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Capítulo IV: Análise de dados

4.2. Intuição e Pressupostos

Estes dois construtos foram reunidos em uma única seção, porque algumas respostas dos aprendizes caracterizam-se como intuições – uma sensibilidade sobre como agir –, enquanto outras sugerem pressupostos – crenças estáveis e observáveis. Entretanto, intuições e pressupostos possuem semelhante natureza (baseados em material cognitivo), ao auxiliar os alunos a agirem, diferindo-se apenas pela estabilidade no aprendiz.

Como declaramos na seção Intuição da Fundamentação teórica, adotamos a perspectiva de Almeida Filho (2003, comunicação pessoal) apud Bandeira (2003), que destaca a característica implícita da intuição e que podemos perceber resquícios dela em atitudes e ações dos aprendizes.

Após perguntarmos aos alunos o que eles faziam quando se propunham a estudar Inglês (questão n. 13 do questionário), realizamos a pergunta n. 14: “Por que você estuda(va) Inglês dessa maneira (que você apontou acima)?”. Nosso objetivo era entender as escolhas (razões) das ações dos aprendizes: se ele reflete; se possui alguma crença subjacente ou intuição; se aponta alguma experiência que define suas ações; entre outras causas. As respostas dos alunos foram organizadas a seguir:

Quadro 23 – Resquícios de intuição de aprendizes com CEA pouco producente Participantes Questão n. 13: O que você fazia

(faz) quando se propunha (propõe) a estudar Inglês?

Questão n. 14: Por que você estuda(va) Inglês dessa maneira (que você apontou acima)?

Alice Vejo filmes e traduções de músicas. Porque é o que me dá prazer. João Nunca estudei o inglês realmente

apenas tenho contato com filmes e séries no idioma inglês.

Bem mais simples de aprender, mas talvez não seja muito eficaz.

Tainara -- Mais confortável e menor perca do foco.

Quadro 24 – Resquícios de intuição de aprendizes com CEA producente Participantes Questão n. 13: O que você fazia

(faz) quando se propunha (propõe) a estudar Inglês?

Questão n. 14: Por que você estuda(va) Inglês dessa maneira (que você apontou acima)?

Breno Música, filmes e outra (...). Acho mais prático e fácil. Katia Não penso sobre estudar sempre,

acabo me acostumando e dá certo, a assistir e ouvir coisas em inglês buscando a tradução e a escrita na língua inglesa para fixar o conhecimento.

Pois é uma maneira natural e divertida, que é possível fazer nos momentos de lazer e relacionar à atividades agradáveis, o que não causa estranheza com a língua ou algum tipo de desapontamento que pode tornar a visão negativa sobre a língua.

Matheus Eu lia bastante, traduzia letras de músicas em inglês, ouvia músicas internacional e jogava games em inglês.

Porque me motivava bastante devido a união de fazer o que gosto para aprender coisas novas.

Apesar dos alunos conseguirem expressar-se sobre o assunto, esses dados não demonstram nenhuma experiência específica ou uma reflexão profunda sobre as escolhas dos participantes. João, por exemplo, aparenta se questionar sobre sua forma de estudar o Inglês não ser tão “eficaz”, mas não apresenta mais detalhes.

Bandeira (2003) pontua que a intuição pode utilizar lembranças e emoções, assim como aspectos cognitivos, mas não necessariamente estabelece uma relação de causa e consequência. Assim, estes aprendizes podem ter passado por determinadas experiências que resultaram em conhecimentos informais e intuições e que os orientam a como agir ao estudar de maneira mais “prática”, “prazerosa”, “simples”, “confortável”, entre outras. Considerando que os aprendizes tiveram que passar por experiências para justificarem suas ações como “prática”, “prazerosa”, “simples” e “confortável”, os dados sugerem que todos apresentam, com mais ou menos detalhes e reflexões, uma sensibilidade construída por conhecimentos informais e implícitos, ou seja, intuições.

Ao relatar suas razões, percebemos que os alunos agem de maneira semelhante (assistem filmes ou séries e ouvem músicas). Entretanto, Katia e Matheus são os únicos que dão razões mais específicas e concretas – tais como precauções para seus filtros

afetivos não aumentarem ou suas motivações diminuírem. Apesar de não conhecerem as Teorias de ensino-aprendizagem de línguas que envolvem afetividade e motivação, esses aprendizes parecem agir a partir de um conhecimento informal mais forte do que intuições: os pressupostos.

