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Intervenção socioeducativa inclusiva: importância de programas e atividades no âmbito escolar

CAPÍTULO 2 – INCLUSÃO,ÓCIO E O PAPEL DOS PAIS NO

2.1 Escola e a Educação Inclusiva

2.1.4. Intervenção socioeducativa inclusiva: importância de programas e atividades no âmbito escolar

As crianças com autismo recebem, processam organizam e armazenam a informação de forma diferente. Essa dificuldade que têm em processar a informação que vão recebendo ocorre em diferentes graus e combinações em crianças de todo o espectro e por essa mesma razão, o autismo raramente afeta as crianças exatamente da mesma forma. É vital para os professores/educadores entenderem a individualidade de cada criança para puderem ajustar o método de ensino mais adequado (Magnusen, 2005).

A aprendizagem de programas e atividades em ambiente escolar para as crianças com autismo pode ser algo de difícil adaptação, no entanto, considera-se que o cérebro é um sistema adaptativo e moldável às diversas experiências e que a aprendizagem é contínua. Neste sentido, há uma esperança para os professores que têm nas suas classes crianças com esta patologia, acreditando que o facto da condição destas crianças não ser estática mas mutável, isto significa que as mesmas podem ser ensinadas. A aprendizagem nestas crianças pode ser alcançada através da continuidade de experiências (uma espécie de rotina) e da repetição de informação. Segundo Magnusen (2005) “children with autism (…) are often susceptible to learning new information when their sensory experiences have a routine element to them” (p.17).

A educação inclusiva vai mais para além das ações concretizadas dentro de uma sala de aula. Envolve também outros espaços onde as crianças/jovens convivem

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diariamente (o recreio, a sala de atividades de animação, etc.). Pretende-se desenvolver intervenções socioeducativas inclusivas de forma a oferecer qualidade a todos os alunos, apostando sempre no princípio básico da justiça social, da igualdade de oportunidades e da não discriminação.

Tentar traçar algumas linhas de intervenção torna-se uma tarefa complicada porque nem sempre as intervenções que se utilizam num contexto com uma determinada realidade podem ser aplicadas noutro contexto, com outra realidade. Deve-se avaliar cada contexto/situação individualmente nomeadamente: as características sociais, pessoais, económicas e pessoais que caracterizam as crianças e a própria escola; o público a quem se dirige a intervenção e as suas necessidades reais; os recursos e meios; o grau de envolvimento e experiência da equipa de intervenção.

Por outro lado, outro fator que pode tornar a intervenção realizada nas escolas uma tarefa complicada, é o facto de esta estar dependente das políticas e planos de ação que são geralmente definidos de acordo com os regulamentos.

Para uma intervenção socioeducativa adequada em contextos escolares em crianças do ensino pré-escolar, devem-se desenvolver atividades e programas que envolvam as habilidades sociais, de comunicação, de lazer/ócio; devem ser trabalhados os problemas comportamentais; os obstáculos à aprendizagem; a capacidade de ‘aprender a aprender’, ou seja, a capacidade de estar sentado com o grupo de colegas, de prestar atenção a uma tarefa; a generalização das aprendizagens e o conhecimento acerca do mundo real (habilidades adaptativas) (Volkmar & Wiesner, 2009).

No entanto, e tendo em conta os pontos referidos anteriormente, as linhas de intervenção que se podem levar a cabo num contexto escolar, segundo Álvarez (2014), são: a) Uma intervenção preventiva que consiste em detetar as condições pessoais e sociais que facilitam/dificultam o processo de aprendizagem dos alunos. Para isso torna-se necessário recolher informação junto dos professores/titulares de turma sobre o ambiente social e familiar das crianças e as suas necessidades, levando a cabo intervenções para introduzir modificações de forma a colmatar as situações detetadas; b) Uma intervenção ao nível do pré-escolar na integração de crianças com necessidades educativas especiais detetadas por serviços de saúde ou outros serviços.

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Deve-se fornecer os recursos e apoios necessários para que seja normalizado o seu processo de escolarização; c) Uma intervenção específica referindo-se a ações realizadas com alunos, pais, professores, levadas a cabo com a própria instituição escolar ou em colaboração com outras que desenvolvem programas concretos de intervenção específicos para atenuar determinadas situações, nomeadamente no caso do ensino pré-escolar onde se pretende desenvolver habilidades sociais e técnicas para melhorar a autoestima, desenvolver a aprendizagem, melhorar comportamentos e valores etc.; d) Uma intervenção em problemáticas socioeducativas sobretudo no jardim-de-infância e 1.º ciclo do ensino básico de forma a evitar o absentismo escolar e melhorar as relações sociais com os professores, com os pares, as habilidades comunicativas e os comportamentos, de forma a evitar situações que se poderão tornar graves; e) Intervenções em equipa interdisciplinar para elaboração, acompanhamento e avaliação de programas de ação para a atenção à diversidade, devendo atender todos os alunos. Podem ser promovidas ações de atualização e renovação profissional, podem ser levadas a cabo atividades que ajudem no desenvolvimento de atitudes/valores e competências dos alunos, que promovam um clima social positivo e cooperativo entre todos, que desempenhem um papel de mediação entre professores/família e que promovam e/ou implementem atividades para atingir um maior envolvimento das famílias no processo educacional. Torna-se importante um papel ativo dos pais no processo educativo dos filhos para que possam juntos aprender e desenvolver essas competências e outras em casa, facilitando desta forma o processo de aprendizagem mútuo (escola-casa); f) Intervenção em equipa interdisciplinar para elaboração, acompanhamento e avaliação de programas individualizados para alunos com necessidades educativas especiais onde sejam promovidas atividades que tragam benefícios para o desenvolvimento da criança com espectro do autismo, e elaboração, desenvolvimento, acompanhamento e avaliação das adaptações curriculares (dando um especial ênfase às áreas da autonomia e da socialização); g) Necessidade de desenvolver e difundir materiais e instrumentos para intervenção socioeducativa, ou seja, utilizar materiais específicos para atividades concretas como questionários de triagem, materiais para aconselhamento e treinamento dos pais, etc.

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Para Magnusen (2005) os programas e atividades realizadas no âmbito escolar devem possibilitar às crianças com e sem espectro do autismo: alcançar um estado de independência, desenvolver uma comunicação espontânea em situações quotidianas e na relação com os outros, serem capazes de tomar decisões próprias; serem capazes de adquirir e aplicar conhecimentos académicos de forma funcional no seu quotidiano.