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Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo- lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.

§ 1° Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em destaque.

§ 2° Telecentros comunitários que receberem recursos públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis.

§ 3° Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2° deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de seus computadores com recursos de acessibilidade para pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior a 1 (um). Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.

Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, conforme regulamentação específica.

Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis.

Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:

I - subtitulação por meio de legenda oculta; II - janela com intérprete da Libras; III - audiodescrição.

Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da administração pública ou financiadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à comunicação.

§ 1° Nos editais de compras de livros, inclusive para o abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação de editoras que não ofertem sua produção também em formatos acessíveis.

§ 2° Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em Braille.

§ 3° O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a produção de artigos científicos em formato acessível, inclusive em Libras.

Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade de informações corretas e claras sobre os diferentes produtos e serviços ofertados, por quaisquer meios de comunicação empregados, inclusive em ambiente virtual, contendo a especificação correta de quantidade, qualidade, características, composição e preço, bem como sobre os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor com deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.

§ 1° Os canais de comercialização virtual e os anúncios publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme a compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade de que trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do produto ou do serviço, sem prejuízo da observância do disposto nos arts. 36 a 38 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.

§ 2° Os fornecedores devem disponibilizar, mediante solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou qualquer outro tipo de material de divulgação em formato acessível.

Art. 70. As instituições promotoras de congressos, seminários, oficinas e demais eventos de natureza científico-cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. 67 desta Lei.

Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os demais eventos de natureza científico-cultural promovidos ou financiados pelo poder público devem garantir as condições de acessibilidade e os recursos de tecnologia assistiva.

Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a serem desenvolvidos com o apoio de agências de financiamento e de órgãos e entidades integrantes da administração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem contemplar temas voltados à tecnologia assistiva.

Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em parceria com organizações da sociedade civil, promover a capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia e legendagem.

A nossa Constituição assegura como direito e garantia fundamental ao ser humano o direito à informação e à comunicação. É importante o entendimento mais profundo do termo “comunicação” e seu papel social para as pessoas compreenderem porque são tão importantes o respeito e a garantia desse exercício.

A palavra derivada do latim “comunicare” significa uso em comum, compartilhar, participar de algo. É por meio da comunicação que as pessoas partilham informações, conhecimento e interagem, logo se caracteriza como uma atividade essencial para a vida em sociedade.

A comunicação pode se dar de diversas maneiras, por meio de um sistema de sinais pré- definidos como gestos, sons, uma língua própria ou outros códigos com um significado. São infinitas as formas de se estabelecer uma comunicação e os meios para isso. As pessoas com diferentes condições e culturas criam seus próprios caminhos para se comunicar.

O convívio social e a possibilidade de se comunicar são os meios para que as pessoas exercitem a sua participação na sociedade e manifestem seus interesses, opiniões e desejos. Assim como preconizado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão. Este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Limitar, portanto, o direito de comunicação fere a Constituição e é uma afronta aos direitos humanos. Para as pessoas com deficiência, deixar de oferecer a acessibilidade e os recursos necessários para a sua participação é relegá-la a exclusão e tirar suas possibilidades de desenvolvimento e de conquista da autonomia.

A Lei Brasileira da Inclusão buscou fortalecer esse direito e reforçar, que com a oferta dos recursos adequados e respeito às normas de acessibilidade, o direito à comunicação e à informação para as pessoas com deficiência seja respeitado e estimulado.

Para facilitar o entendimento dos artigos deste capítulo eles foram separados por temas principais, porém interligados sempre que necessário. Essa distinção foi feita somente para tornar o texto mais claro e objetivo. É importante reforçar que os artigos não podem ser interpretados isoladamente. Cada um deles faz parte de um conjunto maior, que envolve definições, direitos fundamentais, enquadramentos, premissas e outras questões que precisam ser consideradas para correta interpretação do conjunto de direitos que integram as políticas públicas para pessoas com deficiência.

Internet

Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.

§ 1o Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em destaque.

Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.

