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CAPÍTULO 2 – INCLUSÃO,ÓCIO E O PAPEL DOS PAIS NO

2.1 Escola e a Educação Inclusiva

2.1.5. O ócio: o princípio para a inclusão

Quando falamos de ócio podemos referir-nos a dois pontos de vista: o ócio entendido como um tempo vago para não fazer absolutamente nada, apenas para relaxar, ou: “(…) en una forma de utilizar el tiempo libre mediante una ocupación autotélica y autónomamente elegida y realizada [pela própria criança], cuyo desarrollo resulta satisfactorio o placentero para el individuo” (Álvarez, 2014, p.3). É nesta última perspetiva que pretendemos debruçar-nos sobre o ócio, como uma atividade de tempo livre aproveitado, que pretende ocupar o tempo do indivíduo de forma satisfatória e prazerosa. O ócio não deve ser encarado apenas como uma mera distração, mas entendido como uma forma útil de utilizar o tempo livre de forma adequada com atividades adequadas que possibilitem a distração, o divertimento, o relaxamento, mas também o desenvolvimento físico, emocional, social, intelectual onde a criança/jovem possa desenvolver habilidades importantes como a atenção e concentração, a inteligência, a imaginação, a criatividade, onde seja capaz de aprender regras sociais, onde seja capaz de explorar os seus sentimentos, onde aprenda a comunicar com os outros, a desenvolver vocabulário, a reforçar as suas relações sociais e onde aprenda a lidar com o stress (Álvarez, 2014).

Segundo Cabeza (2004), os elementos que definem o conceito atual de ócio, que se encontram descritos numa carta sobre a Educação do ócio redigida pela World Leisure & Recreation Association são os seguintes: a) o ócio refere-se a uma área específica da experiência humana produzindo benefícios próprios (liberdade de escolha, criatividade, satisfação, etc.) e abrange formas de expressão ou atividade geralmente de natureza física, intelectual, social, artística; b) o ócio é um recurso

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importante para o desenvolvimento pessoal, social, económico e cultural capaz de criar emprego, bens e serviços. É considerado um fator importante para a qualidade de vida dos indivíduos; c) o ócio contribui para o bem-estar, fornecendo aos indivíduos a capacidade de selecionar de entre as várias opções de atividades aquelas que mais se adequam às suas necessidades/interesses; d) o ócio é um direito humano e como tal, ninguém deveria ser privado independentemente do género, da idade, da raça, da incapacidade, da condição económica; e) o ócio é atualmente visto como uma forma de realização pessoal, como um direito e qualidade de vida. Existem cada vez mais na nossa sociedade períodos de insatisfação, falta de empenho em executar atividade física, falta de criatividade, alienação na vida quotidiana das pessoas e todas estas características podem ser substituídas mediante atividades de ócio que podem estar presentes através do desporto, da leitura, do turismo, do jogo, etc.

Às pessoas com deficiência ou problemas de desenvolvimento, devem ser dadas as mesmas condições (dentro do possível) de usufruir do ócio tal como se dão às pessoas sem deficiência ou sem problemas de desenvolvimento. As experiências de ócio devem contribuir tanto quanto possível para o desenvolvimento integral e bem-estar de todas as pessoas (Ortuzar, 2009).

Muitas vezes, as pessoas com deficiência ou com algum problema de desenvolvimento podem ter algumas dificuldades que limitam a sua participação em atividades de ócio tais como: dificuldades pessoais (inerentes à sua deficiência ou problemas de desenvolvimento: e.g. agitação, falta de atenção/de compreensão, falta de experiência), dificuldades de comunicação (compreensão/expressão), dificuldades sociais (falta de interação com outras pessoas) e familiares (superproteção). Torna-se então necessário que os profissionais adaptem as atividades de forma a serem acessíveis a todos os participantes, possibilitando desta forma que as crianças tenham oportunidade de escolher as atividades de acordo com os seus gostos e interesses. Deve-se proporcionar sempre um ócio inclusivo tanto em equipamentos como em recursos e atividades (Álvarez, 2014).

