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CAPÍTULO IV MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DELETÉRIOS DO CLIMA ESTIVAL ATRAVÉS DE PRÁTICAS CULTURAIS ATRAVÉS DE PRÁTICAS CULTURAIS

4.3.4 INTERVENÇÕES EM VERDE

As intervenções em verde são operações culturais que se realizam após a poda de inverno, ou seja, durante a fase ativa do ciclo vegetativo da vinha. Estas têm o intuito de ajustar as relações entre a superfície foliar/volume de produção, relações source-sink,

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microclima favorável à penetração da luminosidade, controlo fitossanitário e proporcionar condições adequadas de maturação das uvas (Magalhães, 2008; IVDP, 2012). A introdução de porta-enxertos mais vigorosos e resistentes à secura ou de melhor colonização do meio edáfico (R99, R110 E 1103P), assim como a utilização de material de enxertia de melhor qualidade, a par de uma melhor preparação do solo (surriba e correção da fertilidade) e diminuição da densidade de plantação, levaram a um incremento do vigor das vinhas do Douro e a uma consequente necessidade de intervenções em verde (Queiroz, 1996). Existem quatro principais intervenções em verde que são efetuadas ao longo do ciclo vegetativo de acordo com os estados fenológicos da vinha, da sua resposta fisiológica, das condições climáticas e dos objetivos pretendidos (Magalhães, 2008).

O desladroamento ou despampa consiste na supressão dos lançamentos ladrões emitidos pelo tronco e braços, ou seja, lançamentos que são excedentários relativamente à carga deixada à poda (Queiroz, 2004). Estes contribuem para o adensamento da folhagem, impedindo uma boa penetração da luz solar, do ar e dos tratamentos fitossanitários, repercutindo-se na qualidade das uvas produzidas (Magalhães, 2008). Esta operação deve realizar-se o mais cedo possível depois do abrolhamento, de modo aos lançamentos se desenvolverem menos e consumirem menos hidratos de carbono armazenados sob a forma de amido nos órgãos perenes das videiras (IVDP, 2012).

A desponta consiste na supressão da parte terminal dos lançamentos principais e secundários ou das extremidades das netas, quando executada nas faces laterais da parede vegetal (Magalhães, 2008). Permite melhorar a receção luminosa pelas folhas e pelos cachos, criando-se um microclima mais favorável à atividade fotossintética e à maturação e ajudando na realização de operações culturais como o controlo fitossanitário (Magalhães, 2008; IVDP, 2012). A desponta realizada entre o vingamento e o pintor afeta a produção final e a qualidade, já que promove uma estrutura foliar fotossinteticamente mais ou menos eficaz durante a maturação (Magalhães, 2008). De acordo com Toda (1991) após a realização da desponta verifica-se um incremento do teor em clorofilas e da atividade fotossintética das folhas remanescentes. Leva também ao incremento do aparecimento de netas que, numa fase inicial são centros sink competindo com cachos mas, posteriormente pela sua intensa atividade fotossintética desempenham um papel fulcral na produção de fotoassimilados necessários à maturação, quando as folhas principais apresentarem uma atividade fotossintética reduzida ou mesmo nula (Chaves, 1986). As folhas que se desenvolvem das

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netas irão também proteger os cachos das elevadas temperaturas e radiação durante o período de maturação, evitando assim a queima ou emurchecimento dos bagos (IVDP, 2012).

A desfolha consiste em retirar folhas basais dos pâmpanos com o intuito de expor os cachos a condições microclimáticas mais adequadas (IVDP, 2012). De acordo com Smart e Robinson (1991) deverá ser realizar-se entre as 2-3 semanas após o vingamento e as 2-4 semanas antes do pintor. Após se efetuar a desfolha a planta gera fenómenos de compensação face a redução foliar, incrementando a concentração de clorofilas e a atividade fotossintética nas folhas remanescentes, por incrementos da condutância estomática e da eficiência de uso da água, repercutindo-se no atraso da senescência das folhas (Chaves, 1986; Andrade, 2005). Se for feita perto da época da vindima melhora as condições de maturação das uvas, aumentando a concentração de açúcares nos bagos e diminuindo a acidez total do mosto (Pinho, 1993). Em regiões onde sejam de se temer queima direta dos cachos, sujeitos a temperaturas e radiação estivais elevadas, a desfolha só se deve efetuar na face exposta à luz solar durante a manhã, mantendo-se as folhas expostas a sul e a poente para proteção das zonas de frutificação (Magalhães, 2008). Na RDD, devido às suas características climáticas, apenas pontualmente se justifica esta operação, já que devido às elevadas temperaturas e aos elevados valores de radiação solar a desfolha ocorre naturalmente durante o verão (IVDP, 2012). Deve também ter-se em atenção que uma desfolha exagerada, mesmo que perto da vindima, pode ser prejudicial pois a folhagem é ainda essencial para a produção de hidratos de carbono que serão armazenados e posteriormente usados no futuro abrolhamento dos gomos (Pinho, 1993).

A monda dos cachos visa a melhoria qualitativa da vindima, segundo uma relação entre a área foliar e o volume de produção (Magalhães, 2008). Esta consiste em deixar apenas um cacho por lançamento, preferencialmente de menor dimensão de modo a reduzir a produção por cepa (IVDP, 2012). Após a realização desta operação são gerados fenómenos de compensação face à diminuição de número de cachos por cepa, verificando-se um aumento de volume dos bagos e por consequência, de volume e peso dos cachos restantes (Magalhães, 2008).

