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Capítulo 3. A geopolítica dos EUA e da China e suas implicações econômicas

4.4. Investimentos estrangeiros diretos e integração produtiva

O estoque de IED75 dos EUA na China totalizou USD 28,3 bilhões em 2007, aumento de 20,9% sobre 2006. A maior parcela dos IED dos EUA na China é dirigida ao setor manufatureiro. Os IED da China nos EUA corresponderam a USD 1,1 bilhões em 2006, crescimento de 12,1% sobre 2006. O principal setor receptor de IED chineses nos EUA foi o comércio atacadista. As vendas de serviços por filiais de empresas norte-americanas na China somaram USD 10 bilhões em 2006, enquanto as vendas de serviços de filiais de empresas chinesas nos EUA equivaleram a USD 167 milhões.

Apesar de os EUA serem uma das principais fontes de IED na China, levando-se em conta o tamanho da economia norte-americana, os investimentos do país na China são relativamente modestos, sobretudo se comparados a vizinhos asiáticos da China como Japão, Coreia do Sul, Taiwan e mesmo Cingapura. A comparação com o Japão, em particular, é ilustrativa. Em 2008, os IED dos EUA na China foram de USD 2,9 bilhões, 12,5% acima do valor de 2007. Apesar de ter economia cerca de três vezes menor de que a dos EUA, o Japão investiu USD 3,7 bilhões em 2008, 1,8% a mais de que em 2007 (UCBC, 2009a).

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Neste ponto, cabe esclarecer porque os IED são considerados como aspecto determinante da interdependência produtiva, e não financeira, no âmbito desta tese (e, mais especificamente, dos seus capítulos 4 e 5). Embora sejam, a rigor, fluxos financeiros, os IED são mais bem analisados como categoria independente, uma vez que, além do fluxo de capital, incorporam fluxos de tecnologia e de expertise gerencial e implicam, em geral, expansão de fluxos comerciais. Podem ser enxergados, portanto, como categoria mista que congrega aspectos dos fluxos financeiros e aspectos dos fluxos comerciais, entre outros.

A evolução dos IED japoneses e norte-americanos acumulados desde meados da década de 1980, organizados por setores produtivos, denota ainda mais claramente a posição relativamente periférica dos IED dos EUA na economia chinesa. Entre 1984 e 2004, a variação no estoque de IED japoneses na China nos principais setores beneficiados foi:

- Alimentos: de USD 9,6 milhões para USD 1,3 bilhões; - Têxteis: de USD 1,2 milhões para USD 2,3 bilhões; - Químicos: de USD 6,5 milhões para USD 1,9 bilhões; - Metais: de USD 1,4 milhões para USD 2,1 bilhões; - Máquinas: de USD 1 milhão para USD 3 bilhões;

- Material elétrico: de USD 1,2 milhões para USD 5,9 bilhões; - Equipamento de transporte: de 0,6 milhões para 4,6 bilhões.

Ainda que indique aumento também expressivo, a trajetória dos IED dos EUA na China no mesmo período é bastante menos acentuada:

- Alimentos: de USD 10 milhões para USD 593 bilhões; - Químicos: de USD 27 milhões para USD 1,6 bilhões; - Metais: de USD 2 milhões para USD 149 milhões; - Máquinas: de USD 21 milhões para USD 455 milhões;

- Material elétrico: de USD 10 milhões para USD 493 milhões; - Equipamento de transporte: de zero para 1,8 bilhões.

Ademais, diferentemente dos IED japoneses, os investimentos de empresas norte-americanas na China são orientados, em sua maioria, para o mercado doméstico. Dados de 2003 indicam que 75% das vendas de afiliadas de empresas norte-americanas instaladas na China foram realizadas no próprio mercado chinês, em contraste com a estratégia das empresas japonesas com filiais

no país. 61,6% dessas empresas exportaram mais de 70% de sua produção chinesa naquele ano. Em 2001, afiliadas japonesas na China exportaram 65% de sua produção (YUQING, 2007).

Dos 25% exportados pelas empresas norte-americanas de suas filiais na China, apenas 7% tiveram como destino os EUA (“importações reversas”), ao contrário das empresas japonesas, cujas exportações foram dirigidas ao Japão em cerca 50% das transações. No setor de instrumentos de precisão, quase 90% das vendas externas das afiliadas chinesas de empresas japonesas foram dirigidas ao Japão; no setor químico, as “importações reversas” representaram 70% das vendas externas; e, no setor de máquinas industriais, essa proporção ultrapassou os 60%. A elevada fração de “importações reversas” nas vendas totais das empresas japonesas instaladas na China sugere que atender ao mercado japonês é um dos objetivos principais na estratégia de negócios dessas empresas. Além disso, as categorias de produtos exportados da China para o Japão por empresas japonesas coincidem com as categorias de produtos que lideram a pauta de importação chinesa de produtos japoneses. Dessa forma, as “importações reversas” têm como resultado que os IED japoneses contribuem não só para o aumento do comércio total entre China e Japão, mas também para o aumento do comércio intraindústria, importante indicador de interdependência econômica (EICHENGREEN et al, 2008).

Em contraponto, as vendas de filiais de empresas dos EUA instaladas na China corresponderam a USD 38 bilhões em 2004, mais de que os USD 34,7 bilhões exportados pelo país para a China no mesmo ano. A contribuição das afiliadas chinesas de empresas norte-americanas para o aumento do comércio bilateral é limitada. Estimativas indicam que apenas 13% a 15% das exportações da China para os EUA originam-se de firmas norte-americanas e que a maior parte do

valor restante pode ser atribuída a filiais de empresas de outros países asiáticos instaladas na China. Há indícios, inclusive, de que as exportações dos EUA para a China têm sido prejudicadas por IED norte-americanos no país, dada a grande ênfase desses investimentos em explorar o mercado doméstico chinês (e não em usar a China como plataforma para servir a outros mercados – inclusive o norte- americano) (YUQING, 2007).