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2 REVISÃO LITERÁRIA

2.3 O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2.3.3 Mudanças climáticas no contexto do Brasil

Com a participação do Brasil na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, de Estocolmo/Suécia, realizada em 1972, medidas efetivas com relação ao meio ambiente foram tomadas pelo país. Em 1981, foi criada a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que instituiu a Secretária Especial de Meio Ambiente e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), e criou o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONSEMA), estabelecendo responsabilidade entre os entes da federação. Em 1986 a primeira Resolução CONAMA estabeleceu diretrizes para avaliação de Impacto Ambiental (AIA), os Estudos de Avaliação Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), como instrumento de planejamento dentro da PNMA.

No entanto, o passo decisivo para a formulação de uma legislação ambiental integrada, em nível federal, estadual e municipal, foi a promulgação da Constituição Federal em 1988. O Congresso Brasileiro, influenciado pelo Relatório Nosso Futuro Comum – Brundtland, dedicou o artigo 225 ao meio ambiente, dividindo entre o governo e a sociedade civil a responsabilidade pela sua preservação e conservação. Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (CF,1988).

Para o enfrentamento das questões do clima, em 2007, o governo brasileiro criou a Secretaria de Mudança Climática, subordinada ao Ministério do Meio Ambiente, e com base no trabalho da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima o Brasil lançou em 2008 o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), o qual se comprometia com a redução de 70 por cento no desmatamento até 2017.

Em 2009, o Parlamento Brasileiro aprova a Lei 12.187/2009 da Política Nacional das Mudanças Climáticas (PNMC), assim como um conjunto de metas voluntárias de redução dos gases de efeito estufa, entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até 2020. Em 2010, com regulamentação da PNMC, por meio do Decreto 7.390/2010 BRASIL (2010b), fica determinada a elaboração de planos setoriais e é feita a Segunda Comunicação Nacional (MCTI, 2013). Em seguida, em 2012, o Brasil faz consulta pública sobre os planos setoriais.

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação é o responsável pela implementação da PNMC e pela publicação das estimativas anuais

de emissões de gases de efeito estufa no Brasil em formato apropriado para facilitar o entendimento por parte dos segmentos interessados da sociedade (MCTI, 2013).

Neste contexto, o MCTI tem capitaneado a elaboração da Comunicação Nacional do Brasil à Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, estando na sua 3a Comunicação. Os 1º, 2º e 3º Inventários Nacional de Emissões Antrópicas e Remoções por Sumidouro de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, foram publicados em 2010, 2013 e 2016 respectivamente.

O Brasil, em 2008, elaborou o seu GHG Protocol, nome em inglês que significa Protocolo de Gases de Efeito Estufa, uma adaptação do documento elaborado em 1998 pelo World Resources Institute (WRI) e a World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), visando orientar as organizações e corporações na elaboração de inventário das emissões.

O GHG Protocol Nacional é uma ferramenta compatível com a norma International Organization for Standardization – ISO 14064 -1:2006 e com os métodos de quantificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), dispondo de diretrizes para definição dos limites organizacionais e operacionais; coleta de dados das atividades que resultam na emissão de GEE; cálculo das emissões; adoção de estratégias de gestão e apresentação dos resultados.

No Brasil, a ABNT NBR ISO 14064/2007, dos "Gases de Efeito Estufa", tem como base a própria ISSO 14064-19 e as diretrizes do GHG Protocol, estando direcionada para as organizações, para projetos, para validação e verificação de declarações relativas a gases de efeito estufa.

O Acordo de Paris passou a vigorar no plano internacional em novembro de 2016, no entanto, o Brasil já havia depositado o instrumento de ratificação em setembro de 2016, assumindo o compromisso de adotar medidas para redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) por meio de uma Contribuição Nacional Determinada (NDC).

A NDC brasileira aplica-se ao conjunto da economia e, portanto, baseia-se em caminhos flexíveis para atingir os objetivos de 2025 e 2030, considerando sua condição de país em desenvolvimento (MCTIC, 2017), com vários desafios relacionados à erradicação da pobreza, educação, saúde pública, emprego, habitação, infraestrutura e acesso a energia.

Apesar desses desafios, o Brasil no combate global à mudança do clima desenvolveu esforços, tendo reduzido suas emissões em mais de 41%, em 2012, com relação aos níveis de 2005 (KÄSSMAYER, FRAXE NETO, 2016).

A NDC brasileira contém o compromisso de reduzir as emissões de GEE em 37% em 2025 e 43% em 2030, tendo por referência o ano de 2005, em vários setores da economia, incluindo o setor de tratamento e disposição final de resíduos sólidos. O que equivale a um teto de emissões de 1.300 e 1.200 MtCO2e em 2025 e 2030, respectivamente (MCTIC, 2017). (Figura 4).

Figura 4 - Percentuais assumidos na NDC brasileira

Fonte: MMA (2015)

O MCTIC, elaborou uma contribuição técnica para subsidiar as discussões sobre a estratégia nacional para a implementação da NDC do Brasil ao Acordo de Paris, tomando como base os resultados do Projeto "Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-Chave no Brasil", executado em parceria com a ONU/Ambiente, apontando o papel que cada setor econômico pode desempenhar, inclusive o do subsetor de resíduos, segundo uma ótica de custo-efetividade, para o cumprimento das metas de emissões de GEE para 2025 e 2030.

O Estudo do MCTIC (2017) demonstrou que a ampliação da adoção de atividades de baixo carbono, como eficiência energética, co-geração de energia e aproveitamento de biogás, apresentam potenciais relevantes de mitigação, tendo sido indicados como instrumentos, medidas e ações que possibilitará o cumprimento das metas da NDC brasileira, para 2025 e 2030.

No Quadro 2, verifica-se que o instrumento de política pública para o setor de resíduos, para cumprimento da meta NDC brasileira, até 2025, é a regulamentação do biogás e para 2030 são a criação de linha de crédito a isenções e incentivos fiscais.

Quadro 2 - Instrumentos de política pública para cumprimento da NDC Brasileira. Instrumento de política pública no setor de

resíduos sólidos

Tipo de instrumento

2025 2030

Regulamentação do biogás proveniente de RSU e efluentes

Regulatório -

Criação e ampliação de linhas de crédito para investimento em fontes renováveis e eficiência energética.

- Mercado

Condicionamento da concessão de isenções e incentivos fiscais aos estados e municípios à implementação de contrapartida de gestão de baixo carbono -do RSU.

- Regulatório

Fonte: Adaptado de MCTIC (2017)

Também foram definidas medidas de mitigação para alcançar as metas da NDC em 2025 e 2030 (Tabela 2).

Tabela 2 – Opções e potencial de mitigação para cumprimento da NDC brasileira.

Setor Opções de mitigação Potencial de mitigação (MtCO₂e)

2025 2030

Gestão de resíduos (RSU)

Degradação de biogás de aterro sanitário com flare.

5,4 20,8 Aproveitamento de biogás para produção de biometano. - 8,2 Aproveitamento de biogás para geração de eletricidade - 6,7 Difusão de biodigestão para produção de eletricidade - 0,9 Difusão de biodigestão para biometano - 2,1

Fonte: Adaptado de MCTIC (2017)