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Os direitos das pessoas com deficiência referentes à acessibilidade, foram garantidos no Brasil por meio da Constituição da República Federativa de 1988 como um direito fundamental de ir e vir. Porém, até os dias de hoje sabemos que este direito não é garantido e a maioria dos cidadãos com alguma deficiência ou mobilidade reduzida encontram ainda inúmeras barreiras físicas e atitudinais para poder usufruir deste direito.

Inúmeras leis foram promulgadas para garantia dos direitos à acessibilidade. A Constituição e a Legislação infraconstitucional, por meio das leis nº 7.853/89, nº 10.048/00 e nº 10.098/00 e o Decreto nº 3298/99 procuram dar conta desta problemática. O Decreto Federal nº5 296/04, regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e a nº10.098, de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Este Decreto Federal foi o instrumento, até 2015, que tratava mais claramente da acessibilidade e da eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, responsabilizando os profissionais de engenharia e arquitetura pelo descumprimento dele e o atendimento da Norma

Técnica de Acessibilidade NBR 9050. Em 6 de julho de 2015 foi promulgada a Lei nº 13.146, também conhecida como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – LBI.

O objetivo deste artigo é analisar a importância da citada Lei para a garantia dos direitos à acessibilidade das pessoas com deficiência, e sua permeabilidade entre gestores públicos, profissionais de engenharia e arquitetura, bem como no público em geral e seu reflexo na garantia ao pleno exercício do direito de ir e vir.

Serão copiados os artigos e na sequência efetuados comentários visando melhor compreensão do assunto, bem como experiências anteriores e melhores ações para implementar seu conteúdo. Uma vez que a Lei foi promulgada recentemente, ainda não temos seus reflexos nos municípios brasileiros.

Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.

Dentre vários direitos fundamentais, o “direito de ir e vir” é o que está intrinsecamente ligado à acessibilidade. Como uma pessoa pode exercer ser cidadã se não consegue circular pelas ruas, acessar edificações, usufruir de espaços ditos “públicos” e também os privados?

Todas as atividades da vida humana estão relacionadas a deslocamentos e uso dos espaços. Sabemos que na maioria das vezes a acessibilidade não tem tanta relevância no Brasil porque até os dias de hoje o convívio com pessoas com deficiência nas escolas, ambientes de trabalho, lazer é ínfimo. Este público na maioria das vezes é esquecido ou segregado a espaços especiais.

Dificilmente chegamos a uma empresa ou serviço público e vemos uma pessoa com deficiência na direção deste estabelecimento. Em universidades agora que começamos a ver alunos com deficiência frequentando cursos, porém dificilmente os vemos como professores.

Esta realidade é o reflexo de ambientes inacessíveis. Temos adequações pontuais, mas ainda não temos acessibilidade integrada aos sistemas de transporte, calçadas, edificações. Universidades públicas e pós-graduações até então são em ambientes inacessíveis, inclusive nas grandes metrópoles brasileiras. A falta de formação, a dificuldade de locomoção nas cidades, o preconceito - uma vez que existe pouca convivência e consequente exclusão do mercado de trabalho - acabam acarretando em pessoas que não participam ativamente de todos os direitos que uma sociedade igualitária deve lhes reservar.

Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que houver interação com a matéria nela regulada:

I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva;

III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; e

IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados.

Este é um dos artigos mais importantes na aplicabilidade desta Lei, pois se a acessibilidade não for vinculada a documentos emitidos pelos órgãos públicos, aprovação de recursos financeiros e projetos de veículos é muito difícil obrigar e monitorar sua execução.

A tradução em realidade pelos municípios e todas as esferas de órgãos públicos deste artigo da LBI, pode conseguir que seja efetivamente aplicada à acessibilidade e ao desenho universal em todas as áreas em que projetos de arquitetura, tanto públicos como coletivos; projetos de engenharia nas suas várias vertentes tanto mecânica, de produtos; entre outras áreas venham requerer aprovações ou financiamentos, para ver seus projetos implantados.

Ele garante que edificações tanto do setor público como do privado que vierem a ser construídos, reformados ou licenciados com recursos públicos tenham que atender ao desenho universal e à acessibilidade contida nas Normas Técnicas da ABNT. Porém, seus procedimentos de aplicabilidade não estão muito claros e vários municípios, por intermédio dos técnicos municipais que analisam os processos de licenciamento, rejeitam a aplicação de uma Lei Federal pelo Município. A falta de previsão de penalidades a quem não atende à acessibilidade em conformidade pela LBI no município, também é um entrave, e, portanto, as pessoas que se sentem lesadas acabam buscando a solução por meio de denúncias no Ministério Público.

A aprovação de moradias de interesse social ou mercado popular com financiamento público está mais organizado, o que se traduz em unidades já providas de desenho universal, mesmo que na maioria das vezes quando construídas em prédios de até cinco pavimentos não possuem elevador, apenas o poço para futura instalação.

Existem muitas falhas nos projetos quanto à questão da acessibilidade, pois infelizmente nossos profissionais de arquitetura, urbanismo e engenharia não estão preparados para traçar e executar projetos plenamente acessíveis e com desenho universal, caberá ao poder público criar as regras necessárias para aprovação, ou ainda, denunciar os profissionais pelo não atendimento e falta ética profissional, junto aos conselhos de classe como Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

Quanto às obras públicas, inúmeros municípios solicitam recursos para implantar acessibilidade, porém precisam apresentar projetos. Estes recursos muitas vezes são reservados, porém devido à falta de bons projetos de acessibilidade nas cidades brasileiras, foram bloqueados 71% dos recursos reservados pelo governo federal. Segundo levantamento feito pelo jornal Gazeta do Povo (Curitiba/ PR) com informações do portal do orçamento do Senado Federal, Siga Brasil, de 2008 a 2013 o Programa Nacional de Acessi bilidade destinou R$ 136 milhões para ações de adequação dos espaços

urbanos, mas apenas R$ 39,4 milhões foram efetivamente aplicados. O restante permaneceu em Brasília, no Ministério das Cidades.

Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como referência as normas de acessibilidade.

§ 1° O desenho universal será sempre tomado como regra de caráter geral.

§ 2° Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho universal não possa ser empreendido, deve ser adotada adaptação razoável.

§ 3° Caberá ao poder público promover a inclusão de conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas diretrizes curriculares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.

§ 4° Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados para o desenho universal.