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CAPÍTULO IV MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DELETÉRIOS DO CLIMA ESTIVAL ATRAVÉS DE PRÁTICAS CULTURAIS ATRAVÉS DE PRÁTICAS CULTURAIS

4.3.1-INTERVENÇÕES NO SOLO

Segundo Reynier (1986), a escassez hídrica no período estival pode constituir um fator limitativo, repercutindo-se na planta e podendo mesmo levar a situações de bloqueio da atividade fotossintética e da migração de fotoassimilados para os cachos. Devido às condições edafo-climáticas que se fazem sentir na RDD, e devido às maiores necessidades hídricas da vinha coincidirem com um período anual no qual não existe praticamente precipitações, as condições do meio edáfico, como a textura e profundidade efetiva, desempenham um papel importante para um bom desenvolvimento radicular da planta (Leme e Félix, 1990). Posto isto, é de todo importante, principalmente para o Douro, a criação de um volume de terra que satisfaça o desenvolvimento radicular, e ao mesmo tempo, assegure tanto as necessidades hídricas como minerais com o intuito de favorecer o vigor e consequentemente a perenidade da planta (Macedo, 2010). Devido à introdução de porta-enxertos prontos os cuidados com o meio edáfico tornaram-se mais importantes uma vez que estes são mais sensíveis à seca (Macedo, 2010). Segundo Moutinho-Pereira (2000), nas regiões de clima mediterrânico, as videiras são menos afetadas pelo stresse hídrico quando os enraizamentos são mais profundos, teoria reforçada por Santos (1996) que indica que quanto mais seca for a região maior deverá ser a profundidade do solo a explorar pelas raízes.

Existe uma vasta panóplia de sistemas alternativos de granjeio do solo das vinhas como por exemplo a mobilização, revestimentos vegetais, coberturas do solo com materiais orgânicos e inertes, entre outros (Jordão, 2007; Magalhães, 2008; Pastor, 2008; IVDP, 2012).

As mobilizações do solo durante muito tempo constituíram o único recurso de manutenção do solo, visando controlar as infestantes, evitar competições com a cultura pela água e nutrientes (Pastor, 2008; Vanwallegham et al., 2010) e promover a infiltração da água (Pastor, 2008). Contudo, são vários os problemas associados a esta prática cultural: grandes perdas de água por evaporação, especialmente se feita na primavera (Pastor, 2008); destruição da estrutura do solo nas camadas superficiais, diminuído o arejamento (Magalhães, 2008) e aumentando o risco de erosão, principalmente em solos declivosos (Santos, 1996; Jordão, 2007; IVDP, 2013); compactação do solo em profundidade (Pastor, 2008), diminuindo a capacidade de penetração das raízes (Benites et al., 2005); criação de condições para a germinação de sementes de infestantes com o reviramento da leiva (Ribeiro et al., 2004) e

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ainda dificulta a circulação de máquinas (Magalhães, 2008) que é de extrema importância devido à orografia e sistematização do terreno na RDD.

Uma alternativa ao sistema de mobilização é o enrelvamento, técnica que consiste em manter o solo revestido com vegetação espontânea (flora natural ou residente) e/ou semeada (Jordão, 2007), de forma permanente ou temporária (IVDP, 2012). São várias as vantagens associadas a esta prática, tanto a nível ambiental como para o solo e para a cultura: a erosão do solo é reduzida (Jordão, 2007; Magalhães, 2008); aumenta a infiltração da água das chuvas (Benites et al., 2005; Pinheiro, 2005); diminui a evapotranspiração (Pinheiro, 2005; IVDP, 2012); melhora a estrutura do solo e a sua fertilidade (Pinheiro, 2005; Jordão, 2007; Magalhães, 2008); promove o desenvolvimento da fauna e da flora microbiana (Magalhães, 2008); aumenta a biodiversidade no agroecossistema (Benites et al., 2005); facilita a circulação de pessoas e máquinas agrícolas, facilitando algumas operações culturais (Boré e Geoffrion, 1999; Cosimo et al., 2003); controla o desenvolvimento de infestantes (Cosimo et

