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2.4 MATERIAIS E TÉCNICAS DE EXECUÇÃO

2.4.7 Intervenções posteriores ao original

São percetíveis intervenções feitas ao nível das camadas de preparação e de algumas camadas cromáticas.

Revelam-se pelo uso de um pigmento ocre alaranjado (Figura 34) aglutinado em técnica aquosa, dada a sua solubilidade quando em contacto com água. Esta aplicação está presente em variadas áreas da peça. Destaca-se a área do manto (?) em redor do pescoço da figura masculina, onde se observam várias áreas “manchadas” de laranja. Supõe-se que tal aplicação deverá ter sido feita para reduzir o contraste em zonas de lacuna, conferindo-lhes assim um pretenso tom “neutro”.

Detetaram-se ainda repintes na carnação da santa, mais concretamente no nariz (cana e narina esquerda – (Figura 35), lábios, na parte exterior da sobrancelha esquerda, abrangendo a pálpebra e em ambas as íris dos olhos, os quais, neste caso, tinham como objetivo eliminar a perceção dos destacamento de policromia presentes nesta área.

Figura 34 – Vista de pormenor do tom laranja aplicado no manto que envolve a cabeça masculina.

Figura 35 - Vista de pormenor evidenciando repintes na face da imagem feminina particularmente

relevantes no nariz

Um elemento que terá sido colocado a posteriori é o conjunto de camarão e escápula de olhal (Figura 36) em liga de ferro (como indicado pela identificação do elemento Ferro (Fe) através da análise por EDXRF) cravado na dobra superior do manto nas costas da santa.

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Figura 36 – Vista da escápula de olhal situada no terço superior das costas da imagem.

Este elemento sugere-se como uma colocação posterior pelo facto de estar descentrado e bastante evidenciado o que reforça a ideia de que a imagem não foi feita para o retábulo onde agora se encontra. A evidência traduz-se também no facto de esta ser uma peça de vulto pleno, em que é dada igual atenção a todos os pormenores, incluindo as costas da imagem.

A qualidade de entalhe e a função de culto são sempre evidenciados em detrimento de elementos de função secundária. Os elementos fragmentados (e perdidos) poderão justificar a aplicação destes elementos metálicos, medida presumivelmente adotada de modo a evitar novos acidentes.

Tal como referido, a análise por EDXRF resultou na identificação da liga como Ferro (Fe) muito pura.

Gráfico 2 - - Resultado da análise por EDXRF do elemento metálico Escápula e Olhal.

Fe

Já no caso das tachas localizadas na obra (Figura 38), estas deverão igualmente constituir-se como uma aplicação posterior à execução a obra. Esta afirmação fundamenta-se

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na inexistência de qualquer carácter decorativo destes elementos, o que os circunscreve como somente um método de fixação de outro elemento hoje desaparecido, provavelmente um galão ou renda com função decorativa.

Figura 37 - Localização do elemento metálico analisado situado na dobra do manto do lado esquerdo do reverso da imagem.

Gráfico 3 - Resultado da análise por EDXRF do elemento metálico Tacha

Sn Cu Pb

Através do espectro de EDXRF foram identificados como principais elementos o Pb (Chumbo), Sn (Estanho) e Cu (Cobre), concluindo-se estarmos perante uma liga de Bronze.

Quanto às camadas cromáticas, e tal como referido anteriormente, a recolha de amostra da pétala da flor azul presente no frontal do corpete da imagem justificou-se por esta área apresentar um aspeto que a distinguiu claramente de toda a restante policromia presente na obra.

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Falamos da aparência empastada da tinta, da sua irregularidade e presença desta para alem dos limites do elemento decorativo, o que sugeriu a presença de um repinte.

Através da análise do corte estratigráfico obtido observa-se sobre a folha de ouro (3) uma densa camada de pigmento azul aglutinado em óleo com grãos de pigmento de tom muito escuro, tamanho regular e uniformemente distribuídos (4). Pela comparação com referências bibliográficas, supõem-se que o pigmento em questão seja Azul-da-Prússia provavelmente misturado com Branco-de-Chumbo. Através do espectro de EDXRF identificam-se Pb (Chumbo), Fe (Ferro) e o Sb (Antimónio).

Figura 38 - Amostra 2:Localização do ponto de recolha da amostra situado na pétala esquerda da flor azul do topo do corpete da imagem.

Figura 39 – Microfotografia do corte estratigráfico da amostra 2 recolhido da pétala esquerda da flor azul do topo do corpete da imagem, com recurso a microscopia ótica com Polarizadores em Planos Cruzados.

4 3 2 1

Figura 40 - Microfotografia do corte estratigráfico da amostra 2 recolhido da pétala esquerda da flor azul do topo do corpete da imagem, com recurso a microscopia ótica com Polarizadores em Planos Paralelos.

1) Preaparação 2) Bolo

3) Folha de ouro 4) Camada cromática

32 Gráfico 4 - Resultado da análise por EDXRF da amostra 2

Sb Fe Pb

O pigmento Azul-da-Prússia foi sintetizado em 1704 por Heinrich Diesbach. A área em questão terá sido alvo de uma repolicromia, a qual só poderá ter ocorrido posteriormente à referida data de 1704 o que suporta a datação da escultura dentro intervalo de tempo proposto anteriormente.

Como única informação inesperada quanto às informações disponibilizadas por cada área cromática analisada, surge a análise do corte estratigráfico da amostra obtida da face frontal da coxa direita da imagem evidencia (Figura 42, amostra 4).

A análise do corte estratigráfico permitiu verificar que sobre a folha metálica surge uma camada de cromática de cor bege (4). Seguidamente surge uma camada ocre, a qual poderá

Figura 41 - Localização do ponto de recolha da amostra 4, situado na face frontal da coxa direita da imagem e de tom bege.

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constituir uma película de verniz oxidado ou deposição de sujidades (5), finalizando-se com nova camada (6) de tom bege e que sugere constituir-se como a camada de estofado.

Figura 42 – Microfotografia do corte estratigráfico da amostra 4 recolhido da área do manto, localizado sobre o joelho direito, com recurso a microscopia ótica com Polarizadores em Planos Cruzados.

6 5 4 3 2 1

Figura 43 - Microfotografia do corte estratigráfico da amostra 4 recolhido da área do manto, localizado sobre

o joelho direito, com recurso a microscopia ótica com

Polarizadores em Planos Paralelos.

1) Preaparação 2) Bolo

3) Folha de ouro 4) Camada de cor bege

5) Provável camada de verniz oxidado ou sujidade. 6) Camada de cor bege

Esta camada (5) sugere a possibilidade de a camada (6) se tratar de um repinte já que a sua presença cria um momento em que sobre a camada (4) foi aplicada uma camada de verniz (substancia que por principio não se aplica sobre camadas cromáticas estufadas) ou, por outro lado, esta esteve exposta o tempo suficiente para que sobre ela se deposita-se uma claramente identificável camada de detritos. De qualquer forma, conclui-se que a camada (6) se constitui como uma repolicromia.

Através do espectro de EDXRF correspondente identificam-se o Pb (Chumbo), Mg (Mercúrio) e Fe (Ferro), o que sugere o uso de branco-de-chumbo ao qual foram adicionados outros pigmentos, provavelmente vermelhão e pigmentos terra, à base de óxidos de ferro, para assim se obter a tonalidade final desejada.

34 Gráfico 5 - Resultado da análise por EDXRF da amostra 4.

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2.5 ESTADO DE CONSERVAÇÃO