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O sincretismo religioso e o ecumenismo

No documento Povo, cultura e religião (páginas 50-97)

cretismo é parte da cultura brasileira e também ocidental, assim como analisaremos as buscas das igrejas cristãs pelo diálogo ecumênico na contemporaneidade.

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Introdução ao estudo

A religião é um dos temas polêmicos da humanidade. Pois a mesma é consi- derada de diversas formas pelos mais diferentes indivíduos. Alguns consideram a religião uma simples forma da legitimação da exploração humana, como apontava o pensamento marxista. Para Marx ou para muitos dos intelectuais que eram ligados ao seu sistema de pensamento, a religião era um dos aparelhos da ideologia do Estado, e que servia para manter a classe trabalhadora subordinada aos interesses dos burgueses (ALTHUSSER, 1981). Uma máxima marxista conhe- cida é a da religião como o “ópio do povo”, isto é, como uma droga a acalmar as massas. Outros vislumbravam na religião sentimentos infantis, como para o positivismo de Auguste Comte (SELL, 2001). Segundo este intelectual, três seriam os estágios do desenvolvimento humano: o metafísico (religioso), o filosófico e o científico, correspondendo à infância, adolescência e maturidade da espécie humana. Todavia, mesmo com estes e outros intelectuais, como Nietzsche e Freud, que apontavam na religião um tema menor, os estudos sobre as questões religiosas se fazem presentes no campo das ciências humanas.

A importância do estudo das religiões se justifica pela relevância que os valores propostos pelas diferentes formas de fé têm nas atitudes dos indivíduos e das sociedades. Em nome de Deus pessoas agem com ações de solidariedade e bondade, entregando-se a causas nobres e ações humanitárias. Todavia, em nome do mesmo Deus, no presente e no passado, muitas guerras são legitimadas por discursos religiosos, como as cruzadas medievais ou as contemporâneas Guerras Contra o Terror (CARDOSO et al., 2004, p. 77). Todavia, independen- temente das polêmicas a respeito da religião ser um bem ou mal aos homens, compreender os comportamentos individuais advindos de crenças religiosas é importante para entendermos diversos eventos históricos.

A compreensão acadêmica dos fenômenos religiosos é uma das importan- tes questões levantadas pelas ciências humanas, com diferentes respostas e metodologias ao estudo. Pois, em grande parte, podemos compreender que as mais diferentes culturas humanas possuem aspectos religiosos. Como se trata de uma dimensão das vivências humanas, a religião se pauta como um dos temas clássicos das ciências humanas e sociais.

Até o século XIX, praticamente apenas os teólogos se preocupavam com o estudo da questão religiosa. Porém, com o desenvolvimento das ciências hu-

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manas, a fé deixou de ser um primado da teologia, para se tornar uma questão científica. Todavia, a maior parcela dos estudiosos das questões religiosas de- senvolveu metodologias diferentes, por vezes até conflitantes, mas que tinham na religião um importante tema para a compreensão do ser humano e da so- ciedade. Para um historiador, sociólogo, antropólogo ou cientista da religião, mais importante que diagnosticar qual seria a crença verdadeira, ou então, afirmar ou provar que na verdade Deus não existe, é compreender como os valores religiosos influenciaram a humanidade de formas variadas nos campos da política, da economia e dos costumes.

Existem várias tendências interpretativas, dentro das ciências humanas, que apontam uma das diversas possibilidades de compreensão das sensibilidades religiosas em toda a sociedade. A fenomenologia, o funcionalismo, o mate- rialismo dialético e o relativismo nos indicam possibilidades de compreensão dos fenômenos religiosos.

Podemos observar cinco grandes religiões mundiais. O cristianismo e o islamismo (de base judaica), o hinduísmo, o budismo e o confucionismo. Porém, não são apenas estas religiões que as ciências humanas procuram es- tudar. Temos também os estudos relativos a pequenos grupos, como os rituais das tribos amazônicas e dos aborígenes australianos. Como veremos, o estudo do fenômeno religioso e das influências religiosas na cultura ocidental, em especial dos intelectuais cristãos, como Santo Agostinho, são de fundamental importância para uma melhor compreensão da história da humanidade.

Seção 1

O politeísmo, o monoteísmo e as

implicações civilizacionais na

compreensão do tempo histórico

A palavra religião, em sua origem etimológica, é proveniente do latim e significa religar. Isto é, ligar o que estava “des-ligado”, sem contato. No caso, reativar o contato da humanidade com o criador, ou criadores, do universo. Por vezes, a religiões são consideradas uma nova ânima (vida, alma) para um corpo e mente “des-animado”, sem sentido à vida. Atualmente, temos uma pluralidade e diversidade de ritos religiosos, desde as novas igrejas protestantes pentecostais, até os ritos satanistas, ou mesmo pessoas que dizem acreditar em Deus, mas não ter religião. Portanto, analisar o fenômeno religioso pode

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ser compreendido como as mais diferentes sociedades e civilizações buscam responder a pergunta: o que é Deus?

O “deus” seria, para as mais diferentes culturas, o ser ou entidade que teve a capacidade de criar o planeta Terra, o céu, as estrelas e tudo o que existe no mundo. Portanto, a primeira característica que possibilita uma definição do que é deus seria pensá-lo como um criador, ou os criadores do mundo. Porém, qual a relação do criador com suas criaturas? Isto é, como deus se relaciona a natu- reza e com os seres humanos? Teria ele abandonado a humanidade, deixando aos guias espirituais a tarefa de conduzir os homens em suas existências? Ou seria ele um deus onipresente, onipotente e onisciente, isto é, um deus que tudo sabe tudo ouve tudo vê?

Neste sentido, as mais diferentes concepções sobre como deus seria tam- bém se relacionam a pensar como se relacionar com ele. Pois, para aqueles que pensam em deus como um senhor vingativo ou com poderes de punir os homens, deus é uma figura que merece temor ou profundo respeito e obediên- cia. Porém, para aqueles que pensam deus como alguém amoroso e caritativo, ele é uma espécie de ser que deve ser cultuado através de ações de amor e solidariedade. Se deus é onipotente, onipresente e onisciente, temos como nos relacionar diretamente com ele. Porém, se deus está distante, devemos nos relacionar com seus intercessores, sejam santos ou orixás.

As relações dos indivíduos com deus são múltiplas. Porém, as formas de se relacionar com deus, em geral, são mediadas por diversos símbolos. Deste modo, podemos compreender que a vida humana, por vezes, possuiu modos de explicação de sua própria existência, que são representadas com objetos de valor sentimental profundo para aqueles que possuem crenças religiosas. O terço, a Bíblia, o Alcorão, a Torah, o Talmude, a estrela de David, as guias dos orixás, a cruz, a lua crescente, todos estes símbolos representam diferentes modos de indivíduos se relacionarem com Deus.

Assim, as possibilidades de compreensão das religiões são múltiplas, tão múltiplas quanto a variedade de expressões religiosas em diferentes sociedades humanas. Porém, algumas características das manifestações das religiões, nas mais diferentes culturas, se apresentam de modo semelhante. Como a presença de sacerdotes, milagres, profetas, rituais e delimitações de crenças. Estas regu- laridades das presenças de funções religiosas e seus respectivos personagens nos permitem compreender o fenômeno religioso (WEBER, 2004).

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Uma das questões básicas para a compreensão social dos ritos religiosos são as diversas funções socais que os mesmos desempenham. A possibilidade de legitimar as hierarquias sociais, ao mesmo tempo explicar os fenômenos naturais e possibilitar uma forma dos homens e mulheres lidarem com a morte. O fim da vida, por vezes, é um dos elementos que mais se envolvem com as religiões. Temos as religiões que acreditam em reencarnação e diversas formas de contatos dos vivos com os mortos, e também uma total negação da possi- bilidade de contato com os mortos.

Uma das primeiras classificações que se podem utilizar como possibilidade de compreensão do fenômeno religioso é a diferenciação entre o politeísmo e o monoteísmo. Uma visão eurocêntrica e ocidentalizada da história das reli- giões, presente em alguns clássicos da antropologia e sociologia que estudaram o tema, apresenta o politeísmo de um modo inferior ao monoteísmo. Isto é, a crença em vários deuses como uma posição de inferioridade à crença em um único Deus. Ou pior, o monoteísmo como uma “evolução do politeísmo”. Po- rém, como observaremos, em todos os tempos, crenças politeístas e monoteístas conviveram. Mesmo entre as crenças que se afirmam monoteístas, por vezes, a crença em um único deus é sociologicamente profundamente questionada. Um exemplo de questionamento foi realizado pelo intelectual alemão Max Weber, um pioneiro estudioso acadêmico das religiões, que no capítulo “Sociologia da Religião” do livro Economia e Sociedade, afirmou:

Rigorosamente “monoteístas são, no fundo, apenas o ju- daísmo e o islamismo. A concepção do ser ou dos seres divinos, tanto no hinduísmo como no cristianismo, repre- senta um disfarce teológico importante e peculiar — o da salvação pela encarnação de um Deus — se opunha ao monoteísmo restrito (WEBER, 2004, p. 289).

Neste sentido, podemos compreender que até mesmo o eurocentrismo cristão, exposto em alguns pensadores, não se sustenta, o cristianismo pode (segundo a ótica exposta pelo sociólogo das religiões) possuir aspectos politeístas.

Outro posicionamento presente e que revela preconceitos ocidentalizados ou eurocêntricos é a diferenciação entre magia e religião. A diferença seria a de que a religião tem como pressuposto uma adoração, isto é, uma relação de submissão entre o fiel e Deus, enquanto a “magia” seria caracterizada por uma relação de barganha entre o fiel e Deus. Assim, não teríamos, nos

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Pois, nas religiões africanas temos a presença das oferendas, como uma das formas de se conquistar as benesses dos deuses. O que se pode afirmar é que tanto as religiões europeias quanto as religiões africanas possuem especificidades, mas ambas podem com justiça ser consideradas religiões, porque têm a mesma função primordial de religar os homens a deus. O que podemos dizer é que a compreensão de deus difere nas religiões monoteístas daquelas politeístas.

O politeísmo é (como definição de senso comum) a crença em vários deuses. E, em grande parte, se relaciona a uma simbologia mental em relação à natureza. Isto é, para o pensamento ocidental existe uma diferença entre o mundo real e o mundo das ideias, e uma igual diferenciação entre o que é tipicamente humano e o que é pertencente à natureza. Porém, em algumas tribos na América do Sul, ou nas religiões orientais, da qual o hinduísmo é um exemplo, a relação dos homens com a natureza é de total integração. Isto ocorre porque as religiões politeístas tendem, nas suas mais variadas manifestações, a apresentar uma visão circular do tempo.

Por tempo circular, podemos compreender uma noção de que a vida ou as coisas não têm fim. Isto é, tudo se renova e volta a ser. Em relação à vida ela sempre volta a existir. Portanto, um corpo que deixa de ter vida irá voltar um dia a se reencarnar e nascer, para dar curso a uma nova existên- cia. Por vezes, algumas religiões acreditam que os seres humanos apenas reencarnam como seres humanos. Outras acreditam que os seres humanos podem reencarnar como animais ou mesmo como plantas. Os indígenas das terras baixas sul-americanas, por exemplo, acreditam que todos os seres vivos são apenas uma mesma forma de vida, com funções, com “roupagens” diferentes. Por isso, é comum vermos uma mulher indígena amamentando um animalzinho, como um filhote de anta ou um veadinho. Tal percepção da natureza é de profunda relação com os mitos que formam as ideias re- ligiosas destes grupos sociais.

Portanto, podemos compreender que o politeísmo, além de ser uma crença em vários deuses, se relaciona também com uma noção de tempo histórico e a um tipo específico de relação com a natureza e a sociedade. Pois, em grande parte das culturas politeístas, existem deuses específicos que se relacionam aos aspectos naturais ou sociais. Alguns exemplos podem nos esclarecer esta ques- tão: diferentes culturas possuem deuses do mar: Yam, para os fenícios, Poseidon, para os gregos, ou Iemanjá, para o candomblé. Também as funções sociais ou

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realizações humanas, como a guerra, possuem seus deuses, como Ares, para os gregos, Marte para os romanos e Ogum, para os ritos afro-brasileiros. A este conjunto de deuses ao qual se presta culto chamamos panteão.

O monoteísmo, por sua vez, é, para o senso comum, uma das formas de religião que acredita em um único Deus. A primeira religião monoteísta da História foi o zoroastrismo, um culto religioso elaborado por Zoroastro, um líder religioso do Império Persa. Também no Egito Antigo, tivemos uma tenta- tiva de monoteísmo com Ammenófis IV, que tentou programar o culto ao “deus Sol” Akenaton, mas não prosperou. Entretanto, das religiões monoteístas da Antiguidade, a mais lembrada é o monoteísmo de “Jeová”, o “Deus de Israel’”.

O monoteísmo também pode ser vinculado a um personagem histórico específico: Abraão. Pois, a religião judaica surge com um chamado que Jeová fez a Abraão, na localidade de Harã, onde Abrão se encontrava após acompanhar seu pai Terá na saída da cidade de Ur dos caldeus para Harã (Gênesis, Capítulos 11 e 12). Abraão teve uma promessa, que seria pai de uma numerosa nação, que seria composta por sua esposa, Sara. Porém, Abraão também teve um filho com a escrava egípcia Agar. Sara foi mãe de Isaque, que gerou o povo judeu. Por sua vez, Agar gerou Ismael, que gerou o povo islâmico.

O monoteísmo tem como principal modificação cultural, se o compararmos com o politeísmo, a compreensão em relação ao tempo. Pois, para os politeístas é considerado circular, e passou a ser considerado linear. Isto é, ao invés de considerar que tudo retorna a ser vida, de outra forma, através de reencarnações, o monoteísmo tende a considerar que o tempo tem início meio e fim, cujo final será a eternidade, quando o tempo não mais existirá.

As religiões podem ser divididas de diversos modos, sendo cinco as prin- cipais religiões mundiais: o islamismo e o cristianismo (de base judaica), o budismo, o confucionismo e o hinduísmo (religiões orientais). O carisma de uma liderança e os acólitos (os seguidores) são as principais características das maiores religiões mundiais. Dentre estas, as de base judaica são tipicamente monoteístas, e as orientais, tipicamente politeístas. As religiões, independente de serem expressões das sensibilidades humanas, expressam através do poli- teísmo e do monoteísmo, possuem algumas características comuns, como a presença de sacerdotes, milagres, profetas, rituais e delimitações de crenças (WEBER, 2004).

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A religião é um dos principais temas de estudo das universidades brasileiras. Em muitas institui- ções existem grupos de pesquisa sobre a temática. Em relação aos estudos acadêmicos sobre as temáticas religiosas, podemos citar a Associação Brasileira de História das Religiões, veja o site: <http://www.abhr.org.br/>.

Para saber mais

A primeira questão que caracteriza a religião como um fenômeno social é a presença de sacerdotes. Nas mais variadas formas de expressão religiosa, a presença sacerdotal é uma constante, com diversos nomes: pajé, rabi, padre, pastor, reverendo. A função do sacerdote é ser um elo entre deus e a comunidade. O poder do sacerdote é altamente simbólico, pois o mesmo é o conselheiro dos demais personagens das sociedades, desde as elites dirigentes até aos membros das comunidades humanas que executam as mais humildes funções sociais e econômicas. As religiões tendem a pensar o sacerdote como o portador de um carisma específico, em geral ligado às cosmologias que fundam as distintas crenças. No cotidiano, esta função é materializada em práticas ritualísticas, como o ato de benzer ou interceder para com deus, possibilitando tanto a cura de males físicos quanto outros milagres (WEBER, 2004).

O milagre é uma das funções fundamentais das religiões. Algo que a mão humana ainda não toca, que os olhos humanos não veem, mas que resolve problemas de um modo mágico, o milagre auxilia a compreensão do fenômeno religioso. Pois, na atualidade, algumas instituições religiosas, como o catoli- cismo romano, buscam provar a existência de Deus ou mesmo a constatação da beatitude de algum candidato a santo através da comprovação de um milagre. No Antigo Testamento bíblico, é comum a presença de diversos atos mágicos ou milagrosos, como a abertura das águas do Mar Vermelho. Assim como também no Novo Testamento, a vida de Jesus, como narrada no evangelho de Lucas, também se relaciona a uma grande presença de milagres. O Alcorão, em suas suratas, também relata a presença de eventos mágicos, como a visita realizada a Maria pelo anjo Gabriel.

