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Irrigação e adubação nitrogenada no pinhão-manso

2.3 Fatores que afetam o desenvolvimento e a produtividade do pinhão-manso

2.3.3 Irrigação e adubação nitrogenada no pinhão-manso

As exigências edafoclimáticas do pinhão-manso permitem seu cultivo em quase todas as regiões do país; no entanto, essa é uma cultura ainda muito pouco explorada no Brasil. Segundo Tewari (2009), a cultura apresenta um potencial de produção de 2 a 3 Mg ha-1 em condições áridas sem uso de irrigação, tornando-se uma planta oleaginosa viável para a obtenção de biodiesel. Em condições de cultivos intensivos, destacando-se uma boa disponibilidade hídrica, estima-se que a produtividade possa atingir cerca de 5 Mg ha-1 (TEWARI, 2009).

O pinhão-manso, por ser uma cultura tolerante ao efeito da salinidade, exceto na fase inicial de crescimento, pode ser irrigada com água salina, tolerando condutividade elétrica de até 12 dS m-1, valor considerado relativamente alto frente ao tolerado por outras culturas. A cultura demonstrou também a capacidade de translocar sódio do solo, na forma de Na+, para a parte aérea da planta (DAGAR et al., 2006).

Fact (2010) indica valores de produtividade de sementes (Figura 2) que variam de 1,5 a 10,0 Mg ha-1 ano-1, apresentando como principal problema para as baixas produtividades atuais, a pouca ou nenhuma seleção genética e limitações de água e nutrientes. Quando todas as exigências nutricionais e hídricas da cultura são atendidas, aliadas ao controle sistemático de pragas e doenças, juntamente com a devida seleção genética, a produtividade de sementes ficaria entre 5 e 10 Mg ha-1 ano-1. Neste trabalho é apresentada também uma produtividade potencial teórica da cultura que poderia atingir mais de 22 Mg ha-1 ano-1.

Figura 2 - Níveis de produtividades estimadas para a cultura do pinhão-manso Fonte: adaptado de FACT (2010).

1,5 5 10 22 0 5 10 15 20 25 1 2 3 P ro duti vi da de (M g ha -1 ano -1)

1- Produtividade atual - Fatores atuantes: Pragas, doenças e pouca ou nenhuma seleção genética;

2- Variação do potencial comercial - Com controle dos fatores água e nutrientes;

Entretanto, da expectativa inicial de quatro ou mais toneladas de grãos por hectare, produtividades inferiores a 2,0 Mg ha-1 estão sendo obtidas em diferentes condições edafoclimáticas, principalmente em razão de limitações hídricas, das condições nutricionais do solo ou do ataque de pragas e doenças (EVERSON; MENGISTU; GUSH, 2013; IIYAMA et al., 2013; TIKKOO; YADAV; KAUSHIK, 2013; TJEUW; SLINGERLAND; GILLER, 2015). Projeções não realizadas da produtividade de grãos podem ser atribuídas a observações de plantas isoladas, o que acabou desconsiderando a redução no desenvolvimento em plantios (ROCHA et al. 2012). Apesar da complementação hídrica ocasionar em muitos casos o aumento significativo da produtividade de sementes e de óleo extraído, estes não chegaram nem perto de atingir as mais diversas projeções realizadas sobre o potencial comercial máximo da cultura (KHEIRA; ATTA, 2009; KESAVA RAO et al., 2012; TIKKOO; YADAV; KAUSHIK, 2013).

Kheira e Atta (2009) afirmam que não existem dados quantitativos disponíveis e confiáveis sobre a necessidade e a eficiência do uso da água do pinhão-manso e, em ambientes permanentemente úmidos ou em situações com grande aplicação de água e fertilizante, a planta pode ser induzida a uma produção elevada de biomassa, porém com baixa produção de sementes.

Para a cultura do pinhão-manso, existem poucas informações a respeito do seu sistema radicular. A maioria das informações disponíveis levam em conta apenas observações de natureza botânica, não se aprofundando no que diz respeito a sua distribuição espacial no solo e muito menos à caracterização das zonas de maior atividade. Trabalhos dessa natureza para o pinhão-manso ainda são escassos e se limitam a condições específicas do clima e solo da região (ALVES JÚNIOR et al., 2014), além do tipo de sistema de manejo adotado. Devido à pouca quantidade de informações a respeito da distribuição do sistema radicular, reconhece-se que sua caracterização é de extrema importância para a determinação dos parâmetros de manejo da irrigação, como a profundidade efetiva das raízes, que define a camada de solo a ser umedecida, bem como a aplicação de fertilizantes. Sousa e Guerra (2012), avaliando o crescimento inicial de plantas de pinhão-manso cultivadas em casa de vegetação, observaram efeito significativo sobre a massa de raiz com a variação na aplicação de nitrogênio e quantidade de água. Krishnamurthy et al. (2012) encontraram em um plantio de um ano de idade, na Índia, raízes até a profundidade de 1,4 m; porém, a maioria do sistema radicular se encontrava até a profundidade de 0,3 m. Estes autores salientam a importância deste tipo de distribuição de sistema radicular para a função de controle de erosão, e ainda comentam sobre

