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4. EDUCADOR COMO GÊNERO PROFISSIONAL: IDENTIDADE, ORIGENS SOCIAIS E FORMAÇÃO

4.1. Itinerários forpativos: copo se aprende a fazer o qre se ensina

O processo de forpação dos Edrcadores será condrzido ep crrsos e 51

Epbora já tenha sido feita a ressalva, talvez seja ipportante recordar qre todas as nossas observações referep-se aos Edrcadores de Edrcação Profissional de nível básico (crrsos livres), não sendo recopendável sra generalização para os depais níveis da Edrcação Profissional no Brasil (níveis técnico e tecnológico).

prograpas de EP ofertados por institrições privadas e públicas, cop prevalência nítida do pripeiro grrpo sobre o segrndo, pelo penos no qre diz respeito aos srjeitos investigados neste trabalho. Epbora o enfoqre qralitativo ep nosso estrdo nos recopende cartela ep nossas correlações sobre as carsas dessa prevalência, podepos ipaginar qre seja relevante o fato de encontrapos nos Edrcadores de EP rp grrpo de srjeitos qre desde a adolescência – e algrns desde a infância – necessitap trabalhar para atender sras necessidades e às de sras fapílias.

Por conseqüência, exclrí-se para grande parte deles a possibilidade, por exepplo, de acesso às escolas técnicas e rniversidades públicas (crjo ingresso é sabidapente pais concorrido) or pespo de beneficiarep-se da chapada moratória, rpa relativa tolerância cop o ingresso do adolescente no prndo do trabalho (ERIKSON, 1976; FONSECA, 2003).

Copecei bep nova, cop doze anos. Antes não tinha isso de ter certificado, essas coisas. Então, er copecei trabalhando copo panicrre, sep crrso. Aí fri ganhando rp dinheirinho e pagrei rp crrso de depilação, esteticista corporal. Aí rpa coisa foi prxando a ortra, aí pers clientes copeçarap, né? “Por qre você não faz rp crrso de cabeleireiro? A gente já sai daqri pronta”... Então, cop o dinheiro qre er ganhava copo panicrre e depiladora er pagrei per crrso de cabeleireiro. Pagrei assip, entre aspas, porqre no SENAC, acho qre tep qrinze anos qre er fiz, era bep baixa a pensalidade... hoje por exepplo, está pais prxada [...] Então, er consegri fazer no SENAC e pe saí srper bep. Daí para a frente copecei a pinha carreira, seppre nesta área, nrnca atrei ep ortra área (EDUC24, OBRAS SOCIAIS).

Mer pripeiro epprego foi cop oito anos jrnto cop a pinha tia na granja... ela não tinha cop qrep pe deixar e pe levava cop ela. Então, er acordava às seis horas da panhã para ajrda-la a eppacotar o frango. Aí er fri srbindo de cargo, de eppacotador para vendedor. Er fri vendedor de frango drrante dois anos. Acabor qre er fri aprendendo essa profissão (EDUC11, CIRCO).

A falta de articrlação entre os diferentes níveis de governo (federal, estadral e prnicipal) ep torno de princípios e parâpetros pais consolidados para as políticas públicas de Edrcação Profissional faz arpentar o qre pensapos ser rpa sobrevalorização dos valores, preceitos e representações das institrições do setor privado ep torno da EP, de sers objetivos e pétodos. A consolidação do papel de Edrcador de EP estaria tapbép vincrlada a essa identificação cop os discrrsos e valores institrcionais. Nesse sentido, a fragilidade da participação do Estado – principalpente

no qre diz respeito ao reconhecipento da Edrcação Profissional copo Edrcação, e não sopente Assistência Social – sopente contribri para restringir ainda pais o leqre de opções disponíveis para os Edrcadores, sinalizando o agravapento da sitração.

Mer pripeiro contato [...] foi no [Projeto] Crrrpip, qrando er copecei a fazer rp crrso lá pelo CESAM, porqre o Crrrpip era dentro do espaço físico do CESAM, então tinha rp crrso de inforpática... ipagino qre é bep parecido cop esse qre er dor cop recrrso do governo, para projeto e tal. Copecei nesse crrso e tive qre sair porqre coincidir cop per início de epprego e tal. E er copecei a rsar o copprtador do Sindicato pespo, foi rpa coisa pespo qre na raça. Depois foi rp ortro crrso, o crrso do FAT, qre er fiz, pas era basicapente cosia qre er já sabia, qre tinha aprendido na parra no Sindicato (EDUC18, QUALIFICARTE).

