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6. Resultados

6.2. Os itinerários terapêuticos

6.2.1. Itinerário Terapêutico de Orquídea

Orquídea é uma senhora de 47 anos, casada, artesã, que reside na cidade de São Carlos há dezoito anos. Mora com o marido, com a mãe que teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e com o sogro que está acamado. Para ajudá-la a cuidar dos idosos doentes, Orquídea conta com a ajuda de uma pessoa que se dedica principalmente em cuidar do sogro que está acamado e requer maiores cuidados.

Orquídea tem problemas renais. Fez hemodiálise por muito tempo e há três anos passou por um transplante de rim. Faz o tratamento renal em São Paulo, onde tem o apoio da sua irmã que mora lá. Periodicamente, viaja a São Paulo para se consultar com os médicos que fazem o acompanhamento do seu transplante. Toma vários medicamentos e se preocupa com a sua saúde bucal desde o início da hemodiálise, pois seu tio e sua irmã são dentistas. No entanto, afirma que após o transplante, durante o primeiro ano a equipe médica não permitiu que ela fizesse tratamento odontológico.

Ah, desde que eu comecei a hemodiálise, os meus dentes sempre precisam de cuidados. Mas, depois que eu fiz o transplante, que “fazem” 3 anos, durante o primeiro ano, eles não deixaram eu fazer.

Sendo assim, somente depois de transcorrido este tempo é que pôde voltar a fazer acompanhamento odontológico. No entanto, por causa de uma transferência de trabalho do seu marido mudou-se para Porto Alegre (RS), residindo lá por um ano. Depois, por causa da doença do sogro, seu marido resolveu sair deste emprego e eles retornaram a São Carlos.

Apenas quando retornou a São Carlos é que Orquídea foi procurar por atendimento odontológico. Próximo da sua casa tem uma Unidade de Saúde da Família, aqui denominada de Unidade Verde. Embora faça o acompanhamento renal em São Paulo também passa por consultas médicas na Unidade Verde, possuindo ficha e cadastro na unidade. Desta forma, interessou-se em agendar uma consulta com dentista.

Inicialmente, fez uma avaliação e foi agendada prontamente para iniciar seu tratamento, uma vez que tem prioridade por ser transplantada renal.

Mas como eu sou transplantada eu sou daquele grupo que vai primeiro né?!

No entanto, quando ainda estava realizando o seu tratamento odontológico, Orquídea teve um quadro de infecção que a deixou muitos dias internada em São Paulo. Como a infecção apareceu de repente e teve que ir às pressas para São Paulo, ficando hospitalizada, não conseguiu desmarcar sua consulta odontológica na Unidade Verde.

Assim, quando se restabeleceu, Orquídea foi procurar novamente a unidade para remarcar a sua consulta odontológica. Mas, por ter faltado sem justificar, foi orientada que deveria entrar na fila de espera, pois havia perdido a sua vaga.

Mas eu tive uma infecção e fui internada, depois eu não conseguia mais vaga... Eu fui internada e daí eu perdi minha vaga lá...

Orquídea relata que ficou muito triste, pois mesmo explicando que havia sido um caso de urgência, e por isso não havia entrado em contato para desmarcar a consulta, não foi compreendida pela dentista.

Então, começou uma verdadeira luta para retomar o seu tratamento, sendo que estava sentindo dor em um dente que estava com cárie na raiz. Todos os dias, ia até a

unidade, mas a resposta era sempre a mesma, que tinha perdido a vaga e teria que ficar na fila de espera. Mesmo relatando dor, não foi atendida.

A cada dia sua preocupação aumentava, pois seu marido está na fila de espera da unidade há um ano e ainda não conseguiu vaga. Como sua dor foi aumentando e tem medo de tomar remédios por conta própria por causa da sua condição renal, passou a ir à unidade com mais frequência, insistindo para ser atendida.

Com a insistência de Orquídea, a dentista resolveu encaminha-la para o Centro de Especialidades Odontológicas. Com lágrimas no olhar, Orquídea conta que a dentista resolveu encaminhá-la porque é muito ansiosa.

Mas eu “tava” com cárie na raiz e doía muito e daí eu vivia pedindo lá. Eu quero passar, eu quero passar...e daí ela me mandou para o CEO dizendo que eu era extremamente estressada. Não é estressada, como é o termo que ela usou? Ansiosa! Não é que eu sou ansiosa... eu tava com dor de dente né?! Durante a nossa conversa, relata que seu tratamento na Unidade Verde se estendeu porque a dentista ficou de férias por 30 dias e, neste período, teve seu tratamento interrompido. Ela esperou pacientemente as férias da dentista, mas não foi compreendida por ter faltado da consulta. Mas, sente-se feliz por ter realizado seu tratamento no CEO.

Mas foi bom eu ter ido para o CEO. Porque lá já tem tudo né?! Fui bem atendida... foi super tranquilo...

No dia da entrevista, Orquídea estava com a alta do tratamento do CEO e foi à Unidade Verde para marcar o acompanhamento semestral conforme orientações do dentista do CEO anotadas em sua contra referência.

Antes de finalizar a nossa conversa, Orquídea ainda relatou as dificuldades que a sua mãe e a cuidadora de seu sogro estão enfrentando para conseguir atendimento odontológico, sendo que ambas estão tentando consulta em outra unidade de saúde. Como sua mãe se mudou recentemente para a sua casa e já fazia acompanhamento em outra unidade de saúde, preferiu continuar nesta unidade. Por causa do AVC, perdeu peso e a prótese não se adapta mais, portanto, para elas há necessidade de confeccionar uma nova prótese.

Minha mãe teve um AVC ficou muito magra e a prótese dela está super solta, mas

não consigo que eles encaminhem para o CEO. Ai vai fazer, vai ver, mas nada.

Já em relação à cuidadora do seu sogro, relata que está com dor de dente, necessitando de tratamento endodôntico. Segundo ela, está esperando o encaminhamento para endodontia no CEO há um mês e sempre que apresenta episódios de dor, recorre a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), mas esta também não resolve o seu problema.

A moça que trabalha lá em casa está com um canal. Ela ficou um mês esperando o encaminhamento para o CEO [...] ontem ela teve que ir “na UPA”. Ela está esperando este encaminhamento, não foi encaminhada e teve que ir “na UPA”, mas também não vai resolver grande coisa.