al., 2003); permite controlar o vigor da videira (Aguiar et al., 2001); e permite a fixação de

azoto atmosférico caso se recorra a leguminosas (Cosimo et al., 2003). Em situações de climas quentes e secos, como é o caso da RDD, o enrelvamento, natural ou semeado, deve ser circunscrito ao período de inverno e incorporado no início da primavera (Magalhães, 2008), uma vez que, em período de maior carência hídrica, pode competir com as videiras repercutindo-se numa diminuição do vigor, antecipando a paragem de crescimento e diminuindo a produção (Moulis, 1992; Tandonnet et al., 1996; Sauvage et al., 1998). Poderá também deixar-se secar a matéria vegetal, deixando esta então de competir com a videira e funcionando como mulching que faz diminuir a evapotranspiração (Magalhães, 2008; IVDP, 2012).

O mulching não é mais do que a cobertura do solo com materiais inertes ou orgânicos. O cascalho miúdo de xisto é um exemplo de um material inerte que permite a manutenção da humidade, a drenagem interna, reflete grande parte da luz que incide no solo e retém o calor impedindo que o mesmo aqueça em demasia (Almeida, 1960). Contudo, o revestimento do solo com materiais inertes é dispendioso e exige trabalhos de manutenção devido à destruição provocada pela passagem de máquinas e pelo arrastamento dos mesmos pelas águas das chuvas (Magalhães, 2008). Os materiais orgânicos que podem ser utilizados como mulching são lenhas de poda trituradas, palhas, bagaços, serrim, casca de pinho, aparas de madeiras e compostagens de detritos orgânicos (Magalhães, 2008; IVDP, 2012).

23 4.3.2-GESTÃO DA REGA

A videira apresenta uma grande capacidade de adaptação a carências hídricas, quer seja anatómica ou morfologicamente, por meio da dimensão dos vasos xilémicos e da profundidade de enraizamento, e fisiologicamente pela regulação estomática (Koundouras et

al., 1999). Porém, a disponibilidade hídrica para a planta está intimamente relacionada com a

sua atividade fotossintética e consequentemente com a produção de matéria seca que irá influenciar o número e o tamanho dos cachos e a produção global da videira (Magalhães, 2008). Assim, esta constitui um fator limitativo do cultivo vitivinícola em situações de clima mediterrânico, onde se verifica um período estival acentuadamente quente e seco (Koundouras et al., 1999).

Em Portugal, devido a limitações de ordem legal e à tradição de cultivo da vinha em condições de sequeiro, o recurso à rega apenas se tem verificado muito recentemente no Alentejo e principalmente nas novas plantações (Magalhães, 2008). No futuro, haverá uma necessidade de implantação de dotação hídrica na vinha devido às previsões das alterações climáticas, onde se prevê uma redução significativa da precipitação e um incremento da evapotranspiração (Schultz, 2000). A dotação hídrica das videiras deverá apenas compensar as perdas de água do solo e pela transpiração, devendo evitar-se dotações abundantes que comprometam a qualidade dos mostos e o estado sanitário das videira (Pinho, 1993). Contudo, na RDD a rega não é permitida e mesmo sendo legal não estaria técnica e economicamente ao alcance dos viticultores durienses (Moutinho-Pereira, 2000).

São muitos os métodos de rega da vinha, como a rega por sulcos ou alagamento, aspersão, rega parcial das raízes (PRD) e gota-a-gota, sendo este último o que apresenta mais vantagens (Magalhães, 2008). Segundo Pinho (1993), a rega gota-a-gota é um excelente sistema para regiões com fortes e prolongadas estiagens, como a Região do Douro, sendo um sistema seguro, bastante económico em água e que quase não necessita de mão-de-obra.

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