A acessibilidade na Web conquistou um importante espaço na nova Lei. A equiparação no acesso digital considera todo o conteúdo e funcionalidades disponíveis na internet, e pode ser definida como:

“... a possibilidade e a condição de alcance, percepção, entendimento e interação para a utilização, a participação e a contribuição, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, em sítios e serviços disponíveis na web, por qualquer indivíduo, independentemente de sua capacidade motora, visual, auditiva, intelectual, cultural ou social, a qualquer momento, em qualquer local e em qualquer ambiente físico ou computacional e a partir de qualquer dispositivo de acesso.”. (W3C BRASIL, 2013)

A garantia de acessibilidade à internet prevista na Lei Brasileira de Inclusão representa um avanço bastante significativo para todas as pessoas que encontram qualquer barreira na navegação em sites da rede mundial de computadores. Ao mencionar de forma mais explícita esse direito, a nova Lei inicia um caminho para tirar essa pauta da subjetividade, de modo que entre na agenda do governo e possa amadurecer como uma política pública a ser pensada, discutida, implementada e respeitada.

Nesse sentido, se comparada à legislação anterior a Lei agora deu um grande passo, conforme a trajetória apresentada cronologicamente a seguir:

Reforça um direito fundamental já garantido, mas nem sempre percebido, na Constituição Federal, que assegura a todos o acesso à informação (XIV do art. 5º).

Fortalece o direito também previsto, mas de forma mais generalizada e sutil, pela Lei 10.098/2000, que trazia a exigência de adoção de mecanismos para tornar os sistemas de comunicação acessíveis e possibilitar o acesso à informação e comunicação.

Amplia a abrangência prevista no Decreto Federal nº 5.296/2004, que tinha ido um pouco adiante e já exigia a acessibilidade, mas a delimitava somente às pessoas com deficiência visual e a exigência era dirigida apenas aos sites da administração pública e em projetos com financiamento público.

Assume e incorpora, de forma mais objetiva, os preceitos e diretrizes da Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU), documento utilizado como base na construção da LBI, que também menciona o acesso à internet como direito a ser garantido para as pessoas com deficiência.

Fortalece a Lei n° 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação, que também exige a adoção da acessibilidade nos sites do Governo, bem como o Decreto nº 7.724/2012, que regulamenta essa lei.

Reforça o previsto no Marco Civil da internet (Lei n ° 12.965/2014) que assegura a acessibilidade como direito essencial ao exercício da cidadania.

Apesar dessa trajetória anterior à LBI, a acessibilidade na Web ainda está distante de ser uma realidade. Em um estudo realizado em 2011, o W3C.br/NIC.br constatou que somente 4,82% das páginas Web governamentais são acessíveis, o que evidencia que existe um enorme grupo de pessoas ainda à margem de todas as possibilidades oferecidas pela internet.

A partir da LBI, a obrigatoriedade de acessibilidade passa a ser considerada não apenas aos sites da administração pública, mas a todos os mantidos por empresas com sede ou representação no Brasil. O acesso deve garantir autonomia, ser pleno, total, irrestrito e envolver todas as informações e funcionalidades disponíveis, de modo que a experiência de acesso, navegação e interação atenda às necessidades de todos os usuários.

A observância da acessibilidade na Web para aprovação de financiamento de projetos com utilização de recursos públicos e a exigência do uso do símbolo de acessibilidade em destaque nos sites acessíveis, previstas respectivamente no art. 64 e no § 1º do art. 63, não representam novidades, mas reafirmam em lei exigências previstas no Decreto Federal nº 5.296, de 2004.

A Lei também destaca que os sites devem estar em conformidade com as práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. Nesse sentido, é importante o reconhecimento dos esforços para acessibilidade na Web realizados pelo World Wide Web Consortium (W3C), com suas recomendações no documento Web Content Accessibility Guidelines (Diretrizes para a acessibilidade do conteúdo da Web), publicado na sua primeira versão em 1999 (atualmente na versão 2.0), e principal referência em acessibilidade na Web.

A partir das recomendações do W3C e após a publicação do Decreto Federal n° 5.296/2004, surgiu no Brasil, em 2005, o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico, conhecido como eMAG, criado em uma parceria do governo federal com a Organização Acessibilidade Brasil, para orientar a acessibilidade dos sites e portais do Governo.

As recomendações e diretrizes serão fundamentais para as instruções aos desenvolvedores de sites e também na definição de critérios para a fiscalização do cumprimento da Lei. Além disso, já são instrumentos norteadores para aqueles que querem começar certo e poupar adequações futuras, ou para aqueles que desejam ajustar os sites já existentes, para que se tornem acessíveis.

Por fim, é importante destacar que as respostas para as questões mais práticas, como os requisitos de acessibilidade, as formas de validação dos sites e da fiscalização da Lei, ainda precisam ser definidas e deverão estar em regulamento, a ser publicado pelo Poder Executivo.

