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2 REVISÃO LITERÁRIA

2.3 O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2.6.1 Inventário de Emissões de GEE – Método do IPCC (2006)

As diretrizes metodológicas do IPCC definem o enquadramento das emissões por setores, quais sejam: de energia; processos industriais; uso de solventes e outros produtos; agropecuária; tratamento de resíduos; e mudança de uso da terra e florestas. A Figura 15 apresenta as principais categorias segundo IPCC (2006).

Figura 15 - Principais categorias de emissões por setor do IPCC 2006

Fonte: Adaptado de IPCC (2006)

Para o setor de resíduos, a metodologia considera as estimativas das emissões provenientes do dióxido de Carbono (CO2), do metano (CH4) e do

óxido nitroso (N2O). As categorias inseridas no setor de resíduos são as

a) disposição de resíduos no solo; b) tratamento biologico de resíduos; c) incineração e queima de resíduos; d) tratamento de águas residuárias.

As diretrizes do IPCC definem a cobertura do inventário nacional em termos de gases e categorias de emissões por fontes e remoções por sumidouros, fornecem orientação adicional sobre a escolha da metodologia de estimativa, melhorias dos métodos, bem como recomendações sobre questões transversais, incluindo estimativas de incertezas, séries temporais, consistência e garantia de qualidade e controle de qualidade.

O IPCC (1996) por meio do guia para o inventário de Gases Nacionais de Efeito Estufa, juntamente com a Orientação de Boas Práticas, com a Gestão da Incerteza Em Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa (GPG, 2000) e as Orientações de boas práticas para uso da terra, uso da terra e silvicultura (GPG-LULUCF), fornecem aos países metodologias acordadas internacionalmente para estimar e relatar as emissões de gases de efeito estufa ao UNFCCC.

Neste contexto, as diretrizes do IPCC (2006) contribuem para padronizar os valores do Potencial de Aquecimento Global ou Global Warming Potential (GWP) nos inventários de emissão para gases de efeito estufa diretos, não abrangidos pelo Protocolo de Montreal.

O GWP é uma medida relativa que compara o gás em questão com a mesma quantidade de dióxido de carbono, cujo potencial é definido como 1. O uso do GWP permite que as reduções das emissões do gás metano, óxido nitroso e outros compostos de alto GWP sejam transformadas em “dióxido de carbono equivalente”. O CO2 equivalente, ou CO2e, é a unidade de moeda de carbono, subsídios e compensações nos projetos de MDL. Na Tabela 10 apresenta-se o GWP utilizado no Relatório do IPCC AR2/2000 e fontes de emissão.

Tabela 10 - Potencial de aquecimento global e fontes de emissões (GWP)

Gases GEE GWP (2000) Fontes típicas

Dióxido de carbono – CO2 1 Resíduos sólidos urbanos,

combustão fóssil, mudança no uso do solo, desmatamento e produção de cimento.

Metano (CH4) 21 Resíduos sólidos urbanos,

agricultura, manejo de animais e minas de carvão.

Óxido nitroso - N2O 310 Produção e aplicação de

fertilizantes. Hidroclorofluorcarbonos (PCFs) CF4 – 6,5

C2F6 – 9,2

Produção de alumínio.

Perfluorcarbonos (PFCs) HFC – 23 Refrigerantes.

Hexafluoreto de enxofre (SF6) 23 Transformadores elétricos

Produção de magnésio. Fonte: Adaptado de IPCC (2000)

Na Tabela 11 apresentam-se os fatores de equivalência em carbono na métrica do Potencial de Aquecimento Global - GWP, considerados pelo IPCC nos relatórios AR2, AR4 e AR5 e utilizados como referência para as Metas Brasileiras de Reduções do Acordo de Paris.

Tabela 11 - Potencial de aquecimento global - relatórios do IPCC

Emissões/Relatório AR2 (2000) AR4 (2005) AR5 (2016)

CO2 1 1 1

CH4 21 25 28

N2O 310 298 265

Fonte: Adaptado de SEEG (2017)

Observa-se que, durante o período de elaboração dos Relatórios do IPCC, houve uma variação nos valores padrões do GWP utilizados, devido os ajustes de metodologia e mesmo da evolução das condições climáticas.