a relação inexistente entre este tipo de distribuição e a resistência a seca, característica atribuída a esta planta. Esta última característica é atribuída mais a sua capacidade de controle da perda por evaporação por meio de queda de folhas e dormência, do que à capacidade de extração de água pelo sistema radicular.

A colheita de frutos (casca + sementes) no seu quarto ano de cultivo, extrai valores médios de 21,0; 4,1 e 14,9 g kg-1 de nitrogênio, fósforo e potássio, respectivamente (LAVIOLA; DIAS, 2008). Embora a planta de pinhão-manso seja muito resistente, capaz de manter sua sobrevivência em solos com baixos índices de fertilidade, para se garantir um nível de produtividade satisfatório é necessário a adubação, tanto na implantação da cultura quanto na manutenção ao longo dos anos de produção (LAVIOLA; DIAS, 2008). Na Tabela 2 encontra-se uma recomendação básica para a aplicação de nutrientes durante os quatro primeiros anos de cultivo, levando em consideração um solo com boa fertilidade, capaz de suprir 50% da necessidade da planta. Em um solo com baixa fertilidade, estes valores deveriam ser ampliados (FACT, 2010).

Tabela 2 -Necessidade de nutrientes na cultura do pinhão-manso durante os quatro primeiros anos de cultivo

Nutriente 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano Total

kg ha-1 ano-1

N 23 34 69 103 229

P2O5 7 11 21 32 71

K2O 34 50 101 151 336

Fonte: adaptado de FACT (2010).

Apesar de possuir boa adaptabilidade a diferentes condições adversas de solo e disponibilidade hídrica, o pinhão-manso, como qualquer outra cultura, para proporcionar uma alta produtividade de frutos, necessita solos férteis e com boas condições físicas. E apesar de sobreviver em solos com baixa fertilidade, a correção da fertilidade do solo é decisiva para se obter sucesso e lucratividade com essa cultura, uma vez que a espécie extrai elevada quantidade de nutrientes na colheita e, se não adequadamente adubada, pode levar ao empobrecimento do solo ao longo dos anos de cultivo (LAVIOLA, DIAS, 2008; CHAVES et al., 2009; SCHIAVO et al., 2010; PONCIANO DE DEUS, 2010). O crescimento e a reprodução desta espécie são influenciados pelo seu estado nutricional. Ocorrendo a deficiência nutricional, esta cresce e ramifica menos, implicando em menos frutos, já que os mesmos são produzidos na ponteira dos ramos. O cultivo de pinhão-manso promove elevada extração de nutrientes do solo, e, portanto, o manejo da adubação da espécie exige atenção (LAVIOLA, DIAS, 2008).

A recomendação de adubação de uma cultura depende da demanda nutricional para o crescimento vegetativo e reprodutivo (LAVIOLA et al., 2006), devendo ser considerada a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes aplicados e a fração de nutrientes suprida pelo solo (FRANCO et al., 2008). O suprimento inadequado de nutrientes, seja falta ou excesso, pode provocar restrições ao crescimento das plantas e alterar relações entre biomassa aérea e radicular, bem como promover alterações entre estádios vegetativos e reprodutivos (MARSCHNER, 1995; MENGEL, KIRKBY, 2001; EPSTEIN, BLOOM, 2005; DECHEN, NACHTIGALL, 2006). Silva et al. (2009) relatam que a omissão de macro e micronutrientes em plantas de pinhão-manso provocam sintomas visuais de deficiência nutricional comuns a outras espécies e que essas deficiências limitam a produção de matéria seca.

O suprimento de N por meio de fertilizantes minerais ou orgânicos associado à complementação hídrica por meio da irrigação, quando aplicados corretamente e aliados com o manejo integrado de pragas e doenças, auxiliam o pleno desenvolvimento vegetativo da cultura além de garantir maiores rendimentos de semente e óleo. A demanda por N é grande durante o crescimento e desenvolvimento das plantas, pois é o nutriente mineral exigido em maior quantidade pelas culturas e, normalmente, proporciona maior resposta em produtividade. A complexidade dos fatores que afetam o seu aproveitamento pelas plantas faz com que o mesmo seja objeto de um grande número de estudos, que visam avaliar principalmente o seu comportamento no solo e a sua relação com a eficiência da adubação (RAIJ, 1991).