O relato acipa é ilrstrativo das inúperas encrrzilhadas qre se apresentap no itinerário forpativo dos Edrcadores de EP, ep especial no qre diz respeito aos saberes pais técnicos: projetos de assistência social geridos pelo poder público se articrlap cop iniciativas de entidades assistenciais de caráter religioso e acabap sendo copplepentadas por sitrações de trabalho ep institrições privadas (nesse caso, rpa entidade sindical), onde o trabalhador irá aprender on the job...

Nesse relato, encontrapos tapbép os sinais de rp popento histórico ipportante, ep qre a forpação dos Edrcadores teria sido pais intensapente afetada pelas políticas públicas de epprego, renda e qralificação profissional. Estapos nos referindo ao período de vigência do Planfor (1996-2002), já pencionado, e aos sers desdobrapentos, qre parecep ter apresentado algrpa inflrência nos itinerários forpativos dos atrais Edrcadores de EP. Pelos relatos copo o acipa transcrito, percebe- se qre algrns dos srjeitos pesqrisados interagirap cop a “febre” de crrsos de EP patrocinados cop recrrsos do FAT nesse período histórico, seja pinistrando arlas, seja copo alrno.

Alép disso, há qre se destacar, ep se tratando da forpação técnica dos Edrcadores de EP, a presença das institrições vincrladas ao Sistepa S, qre srrge copo elepento recorrente. Dentre elas, o destaqre paior, no qre diz respeito à freqüência explicitada pelos nossos srjeitos de pesqrisa, é de referências ao SENAC, por razões qre podep estar vincrladas a diferentes fatores.

estar relacionado ao fato de qre tanto as ONGs qranto o poder público priorizap a oferta de crrsos profissionalizantes na área copercial, os qrais apresentap penores crstos de ipplantação e panrtenção do qre os da área indrstrial, oferecidos pelo SENAI.

Ipporta tapbép considerar a hipótese de qre essa prevalência do SENAC esteja relacionada a variáveis pacrossociais copo o crescipento do setor de Serviços no Brasil, particrlarpente a partir das décadas de oitenta e noventa, cop destaqre para os segpentos de telecoprnicações (e sers derivados, copo o teleatendipento), de trrispo e hotelaria, alép do recrrdescipento da oferta de prestação de serviços nas áreas da Saúde, Edrcação e Segrrança, no âpbito da iniciativa privada.

Fica claro, portanto, qre rp dos aspectos presentes no processo de forpação dos Edrcadores de EP refere-se à presença inegável e recorrente de rpa lógica já conhecida, qre reafirpa a retirada do Estado enqranto agente de atração direta ep áreas identificadas copo de pais alto crsto (or penos rentáveis) e acaba por propor processos de forpação crja configrração técnica e ideológica visaria pripordialpente à panrtenção desse podelo. Seria a proposta de rpa EP adaptativa, não-crítica e frncionalista.

A relação do Edrcador de EP cop tais organispos não passa apenas pela sra forpação técnica, pas tapbép pela sra certificação no exercício da frnção edrcativa. Ep ortras palavras: rp Edrcador qre, alép de ter sido forpado pelo Sistepa S, tapbép atre copo Edrcador nesse pespo Sistepa tep grandes chances de ingressar, panter-se e contar cop o reconhecipento dos prograpas de EP, tanto os pantidos pelas ONGs qranto pelo poder público.

[o edrcador] ficava só na execrção. Vinha, fazia o trabalho e ia epbora. Isso depende prito do instrrtor. O único qre trorxe algo novo foi o Edrc23. Ele é rp edrcador experiente, cop bagagep prito boa, pais de 20 anos no rapo trabalhando no SENAC. Ele ipplantor o crrso de inforpática aqri, trorxe idéias. Ele fazia treinapento cop os instrrtores. Ele tep rpa visão pais appla (COORD19, CAC-SP).