A inclusão baseia-se no reconhecimento de que todas as pessoas têm direito a participar na mesma base de igualdade e respeito à diversidade. A inclusão assume que a diversidade, a convivência e a aprendizagem em grupos heterogéneos é a melhor forma de beneficiar todos os participantes. Um ambiente de ócio inclusivo é

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aquele em que todas as pessoas podem participar numa atividade num determinado espaço e onde todos se relacionam entre si e neste sentido, para que isso se torne possível, foram lançados três desafios fundamentais para aplicação do princípio de inclusão através do ócio (Álvarez, 2014):

1) Paradigma da Diversidade, onde todas as pessoas devem ser consideradas de igual valor para a sociedade (pessoas com desenvolvimento típico e atípico). Deve haver uma mudança na prestação de serviços de ócio para que sejam adequados às necessidades de cada indivíduo. Qualquer criança com necessidades educativas especiais ao longo da sua vida e nas mais diversas experiências de ócio que lhe sejam proporcionadas, deve ter acesso a ajudas pessoais, técnicas ou materiais com o objetivo de garantir a sua participação com qualidade e sucesso;

2) Acessibilidade, no caso das crianças com autismo, este aspeto diz respeito ao conjunto de condições utilizadas de forma a facilitar a compreensão da informação por parte da criança entre outros aspetos;

3) Oferta do ócio baseada na criança, este princípio depende de três dimensões: do direito ao ócio (baseado na não discriminação, onde todos independentemente das suas limitações têm direito a divertir-se e a desenvolver competências de aprendizagem); de um ócio de qualidade (onde todos devem vivenciar experiências de ócio gratificantes e acesso a apoios necessários às necessidades de cada um) e por último da dimensão social do ócio compartilhado (possibilita uma aprendizagem mútua e respeito pela diferença estabelecendo algumas bases para uma sociedade diversificada).

O ócio é um aspeto importante para uma educação integral. O ócio pode estar presente através do jogo, de atividades lúdicas e é através deste meio que as crianças aprendem sobre si mesmas e sobre o mundo que as rodeia. O brincar é considerado como um meio de aprendizagem sobretudo em crianças do ensino pré-escolar, permitindo que estas desenvolvam uma série de competências importantes para seu crescimento e educação.

Os programas de ócio inclusivo devem permitir o contacto com diferentes realidades, a partilha de espaços, infraestruturas, serviços e equipamentos de ócio, a adoção de condições facilitadoras de inclusão e a conceção global das necessidades e respostas a dar a cada criança (Ortuzar,2009).

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Ao promover a inclusão socioeducativa através do ócio pretende-se que todas as pessoas (com desenvolvimento típico ou atípico) possam participar conjuntamente e partilhar das mesmas atividades, aprendizagens e acesso a serviços e apoios. Através do ócio inclusivo no ensino pré-escolar é possível estabelecer relações sociais, aprender regras sociais, aprender a partilhar, a desenvolver brincadeiras variadas com os outros, a desenvolver a comunicação como também adquirir competências de atenção e concentração que poderão ajudar nas mais variadas habilidades cognitivas (inclusão socioeducativa). Projeta-se que ao longo dessas brincadeiras elas consigam atingir o máximo de autonomia possível.

Segundo Trinca e Vianna (2014) “é através das atividades lúdicas, dos jogos e brincadeiras que se dá o contacto físico e significativo com outros colegas, desta forma é impossível pensar na aprendizagem social e afetiva sem esse convívio, essa interação com o outro, que torna a aprendizagem espontânea e propicia momentos de significativas experiências de vida” (p.162).

Ao brincar criam-se aprendizagens mútuas onde cada criança manifesta os seus saberes/conhecimentos, através de diferentes formas de comunicação. Ao brincar aprendem-se regras sociais, normas e o respeito pela aceitação do outro.