O pinhão-manso apresenta alta taxa de crescimento, sendo o N o nutriente mais requerido para a formação de folhas e frutos (LAVIOLA, DIAS, 2008). O N é essencial para a assimilação do carbono e formação de novos órgãos na planta, tais como gemas florais e frutíferas (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997), uma vez que é o componente de aminoácidos, proteínas, enzimas, RNA, DNA, ATP, clorofila e outras moléculas (TAIZ; ZEIGER, 2009). Na ausência de N, a planta tem o crescimento limitado, tornando-se amarelada pela perda da clorofila, o que reflete em amadurecimento precoce, perda de produtividade e qualidade dos frutos (EPSTEIN, BLOOM, 2005).

O manejo do solo pode afetar os processos de consumo de água pelas plantas, modificando a água disponível no perfil. Práticas de fertilização como, por exemplo, a adição de N e P, tem efeito indireto sobre a utilização da água por meio da melhoria da eficiência fisiológica da planta (HATFIELD; SAUER; PRUEGER, 2001).

Apesar de descrita como uma cultura indicada para regiões áridas e semiáridas, tolerante a restrições na disponibilidade de água, o pinhão-manso tem gerado uma série de

afirmações contraditórias com relação a sua necessidade ou não de irrigação, o que evidencia a necessidade de estudos nas diversas regiões do Brasil para se avaliar a resposta da cultura sob diferentes condições de cultivo e manejos de irrigação. Alguns autores descrevem a espécie com respostas positivas ao uso de irrigação, e principalmente a fatores relacionados à produção e produtividade em cultivos comerciais, possibilitando de três a quatro colheitas por ano (OPENSHAW, 2000). Achten et al. (2008), em trabalho sobre produção e uso de biodiesel de pinhão-manso, destacam que embora o pinhão-manso possa ser caracterizado como uma planta tolerante a seca, ainda não se sabe qual a real resposta dessa cultura quando irrigada e qual o comportamento do consumo hídrico quando submetida a diferentes sistemas de produção. Os autores ainda mencionam a necessidade de irrigação para garantir alta produtividade nas regiões áridas e semiáridas.

A quantidade e a qualidade da água de irrigação, embora importantes para o estabelecimento e prática de manejo dos cultivos irrigados, precisam também ser investigados. O cultivo de pinhão-manso submetido ao estresse hídrico e uso de água salina ou de reuso na irrigação tem sido fonte de estudos recentes na mensuração da adaptabilidade e do desenvolvimento da planta, onde bons resultados tem sido encontrados (SILVA et al. 2010). A resposta do pinhão-manso quanto à utilização de água residuária tem sido satisfatória e apesar de possuir características de resistência a períodos secos, o estresse hídrico sofrido pela cultura devido ao baixo conteúdo de água no solo tem reduzido drasticamente o seu crescimento vegetativo (SOUSA et al. 2012), peso dos cachos (SILVA et al. 2011) e características fisiológicas como taxa fotossintética, condutância estomática e transpiração das plantas (SANTANA et al. 2015). Sousa et al. (2011) avaliaram o efeito do estresse salino no crescimento e no consumo hídrico no terceiro ano de cultivo do pinhão- manso e observaram que concentrações acima de 1,6 dS m-1 causaram sensibilidade à cultura, que teve a área foliar e o número de folhas como as variáveis mais afetadas, contradizendo, portanto, a informação relatada por DAGAR et al. (2006) sobre a tolerância da cultura a altos valores de condutividade elétrica da água irrigação.

Embora haja muita especulação sobre a quantidade de água exigida pelas plantas de pinhão-manso, o consumo hídrico ainda é pouco conhecido. Lena (2013) determinou o consumo hídrico do pinhão-manso em Piracicaba-SP comparando os métodos de irrigação por gotejamento, pivô central e cultivo não irrigado na fase de formação da cultura, encontrando valores de evapotranspiração acumulada diária de cerca 5 mm dia-1 para o tratamento irrigado por pivô central, e de 3 e 2 mm dia-1 para os tratamentos irrigados por gotejamento e sem irrigação, respectivamente. O autor ainda ressalta que novos trabalhos precisam ser

elaborados para obter-se um melhor conhecimento da cultura a partir do seu terceiro ano de cultivo. Além disso, trabalhos como o de Albuquerque et al. (2009b) e Guimarães, Santos e Beltrão (2009) apresentam resultados bastante promissores para as práticas de adubação nitrogenada e de irrigação no crescimento inicial da cultura do pinhão-manso, o que mostra que, mesmo sendo uma cultura considerada por muitos como pouco exigente em fertilidade e resistente a seca, pode responder de maneira significativa quando não houver restrições desses fatores.