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Negociações a termo sem cobertura

4 ASPECTOS JURÍDICOS DO SISTEMA DE NEGOCIAÇÕES BURSÁTEIS

5.2 Negociações Bursáteis com Alavancagem Financeira

5.2.1 Negociações a termo sem cobertura

As negociações bursáteis a termo sem cobertura operam-se conforme demonstramos no Item 5.1.2 deste trabalho, com uma diferença: ao invés da cobertura, o investidor fica obrigado a depositar a chamada “margem inicial”, instituída nos termos do Item VIII do artigo 7º da Lei nº 4728/1965258. Para Franciso Satiro Souza Júnior259,

“as margens são as garantias do efetivo cumprimento das obrigações de uma parte no momento da liquidação. São necessárias para que a caixa de liquidação se assegure de que, apesar de ser contraparte em todas as operações, não será chamada a utilizar dos seus demais mecanismos de garantia ou mesmo seu patrimônio para solver os débitos. Isso se dá em razão da conjugação de dois fatores: a manutenção sempre de pares de contratos opostos em seu estoque – o que faz com que seus débitos em um, sejam sempre absolutamente idênticos a seus créditos em algum outro – e a administração das garantias que assegurarão o adimplemento das partes”.

O valor da margem de garantia requerida do participante das negociações bursáteis descobertas deve ser suficiente para cobrir o custo total de encerramento das posições de sua carteira (venda de posições compradas e compra de posições vendidas) em

caso de inadimplemento do participante, conforme dispõe o “Manual de Administração de

258

Lei nº 4.728/1965. Art. 7º. “Compete ao Conselho Monetário Nacional fixar as normas gerais a serem observadas na constituição, organização e funcionamento das Bôlsas de Valôres, e relativas a: [...] VIII - percentagem mínima do prêço dos títulos negociados a têrmo, que deverá ser obrigatòriamente liquidada à vista”.

259

SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro. Regime Jurídico das Opções Negociadas em Bolsas de Valores, 2002. 185 fls. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo -Faculdade de Direito, Programa de Pós Graduação, São Paulo. Orientador: Waldírio Bulgarelli, p. 152.

Risco da Câmara de Derivativos: Segmento BM&F”260

. A BM&FBovespa classifica essas margens de garantia em 3 (três) tipos:

“Margem de garantia requerida é o valor mínimo que o participante deve depositar junto à da Câmara para garantir a liquidação das obrigações decorrentes das operações a ele atribuídas.

Margem de garantia depositada é o valor que o participante mantém depositado junto à Câmara, para garantir a liquidação das obrigações decorrentes das operações a ele atribuídas.

Chamada de margem de garantia é a diferença negativa entre a margem de garantia requerida e a margem de garantia depositada, ou seja, é o valor que o participante deve depositar junto à Câmara a fim de atender ao requerimento de margem” 261.

Consoante disposto nos Itens 2.3.1 e 2.3.2 dos Procedimentos Operacionais da Câmara de Compensação, Liquidação e Gerenciamento de Riscos de Operações no Segmento Bovespa, e da Central Depositária de Ativos (CBLC)262, são considerados ativos elegíveis aceitos como garantia, desde que atendidas as condições dispostas nos regulamentos técnicos da BM&FBovespa: a moeda corrente nacional, os títulos públicos, o ouro ativo financeiro, as ações de companhias abertas admitidas à negociação em bolsas de valores, os títulos da dívida corporativa, os títulos negociados nos mercados internacionais, as cartas de fiança bancária, as cartas de fiança ou cartas de crédito emitidas por instituições sediadas no exterior, o seguro de crédito de companhias sediadas no país ou no exterior e outros ativos ou instrumentos. Os valores depositados a título de margens iniciais serão constantemente reavaliados e, em caso de insuficiência do valor mínimo garantido, o participante das negociações bursáteis é

“chamado” para complementá-la, conforme disposto nos Procedimentos Operacionais da

Câmara de Compensação, Liquidação e Gerenciamento de Riscos de Operações no Segmento Bovespa, e da Central Depositária de Ativos (CBLC)263.

