• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III: Metodologia da pesquisa

3.1 Natureza da pesquisa

Com a finalidade de definir o percurso metodológico deste trabalho, retomamos as perguntas de pesquisa que orientam esta investigação para, posteriormente, explicarmos nossa escolha pelo paradigma qualitativo de cunho exploratório para desenvolvermos tal pesquisa.

1) Como se caracteriza a CEA considerada producente de aprendizes de LI como LE em uma universidade federal do interior do estado de São Paulo?

Como o cerne deste trabalho é a compreensão da CEA considerada producente (ou bem desenvolvida) de aprendizes de LI como LE, julgamos que a natureza qualitativa seria a mais adequada às perguntas e aos objetivos desta pesquisa.

Apesar de Dörnyei (2007) apontar que não há um consenso sobre a definição do que é uma pesquisa qualitativa, Silveira e Córdova (2009, p.31) consideram que a pesquisa qualitativa “não se preocupa com representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.”. Ainda segundo Silveira e Córdova (2009, p.31):

Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens.

Para Seliger e Shohamy (1989, p.118) “Ao contrário da pesquisa descritiva, a pesquisa qualitativa evita o estabelecimento de questões de pesquisa ou hipóteses, ou identificar, a priori, qualquer variável que pode tornar-se o foco da pesquisa.”61.

61 Tradução nossa: “Unlike descriptive research, qualitative research avoids establishing research questions or hypotheses, or identifying, a priori, any variable which will become the focus of the research”.

Entretanto, ainda segundo esses autores, uma vez que os dados são selecionados, uma hipótese pode ser elaborada de acordo com essas informações. Além disso, esse tipo de pesquisa não tem um padrão ou etapas em seu procedimento como na pesquisa experimental: “Os procedimentos para a conduta da pesquisa qualitativa são, portanto, muito mais abertos do que nas pesquisas descritivas ou experimentais, e são ditados pelo contexto do estudo em particular” (SELIGER e SHOHAMY, 1989, p. 121)62.

Ressaltamos que, de acordo com as perguntas e objetivos desta pesquisa (ver Capítulo I), esta classifica-se como exploratória por procurar desenvolver e esclarecer características da CEA bem desenvolvida/producente, o que ainda é pouco conhecido devido à escassez de pesquisas sobre o assunto. Nas palavras de Gil (1987, p. 41):

Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado.

Ainda segundo o autor, esse tipo de pesquisa geralmente caracteriza-se como levantamento bibliográfico ou estudo de caso. Como apontado na seção Justificativa deste trabalho, realizamos um levantamento bibliográfico em 2015 para averiguar as pesquisas existentes sobre CEA e encontramos apenas uma. Considerando isso, decidimos, assim, desenvolver o presente estudo de caso (DORNYEI, 2007) para explorar mais tal construto.

Yin (2015, p. 17) pontua que estudo de caso é desenvolvido “por desejar entender um fenômeno do mundo real e assumir que esse entendimento provavelmente englobe importantes condições contextuais pertinentes ao seu caso”. Ainda segundo o autor, ele engloba diferentes fontes de evidência e “beneficia-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para orientar a coleta e a análise de dados.” (YIN, 2015, p. 18). Considerando essas ponderações, utilizamos diferentes instrumentos de coleta que consideraram várias perspectivas (do pesquisador, dos participantes, gravações em áudio e vídeo, além de produções dos participantes), além da fundamentação teórica para poder triangular os dados e obter os resultados.

62 Tradução nossa: “The procedures for conducting qualitative research are, therefore, much more openended than they are in either descriptive or experimental research, and are dictated by the context of the particular research study”.

Ao envolver diferentes casos, esta pesquisa é considerada um estudo de casos múltiplos (YIN, 2015) com replicação literal e teórica. Nas palavras de Yin (2015, p. 60):

cada caso deve ser selecionado cuidadosamente para que (a) possa predizer resultados similares (uma replicação literal) ou (b) possa produzir resultados contrastantes, mas para razões previsíveis (uma replicação teórica).

