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Intervenção profissional em situações de VDCA: qual é o caminho possível?

2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES:

2.3 Intervenção profissional em situações de VDCA: qual é o caminho possível?

Como já foi relatado, ao longo deste capítulo, a VDCA é presença marcante como forma de resolução de conflitos, violação de direitos e estabelecimento de poder na relação adulto-criança-adolescente em família.

Consideramos que a VDCA é um motivo de alerta, pois sua ocorrência sinaliza que os relacionamentos não vão bem nas famílias. A sintomatologia apresentada pelas crianças e/ou adolescentes vítimas é um indicativo de que há necessidade de intervenção profissional, para rompimento de seu ciclo que, como vimos, é perverso e transgeracional.

Independentemente de sua forma de expressão, toda e qualquer forma de violência causa indignação, pede por intervenção. Pode ser encarada como um sintoma gerado por/gerador de momentos de grande tensão, denunciando uma estrutura social e/ou familiar insatisfatória, decorrente, em grande parte, da perda de referências e valores culturais (VECINA e CAIS et al., 2002, p. 58).

A referida intervenção profissional só será efetiva no rompimento do ciclo perverso da violência, se estabelecermos estratégias nos 03 (três) níveis de prevenção conhecidos (AZEVEDO e GUERRA, 2006):

 Primária: dirigida a toda população, objetivando conscientizar quanto à temática da VDCA e reduzir a incidência de novos casos;

 Secundária: objetiva a identificação dos grupos de risco e acontece através do acompanhamento das famílias que apresentam sintomatologia indicativa referente à possibilidade de ocorrência da VDCA e

 Terciária: é o tratamento curativo das vítimas e dos agressores, objetivando reduzir as consequências, minimizar as sequelas e evitar a revitimização. Deve ser realizado por toda rede de serviços (saúde, educação, assistência social, SGD etc).

Neste item, trataremos especificamente da prevenção terciária, onde a intervenção profissional tem como foco a criança e/ou adolescente vítimas e suas famílias.

Segundo Azevedo e Guerra (2006), a intervenção profissional em casos de VDCA, deve realizar-se a partir de um planejamento único para cada situação, tendo como foco a família e ser constituído por:

 Diagnóstico multiprofissional: que é formado pela identificação do fenômeno e avaliação da gravidade e do risco do caso, a partir de indicadores

prédeterminados como idade da vítima, grau de parentesco do agressor, tempo de duração da vitimização, capacidade protetiva da família, entre outros fatores. O diagnóstico multiprofissional pode ser elaborado por profissionais capacitados das diversas políticas públicas (saúde, educação, assistência social etc) e do SGD;

 Atendimento: deverá ser realizado por serviço especializado, que irá aprofundar o caso e levantar todas as necessidades da família para rompimento do ciclo violento. O referido serviço é responsável pela elaboração de um Plano de Atendimento Familiar e realização dos encaminhamentos para todos os outros serviços necessários ao atendimento das necessidades das vítimas e suas famílias;

 Acompanhamento: será realizado pelo serviço especializado, através do atendimento periódico das famílias e do monitoramento dos encaminhamentos realizados. Para que o acompanhamento aconteça, faz-se necessária a existência de uma rede de atendimento comprometida com a problemática da VDCA, formada por profissionais competentes e capacitados e pelos serviços necessários (médicos, psicológicos (psicoterapia individual, familiar e grupal), sociais, educacionais, habitacionais etc) e

 Controle: inicia-se após o encerramento do acompanhamento. Trata-se de um trabalho educativo, preventivo e de orientação, objetivando a manutenção de novos padrões de relacionamento na família e a não revitimização da criança e/ou adolescente.

As referências internacionais indicam que as situações de VDCA devem ser acompanhadas, no mínimo, por 05 (cinco) anos após sua revelação e que cada profissional deverá ser responsável pelo atendimento e acompanhamento de, no máximo, 20 (vinte) casos (AZEVEDO e GUERRA, 2006).

Para a realização da intervenção profissional, da maneira como está colocada, os profissionais precisam estar comprometidos com a proteção e defesa das crianças e/ou adolescentes atendidos, capacitados quanto à problemática da VDCA, participando de programas de educação continuada e tendo acesso à supervisão de profissional externo, para auxiliar nas dificuldades encontradas nas situações atendidas. Ou seja, apoio contínuo ao longo de um exercício profissional que enfrenta questões referentes à alta demanda encontrada, à indefinição do serviço PAEFI pela normatização, à ausência de apoio do órgão gestor da Assistência Social, à dificuldade de definição e de identificação do fenômeno da

VDCA pelos atores da rede socioassistencial e também da própria Assistência Social, à não qualificação profissional, à inexistência de fluxos de atendimento e à necessidade de “atestar” para o SGD a veracidade ou não da vitimização, com prazos pré-estabelecidos.

O profissional precisa estar disponível para o trabalho em rede, onde a atuação de cada um é de extrema importância e este deve estar preparado para o diálogo e para a construção de um projeto de intervenção único, onde os profissionais juntos tentarão alcançar o mesmo objetivo, a partir da realização de seu trabalho.

Cada caso representa a criação de uma rede específica e de uma intervenção coerente. O importante é não desprezar qualquer informação ou detalhe. O compromisso dos profissionais envolvidos de várias instituições representa, na maioria das ocorrências, a criação de um modelo funcional em que cada um se apropria de uma parte na responsabilidade de atuação de sua prática específica e todos estão juntos no combate a esse tipo totalmente injusto de violência contra crianças e adolescentes (GARCIA, 2002, p. 151).

Tendo analisado neste capítulo as várias dimensões internas da VDCA e suas repercussões na sociedade em geral, discutido as exigências que coloca para a intervenção profissional e para a própria sociedade, como alternativa para o rompimento de seu ciclo perverso, passamos, a seguir, a trabalhar na história do atendimento à VDCA no Brasil. O objetivo é conhecer os serviços ofertados e o grau de abrangência e eficácia de sua execução.

3 O ATENDIMENTO À QUESTÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA