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Islamismo

No documento Povo, cultura e religião (páginas 98-151)

Apresenta o islamismo, sua formação e importante representação diante do contexto religioso.

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Introdução ao estudo

Caro(a) acadêmico(a), nesta unidade vamos estudar a história das três prin- cipais religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Nas páginas seguintes você encontrará uma narrativa sucinta e breve do assunto, pois tais religiões existem há milênios e está longe de nossos objetivos esgotar tais dis- cussões e abordagens.

Veremos que o judaísmo, embora seja atualmente a religião minoritária no mundo, já foi a mais antiga tradição religiosa monoteísta, sendo fornecedora de vários elementos para o cristianismo e para o islamismo. Desta forma, veremos como se deu o processo de formação do judaísmo, seus líderes, a doutrina, a formação do cânon e as divisões que o judaísmo sofreu ao longo de sua história.

Nesta unidade também buscaremos situar a formação histórica do cristia- nismo, e como uma simples seita judaica, como era visto na época, se transfor- mou na maior religião do mundo. Veremos como a longa história do cristianismo foi marcada por perseguições em seu início e como posteriormente se afirmou como religião de Estado, como formou seu corpo doutrinário, a importância dos concílios neste processo e como se fragmentou em várias denominações a partir dos cismas, especialmente a partir da Reforma Protestante.

Por último, veremos como se formou a religião monoteísta mais jovem, o islamismo. Buscaremos compreender o papel do profeta Maomé na formação da doutrina islâmica, como ocorreu a expansão do islã pelo mundo, o surgimento e fragmentação de diversas facções após a morte do profeta Maomé. Também buscaremos compreender como é o cotidiano da vida religiosa muçulmana, os pilares de sua fé e os princípios de observância.

Seção 1

Judaísmo

Nesta seção estudaremos a história do judaísmo, hoje uma religião minoritária no mundo, mas de grande importância e influência na própria formação do cristianismo e islamismo. O judaísmo, também chamado de uma das “religiões do livro”, é a mais antiga tradição religiosa monoteísta. Nesta seção veremos como seu o processo de formação do judaísmo, seus líderes, a doutrina, a formação do cânon e as divisões que o judaísmo sofreu ao longo de sua história.

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É importante pontuarmos inicialmente a questão das fontes da história do judaísmo. A principal fonte aqui é a Bíblia Hebraica. Todavia, não há consenso entre os historiadores sobre a veracidade ou confiabilidade dos textos bíblicos e a historicidade dos relatos nela presentes. Até praticamente os anos de 1980 todo o relato bíblico, desde o livro de Gênesis até os Profetas, era tido como confiável (BRIGHT, 2003). Todavia, estudos mais atuais, baseados em evidências arqueológicas e na crítica literária, têm questionado tal consenso, mas ainda atribuem um grande valor ao relato bíblico, como podemos atestar na posição de Eliade e Couliano: “A utilização da Bíblia como fonte histórica foi muitas vezes questionada. Pode-se, porém, estimar que pelo menos uma parte das narrativas bíblicas tem base histórica” (1999, p. 217).

A segunda fonte mais importante para a história do judaísmo, e conse- quentemente de Israel, é o livro História dos hebreus de Flávio Josefo. Este historiador nasceu em Jerusalém no ano 30 ou 31 da era cristã e faleceu no ano 100. Descendente de uma família de sacerdotes, Josefo teria tido uma sólida educação na Torá e na cultura romana. Na sua obra é possível notar as várias referências às diversas seitas da época: saduceus, fariseus, essênios, zelotas e sicários. Aos zelotas Josefo teria atribuído a responsabilidade pela invasão e destruição do templo de Jerusalém no ano 70, realizada por Tito, filho do imperador Vespasiano. Josefo chegou a ser governador da Galileia e próximo do imperador romano. Suas obras principais são: A guerra dos judeus,

Antiguidades judaicas e Autobiografia (JOSEFO, 2005).

Mas vamos à história dos hebreus. Segundo a tradição bíblica, a história do povo hebreu teria começado com Abraão. Deus o teria ordenado que saísse de sua terra, a Mesopotâmia, e do meio de seus parentes, pois ele seria pai de uma grande nação. Abraão teria viajado e se estabelecido em muitos lugares, inclusive no Egito. Abraão teria se casado com Sarah, uma mulher estéril (BÍ- BLIA SAGRADA, 2002, p. 30)

O primeiro filho de Abraão foi concebido por uma escrava de nome Ha- gar e se chamou Ismael. A história bíblica relata que em seguida a mulher de Abraão, Sarah, foi alvo de um milagre e gerou um filho de nome Isaque. Este, por sua vez, casou-se com uma mulher de nome Rebeca e teve um filho que se chamou Jacó, que em uma luta com um anjo teve seu nome mudado para Israel (BÍBLIA SAGRADA, 2002, p. 47).

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invejado por seus irmãos, foi vendido como escravo para o Egito sem o co- nhecimento do seu pai. No Egito teria se tornado um importante governador. Grandes dificuldades econômicas fizeram com que os filhos de Jacó fossem ao Egito para comprar alimentos e estes reconheceram José. Houve uma reconci- liação de José com seus irmãos e seu pai, que passaram a residir no Egito. Com o passar dos anos a situação política do Egito mudou e os descendentes de José, na época conhecidos como hebreus, passam a ser tratados como escravos (BÍBLIA SAGRADA, 2002, p. 69).

O relato bíblico mencionado, ainda que não possa ser realmente compro- vado, é plausível. José é um personagem histórico passível de existência. Há muitos paralelos entre os costumes relatados no livro de Gênesis e os docu- mentos egípcios. E é possível aferir que não seria impossível um não egípcio chegar ao posto de governador (grão-vizir) no período dominado pelos hicsos, povo vindo da Ásia. O mesmo se pode dizer da escravidão dos hebreus no Egito. Fontes egípcias comprovam a utilização de escravos (hapirus/hebreus) em construções no delta do Nilo por Ramsés II. Ainda em relação à presença de hebreus no Egito e sua saída, há o testemunho da “Estela de Merneptah”, registro escrito do faraó que sucedeu Ramsés II, que atesta a presença israelita na Palestina no século XIII a.C., o que nos possibilita pensarmos o êxodo ocor- rendo próximo ao ano de 1250 a.C.

Você já parou para refletir sobre a importância das fontes para a escrita da História? Hoje já relativizamos o caráter das fontes históricas, pode- -se fazer história sem fontes escritas, com uma entrevista de história oral, por exemplo. Mas nem sempre foi assim, durante muito tempo a história era a história dos registros escritos. Você já pensou o quanto perdemos ignorando a oralidade? Veja, por exemplo, o caso das reli- giões sem um código escrito.

Questões para reflexão

A história bíblica relata que na época em que os hebreus eram escraviza- dos surgiu um líder, Moisés, de origem hebraica, mas filho adotivo da filha do faraó. A história dos hebreus geralmente tem como ponto inicial a libertação do Egito, a passagem pelo Mar Vermelho e pelo deserto e a chegada à terra

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prometida. Os hebreus passam por várias situações belicosas com os povos que já habitavam a região da Palestina, com destaque para os filisteus. Vejamos o que dizem Eliade e Couliano sobre este período.

O povo judeu surge na história depois do ano 2000 a.C.[...] Segundo a Bíblia, os ancestrais de Israel che- garam ao Egito como homens livres, mas depois foram escravizados. Milhares saíram de lá em cerca de 1260 a.C., acompanhando o profeta Moisés, cujo nome é de origem egípcia. Instalaram-se em Canaã e lá formaram doze tri bos (ELIADE; COULIANO, 1999, p. 215).

Embora a Bíblia relate que a terra foi tomada por meio de vários conflitos bélicos, não há concordância entre os historiadores neste ponto. Todavia, há concordância em relação ao surgimento de uma monarquia entre as tribos. Uma primeira forma de governo teria sido a dos juízes, anciões sábios que mediavam os conflitos e julgavam as causas do povo. Mas por volta de 1050, teria sido nomeado o primeiro rei de Israel, Saul, para unir o povo no combate aos filisteus. Após a morte de Saul, Davi foi designado rei.

O reinado de Davi foi um dos mais importantes para a história dos judeus, ele se tornou um símbolo do judaísmo. Davi conquistou muitas vitórias sobre os povos adversários e transformou Jerusalém em centro religioso, dando um lugar definitivo para a Arca da Aliança, símbolo máximo da presença divina no culto judaico.

A sucessão do trono de Davi, após sua morte, foi realizada com Salomão (c. 961-922 a.C.). O reinado de Salomão, segundo a tradição bíblica, foi um dos mais esplendorosos da História. No seu governo foi construído finalmente um suntuoso templo para a Arca da Aliança. Depois da morte de Salomão, o Es tado dividiu-se em reino do Norte (Israel) e reino do Sul (Judeia). Em 722 a.C., Israel foi invadido e conquistado pelo Império Assírio. Em 587 a.C., seria a vez do reino do sul, isto é, Judeia, o im perador babilônico Nabucodonosor invadiu com seu exército Jerusalém, destruiu a cidade, seu templo, saqueou suas riquezas e levou o povo cativo. O povo judeu levado cativo para a Babilônia permaneceu por cerca de 70 anos no exílio. O fim do exílio ocorreu quando Ciro, rei da Pérsia conquistou o Império Babilônico em 539 a.C. e gradativamente permitiu o retorno dos judeus, a reconstrução dos muros de Jerusalém e a construção do segundo templo.

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Aqui vai uma dica de site. Para conhecer um pouco mais da história de Israel, de arqueologia bíblica, de línguas antigas e das mais recentes publicações na área, acesse o site do professor Airton José da Silva, biblista, especialista em Antigo Testamento e professor da PUC-Campinas. Disponível em: <http://www.airtonjo.com>.

Para saber mais

A partir do ano de 359 a.C., o contexto político começa a sofrer alterações na Palestina. Filipe II, e depois seu filho, Alexandre, o Grande, rei da Macedônia começam a expandir o Império Macedônico pela Grécia, Ásia, Egito e Oriente. Em 334 a.C., Alexandre, depois de dominar toda a Grécia, conquista a Ásia Me- nor e toda a Palestina, que fazia parte da V satrapia do Império Persa, é anexada ao novo império sem resistências. Durante o governo macedônico a situação do judaísmo permaneceu inalterada, havia o governo do sumo sacerdote e a comunidade se reunia junto ao templo sob a Torá. Alexandre morreria em 323 a.C. na Babilônia, acometido por malária. Depois da morte de Alexandre, que não deixou herdeiros, a Palestina é disputada por seus generais, são duas décadas de exércitos cruzando a Palestina.

Neste período a Judeia passou a ser controlada pelos Ptolomeus, que de Alexandria, governavam o Egito e a Palestina. A partir de 198 a.C., a Judeia passou a pertencer ao Império do Selêucida. Em 175 a.C. Selêuco IV é assassi- nado e a sucessão é feita por o seu irmão Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.). O governo de Antíoco IV é um dos mais prejudiciais às práticas do judaísmo. Ele “[...] toma medidas helenizantes como forma de consolidar o seu poder. Concede o status de pólis a várias cidades, promove a adoração de Zeus e reivindica para si prerrogativas divinas” (BRIGHT, 2003, p. 570).

Estes episódios são narrados com detalhes no livro de Macabeus. Vejamos.

Voltando no ano cento e quarenta e três, após ter ven- cido o Egito, Antíoco atacou Israel e Jerusalém com um poderoso exército. Depois de entrar no Templo com toda a arrogância, Antíoco levou o altar de ouro, o candelabro com todos os acessórios, a mesa dos pães oferecidos a Deus, as vasilhas para as libações, as taças, os incensórios de ouro, a cortina, as coroas e as placas de ouro que orna- vam a fachada do Templo. Saqueou tudo. Levou também a prata, o ouro, os objetos de valor e até as riquezas escon- didas que conseguiu encontrar. [...] Em todo o Israel, em

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todos os lugares, houve uma grande lamentação: Chefes e anciãos gemeram, rapazes e raparigas perderam o seu vigor, e murchou a beleza das mulheres. Todo o recém- -casado entoou um cântico fúnebre e a esposa ficou de luto no seu quarto de casal. A terra tremeu por causa dos seus habitantes, e toda a família de Jacó se cobriu de vergonha. [...]Além disso, através de mensageiros, o rei mandou a Jerusalém e às cidades de Judá um docu- mento com várias ordens: Tinham que adotar a legislação estrangeira; proibia oferecer holocaustos, sacrifícios e libações no Templo e também guardar os sábados e fes- tas; mandava contaminar o santuário e objetos sagrados, construindo altares, templos e oratórios para os ídolos, e imolar porcos e outros animais impuros; ordenava que não circuncidassem os filhos e que se profanassem a si próprios com todo o tipo de impurezas e abominações, esquecendo a Lei e mudando todos os costumes. Quem não obedecia à ordem do rei, incorria em pena de morte (1Mc 1,21-50) (BÍBLIA SAGRADA, 2002, p. 577).

Todas as medidas helenizantes de Antíoco IV levaram o povo judeu à re- belião, que também ficou conhecida “Revolta dos Macabeus”, liderada pelos irmãos Macabeus. O Templo de Jerusalém foi ocupado e purificado em 164 a. C.

Como vimos anteriormente, para os judeus há objetos sagrados e estes não podem ser profanados por pessoas impuras. Você já pensou que pode existir algo de comum em todas as religiões? Por muito tempo os historiadores se debruçaram sobre essa questão. Seria a noção de divindade uma noção presente em todas as religiões? E a noção de mistério ou sobrenatural, estaria presente em todas as religiões? E a separação entre sagrado e profano?

Questões para reflexão

No ano de 140 a.C., Simão, o último macabeu, foi aclamado Sumo Sacer- dote e governador, já sob o domínio do Império Romano. Neste período já havia vários grupos políticos contrários à dominação romana, entre eles, os zelotas ou sicários. No ano 66 da era cristã iniciou-se uma revolta popular liderada pelos zelotas contra os romanos. A Judeia foi tomada pelos exércitos de Vespasiano e

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templo queimado pelo general Tito. O episódio da destruição do templo oca- sionou o início da diáspora judaica pelo mundo. Este movimento se acentuou quando em 133 eclodiu uma nova revolta sob a liderança do messias Bar Ko- chba. A repressão a esta revolta devastou a Judeia e praticamente a despovoou. A prática do judaísmo foi proibida, mas a proibição vigorou por pouco tempo. Somente no fim do século IV, quando o cristianismo se tornou a re ligião oficial do Império Romano, os judeus perderam seus privilégios e foram eliminados dos empregos públicos, prática que vigorou em todos os estados cristãos até praticamente o século XVIII.

Somente no final do século XIX tomou corpo a ideia de se construir um lar judaico na Palestina, embora as comunidades judaicas da Palestina nunca tivessem realmente sido extintas. Esse movimento que preconizava a construção de um lar judaico ficou conhecido como sionismo. No entanto, o sionismo não é produto do acaso. O sionismo é consequência do profundo antissemitismo europeu. Os constantes massacres de comunidades inteiras de judeus e a in- competência de uma política de integração foram os principais responsáveis pelo ideário de uma volta a Sião. O sionismo não teve sucesso num primeiro momento, muitos judeus acreditavam na integração, outros preferiam a imi- gração individual. No entanto a situação se agravou quando o antissemitismo virou política oficial do estado nazista. O nazismo foi a principal tra gédia do povo judeu, calcula-se em seis milhões as vítimas judias do holocausto, entre 1937 e 1944.

Depois dessa breve exposição sobre a história da formação do judaísmo, passamos agora para as principais características e elementos que compõem esta religião. O judaísmo é uma das religiões mais tradicionais e antigas da história da humanidade. O judaísmo também é conhecido como religião mo- saica, pois suas origens remetem a Moisés, um dos primeiros líderes do povo judeu. Já a palavra judeu é derivada da palavra Judá, uma das tribos de Israel, posteriormente um reino independente, mas com o decorrer dos anos todos os hebreus passaram a se identificar como judeus. Portanto, o judaísmo, religião dos judeus, levou bastante tempo para ser estruturado recebendo este nome só posteriormente. A história do judaísmo se confunde com a própria história do povo hebreu. O judaísmo, como as demais religiões monoteístas, acredita em um só deus. Segundo a tradição bíblica, Deus teria feito um pacto com o povo judeu e o tornado o “povo eleito”, por isso o povo lhe deve fidelidade e obediência.

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O livro sagrado dos judeus equivale ao antigo testamento da Bíblia cristã, porém disposta de maneira distinta. A bíblia hebraica é chamada de Tanack, abreviação Torahnebi’imweketuvim, ou seja, três grupos de livros: a Torá, o Nebi’im e o Ketuvim, ou a Lei (também conhecido como Pentateuco), os Profetas e os Escritos. A parte mais antiga é o Pentateuco, datado do século X a.C.; as partes mais recentes dos Ketuvim datam apenas do século II a.C. O Pentateuco é constituído por Gênesis (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Vayikra), Números (Be-Midbar) e Deutero nômio (Devarim). Segundo Eliade e Couliano:

A Torá foi constituída a partir de quatro textos de épocas diferentes: J ou Javista, que utiliza o nome de JHVH para Deus (século X a.C.); E ou Elohista, que utiliza o nome Elohim (plu ral) para Deus (século VIII a.C); D, que está na base da redação de uma parte do Deuteronômio (622 a.C.); e P, redigida por um grupo de sa cerdotes, que está na base do Levítico e de certas partes de outros textos. A diversidade das fontes também implica a diversidade das concepções de Deus e dos mitos de fundação do cosmo e do homem (1999, p. 217).

Os profetas (Nebi’im) são compostos pelos livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Malaquias e Zacarias. Já os Escritos (Ketuvim), também conhecidos como livros de sabedoria, são textos variados que datam de épocas diversas, como os Salmos (150 hinos e ora ções), os Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiástico, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas.

Como vimos, a formação da Bíblia Hebraica ocorreu paulatinamente, somente a Torá foi constituída num intervalo de quase 10 séculos. Você deve estar se perguntando: mas então tivemos a versão definitiva do livro sagrado dos judeus? Pois bem, a primeira coletânea completa é a cha mada Septuaginta (versão grega dos Setenta, fala-se miticamente em 70 anciãos tradutores). Esta versão teria sido concluída no século II a.C. Todavia, a Septuaginta contém textos chamados “Apócrifos”, ou seja, não reconhecidos como inspirados por Deus e, portanto, não fazem parte do cânon da Bíblia Hebraica. Essa tradução para o grego teria sido a base da versão em latim de São Jerônimo, conhecida como Vulgata Latina.

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Você sabia que há estudos sobre o judaísmo no Brasil desde 1969? Não deixe de conhecer o site do Centro de Estudos Judaicos da USP, vinculado ao Departamento de Letras Orientais. Acesse o site: <http://cej.fflch.usp.br/>

Para saber mais

Todavia, a literatura judaica mais extensa é constituída pelo Mishnah, a Tos- sefta, os dois Talmudes (de Jerusalém e da Babilônia) e a Misdrash. O Mishnah foi con cluído por volta do ano 200 e contém 63 tratados sobre a tradição oral judaica, especialmente de questões agrícolas, festas, jejuns, casamento, divór- cio, direito civil e penal, idolatria, os sacrifícios rituais e as regras de pureza. A Tossefta é uma espécie de complemento jurídico da Mishnah, mas mais extenso. Os Talmudes reúnem discussões e ensinamentos sobre a Mishnah elaborados nas academias da Palestina e da Babilônia. O Talmude palestino foi concluído no início do século V e o Talmude babilônico, muito mais prestigiado que o palestino, foi concluído por volta do ano 500. A Misdrash é uma espécie de exegese da Bíblia, tem um sentido prescritivo e contém histórias de persona- gens bíblicos com lições morais a ser observadas. A Misdrash foi constituída ao longo de vários séculos na Palestina (AZRIA, 2000, p. 69)

Vejamos, a partir desse ponto, os ritos e celebrações da religião judaica. O judaísmo é uma religião que envolve todos os aspectos da vida do judeu, desde seu nascimento até sua morte. Assim que o menino judeu completa oito dias de vida ele passa por um ritual chamado “pacto da circuncisão” ou “brit milá”, que consiste na remoção do prepúcio do pênis, geralmente pelo pai do menino. A circuncisão é um dos sinais da aliança de Deus com seu povo e por isso também é exigida de todo convertido ao judaísmo, mesmo se

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