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6. Resultados

6.2. Os itinerários terapêuticos

6.2.2. Itinerário Terapêutico de Rosa

Rosa é uma senhora de 66 anos, viúva, dona de casa, que reside na cidade de São Carlos há vinte e dois anos. Mora com a filha que é formada em enfermagem e é professora de um curso técnico em enfermagem do município.

No ano 2000, Rosa foi diagnosticada com Doença de Parkinson e iniciou o tratamento, mas como o médico que fez o diagnóstico foi embora da cidade e neste período o seu marido adoeceu, ela parou de tratar a Doença de Parkinson, recomeçando o tratamento há três anos, após a morte do seu marido.

Então eu deixei de lado e fui cuidar dele [...] E aí quando ele morreu, eu tive aquela perda toda e ”passou” uns cinco dias eu percebi que eu estava tremendo muito. E eu fui ao médico, no neurologista, aí ele falou que era o Parkinson, né?! Então desde que ele faleceu faz três anos que eu tenho.

Rosa toma vários medicamentos, mas relata que muitas vezes não se sente bem; tem muitas dores pelo corpo, às vezes tem dificuldade para andar, e recentemente diz estar tendo lapsos de memória.

Se vence o prazo do remédio, que eu tomo vários remédios, de três em três horas, aí eu começo tremer, sabe? [...] Tem dia que eu estou boa, tem dia que eu não consigo levantar da cama [...] E agora eu estou tendo assim um lapso de memória, sabe? Eu estou assim, de repente eu esqueço o que eu estou falando com você e às vezes eu estou na rua e aí eu esqueço onde eu estou. Então eu fico quietinha assim num canto, esperando, eu fico tentando lembrar, aí volta onde eu estou, sabe?

Afirma que quando iniciou o tratamento com a neurologista, a médica recomendou que ela extraísse seus dentes e colocasse uma prótese, pois tinha poucos dentes e utilizava uma prótese fixa que sempre caía. Assim, para evitar que Rosa engasgasse ou aspirasse a prótese a médica orientou a procurar por tratamento odontológico.

Às vezes ela caia, tinha que por de novo. Então ela falou pra mim; olha antes que você engasgue [...] A “neuro” achou melhor arrancar tudo e eu colocar a prótese [...] Então eu mastigava só um pouquinho aqui, com esse lado aqui e engolia a maioria das vezes inteiro.

A partir da orientação da neurologista, Rosa foi à Unidade de Saúde da Família próxima da sua residência para agendar consulta com dentista (Unidade Amarela).

Relata que foi bem acolhida pela equipe de saúde bucal e pôde contar a sua história. Ao terminar, a dentista lhe disse que poderia sim realizar o seu tratamento, porém havia um problema: era demorado para conseguir a vaga de prótese no CEO. Diante dessa reposta, Rosa resolveu procurar um consultório particular para fazer um orçamento.

Após a realização do orçamento no consultório particular, Rosa constatou que não poderia pagar, pois ficaria muito caro e já tem parte do seu orçamento comprometido com os medicamentos que precisa tomar para a Doença de Parkinson.

Então voltou na Unidade Amarela para conversar com a dentista. Sendo assim, foi orientada a procurar novamente a dentista particular e fazer uma proposta a ela: faria todas as extrações na Unidade Amarela e apenas a prótese seria realizada pela dentista particular. Assim, Rosa retornou ao consultório particular, expôs a situação para a profissional que aceitou prontamente apenas confeccionar a prótese, parcelando o valor total em pequenas prestações para que conseguisse pagar.

Aí a dentista do postinho falou pra mim: se você falar com ela dela só fazer para você eu “arranco” todos os seus dentes aqui. Porque eu falei “eu” não tenho dinheiro para “arrancar” e fazer a prótese. Como ela também me facilitou de eu dar 100 reais por mês, então eu fiz a prótese lá.

Diante desse acordo, Rosa fez todas as extrações necessárias na Unidade Amarela e confeccionou a prótese total superior no consultório particular, pois não queria esperar a vaga no CEO completamente sem dentes.

Aí eu “arranquei” tudo ali no postinho e então a prótese de cima fiz no particular. Porque ia demorar muito e como que eu vou ficar sem dente? Eu frequento a Federal, vou fazer fisioterapia, tudo. É horrível né, ficar sem dente. Imediatamente após realizar as extrações, a dentista da Unidade Amarela fez o encaminhamento de Rosa para o CEO, a fim de que ela confeccionasse a prótese total inferior no serviço público. Como é um pouco demorado para conseguir a vaga de prótese, ela já fez o encaminhamento. Assim, enquanto aguardava ia realizando as extrações e confeccionando a prótese total superior.

Desta forma, após seis meses, Rosa foi chamada pelo CEO para confeccionar a prótese total inferior, está na fase inicial, realizando as moldagens.

Neste dia, Rosa tinha ido à Unidade Amarela para conversar com a dentista, pois a prótese total superior estava machucando. Gostaria que fizesse um ajuste, pois

já tinha solicitado ao dentista do CEO, mas disse que não poderia desgastar a prótese para ela; que teria que pedir para a dentista que fez a peça.

A paciente Rosa reclamou que a prótese superior estava machucando. Inclusive, iniciou a nossa conversa com esta queixa. Perguntou se o dentista do CEO poderia ajustar a prótese mesmo não sendo ele quem a fez. Eu disse que sim. Que não poderia ficar com a prótese machucando. Relatou que tem medo de ficar com ela machucando. Afinal, o marido faleceu em decorrência de um câncer (Diário de campo).

Fig. 4 Itinerário Terapêutico de Rosa.