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Capítulo III O despertar da consciência feminina no início do século XX

III.1 Introdução ao feminismo ocidental

Segundo Margaret Walters39, a palavra “feminismo” surge em inglês na década

de 1890, a partir da expressão francesa. Ao longo dos séculos e em muitos países diferentes, as mulheres manifestaram-se em defesa do seu género e articularam, de diferentes maneiras, as suas queixas, necessidades e esperanças (Walters, 2005, p. 1). O feminismo foca-se principalmente no estatuto, nos direitos das mulheres e na igualdade em relação ao sexo masculino. A problemática que mais preocupa as feministas relaciona-se com “igualdade”. A igualdade é o objetivo, o valor supremo perseguido pelo feminismo e o ponto de partida de todas as ideias feministas (Li, 2016, p. 154).

De acordo com o livro Feminism: A Very Short Introduction, de Margaret Walters, o feminismo ocidental tem uma relação com a religião. No final do século XI, Hildegarda de Bingen, também conhecida como Sibila do Reno, uma freira europeia, adquiriu conhecimento num mosteiro feminino e começou a pregar. Esta foi a primeira voz feminina no contexto religioso, antes disso, as mulheres tinham sido excluídas desses assuntos. Várias mulheres foram julgadas no século XV pelas suas ações “não femininas” (como explicar a Bíblia ou ser linguista), excluídas do grupo de cidadãos e rotuladas de "irracionais". A luta das mulheres pelos direitos humanos também levou muito tempo (Walters, 2005, pp. 10-50).

A génese do feminismo ocorreu nos séculos XV, XVI e XVII. As mulheres afirmaram que, como sujeitos racionais e dignos, elas deveriam ser respeitadas pelos outros e receber educação. A “primeira onda” do feminismo começou no final do século XVIII e continuou até o início do século XX, em países como a França, o Reino Unido, o Canadá, os Países Baixos e os Estados Unidos. Essa onda conseguiu transformar muitas reivindicações centrais em instituições sociais e, ao mesmo tempo, incitou forte resistência e repressão (Donovan, 2012).

Este movimento de mulheres surgiu após a Revolução Francesa. No primeiro ano da Revolução Francesa (1789), algumas mulheres propuseram à Assembleia

Nacional “direitos politicamente iguais entre homens e mulheres”, mas tal reivindicação não foi amplamente reconhecida na sociedade da época (Honma, 1935, pp. 2-10).

Em 1872 Mary Wollstonecraft, uma proto-feminista britânica, escreveu um livro intitulado Uma Reivindicação dos Direitos da Mulher, uma das primeiras obras de filosofia feminista. Ali, dWollstonecraft criticou o pensamento de Rousseau e de outros por insultarem as mulheres (Li, 2018, Capítulo 1). O livro também enriqueceu o significado do feminismo para incluir a defesa de oportunidades iguais para homens e mulheres, a independência económica e a participação política das mulheres (Wollstonecraft, 1988).

Figura 8 - Capa da primeira edição de Uma Reivindicação dos Direitos da Mulher40

Na segunda metade do século XIX, surgiram alguns movimentos organizados no Ocidente, com o objetivo de melhorar a educação e as oportunidades de trabalho das mulheres, alterar as leis que envolviam os direitos das mulheres casadas e o direito

de voto. As principais exigências das mulheres ocidentais no final do século XIX e início do século XX podem ser resumidos da seguinte forma: as mulheres devem ter os mesmos direitos e tratamento que os homens na sociedade, na política e na educação (Hobsbawm, 1995, capítulo 8).

O desenvolvimento da teoria feminista ocidental também trouxe luz à literatura feminina. Durante aquele período, as mulheres conquistaram gradualmente o direito de voto e de propriedade, e passaram a ser livres de fazerem a maior parte dos trabalhos. Como elas podiam escrever sem saírem de casa, mais e mais mulheres talentosas se juntaram às filas dos escritores. Com o progresso da sociedade e as realizações das mulheres em várias profissões, surgiram os escritores do sexo feminino (as escritoras) e muitas obras excelentes. Quatro grandes romancistas britânicas - Jane Austen, Charlotte Bronte, Emily Bronte e George Eliot - bem como poetisas famosas, como Emily Dickinson, Elizabeth Barrett Browning e Christina Rossetti são representantes desse período. As escritoras prestaram atenção ao tratamento desigual das mulheres na vida real. Nesse período da literatura, a consciência das mulheres recebeu grande atenção, as mulheres nas obras começaram a resistir conscientemente à sociedade patriarcal e a livrarem-se da imagem de "fraqueza". "Fraqueza, teu nome é mulher"41 deixou de ser adequado ao estatuto em

desenvolvimento das mulheres.

Durante o século XX, os direitos das mulheres no ocidente foram melhorando e as mulheres passaram a ter mais oportunidades de emprego. Na segunda metade do século, entraram em quase todas as áreas profissionais. Ao nível do pensamento, o movimento feminista floresceu e as suas características foram-se alterando. Tendo começado por "lutar pelos direitos das mulheres", foi progressivamente colocando outras questões, desde a análise dos papéis dos dois sexos até ao questionamento da cultura patriarcal. Os temas das obras femininas também foram ampliados, refletindo sobre todos os aspetos da sociedade. Embora na sociedade patriarcal as vozes masculinas ocupem uma posição dominante, a literatura feminina cresceu e enriqueceu.

41 “Frailty, thy name is woman!”, são palavras pronunciadas por Hamlet na famosa peça de Shakespeare com o

Na obra O Pioneers! (1913), a famosa escritora americana Willa Cather, através da representação dos imigrantes americanos do século XIX, criou uma imagem de pioneira feminina do deserto inesquecível. Um Quarto Só para Si (1929) de Virginia Woolf aponta, até certo ponto, o caminho para as mulheres se encontrarem. Woolf acredita que, se uma mulher se quer tornar uma grande escritora, deve primeiro esforçar-se por obter independência económica e estatuto social, isto é, um quarto só para si.

As obras literárias femininas do século XX têm outras características: as mulheres são os principais temas da escrita; os seus sentimentos, impressões, pensamentos e emoções merecem atenção; exploram o mundo interior das mulheres e criam novas imagens femininas a partir das próprias experiências e valores das mulheres.