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2. Dimensão investigativa

2.1. Introdução

No presente subponto faz-se a contextualização do estudo, a apresentação da questão de investigação e dos objetivos do estudo e a explicitação das motivações da investigadora para a concretização desta investigação.

2.1.1. Contextualização do estudo

As Ciências têm vindo a adquirir um papel cada vez mais relevante em contexto de 1.º CEB uma vez que, nestes anos de escolaridade, os alunos necessitam de desenvolver competências e conhecimentos com o objetivo de compreender o mundo que os rodeia. O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (Martins et al., 2017) refere que a escola deve propiciar a aprendizagem e o desenvolvimento de competências e a aquisição de múltiplas literacias que os alunos necessitam mobilizar respondendo às exigências e mudanças atuais.

Para Caamaño (2003), as atividades práticas são bastante relevantes na aprendizagem das Ciências, potenciando o desenvolvimento de aprendizagens significativas, dado que facultam aos alunos oportunidades para eles mesmos procurarem respostas às suas ques- tões, nomeadamente através da observação, interpretação e utilização de materiais, as- sumindo um papel ativo e central na construção da sua aprendizagem. Reis (2008) com- pleta a ideia acima apresentada, afirmando que é necessário que os alunos experienciem momentos e oportunidades que visem o desenvolvimento de capacidades e atitudes co- mo a autoestima, o sentido crítico e a colaboração, mas também de relações entre factos e ideias. Cachapuz (2006) afirma que as atividades práticas são indispensáveis na for- mação dos alunos, qualquer que seja o ano de escolaridade que frequentam, pois “[o] ensino experimental deve ser a pedra de toque do ensino das Ciências, desde o 1.º ano de escolaridade” (p. 26). As atividades laboratoriais são igualmente importantes, dado que permitem que os alunos desenvolvam competências e técnicas laboratoriais, assim como utilizar processos científicos simples e comparar diversos materiais (DGE, 2018). Neste sentido, também os documentos curriculares reconhecem a importância da educa- ção em Ciências nos primeiros anos de escolaridade. Nas Aprendizagens Essenciais de Estudo do Meio do 4.º ano (DGE, 2018) é defendido que o ensino das Ciências deve fomentar, não só o desenvolvimento de conhecimentos, mas também de competências, capacidades e atitudes. Para que isso aconteça, já em 2007, Martins et al. defendiam que

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o aluno deve vivenciar experiências que lhe permitam o desenvolvimento de outras aprendizagens para além dos conteúdos, nomeadamente a “observação, interpretação, formulação de hipóteses, levantamento de questões, comunicação” (Santos, 2002, p. 31).

De acordo com as Aprendizagens Essenciais de Estudo do Meio do 4.º ano (DGE, 2018), no processo de ensino devem ser implementadas ações estratégicas que visem o desenvolvimento de aprendizagens essenciais, pelo que se revela importante “centrar os processos de ensino nos alunos; conhecer as suas conceções prévias; privilegiar as ati- vidades práticas; promover uma abordagem integradora dos conhecimentos; e valorizar a natureza da Ciência” (pp. 3-4). Desenvolveu-se, no presente estudo, uma sequência didática que incluiu atividades práticas concebidas e implementadas de acordo com o que é sugerido pelo Programa de Estudo do Meio do 1.º CEB (ME, 2004), no ponto “Realizar experiências com a electricidade” (p. 126), nomeadamente: “Realizar experi- ências simples com pilhas, lâmpadas, fios e outros materiais condutores e não conduto- res” e “Construir circuitos eléctricos simples (alimentados por pilhas)” (p. 126), reve- lando a pertinência da sua exploração com alunos do 4.º ano de escolaridade. Para além do desenvolvimento dos conhecimentos ao nível conceptual, a realização das atividades práticas visou permitir a exploração de competências investigativas, de capacidades e de atitudes, procurando dar aos alunos oportunidades de

questionar, reflectir, interagir com outras crianças e com o professor, responder a per- guntas, planear maneiras de testar ideias prévias, confrontar opiniões, para que uma ac- tividade prática possa criar na criança o desafio intelectual que a mantenha interessada em querer compreender fenómenos, relacionar situações, desenvolver interpretações, elaborar previsões (Martins et al., 2007, p. 38)

Vários autores (Costa, 2009; Martins, 2006; Sá, 2002) afirmam que ainda existem con- dicionantes na implementação de atividades práticas, nomeadamente a formação dos professores relativamente às Ciências, o que leva a alguma falta de confiança nas suas capacidades para as ensinar. Foi este sentimento da investigadora que justificou a im- plementação das atividades práticas numa lógica de investigação-ação criando, deste modo, uma oportunidade de promover o seu próprio desenvolvimento profissional nesta área, bem como a qualidade das aprendizagens dos alunos.