O prestígio social do sacerdote é também pensado como uma rotinização do carisma do fundador de uma religião. Tal preceito é constante em culturas religiosas como o cristianismo, o budismo, o confucionismo, e o islamismo.

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Pois Jesus, Buda, Confúcio e Maomé possuíam um carisma especial, que os possibilitava ter acólitos, isto é, seguidores. Portanto, os seguidores destas religiões, celebram a memória destes líderes. Estes líderes são caracterizados pelo conceito sociológico de profetas. Os profetas são homens dotados de um carisma especial, e foram chamados por deus para realizar uma missão especial no planeta Terra. Sua função maior é ser uma voz de repúdio aos caminhos tomados pela humanidade, buscando iluminar os homens a um caminho dis- tinto de vida. A partir deste momento, os homens e mulheres que seguirem os preceitos morais pregados pelos profetas terão as bênçãos divinas.

A questão moral é o principal tema dos profetas. A palavra moral, do latim

mores, significa costumes, hábitos cotidianos. A palavra ética, por sua vez,

seria uma reflexão sobre os costumes. Por isso, os profetas, em geral, pregam uma nova moral, baseada em novos valores éticos. A profecia, por sua vez, não se relaciona apenas a questões dos hábitos corriqueiros, mas também se relaciona aos assuntos relativos ao futuro de toda a humanidade. O fim da história para os cristãos, por exemplo, se relaciona sobremaneira ao retorno de Jesus para a Terra.

O profeta é um revolucionário, porém, incompreendido por todos. Apenas algumas pessoas, que receberam um chamado religioso especial, possuem a possibilidade de compreender a maior parte dos preceitos dos profetas. Estes são considerados sacerdotes, cujo principal poder é conduzir os rituais da religião.

O ritual, em geral, serve para lembrar o carisma dos fundadores das religiões em ligação subjetiva com os indivíduos. Os principais rituais que simbolizam as passagens de distintas fases da existência, como os ritos de nascimento, de procriação e morte, são vinculados a símbolos religiosos nos quais a existên- cia humana é pensada como um elo divino. O batismo infantil, a primeira comunhão e a extrema unção entre os católicos, ou a apresentação no templo e o bar-mitzvá, rito no qual o menino judeu é considerado adulto, podem ser considerados exemplos de ritos de passagem. Neles, um novo status social é proporcionado ao indivíduo. Este novo status possibilita ao mesmo uma nova forma de ser, pois o ritual confere um poder ao indivíduo em relação ao meio social. A possibilidade de ter relações sexuais, nos casos dos rituais de casa- mento, ou a possibilidade de frequentar locais de “adultos” no caso dos ritos relacionados às faixas etárias, são exemplos da importância que determinados

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Uma indicação para aprofundar seu conhecimento em relação às religiões mundiais é a Revista

Brasileira de História das Religiões <http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/>.

Para saber mais

A delimitação das crenças é uma das principais funções das instituições que lidam com o sagrado. Pois apenas o modo correto deve ser levado em consideração na hora de nos relacionarmos com deus. Das disputas entre as diversas formas de lidar com deus, temos os vários grupos de fé. Entre os cristãos, por exemplo, existem católicos, protestantes e ortodoxos. Entre muçulmanos, existem os sunitas, os xiitas e os sufis. Todas estas divisões se expressam pelos rituais distintos, como também pelas diversas formas de lidar com as questões pessoais que envolvem o sagrado. Um exemplo é o casamento. Para os ca- tólicos, trata-se de um sacramento, e, portanto, é indissolúvel. No caso dos protestantes trata-se de um acordo entre pares, e por isso, o divórcio pode ser aceito. Esta questão exemplifica, no cotidiano dos lares, como as delimitações de crenças envolvem os indivíduos. Contudo, as delimitações de crenças tam-

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