• Nenhum resultado encontrado

4 ASPECTOS JURÍDICOS DO SISTEMA DE NEGOCIAÇÕES BURSÁTEIS

4.2 Principais sujeitos participantes do sistema de negociações bursáteis

4.2.1 Investidores

Coexistem no Mercado de Valores Mobiliários o grupo dos investidores individuais108 e o grupo dos investidos institucionais109. Categoricamente, em cada um desses grupos encontram-se os investidores qualificados e os investidores não-qualificados:

Ilustração 4: Grupos dos Investidores

Investidores Individuais Não-qualificados Qualificados Investidores Institucionais Não-qualificados Qualificados

Fonte: Autoria própria.

Os investidores individuais são toda e qualquer pessoa física ou jurídica que, em nome próprio e com recursos próprios, abre uma conta junto a uma corretora ou distribuidora de valores mobiliários para comprar e vender, a termo ou a prazo, valores mobiliários no ambiente de Bolsas de Valores. O CMN e demais agentes supervisores de mercado os diferenciam entre residentes e não residentes, tendo em vista que os procedimentos operacionais exigidos destes110 para investimento são mais burocráticos; juridicamente, no entanto, encontram-se equiparados e inseridos dentro do grupo dos investidores individuais. Importa apenas situar que a popularização da participação do público investidor individual é fenômeno ainda recente111 e em desenvolvimento, comparativamente com o mercado norte-

108 São exemplos de investidores individuais as pessoas físicas e as pessoas jurídicas não consideradas

institucionais, incluindo as instituições financeiras bancárias.

109

São exemplos dos investidores institucionais as Entidades Abertas de Previdência Complementar, as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Fundos de Pensão), as Seguradoras e os Fundos de Investimento.

110 Resolução CMN nº 2689/2000, que dispõe sobre as aplicações de investidor não residente nos mercados

financeiros e de capitais.

111 Pode-se dizer que somente a partir de 2007, depois do IPO da Bovespa, o pequeno investidor assumiu

americano112, onde as companhias se caracterizam por ter o capital altamente pulverizado e o investimento em bolsas de valores por já fazer parte da cultura naquele país.

Os critérios de conceituação dos investidores institucionais não são facilmente identificados, ou pelos menos a doutrina especializada ainda não os consolidou, conforme constataram Márcia Carla Pereira Ribeiro e Eduardo Oliveira Agustinho em artigo especialmente elaborado para tratar dessa espécie de investidor113. Segundo eles, a essência dos investidores institucionais está na gestão de recursos advindos da poupança popular, em atividade assemelhada com a de intermediação financeira:

“[...] é possível e pertinente conceituar juridicamente os investidores institucionais como (i) instituições que exercem, como atividade econômica profissional, (ii) a captação de recursos junto à poupança poupular por outras formas que não o depósito à vista (iii) e a sua gestão, no seu próprio interesse ou naquele de quem os confiou, (iv) com a obrigatoriedade de realizar investimentos no Mercado de Capitais”.

Conforme Eduardo Fortuna114, “a atuação dos investidores institucionais é fundamental para o mercado, pois, pelo seu peso, no contexto, eles garantem o nível de

estabilidade do mercado”.

Os investidores qualificados, individuais ou institucionais, são aqueles que possuem, presumivelmente ou mediante atestado próprio, habilidades especiais para realizar negociações bursáteis, não lhes sendo essenciais as normas de proteção aos investidores no Mercado de Capitais. Pela dificuldade de se fixarem critérios gerais para a identificação precisa dos investidores qualificados, a CVM optou por enumerá-los na tentativa de aumentar a segurança jurídica, consoante disposto no artigo 109 da Instrução CVM nº 409/2004:

IN CVM 409/2004.

Art. 109 “Para efeito do disposto no artigo anterior, são considerados investidores qualificados:

I - instituições financeiras;

II - companhias seguradoras e sociedades de capitalização; III - entidades abertas e fechadas de previdência complementar;

112 Segundo David Charny (CHARNY, David. The German Corporate Governance System, disponível em

http://ssrn.com/abstract=125188, acessado dia 10.02.2010, às 13h), o modelo norte-americano de negociação de ações possui as seguintes características: a) Grande número de empresas com ações negociadas; b) retorno contínuo de ações negociadas em pequenas quantidades; c) mercado para o controle criado pela oportunidade de adquirir grandes blocos de ações e, principalmente; d) ação difundida entre indivíduos e instituições.

