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O GATT foi criado como um tratado de caráter provisório, visando maior integração por parte dos Estados. Suas medidas tinham por escopo reduzir o protecionismo exacerbado e aumentar a liberalização no setor de produtos e mercadorias, sendo que foi realizada uma lista definindo quais seriam as características de cada produto para uniformizar e reduzir as tarifas alfandegárias. Desse modo, pode-se concluir que o referido sistema nada mais fez do que reunir um conjunto de regras não coesas em que cada Estado poderia ratificar e cumprir aquilo que desejasse, aguardando, assim, o surgimento de uma organização de direito internacional que fosse legitimar a sistematização e uniformização das regras referentes ao comércio de produtos.

Por outro lado, a OMC já foi criada como uma personalidade jurídica de direito internacional, tendo caráter permanente e sendo composta por um conjunto de regras coesas e sistematizadas (é o chamado single undertaking ou empreendimento único) em que a totalidade dos ingressantes se torna automaticamente obrigada a firmar todo um conjunto de regras para se consolidar como membro do referido órgão. Deduz-se daí que a OMC é um corpo institucionalizado e que, por sua vez, impede a continuação do “GATT à la carte”. Assim, os países aproximam-se no cumprimento de regras internacionais devido ao fato de possuírem um conjunto de princípios uniforme, tal como o já citado single undertaking ou empreendimento único, em que fica estabelecido que as normas da OMC foram criadas como uma codificação jurídica sobre o comércio internacional.

Desse modo, nenhum dos países-signatários da OMC poderá deixar de participar de alguma das regras do órgão supramencionado, alegando que não tem interesse em assinar uma parte do acordo. Portanto, ou Estado assina todo o ato

constitutivo da referida organização como um conjunto único de regras, ou então, não há acordo, haja vista que, em se realizando o contrário, ocorre uma afronta a um dos principais elementos basilares de constituição da OMC (single undertaking). O princípio da nação mais favorecida é de suma importância, já que no comércio multilateral toda vantagem, privilégio ou imunidade que seja referente a tarifas aduaneiras deverá ser concedido para a totalidade dos Estados-partes.

Além dos princípios acima, existem também os princípios de não discriminação entre produtos ou também conhecido como “tratamento nacional” e, por último, o princípio da eliminação das restrições quantitativas. O primeiro, obriga os Estados a não praticarem um protecionismo que beneficie o produto nacional em detrimento de possibilitar uma livre-concorrência entre as empresas, imprimindo uma carga excessiva de tributos para os produtos estrangeiros e impossibilitando uma legítima competitividade entre as mesmas e, por essa razão, não é permitido aos signatários da OMC realizar a referida política econômica.

O último princípio também tem por objetivo evitar a discriminação entre os produtos dos Estados e garantir equilíbrio de mercado. Esse princípio consiste em não permitir a restrição ou proibição por meio de cotas, licenças de importação ou outras, para a entrada de produtos. Assim, com esse princípio, evita-se que um país domine uma só parcela de produtos, ficando vulnerável a crises econômicas e prejudicando todo o cenário comercial internacional.

Todo o conjunto de princípios que se encontram acima descritos são responsáveis pela manutenção do caráter de legitimidade para a OMC figurar como organização respeitável dentro do cenário do comércio internacional e, além disso, ter como reconhecida a sua personalidade jurídica de direito internacional. Assim, fica claro que a OMC quer criar um conjunto de regras abordando um aspecto muito

mais amplo do que aqueles regulados pelo GATT. Não poderia deixar de ser mencionado o princípio da transparência, que cria a obrigatoriedade da publicação de todos os regulamentos relacionados ao comércio, de modo a permitir que os governos e agentes de comércio externo possam deles tomar conhecimento. Trata- se de uma forma de obrigar todos os Estados a se tornarem cientes, de modo geral, da existência de uma nova regra internacional, não permitindo a declaração futura de desconhecimento da lei como forma de se eximir de uma obrigação imposta aos demais países.

A OMC revolucionou o assunto relacionado ao meio de solução de controvérsias, já que no sistema do GATT, adotava-se o sistema de painéis de arbitragem ou mediação, sendo que os mesmos não tinham caráter obrigatório, podendo os Estados sujeitarem-se, ou não, ao referido sistema. Por outro lado, a OMC estabeleceu um sistema de solução de conflitos mais rígido e sistematizado, obrigando todos os seus membros a sujeitarem-se ao Órgão de Solução de Controvérsias para a resolução de conflitos, não permitindo a não aceitação das decisões dos painéis, a menos que fosse em grau de recurso, momento em que ocorreria um novo julgamento por um tribunal permanente que iria decidir novamente sobre o litígio. Percebe-se assim, uma uniformização que traz como característica principal estabilidade à referida instituição.

Uma outra questão importante referente à diferenciação do GATT e da OMC é aquela relativa ao aumento do número de setores regulados pela OMC, já que o GATT praticamente só abordava assuntos referentes à redução tarifária de produtos. Surgem assim, novos temas incorporados ao comércio, como a questão dos serviços, as marcas e patentes, as práticas antidumping e sua regulamentação, a questão agrícola, entre outros. É certo que já havia uma tendência de tratar sobre

os referidos assuntos e que o sistema do GATT já vinha assim procedendo, mas, com a OMC, houve uma maior maturidade para se tratar de tais assuntos, com maior propriedade.

2 ASPECTOS OBRIGACIONAIS DO TRATADO DE MARRAQUECHE