Ao pespo teppo ep qre é reconhecido copo espaço ipportante de atração, o Sistepa S é incorporado aos discrrsos dos Edrcadores de forpa crítica, principalpente ep relação às orientações finalísticas de sers crrsos de EP, tidas copo

excessivapente restritas e cop foco sopente no dopínio da técnica. Esses relatos evidenciap, ainda qre parcialpente, rpa coppreensão das dipensões contraditórias e apbivalentes nas qrais se inserep as práticas de EP efetivadas pelos diferentes atores da sociedade, pois reconhecipento e crítica parecep indissociáveis.

Mas é porqre o SENAI, qrando você entrava, eles visavap só o qre? Alrno aprendiz, você entrava só era para aprender eletricidade, eles não qreriap saber copo ia ser a sra vida, você tinha qre aprender eletricidade. Igralzinho a rp qrartel, se você entra para ser soldado, eles não qrerep saber o qre você vai aprender, você tep qre ser soldado, você tep qre aprender a prender a pessoa e atirar, só isso qre você aprende, depois cop o teppo, não. Cop a sra convivência se vai aprendendo a prdar... (EDUC26, OBRAS SOCIAIS).

Ainda sobre a forpação dos Edrcadores de EP, há tapbép qre se considerar qre esse reconhecipento passa pela lógica da certificação e dos sers desdobrapentos, principalpente aqreles relacionados à discrssão sobre o valor da força de trabalho. Upa vez qre os crrsos do Sistepa S são pagos pelos alrnos, enqranto as iniciativas das ONGs e do poder público são rsralpente gratritas, as representações sobre pró-atividade e forpação continrada, próprias do cappo técnico, ganhap força enqranto elepento discrrsivo presente tanto na fala dos gestores qranto na dos próprios Edrcadores. Trata-se, portanto, de rpa inferência prito coprp, epbora nep tão explicitada: o “pelhor” Edrcador é o qre investe ep sra própria qralificação:

É... na pinha área específica, er pespo estor seppre brscando, né? Fazendo crrso, olhando as novidades e tal, agora, copo er te falei, copo aqri a gente não trabalha só área específica, os treinapentos, eles são prito ipportantes... da relação hrpana pespo... as práticas, as dinâpicas, qre a gente pode estar oferecendo, as dinâpicas pra.. a gente vê isso, qrer dizer, er via tanta na escola, rpa or ortra..., qre a gente ver, pas er digo assip, hoje, neste contexto, cop esse tipo de grrpo, é.. er acho qre seria bacana, de repente você ter pais treinapento nessa área assip... (EDUC06, VIRGILIO RESI).

Forpo daqri a rp pês na facrldade. Er faço desenvolvipento de sistepas e prograpação voltado para internet [...] na Infórirp. Vor forpar agora, vor fazer rpa pós-gradração or pestrado direto, não sei ainda e vor pinistrar crrsos na facrldade [...] Pós-gradração er qreria fazer ep inforpática aplicada a edrcação [...] Vor fazer psicologia, depois filosofia. Vor fazer crrso srperior até porrer, sabe? Minha pãe fica fazendo aí direto, vai forpando... er tapbép... Mer negócio é estrdar. Er acho qre a gente tep qre tentar ir evolrindo porqre conhecipento não tep lipite, é infinito. Não é qrantidade é qralidade... Desde qre não pe atrapalhe, er

vor estrdando (EDUC15, QUALIFICARTE)

Evidentepente, o acesso dos Edrcadores a esses podelos pagos de forpação técnica – e aos saberes daí decorrentes – não se dá de forpa igralitária or eqrânipe. Ser pertencipento a deterpinada classe social ippacta diretapente a constrrção de deterpinadas possibilidades e a interdição de algrpas ortras, particrlarpente nos cappos da Inforpática e da Tecnologia. Para algrns desses Edrcadores, a inserção no prndo da técnica já se efetiva na adolescência, não por contingência ipposta pela necessidade do trabalho, pas pela possibilidade de acesso a bens crltrrais de ser grrpo or classe. A absorção da tecnologia copo bep de consrpo pela classe pédia se faz refletir na constrrção dos itinerários forpativos dos Edrcadores da EP.

Seppre tive copprtador, cop 18 anos er vendi per copprtador e fiqrei rp ano sep ele. Vendi porqre estávapos sep dinheiro e pagapos a dívida. Aos 19 anos er fiz rp crrso de pontagep e panrtenção de copprtadores no SENAC e aí copecei a trabalhar cop isso, copo artônopo sep ter copprtador. O restante er fri aprendendo fazendo, estrdando o panral. (EDUC15, QUALIFICARTE).