113

RIBEIRO, Márcia Carla Pereira; e AGUSTINHO, Eduardo Oliveira. Os investidores institucionais e o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, in WALD, Arnoldo; GONÇALVES, Fernando; e CASTRO, Moema Augusta Soares de (Coord). Sociedades Anônimas e Mercado de Capitais: Homenagem ao Prof. Osmar Brina Corrêa-Lima. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 375-400.

114 FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 17 ed. ver. e atual. Rio de Janeiro:

IV - pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em valor superior a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) e que, adicionalmente, atestem por escrito sua condição de investidor qualificado mediante termo próprio, de acordo com o Anexo I;

V - fundos de investimento destinados exclusivamente a investidores qualificados; e administradores de carteira e consultores de valores mobiliários autorizados pela CVM, em relação a seus recursos próprios”.

Os investidores não qualificados são identificados por exclusão, ou seja, são aqueles que não se enquadram na definição de investidores qualificados. São exemplos, dentre os investidores individuais, as pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros inferior a R$300.000,00 (trezentos mil reais) ou, então, que não estejam atestadas; e dentre os investidores institucionais, os fundos de investimento destinados à participação do público em geral.

A diferenciação dos investidores entre qualificados e não-qualificados serve para definir o grau de suficiência econômica, jurídica e financeira nas relações estabelecidas dentro do Mercado de Capitais. Há casos, por exemplo, em que as companhias emitentes de valores mobiliários ficam dispensadas de cumprir obrigações relevantes (tais como a divulgação de prospecto) quando os destinatários dos valores mobiliários forem investidores qualificados115. Com isso, essa diferenciação chega a criar reservas para os mercados de riscos mais relevantes, já que os investidores qualificados estão presumidamente aptos para uma completa compreensão e avaliação dos riscos envolvidos:

“Esse conhecimento acerca do mercado de capitais que é o fator determinante na desnecessidade de medidas protetivas aos investidores qualificados e a respectiva exclusão dos mesmos na aplicação do CDC, pois não há hipossuficiência, estando os investidores qualificados em posição de igualdade em relação aos demais intervenientes do mercado”116.

Independentemente da classificação do investidor, é certo que sua atuação no Mercado de Capitais deve obedecer ao perfil de risco no qual se enquadra. Esse perfil de risco pretende adequar o investidor a um padrão comportamental geralmente definido a partir do nível de tolerância e de aversão ao risco117 e, também, do objetivo do investimento. A

115 Como ocorre, por exemplo, na oferta pública de valores mobiliários com esforços restritos, conforme

regulado pela Instrução CVM nº 476/2009.

116

TEIXEIRA, Felipe Canabarro. Da Corretagem On-Line: Os Deveres de Informação e Educação das Corretoras em Relação aos Investidores. O caso especial do Brasil. 2009. 192 fls. Dissertação (Mestrado). Universidade de Lisboa - Faculdade de Direito, Lisboa-PT. Orientadora: Paula Costa e Silva, p. 56.

117 “Tolerância ao risco é a disposição do investidor a aceitar riscos mais altos para obter retornos esperados

mais altos”, enquanto que a “Aversão ao risco é a relutância do investidor a aceitar os riscos” (ZVI, Bodi. Fundamentos de investimentos. Trad. TAYLOR, Robert Brian. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2000, p. 131).

adequabilidade do investidor (o chamado suitability118) é tão relevante que a CVM publicou recentemente a Instrução CVM nº 539/2013 para dispor sobre o dever de verificação da adequação dos produtos, serviços e operações ao perfil do cliente, determinando que “as pessoas habilitadas a atuar como integrantes do sistema de distribuição e os consultores de valores mobiliários não podem recomendar produtos, realizar operações ou prestar serviços

sem que verifiquem sua adequação ao perfil do cliente”119

.