Os métodos de estimativa de emissões de metano do IPCC (2006) para a categoria de resíduos estão dispostos em três modelos, descritos a abaixo:

a) Tier 1 – Baseado no método do IPCC FOD simplificado que utiliza basicamente dado e fatores padrão fornecidos globalmente;

b) Tier 2 – Usa o método do IPCC FOD com parâmetros, padrão, dados de boa qualidade de atividade específica do país e da disposição dos resíduos no solo em um determinado ano;

c) Tier 3 – são baseados no IPCC FOD com o uso de dados de boa qualidade do país para a atividade específica com parâmetros chave próprios consistentes que incluem tempo de vida, potencial de geração de metano, composiçcão dos resíduos e disposição no solo.

Esses métodos apresentam especificações matemáticas, informações sobre fatores de emissão ou outros parâmetros a serem usados nas estimativas e fontes de dados por categoria para estimar o nível geral de emissões. A provisão de diferentes níveis permite a elaboração de inventários com a utilização de métodologia consistente, de acordo com os recursos existentes, o que permite a concentração dos esforços nas categorias de emissões e remoções que contribuem significativamente para os totais e as tendências das emissões nacionais (IPCC, 2006).

A metodologia do IPCC pode ser adaptada, entre os níveis dos métodos, para um inventário regional e local, utilizando-se os fatores locais de emissão e observando as especificidades das fontes de emissão (IPCC, 2006).

Para a elaboração do inventário é necessário inicialmente escolher um dos três métodos previstos nas diretrizes do IPCC, definir o temporal a partir de série histórica ou não, levantar dados disponíveis, parâmetros e padrões a serem utilizados.

Segundo o IPCC (2006), para o setor de resíduos, a metodologia foi revista e direcionada para as estimativas de emissão do gás metano, pelo seu alto potencial de aquecimento global que é 21 a 28 vezes maior que o do dioxido de carbono. A estimativa deverá ser realizada a partir da disposição dos resíduos no solo, podendo utilizar série histórica ou de um ano específico de deposição. Outro aspecto é a utilização do modelo de Decaimento de Primeira Ordem (FOD) que considera o processo de degrabilidade da matéria, dados históricos e, ainda, a opção de usar dados disponíveis próprios ou de outras fontes e padrões do IPCC. Esta abordagem inclui, também, padrões específicos do país, de uma região ou de um local sobre geração, composição e gerenciamento de resíduos.

Os projetos de redução de emissões de carbono em aterros sanitários no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) adota o modelo do IPCC (2006), assim como os inventários nacionais dos países inseridos na UNFCCC.

O inventário das emissões de GEE proveniente dos resíduos sólidos urbanos tem como foco os resíduos sólidos domiciliares dispostos no solo, nas três classificações definidas pelo IPCC (2006), quais sejam:

a) Disposição em locais gerenciados, nos quais os aterros sanitários se enquadram;

b) Disposição em locais gerenciados com mais de 5m de profundidade, considerados os aterros controlados;

c) Disposição em locais não gerenciados com menos de 5m de profundidade, que são os lixões.

Nesses locais, a principal fonte dos gases de efeito estufa é a decomposição da matéria orgânica contida nos resíduos que libera o gás metano (CH4).

A composição do biogás é semelhante à do gás natural combustível, o que possibilita a utilização do mesmo como alternativa para a produção de energia (BANCO MUDIAL, 2010).

O BANCO MUNDIAL (2010) constatou que no Brasil são poucos os aterros sanitários que usam o biogás para a geração de energia, sendo que a prática mais comum é permitir que o gás escape diretamente para a atmosfera, através de drenos coletores e, em alguns casos, são queimados em flare.

Por outro lado, o CIBIOGÁS (2019) identificou a existência de 276 plantas de geração de biogás, em 2018, no Brasil, das quais 33 utilizam o substrato de resíduos sólidos urbanos ou esgoto, correspondente a 76% da produção do biogás no país para fins energético.

2.6.2 Setor de resíduos sólidos e oportunidades de mitigação dos Gases