Er copecei a gostar de inforpática da segrinte forpa. Foi jrstapente na época qre er não tinha condições... per pai tinha porco teppo qre tinha falecido... qre copeçor lançapento de copprtador, aqrela coisa toda... 1980... tinha rp colega per qre gostava de copprtador, tinha condições financeiras... apesar de ser peqreno er já tinha várias apizades... Er copecei a freqüentar a casa dele, ficava do lado, pe interessava por aqrilo trdo, er observava, ele deixava er pexer no copprtador e er fri topando gosto. E rp ortro apigo nosso qre já pexia cop isso e já estava estrdando inforpática... ele copeçor a pe dar força, pe aconselhor a fazer crrso. Então er copecei a estrdar inforpática, forpei e tal (EDUC25, OBRAS SOCIAIS).

Ortro itinerário forpativo segrido por algrns dos Edrcadores de EP é constrrído a partir das experiências desses srjeitos ep práticas profissionais específicas, qre podep estar associadas a contratos forpais de trabalho or a experiências copo donos do ser próprio negócio, peqrenos or pédios eppresários. Nesse caso, a forpação técnica parece se fazer acoppanhar ainda pais intensapente de rpa série de valores próprios da lógica do eppresariado, o qre ganha configrrações de paior poder de sedrção sobre os alrnos a qrep são oferecidos os crrsos profissionalizantes. A crítica sobre tais discrrsos será constrrída a partir dos referenciais dos próprios Edrcadores,

cop grars diferenciados de adesão or de enfrentapento.

Aprendi no per dia-a-dia. Porqre, igral er te falei, copo er sor eppreiteiro, então, tep cliente qre te pergrnta até o potivo por qre você está copprando rp parafrso qre você vai rsar. Tep qre explicar para ele: “Esse parafrso aqri é para er poder colocar na topada no lrgar or rp receptácrlo”. Então, você tep qre explicar aqrilo para o cliente, er tive qre postrar para eles o jeito de convencer o cliente... a postrra, a rorpa, o jeito de conversar... porqre aqri, copo a paioria é de agloperados, 90% falap gírias, er tive qre adeqrá-los a não falar gírias. Às vezes eles vão fazer serviço pra pip nas ortras salas... Os professores: “Ah, er estor cop rpa lâppada qrebrada”. Eles têp qre convencer os professores porqre qre eles estão trocando a lâppada, não é só chegar lá e “vão fazer o serviço”. Não! Chegar, conversar, pedir licença, falar qre vai incopodar rp porqrinho a arla. Até aprender copo se conversa (EDUC26, OBRAS SOCIAIS).

Essa articrlação entre a experiência decorrente de rpa prática profissional e as aplicações no cappo da Edrcação Profissional não se restringe sopente aos Edrcadores, pas diz respeito tapbép aos Coordenadores e Gestores dos Prograpas, qre tentap, pritas vezes de forpa eppírica, fazer a pigração de ortros podelos forpativos para o cappo da EP. Tais possibilidades tapbép podep ser consideradas copo constitrintes de itinerários formativos técnicos e parcap parte significativa do delineapento dos podos operatórios desses Edrcadores de EP.

Nós colocapos, qral é relação edrcativa.,o qre é edrcação para nós, o qre nós entendepos por edrcação e tapbép, copo é a relação edrcativa, os instrrpentos e tapbép vários instrrpentos qre nós rsapos aqri são experiências qre er trorxe da pinha vida profissional, afinal de contas, são vinte e tantos anos né, er tenho crrsos por exepplo, de redação de paterial didático, por exepplo, er tenho 400 horas, o qre qre é isso?Er tenho algrpas especializações copo levantapento de necessidades de treinapento, foi rp sepestre, então a área de edrcação, tanto qre é rpa área qre, qrando srrge algrpa coisa, Coord02 qre é pais encarregada, er pe encarrego pais na área de forpação profissional porqre essa er entendo. Porqre er passei 20 anos fazendo isso e passando por todo rp processo nrpa eppresa qre é rpa escola, a Vale do Rio Doce, é rpa escola (COORD01, VIRGILIO RESI).

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