Apesar da expectativa de que a LBI tenha dado um passo importante, o sucesso dessa política vai depender do interesse e envolvimento de todos setores para que a acessibilidade seja, como já deveria ser, incorporada como premissa a todos os projetos.

Art. 63

§ 2° Telecentros comunitários que receberem recursos públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis.

§ 3° Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2° deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de seus computadores com recursos de acessibilidade para pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior a 1 (um).

Os telecentros e as lan houses, assim como todos os demais locais, devem ser acessíveis, tanto para pessoas com limitações motoras quanto para pessoas com limitações sensoriais, com a disponibilização de recursos de acessibilidade para que as pessoas com deficiência visual possam ter autonomia na utilização dos serviços disponibilizados por esses locais.

Segundo o Ministério das Comunicações (2016) “o objetivo do telecentro é promover o desenvolvimento social e econômico das comunidades atendidas, reduzindo a exclusão social e criando oportunidades de inclusão digital aos cidadãos”. Logo, a vocação de inclusão social encontra- se no DNA dessa política pública e, naturalmente, para que isso aconteça é fundamental ofertar os recursos de tecnologia assistiva. Esses recursos são fundamentais para a autonomia e equiparação de oportunidade no uso dos computadores, bem como na participação de cursos e atividades que são oferecidos no local.

O Decreto nº 5.296/2004 garantia o direito de uso preferencial de um computador com sistema de som instalado para pessoas com deficiência visual, a obrigatoriedade era apenas para os telecentros custeados pelo governo. A LBI expande a abrangência da obrigatoriedade também aos estabelecimentos comerciais e exige a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, que são fundamentais para o acesso, como é o caso do software leitor de tela, utilizado pelas pessoas com deficiência visual.

Também é importante ressaltar que a deficiência visual é a numericamente mais expressiva no Brasil. Segundo o Censo (IBGE, 2010), o total de pessoas que se declaram com comprometimento visual é de 18,8%, portanto a exigência de 10% de computadores com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual pode ser considerada razoável, mas o intuito principal é que o acesso deve ser garantido em toda e qualquer ocasião.

Para nortear os estabelecimentos na adequação de acessibilidade, a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo lançou, em 2013, a cartilha Acessibilidade

em Telecentros, na qual indica algumas ferramentas para inclusão digital. Outras referências importantes a serem observadas são as normas da ABNT: NBR 9050/2015 de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos e a NBR 15.599/2008 de Acessibilidade na comunicação de prestação de serviços.

Telefonia

Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, conforme regulamentação específica.

Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis.

Sobre a acessibilidade nos serviços de telecomunicações, a Lei Brasileira de Inclusão garante o pleno acesso à pessoa com deficiência sem entrar em grandes detalhes, mas remetendo a uma regulamentação específica.

O tema era previsto pelo Decreto federal nº 5.296/2004, que detalhava as ações para acessibilidade às pessoas com deficiência no Serviço Telefônico Fixo Comutado e no Serviço Móvel Celular. No entanto, com o constante avanço das novas tecnologias já era indicado que esse detalhamento fosse atualizado, considerando os hábitos e os anseios das pessoas com deficiência.

Nesse sentido, a LBI contribuiu para construção do Regulamento Geral de Acessibilidade em Serviços de Telecomunicações de interesse coletivo, aprovado pela Resolução nº 667 da ANATEL, de 30 de maio de 2016, que reforça a acessibilidade como um “direito fundamental e deve possibilitar às pessoas com deficiência usufruir de serviços e equipamentos de telecomunicações, de forma independente, sob todos os aspectos, mediante a supressão de barreiras à comunicação e informação”.

Essa resolução aborda questões como a disponibilização de contrato e documento de cobrança em formato acessível, a oferta de planos de serviços condizentes com o uso das pessoas com deficiência auditiva, canal de atendimento por mensagem eletrônica, webchat e videochamada por profissionais qualificados no atendimento à pessoa com deficiência, atendimento especializado para pessoas com deficiência auditiva e acessibilidade na web.

O regulamento da ANATEL também detalha as funcionalidades que devem ser consideradas como tecnologias assistivas por tipos de deficiência, determina as observações para a acessibilidade do telefone de uso público, exige a disponibilização da Central de Intermediação de Comunicação por vídeo e por mensagens para as prestadoras, bem como define critérios de qualidade de atendimento.