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Quando se discorre sobre Direito do Comércio Internacional, duas são as teorias fundamentais que dão suporte a esse sistema: o “liberalismo” e o “protecionismo” econômico. A primeira teve como principal expoente David Ricardo e a última teve como seu maior defensor John Maynard Keynes.

No liberalismo econômico, prega-se que o mercado deve ter uma atuação livre do Estado, assim, deve-se comprar e vender livremente no mercado internacional; seus defensores procuram justificá-la, tanto pela facilidade que certos países possuem de produzir determinados produtos, como também pela divisão internacional do trabalho. David Ricardo29, na obra “Princípios de Economia Política

e Tributação”, afirma que:

[...] num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica e que essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto de países.

Aborda, ainda, o autor David Ricardo30 a questão do trabalho dizendo que:

Estimulando a dedicação ao trabalho, recompensando a engenhosidade e propiciando o uso mais eficaz das potencialidades proporcionadas pela natureza, distribui-se o trabalho de modo mais eficiente e mais econômico, enquanto pelo aumento geral do volume de produtos difunde-se o benefício de modo geral e une-se a sociedade universal de todas as nações do mundo civilizado por laços comuns de interesse e intercâmbio.

29 RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. Tradução de Paulo Henrique

Ribeiro Sandroni. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 132. (Economistas)

Portanto, a interferência do Estado na economia é prejudicial para a liberdade de circulação de mercadorias, visto que os impostos dão uma falsa realidade na livre concorrência e, além disso, protege-se exageradamente dados setores que são prejudiciais ao pleno funcionamento da economia de um país.

Em oposição ao liberalismo de David Ricardo e de Adam Smith, surge o protecionismo, que alega que o Estado deve, além de garantir o livre funcionamento do mercado, proteger as indústrias nacionais contra a concorrência externa, aumentando assim, os impostos incidentes nos produtos importados, preservando, com isso, a indústria nacional que, de alguma maneira, possa estar frágil. Dessa forma, o protecionismo também é responsável por proporcionar aumento da renda tributária do país, beneficiando outros setores da economia de forma indireta.

O comércio internacional vem ocupando lugar de destaque na economia mundial, devido, principalmente, à globalização, que proporcionou o desenvolvimento e a diversificação de atividades essenciais à integração comercial dos países. Dentre os exemplos que foram fundamentais nessa mudança do panorama do comércio mundial, estão os modernos sistemas de transporte e de comunicação, responsáveis por uma revolução comercial, visto que, a partir de então, negócios poderão ser realizados por meios de comunicação ultramodernos como a internet, o telefone, o fax, associados com a disponibilidade de serviços de meios de transporte rápidos e eficientes, tais como aviões, carros, caminhões, trens, dentre outros.

Essa mesma globalização da economia é também responsável pela condução da economia na direção de um livre comércio, com a redução de barreiras e a formação de blocos econômicos, reduzindo-se assim, os tributos e as taxas de forma gradativa, a ponto de formar um sistema mundial praticamente uniforme.

Com essa tendência de maior integração entre os Estados no comércio, há como conseqüência direta, maior competitividade e concorrência entre os produtos dos Estados, o que faz com que somente os mais fortes sobrevivam nessa constante disputa, não mais restrita ao seu próprio país, mas sim a todos os países do mundo. Isso acaba por beneficiar o consumidor, que é o economicamente mais fraco na relação de consumo, protegendo-o contra os abusos do poder econômico, contribuindo para o rebaixamento dos preços de modo geral, e também incentivando a melhoria da qualidade dos produtos e/ou de serviços no mercado global. Com isso conclui-se que, para uma empresa não ser excluída do mercado, ela deve ter produtos de qualidade e que interessem ao consumidor. Não havendo consumidor, essa empresa tende a decretar falência e ser expulsa do mercado global em seu setor.

Não é difícil perceber que o capitalismo, que proporcionava uma tendência à livre concorrência e que, sobretudo, em função dos abusos da exploração desenvolvida por seus países mais poderosos, acabaria por prejudicar o desenvolvimento comercial e que a dominação e opressão aos dominados iria aumentar ainda mais. Assim, surgiu o Direito do Comércio Internacional para regular e reprimir essa concorrência desleal e violenta que visava o domínio do mercado.

Ficou visível que o mercado, para seu livre funcionamento, deveria sofrer alguns ajustes, visto que determinados setores vinham recebendo constantes ataques de práticas desleais no comércio, como forma ilegítima ou predatória e não construtiva, visando eliminar a concorrência para um posterior domínio e conquista de novos mercados.

Entre as medidas desleais no comércio destacou-se a prática de dumping, que vem do inglês, to dump, com o significado de atirar algo fora, despejar ou

descarregar. O dumping, de acordo com o artigo VI, I do Acordo Antidumping da Rodada Uruguai (AARU), “é a introdução de um produto no comércio de outro país a preço inferior a seu valor normal”. Dessa conceituação pode-se concluir, de acordo com Frederico do Valle31 que:

Segundo o melhor entendimento, vem a ser o lançamento, no mercado estrangeiro, de mercadorias a preços baixos, na maioria das vezes inferiores ao próprio custo de produção, com o objetivo de eliminar a concorrência, tanto de produtores do país importador como de outros produtores estrangeiros.

De acordo com os dados do site da OMC:

[...] se uma empresa exporta um produto a um preço abaixo do que normalmente cobra no seu próprio mercado caseiro, pode-se dizer que houve um dumping no produto. Isto é uma injusta competição? O acordo da OMC não dá um julgamento para isso. Este acordo somente está focado em dizer como os governantes podem ou não reagir ao dumping - disciplina as ações antidumping e é freqüentemente chamado de Acordo Antidumping32.