Almeida Filho (2014, p. 13) pontua que pressupostos são “crenças postas em observação e para análise sistemática”. Podemos concluir que Katia e Matheus concluem que, ao fazer o que gostam, sentem-se motivados, não possuindo, assim, uma visão negativa da língua e, com isso, aprendem-na. Estamos considerando que a diferença entre crenças e pressupostos se dá pela característica destes últimos serem analisados e considerados pela comunidade científica-acadêmica como princípio ou não. Além disso, classificamos esses conhecimentos dos aprendizes como pressupostos e não como Teorias, por eles não terem recebido formação para agirem de tal forma e terem, portanto, apenas contato com conhecimentos informais da área.

Intuições e pressupostos foram os últimos componentes de Conhecimento

Informal que analisamos nesta pesquisa. Teceremos nossas considerações finais sobre

os dois construtos ao responder a pergunta de pesquisa. Desenvolveremos, a seguir, as atitudes dos participantes da pesquisa.

4.3 Ações e Atitudes

Os elementos da tríade Conhecimento informal, Atitudes e Ações interagem de determinada maneira entre si, de forma que, antes de termos a materialização do conhecimento (ações), temos atitudes (posturas) de aprendizes frente a determinadas situações e questões relacionadas à aprendizagem da língua-alvo. Dessa forma, ao analisarmos os dados relacionados às ações, procedimentos dos participantes desta pesquisa, podemos verificar traços de atitudes. Considerando isso, reunimos os dois construtos para desenvolver a análise.

Na seção Ações no capítulo de Fundamentação desta pesquisa, abordamos os dois tipos de ações feitas por professores de línguas: ensinar e ações relacionadas à sua formação (LOURENÇO e SANTOS, 2016). Ao adaptarmos essas ações para os aprendizes, temos as práticas de aprendizagem/desenvolvimento de língua(s) e outras vinculadas à sua formação como aprendiz.

Buscando averiguar os procedimentos utilizados e as razões dos aprendizes de aprender dessa forma, desenvolvemos as questões 13 e 14 do questionário para atender esses aspectos:

Quadro 25 – Ações e razões para aprender de aprendizes com CEA pouco producente Participantes 13. O que você fazia (faz) quando se

propunha (propõe) a estudar Inglês?

14. Por que você estuda(va) Inglês dessa maneira (que você apontou acima)?

Alice Vejo filmes e traduções de músicas. Porque é o que me dá prazer. João Nunca estudei o inglês realmente apenas

tenho contato com filmes e séries no idioma inglês.

Bem mais simples de aprender, mas talvez não seja muito eficaz.

Tainara -- Mais confortável e menor perca do foco.

Quadro 26 – Ações e razões para aprender de aprendizes com CEA producente Participantes 13. O que você fazia (faz) quando se

propunha (propõe) a estudar Inglês?

14. Por que você estuda(va) Inglês dessa maneira (que você apontou acima)?

Breno Música, filmes e outra (...). Acho mais prático e fácil. Katia Não penso sobre estudar sempre, acabo

me acostumando e dá certo, a assistir e ouvir coisas em inglês buscando a tradução e a escrita na língua inglesa para fixar o conhecimento.

Pois é uma maneira natural e divertida, que é possível fazer nos momentos de lazer e relacionar às atividades agradáveis, o que não causa estranheza com a língua ou algum tipo de desapontamento que pode tornar a visão negativa sobre a língua.

Matheus Eu lia bastante, traduzia letras de músicas em inglês, ouvia músicas internacional e jogava games em inglês.

Porque me motivava bastante devido a união de fazer o que gosto para aprender coisas novas.

Tainara foi a única que não respondeu a questão número 13. Entretanto, os dados sugerem a partir de sua resposta na questão 14 que, apesar de não ter apontado quais procedimentos utiliza, a aluna faz algo que gosta para aprender Inglês para não perder o foco e por julgar mais confortável.

João não considera assistir filmes e séries como ação de estudo, uma vez que ele apenas “mantém o contato” (pergunta n. 13) com a língua a partir desse procedimento e fortalece essa crença ao declarar que “talvez ((essa ação))73 não seja muito eficaz” (pergunta n.14).

Alice, Katia e Matheus dizem fazer uso desses procedimentos, porque gostam, para “sentir prazer”, não ter uma “visão negativa sobre a língua” e “motivar-se” (sentido utilizado por Matheus). Esses dados sugerem, assim como Tainara declara (“mais confortável e menor perca do foco” – pergunta n.14), que esses aprendizes buscam realizar ações para continuar estudando. Além desses alunos, Breno também diz ser

mais “prático e fácil” estudar da maneira que estuda. Conclui-se, portanto, que esses aprendizes conhecem suas preferências e aprendizagem e, ao posicionar-se e agir favoravelmente para o desenvolvimento de sua aprendizagem (análise e manutenção da motivação e filtro afetivo), possuem atitudes (ALMEIDA FILHO, 2003; BANDEIRA, 2003; SILVA e CARIA FILHO, 2016) positivas com relação à aprendizagem de línguas.