Apesar da natureza jurídica dessas margens de garantia não encontrar unanimidade na doutrina, variando sua classificação entre arras confirmatórias e caução,

260 BM&FBovespa, Manual de Administração de Risco da Câmara de Derivativos: Segmento BM&F,

disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/download/MAR-Derivativos-110318-Em- vigor.pdf, acessado dia 11/11/2013, às 12h.

261 BM&FBovespa, Manual de Administração de Risco da Câmara de Derivativos: Segmento BM&F,

disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/download/MAR-Derivativos-110318-Em- vigor.pdf, acessado dia 11/11/2013, às 12h.

262 “Procedimentos Operacionais da Câmara de Compensação, Liquidação e Gerenciamento de Riscos de

Operações no Segmento Bovespa, e da Central Depositária de Ativos (CBLC)”, BM&FBovespa, disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/download/MPO-CBLC-Completo-110318-Em-vigor.pdf, acessado dia 01/12/2013, às 10h.

263 “Procedimentos Operacionais da Câmara de Compensação, Liquidação e Gerenciamento de Riscos de

Operações no Segmento Bovespa, e da Central Depositária de Ativos (CBLC)”, BM&FBovespa, disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/download/MPO-CBLC-Completo-110318-Em-vigor.pdf, acessado dia 01/12/2013, às 10h.

concordamos com o entendimento do Francisco Satiro Souza Júnior no sentido de que o instituto se aproxima muito mais da caução do que da arras264. A própria BM&FBovespa deixou expresso em seu Manual de Administração de Risco que a finalidade principal das margens consiste em garantir a solvência dos negócios bursáteis alavancados e não, simplesmente, constituir um início de pagamento.

As operações a termo sem cobertura implicam grande alavancagem, podendo ser realizadas para implementar diversas estratégias, dentre as quais, por exemplo, podemos citar265:

(i) a obtenção de recursos (se o investidor vender à vista e comprar os mesmos valores mobiliários a termo sem cobertura);

(ii) o financiamento indireto (se o investidor comprar ações no mercado à vista e as vender no mercado a termo, com o objetivo de ganhar a diferença entre os preços à vista e a termo);

(iii) aumentar receita (vender a termo para recebimento de juros no período, além do preço a vista), etc.

O elevado risco dessas operações é facilmente percebido. O investidor que se obriga a vender valores mobiliários a termo, sem cobertura, num prazo ‘x’, por $100, fica obrigado a adquirir esses mesmos valores mobiliários durante esse prazo ‘x’ pelo preço de sua cotação. Se a cotação desses valores mobiliários ficar abaixo de $100 até o vencimento da operação, o investidor certamente auferirá lucro; porém, se no dia do vencimento a cotação desse valor mobiliário estiver maior que $100 (não há qualquer limite), o investidor será obrigado a compra-lo por esse preço para implementar a venda a termo, auferindo prejuízo

264 “Aqueles que vêem nas margens arras confirmatórias, o fazem na medida que representam a entrega de

quantia ou coisa, com a dupla finalidade de garantir o negócio e confirmar sua celebração. [...] considerando o simples fato de que, ao menos no mercado brasileiro, são aceitos em margem cartas de fiança, ou seja, obrigações pessoais, o conceito não se sustenta, aproximando o instituto da caução” (SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro. Regime Jurídico das Opções Negociadas em Bolsas de Valores, 2002. 185 fls. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo -Faculdade de Direito, Programa de Pós Graduação, São Paulo. Orientador: Waldírio Bulgarelli, p. 152).

265 Cf. GOULART, André Moura; LIMA, Gerlando Augusto Sampaio Franco de; e GREGÓRIO, Jaime.

Mercado de Renda Variável in Curso de Mercado Financeiro – Tópicos Especiais. Coord. Iran Siqueira Lima, Gerlando Augosto Sampaio Franco de Lima, Renê Coppe Pimentel. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 52-53.

(ilimitado, como vimos). Essa modalidade de operação amplifica bastante os riscos do investidor.