• Nenhum resultado encontrado

3.2 O juiz como garantidor dos direitos individuais: a figura do juiz das

3.2.3 Itália

A Itália passou por uma reforma processual em 1987/1988, entrando em vigor seu Codice di Procedura Penale em 1889, deixando de lado a ideologia fascista estampada no Código Rocco de 1930.

Como afirma Ferrajoli (2010, p. 677), o Código de Processo Penal de 1989 adotou o sistema acusatório, configurando o novo processo como uma “relação trigonal entre juiz, acusação e defesa, em antítese ao processo do Código Rocco,

98

Artigo 40.º Impedimento por participação em processo - Nenhum juiz pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão relativos a processo em que tiver: a) aplicado medida de coacção prevista nos artigos 200º a 202º; b) presidido a debate instrutório; c) participado em julgamento anterior; d) proferido ou participado em decisão de recurso ou pedido de revisão anteriores; e) recusado o arquivamento em caso de dispensa de pena, a suspensão provisória ou a forma sumaríssima por discordar da sanção proposta. A legislação está disponível em: <http://www.pgdlisboa.pt/pgdl/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=199&tabela=leis> Acesso em: 24 jan. 2012.

que era baseado, no tocante à fase instrutória, na confusão entre juiz e acusação

e na relação diádica inquisidor/inquirido”99.

A principal inovação estrutural oferecida foi a supressão da figura do juiz instrutor e sua substituição pelo giudice per le indagini preliminari, que não realiza atos instrutórios, e sim zela pela legalidade da investigação.

Para entender quais as funções assumidas por essa nova figura, passa-se a explicar o que é e como funciona a primeira etapa do processo penal italiano, a indagini preliminari.

Nos termos do art. 326100 do Código de Processo Penal, a fase preliminar é

concebida como as investigações realizadas pelo Ministério Público e pela polícia judiciária necessárias ao exercício da ação penal.

Como se denota, o Ministério Público passa a desenvolver atividades instrutórias, sendo o responsável pela direção da investigação, tendo à sua

disposição a polícia judiciária101.

É o Ministério Público que delimita os contornos da investigação e a

direciona, devendo o juiz intervir nos limites postulados por esse órgão102.

Ao giudice per le indagini prelimanari, que é rotulado como juiz garante103,

compete o controle da adoção e realização das medidas restritivas de direito fundamentais do investigado, tais como as cautelares e interceptações

99

“En Italia la reforma del CPP de 1989 se decantó por una clara aproximación al sistema

acusatorio “puro” sustentado en dos pilares: la estricta separación entre las funciones del fiscal y del tribunal, propiciando un auténtico “proceso de partes”, y la clara diferenciación entre fase previa al juicio y fase judicial” (DEU, 2007).

100

Art. 326 (Finalità delle indagini preliminari) 1. Il pubblico ministero e la polizia giudiziaria

svolgono, nell'ambito delle rispettive attribuzioni, le indagini necessarie per le determinazioni inerenti all'esercizio dell'azione penale.

101

Art. 327 (Direzione delle indagini preliminari) 1. Il pubblico ministero dirige le indagini e dispone

direttamente della polizia giudiziaria che, anche dopo la comunicazione della notizia di reato, continua a svolgere attività di propria iniziativa secondo le modalità indicate nei successivi articoli

102

Nesse sentido: Nel nuovo sistema processuale penale, di tipo acusatorio, il giudice per le

indagini preliminari puó conoscere dei fatti processuali, unicamente nei limiti del l'invetitura ricevuta dal pubblico ministero (GAITO; BARGI, 2007, p. 1230). Dal principio secondo cui unico

titolare delle indagini è il pubblico ministero che le dirige, discende che il giudice rimane durante tutta la fase, estraneo ad esse ed interviene per provvedere, sulle richieste delle parti e della persona offesa, solo nei casi previsti dalla legge (APRILE; SILVESTRE, 2011, p. 10).

103

“En orden a equilibrar las diferentes fuerzas del fiscal y el imputado como partes opuestas,

salvaguardando los derechos del acusado, se ha reintroducido la figura del juez como garante”

telefônicas; controle da duração da investigação preliminar e a função de garantia

da formação antecipada da prova104.

A ele também compete analisar o pedido de arquivamento encaminhado pelo promotor. Nessa atividade ele deve se deter no mérito da conduta investigada e, se não concordar com o pedido de arquivamento formulado pelo Ministério Público, poderá determinar a continuidade da investigação ou, ainda, determinar que o promotor ajuíze sua acusação.

Andrade (2011, p. 49) adverte que, ao agir desse modo, o juiz se afasta da posição de garante e se assemelha ao juiz instrutor, na primeira hipótese; e corre o risco de ser mais acusador que o próprio Ministério Público, na segunda.

Assim, esse ponto da legislação italiana está em desacordo com a lógica que se pretendeu implantar, qual seja, afastar-se do juiz instrutor e suas características e implementar o sistema acusatório.

É importante, ainda, destacar que nos termos do artigo 34, 2-bis do Codice di Procedura Penale105, a regra é que o juiz que atua na fase de investigação está impedido de atuar na fase processual.

Aury Lopes (2001, p. 224) afirma que o juiz que atua na investigação

preliminar, ainda que somente tenha decretado a prisão cautelar, está prevento106,

ou seja, sua imparcialidade está comprometida e, por isso, não pode julgar. Ele cita a sentença da Corte Constituzionale nº 432 de setembro de 1995 para

confirmar sua posição107.

Em suma, depreende-se que o giudice per le indagini preliminari atua fundamentalmente como garante dos direitos individuais, participando no curso das investigações sem ser o titular das funções de investigação, as quais se encontram encomendadas ao Ministério Público, que é auxiliado pela polícia judiciária.

104

Durante la fase delle indagini, il giudice per le indagini prelimanari interviene in funzione di

garanzia in tema di diritti fondamentali, di speditezza del procedimento, de obbligatorietà dell’ázione penale e di assunzione anticipata della prova, laddove, invece, nella fase processuale svolge anche funzione decisionali (APRILE; SILVESTRI, 2011, p. 13).

105

2 bis. Il giudice che nel medesimo procedimento ha esercitato funzioni di giudice per le indagini

preliminari non può emettere il decreto penale di condanna, né tenere l’udienza preliminare; inoltre, anche fuori dei casi previsti dal comma 2, non può partecipare al giudizio.

106

Destaca-se que Aury Lopes entende que a prevenção é causa de exclusão de competência. 107

“È incompatibile a partecipare al dibattimento il gip che ha adottato nel procedimento una

misura cautelare (sentenza Corte Costituzionale 15 settembre 1995 n. 432) Consiglio Superiore della Magistratura (http://www.csm.it/circolari/1014_6.pdf. Acesso em: 20 jan. 2012).

Enfatiza-se que os reflexos das reformas processuais dos países europeus projetaram-se na América Latina, impulsionando uma onda de reformulações,

como se passa a expor108.