Os três participantes com CEA considerada producente correspondem a três casos que corroboram para resultados similares, assim como os outros três com CEA pouco producente. Entretanto, ao contrastarmos esses dois perfis de CEA e encontrarmos resultados diferentes, estamos trabalhando com essas razões previsíveis de que um perfil de CEA é diferente do que o outro e traz consequências diferentes para quem o possui. Além disso, nosso intuito, ao averiguar e contrastar esses dois perfis, é contribuir para o desenvolvimento teórico sobre o assunto, como enfatiza Yin (2015, p. 61):

A lógica subjacente a esses procedimentos de replicação também deve refletir algum interesse teórico, não apenas uma predição de que dois casos devem simplesmente ser semelhantes ou diferentes.

Com relação ao desenvolvimento da pesquisa, nenhum aspecto da mesma foi previamente fixado e imutável, considerando que o “estudo é mantido aberto e fluído, de maneira que ele pode responder de forma flexível a novos detalhes ou princípios que podem surgir durante o processo de investigação” (DÖRNYEI, 2007, p. 37)63

. A partir dessa perspectiva, portanto, as categorias e conceitos são definidos durante o processo de investigação. Entretanto, de modo a respeitar os princípios de validade do constructo, validade interna e confiabilidade, identificamos e utilizamos teoria e proposições teóricas apropriadas para analisar o presente estudo de caso, como veremos a seguir.

Yin (2015, p. 48) ressalta quatro testes que procuram estabelecer a qualidade das pesquisas sociais:

Validade do constructo: identificação das medidas operacionais corretas para os conceitos sendo estudados.

Validade interna (apenas para estudos explicativos ou causais e não para estudos descritivos ou exploratórios): busca do estabelecimento da relação causal pela qual se acredita que determinadas condições levem a outras condições, diferenciadas das relações espúrias.

Validade externa: definição do domínio para o qual as descobertas do estudo podem ser generalizados.

63 Tradução nossa.

Confiabilidade: demonstração de que as operações de um estudo – como os procedimentos para a coleta de dados – podem ser repetidas, com os mesmos resultados.

Como dito ainda nesta seção, a presente pesquisa é exploratória. Considerando isso, não nos deteremos em explicar sobre a validade interna da pesquisa.

Brown (1997a) define validade como “o grau no qual os resultados podem ser interpretados com precisão e efetivamente generalizados”64

(BROWN e RODGERS, 2002, p. 241). Dessa forma, por ser uma pesquisa qualitativa e exploratória, a generalização desses resultados e interpretações devem estar sob algumas considerações, como: contexto em que foi realizada a pesquisa e os contextos dos participantes; as características dos participantes; entre outras.

Com relação à validade de constructo, Yin (2015) aponta a utilização de múltiplas fontes de evidência como uma forma de garantir esse tipo de validade. Buscando garantir essa validade, utilizamos as notas de campo da pesquisadora, as respostas do questionário e desenvolvimento de narrativa pelos participantes, as gravações em áudio e vídeo, assim como as produções em sala de aula dos participantes. A utilização desses instrumentos não foi aleatória, uma vez que Ferraço de Paula (2008) utilizou questionários, notas de campo e gravações e Bandeira (2003) fez uso de gravações e observação de aulas.

Ao considerar a validade externa, utilizamos a lógica da replicação nos estudos de caso múltiplo (YIN, 2015, p. 51). Como mencionamos ainda nesta seção, avaliamos e definimos a teoria e proposições teóricas mais condizentes com a presente pesquisa desde sua fase inicial para estabelecimento de bases coerentes com o estudo de casos múltiplos, garantindo, assim, sua validade externa.

No tocante à confiabilidade, Brown e Rodgers (2002, p. 241) definem tal conceito como “o grau com que os resultados do estudo são consistentes”65

se fossem analisados por outro pesquisador (confiabilidade interna) ou caso o estudo fosse replicado – considerando as mesmas variantes, tais como contexto e participantes – e resultados semelhantes fossem obtidos (confiabilidade externa).

Yin (2015, p.52) pontua que utilizar o protocolo do estudo de caso e desenvolver uma base de dados dos casos são formas de tornar “as etapas do processo as mais

64 Tradução nossa. 65 Tradução nossa.

operacionais possíveis e conduzir a pesquisa como se alguém estivesse olhando sobre seu ombro”, o que reforça a confiabilidade deste estudo de caso. Passamos à apresentação dos participantes deste estudo.