Em linhas gerais, assistir a filmes e ouvir músicas são os procedimentos (e materiais) mais utilizados pelos participantes. Katia e Matheus também utilizam a tradução como recurso para estudar a língua, mas também focam na escrita “para fixar conhecimento” (Katia) ou na leitura (Matheus). Nenhum dos participantes, de acordo com suas respostas, pratica oralmente a língua ou realiza atividades relacionada à gramática explícita.

Considerando o modelo OGF (ALMEIDA FILHO, 2016) e a preocupação dos aprendizes em realizar atividades que lhes agrada, suas experiências contribuíram para que eles realizassem essas práticas, uma vez que seria necessário conhecer suas preferências, vivenciando diferentes momentos para defini-las. No tocante à avaliação de progresso de aprendizagem, elaboramos a pergunta 15c e as respostas dos alunos estão relacionadas a seguir:

Quadro 27 – Ações relacionadas às dificuldades de aprendizes com CEA pouco producente Participantes 15b. Em que você tem

dificuldade ao estudar inglês?

15c. Você costuma trabalhar/estudar com sua(s) dificuldade(s) descritiva(s) acima? Se sim, de que forma?

Alice Tenho dificuldade de decorar as traduções, as regras, as formas.

Não costumo.

João -- --

Tainara Escrita. Não, só agora com a aula na faculdade.

Quadro 28 – Ações relacionadas às dificuldades de aprendizes com CEA producente Participantes 15b. Em que você tem dificuldade ao

estudar inglês?

15c. Você costuma trabalhar/estudar com sua(s) dificuldade(s) descritiva(s) acima? Se sim, de que forma?

Breno Coment(...) em tempo verbal. Sim, lendo e vendo vídeos na internet. Katia Gramática, sintaxe, não ao formar, mas

ao identificar por nomes e termos o que é cada coisa.

Não, não me anima, mas quando chega até mim, eu me esforço.

Matheus No listening, devido a minha deficiência auditiva, mas no geral tenho uma boa discriminação pois adoro músicas em inglês.

Sim, através do hábito de leitura e jogos de gramática em inglês.

Ao compararmos os dois grupos de participantes (com CEA pouco producente e producente), podemos perceber que, os aprendizes com CEA producente – com exceção de Katia – costumam ter ações empreendedoras com relação à sua formação (LOURENÇO e SANTOS, 2016), pois procuram trabalhar com suas dificuldades (pergunta 15c). Essa preocupação também caracteriza uma atitude positiva que eles possuem.

Por outro lado, Alice e Tainara possuem uma postura frente às suas dificuldades e à aprendizagem de língua considerada negativa. Alice, por exemplo, não gostava de permanecer na aula de Inglês Instrumental ou mesmo não comparecia às aulas, além de demonstrar ter um filtro afetivo alto ao não querer realizar as atividades, afirmar que não gostava da língua e mostrar ansiedade em sala74. As poucas ações que Alice realizava em relação à língua ou mesma a ausência de ações e reflexividade para aprender são caracterizadas como atitudes negativas. Observamos também um grande pessimismo da aluna sobre o sucesso de sua aprendizagem de Inglês (SILVA e CARIA FILHO, 2016, p. 40)75. Observações em sala também mostraram que Tainara e João demonstravam falta de iniciativa nas atividades em sala de aula, o que também caracteriza uma atitude negativa.

Ressaltamos, como citamos no capítulo de Fundamentação, que um filtro afetivo alto influencia negativamente as atitudes de um aprendiz (BANDEIRA, 2003), assim como sua motivação (integrativa). Como desenvolvemos na seção Afetividade, os filtros afetivos de Alice e Tainara estavam altos até o momento da pesquisa, o que também contribuiria para uma CEA pouco producente.

Concluímos que aprendizes com CEA producente realizam não apenas ações para aprender a LI, mas também refletem e fazem ações para trabalhar com suas dificuldades, possuindo, portanto, atitudes positivas. Enquanto isso, alunos com CEA pouco producente podem agir para estudar Inglês, mas nem sempre refletem sobre suas ações ou trabalham com suas dificuldades (atitudes negativas). Apesar de observarmos esses aspectos recorrentes entre os participantes da pesquisa, também averiguamos alguns elementos individuais que podem interferir nas CEAs desses indivíduos. Prosseguiremos, assim, com as diferenças individuais.