28 CAPITULO V - MATERIAL E MÉTODOS

29 5.1-CARACTERIZAÇÃO DO ENSAIO EXPERIMENTAL

O presente trabalho foi realizado na Região Demarcada do Douro durante o ciclo vegetativo de 2012, numa parcela da Quinta do Vallado (latitude: 041º09’44.5’’N, longitude, 07º45’58.2’’W, altitude 130 m) (Figura 7), situada em Vilarinho dos Freires- Peso da Régua, na sub-região Baixo Corgo da RDD. O ensaio foi realizado em duas parcelas da quinta, TN1e TN2, diferindo em termos orientação das linhas de plantação. Devido à sistematização do terreno, a parcela TN2 encontra-se num local aparentemente mais fértil do que a outra parcela devido à maior profundidade do solo.

As parcelas TN1 e TN2 são constituídas por vinha ao alto, as videiras são da casta Touriga Nacional enxertadas no porta-enxerto 110 R e foram plantadas há 6 anos segundo um compasso de 2,0 x 1,0 m. O sistema de condução é o Cordão Royat unilateral. Estas duas parcelas diferem apenas na sua orientação, apresentando a parcela TN1 uma orientação E-W e a parcela TN2 uma orientação N-S.

O motivo pelo qual se recorreu à casta Touriga Nacional neste estudo deve-se ao facto de a mesma ter grande notoriedade no cenário vitícola nacional, especialmente na RDD, apesar da sua maior suscetibilidade à desfolha basal e consequente escaldão dos cachos

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quando submetida ao efeito conjunto dos stresses hídrico, térmico e luminoso (Magalhães, 2008).

A nível edáfico (Quadro 2), o solo da parcela TN1 apesenta textura expedita grosseira de origem xistosa, é moderadamente ácido (pH 5,9) e tem um baixo teor de matéria orgânica (0,89%). A parcela TN2 apresenta um solo igualmente com uma textura expedita grosseira de origem xistosa, é ácido (pH 5,5) e tem também um baixo teor de matéria orgânica (0,99%). Quanto à fertilidade do solo a parcela TN1 apresenta um baixo teor em fósforo e médio de potássio, enquanto a parcela TN2 apresenta um médio teor em fósforo e um elevado teor em potássio, diferenças que podem dever-se à sistematização do terreno, uma vez que a parcela TN2 tem uma maior profundidade do solo.

Quadro 2. Resumo das análises de solo relativas às parcelas em estudo.

O delineamento experimental foi constituído por 2 parcelas, e por 3 tratamentos. Cada parcela foi dividida em três sub-parcelas, cada uma delas constituída por 3 bardos com pelo menos 20 videiras. No total cada parcela tinha três bardos controlo, 3 bardos tratados com caulino (S, Surround® WP, Engelhard, Iselin, NJ, 5%) e três bardos tratados com calda bordalesa, como pode ser verificado na figura 7. Devido em parte à má aplicação da calda bordalesa e das condições meteorológicas que se fizerem sentir alguns dias após a aplicação da mesma, fomos forçados a abandonar o estudo referente ao efeito da calda bordalesa na mitigação do stresse estival.

No dia 11 de julho foi efetuada a aplicação de caulino nas três parcelas. A aplicação foi em ambos os lados da parede vegetal das videiras selecionadas com o recurso a um pulverizador manual de dorso (figura 8).

Parcela Textura pH (H2O) % Mo mg P2O5/kg mg K2O/kg

TN1 grosseira 5,9 0,89 28 84

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Do ponto de vista climático, o ano de 2012 (Figura 9) caracterizou-se por um inverno seco, com exceção do mês de novembro, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro, onde a precipitação foi 87% e 99%, respetivamente, inferior à media dos 30 anos (1931-1960). Posteriormente, nos meses de abril e maio a precipitação foi abundante, destacando-se o mês de maio onde a precipitação duplicou a média dos 30 anos. Contrariamente ao mês de setembro, nos meses mais críticos de junho, julho e agosto, onde a precipitação se tornaria mais importante, verificou-se um défice em relação à média dos 30 anos. No entanto, no dia 26 de julho devido a queda de aproximadamente 10 mm de precipitação, as partículas de caulino foram lavadas pela chuva, o que nos obrigou a efetuar uma segunda aplicação no dia 3 de agosto de 2012. As temperaturas médias dos meses de janeiro, fevereiro e abril foram bastante inferiores relativamente à média dos 30 anos. Nos meses onde o stresse estival tende a ser mais acentuado, as temperaturas foram cerca de 0,6ºC inferiores às apresentadas na média dos 30 anos. Embora se tenha sentido este abaixamento de temperaturas, não se verificou qualquer tipo de atraso no ciclo vegetativo da videira.

Figura 8. A: produto comercial utilizado; B: elaboração da calda a aplicar; C: aspeto dos cachos

pulverizados com caulino; D:aspeto das folhas com pulverizadas com caulino. A

B

C

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Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Temp. (ºC) Prec. (mm) Prec 1931 - 1960 Prec 2011 - 2012 Temp 1931 - 1960 Temp 2011 - 2012

Figura 9. Dados climáticos 2011-2012 e normais climatológicas 1931-1960 – Baixo Corgo, Régua (Dados

fornecidos pela ADVID).

5.2-MÉTODOS

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