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2.1.2. Questão de investigação e objetivos do estudo

Considerando a contextualização do estudo, definiu-se a seguinte questão: Como inovar os processos de ensino e de aprendizagem de Ciências numa turma do 4.º ano, através da conceção e implementação de atividades práticas laboratoriais e experimentais so- bre eletricidade? Para responder a esta questão concebeu-se um processo de investiga- ção-ação em torno da conceção, implementação e melhoria sucessiva da proposta de atividades práticas laboratoriais e experimentais incluídas numa sequência didática so- bre eletricidade, a desenvolver com alunos do 4.º ano de escolaridade. Definida a ques- tão de investigação, foram definidos os seguintes objetivos de estudo:

➢ Avaliar a evolução das ideias dos alunos sobre circuitos elétricos e os seus compo- nentes ao longo do tempo de duração da implementação de uma sequência didática que incluiu a realização de atividades práticas do tipo laboratorial e experimental; ➢ Avaliar como os alunos mobilizam competências de investigação no período de

tempo de implementação da sequência didática;

➢ Refletir sobre os contributos das atividades práticas laboratoriais e experimentais para o desenvolvimento de competências de investigação e das ideias dos alunos acerca de circuitos elétricos e os seus componentes;

➢ Refletir sobre as características das atividades e eventual necessidade de reajustes face à avaliação do desenvolvimento de competências de investigação e de ideias dos alunos sobre circuitos elétricos e seus componentes;

➢ Refletir sobre o recurso a atividades laboratoriais e experimentais no ensino das Ciências no 1.º CEB para a inovação de práticas e a promoção de aprendizagens es- senciais.

2.1.3. Motivações para a investigação

Enquanto futura professora, a investigadora sempre teve consciência de que as mudan- ças no mundo que nos rodeia exigem que os professores sejam proativos. Desta forma, pensou que seria imprescindível assumir sempre o papel de investigadora de modo a adequar e reformular as suas práticas com o intuito de otimizar o processo de ensino e de aprendizagem.

Em conversa com a professora cooperante da instituição na qual foi feita a recolha de dados, percebeu-se que a eletricidade seria um dos temas a abordar durante o período de

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intervenção. Este foi também um tema que sempre suscitou o interesse da investigadora, dado que a profissão exercida pelo seu pai está diretamente relacionada com o mesmo. Desde criança que recorria ao seu pai para lhe explicar o que acontecia para que fosse possível “acender as luzes dos candeeiros apenas através de um interruptor”. Apesar das explicações, a investigadora recorda-se que não conseguia compreender, pois era neces- sário todo um processo “invisível” que permitia acender uma lâmpada. Depois de refle- tir acerca da sua experiência, a investigadora concluiu que, possivelmente, outras crian- ças partilhariam esta mesma dificuldade.

A sequência didática implementada inseriu-se no âmbito do tema “eletricidade” mas, para efeitos do presente estudo, a investigadora focou-se apenas nos circuitos elétricos e seus componentes, uma vez que quis implementar atividades práticas do tipo laboratori- al e experimental, pois reconhece as suas potencialidades e, ao longo de todos os módu- los abordados no âmbito da UC de Didática do 1.º CEB I e II, a Didática do Estudo do Meio Físico foi aquela que mais cativou o seu interesse e que, segundo a experiência obtida na PP, ainda não tinha tido oportunidade de explorar com os alunos.

Reconhecendo que “(…) aprender Ciências desde os primeiros anos parece ser uma via promissora para mais e melhores aprendizagens no futuro” (Martins, 2002, p. 18), a investigadora pensou nas atividades práticas como uma via facilitadora da implementa- ção de um ensino socioconstrutivista e através da qual os alunos detêm um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento (Martins et al., 2007). Para além disso, con- siderou relevante investigar a implementação deste tipo de atividades devido à sua pou- ca experiência com este género de trabalho na fase de aprendizagem profissional em que se encontrava, com o objetivo de refletir constantemente sobre a sua prática de mo- do autocrítico com o intuito de a reformular, em prol do seu desenvolvimento profissio- nal e das aprendizagens dos alunos.