~o apropriados” (ou seja, recomendar a adopç~o de um método específico de resolução pacífica de conflitos). Acrescente-se que também podemos retirar uma competência para a criação de comissões de inquérito do artigo 39.º; contudo,

227 Não sendo indicado um método em particular. 228 Cf. supra 3.1.2.1.2..

84 estando este artigo incluído no capítulo VII, o CS terá de qualificar previamente a situação em questão como um caso de ameaça à paz, ruptura de paz ou agressão. Por outro lado, no artigo 34.º permite-se a criação de uma comissão de inquérito contra a vontade do Estado em cujo território tiveram lugar os factos que estão a ser analisados, não sendo impedidas acções de investigação desde que não impliquem a entrada no território sem a autorização desse mesmo Estado. Se se pretender entrar no território, ou o Estado colabora voluntariamente, ou então teremos de estar perante um caso enquadrável no capítulo VII (ameaça à paz, ruptura de paz ou agressão), isto é, abrangido pelo artigo 39.º; apenas nesta última situação é que podemos dizer que o Estado em questão teria obrigatoriamente de respeitar os poderes da comissão.

Por outro lado, se uma ou todas as partes em conflito decidirem submeter a questão ao CS, este poderá, de acordo com o n.º 2 do artigo 37.º e se julgar que a continuação desse conflito poderá ameaçar a paz e a segurança internacionais, optar pela aplicação do artigo 36.º, isto é, “recomendar os procedimentos ou métodos de soluç~o apropriados”, ou “recomendar os termos de soluç~o que julgue adequados”; como se conclui, no segundo caso vai-se mais longe, uma vez que aqui o CS vai pronunciar-se sobre a questão de fundo, ou seja, recomendar uma solução, convertendo-se assim numa comissão de conciliação. Adicionalmente, devemos mencionar o artigo 38.º, respeitante a qualquer controvérsia, segundo o qual o CS poder| “fazer recomendações {s partes, tendo em vista uma soluç~o pacífica da controvérsia”, mas apenas se todas as partes em conflito o solicitarem; também aqui temos o CS a funcionar como uma comissão de conciliação.

O CS poderá também pronunciar-se especificamente sobre o terrorismo; mais propriamente, poderá aprovar actos no sentido da adopção de medidas pacíficas contra os Estados que tenham participado directa ou indirectamente num ataque terrorista. Aliás, como veremos 229, foram várias as resoluções aprovadas pelo CS que continham referências, designadamente, à necessidade de combater o financiamento do terrorismo (através de medidas como o congelamento de bens), mas também à necessidade de os Estados terem em conta as obrigações a que

229 Cf. infra 3.2.1..

85 estão vinculados no âmbito do Direito Internacional aquando da criação de medidas de combate ao terrorismo.

Relativamente à AG, esta tem neste campo competência para aprovar apenas actos não obrigatórios 230, podendo, como é indicado, respectivamente, no n.º 2 do artigo 11.º e no artigo 14.º, “discutir quaisquer questões relativas { manutenção da paz e da segurança internacionais […] e […] fazer recomendações relativas a quaisquer destas questões” e “recomendar medidas para a solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja a sua origem, que julgue prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre nações”. Em ambos os casos há que ter em conta o limite estabelecido pelo n.º 1 do artigo 12.º, segundo o qual “enquanto o Conselho de Segurança estiver a exercer, em relação a qualquer controvérsia ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança o solicite”, ou seja, a AG poderia apenas discutir a questão 231. Poder| também “chamar a atenç~o do Conselho de Segurança para situações que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais”, segundo o n.º 3 do artigo 11.º.

Quanto ao SG, é indicado no artigo 99.º que este poderá, por sua iniciativa, “chamar a atenç~o do Conselho de Segurança para qualquer assunto que em sua opini~o possa ameaçar a manutenç~o da paz e da segurança internacionais”. Ora, para isto terá de ter competência para analisar os factos, o que implica ter poder para criar comissões de observação e de inquérito; por isso é que deste artigo podemos “retirar uma competência para atribuir funções de inquérito aos seus enviados em relação a qualquer controvérsia ou situaç~o no terreno […] cuja subsistência possa fazer perigar a manutenção da paz ou segurança internacionais […], designadamente de modo a determinar se se est| j| perante uma situaç~o típica do Capítulo VIII. Ou mesmo para criar uma comissão de inquérito formal” 232. Nestas situações é necessário o consentimento das partes ou do Estado ou Estados que exercem jurisdição sobre o território em questão.

230 Uma vez que apenas as deliberações da AG que incidem sobre assuntos referentes à vida interna da ONU têm força obrigatória.

231 Contudo, o artigo 12.º perdeu importância, após ter sido massivamente violado e não ter havido uma reacção significativa por parte do CS ou dos membros permanentes.

86 Deve, por fim, ser referida a importância das diversas convenções internacionais aprovadas ao nível da ONU e que têm impacto sobre o terrorismo 233; embora as questões em causa nestas convenções (tomada ilícita de aeronaves, crimes contra pessoas internacionalmente protegidas, tomada de reféns, etc.) não constituam propriamente o que poderíamos designar imediatamente por terrorismo, são actos que podem vir a ser praticados no contexto de actividades terroristas. Naturalmente, os Estados também têm que fazer a sua parte, tornando- se parte nas convenções e integrando aquilo que nelas é estabelecido (assim como nas resoluções do CS e da AG) na sua ordem jurídica interna.