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O caso a ser apresentado se refere ao atendimento de um menino de 9 anos, em tratamento desde abril de 2005, que será aqui designado de F.. Este foi encaminhado para atendimento na Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” pela DERDIC (Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação), onde se encontra em atendimento fonoaudiológico desde 2002, em função de uma dificuldade de articular as palavras.

É filho único, nascido da primeira e única gravidez de sua mãe. Esta, que chamaremos apenas de R., 32 anos, se dedica exclusivamente ao trabalho doméstico e aos cuidados do filho. Quando se iniciaram os atendimentos de 2005, acompanhava-o duas vezes por semana às consultas fonoaudiológicas e uma vez por semana à psicóloga, além de levá-lo e buscá-lo na escola onde, na época, freqüentava a 1ª Série do Ensino Fundamental. Seu pai, D., de 40 anos, é repositor de estoque em um supermercado. Costumava comparecer às sessões quando o filho fora acompanhado no período da tarde pela estagiária anterior, mas em função da mudança do horário de atendimento, se apresentava somente quando solicitado ou em seus dias de folga no trabalho.

Em anamnese, sua mãe relatou que com apenas 3 dias de vida F. foi internado com suspeita de meningite e hepatite, “F. ficou todo inchado, com o fígado grande. A gente entrava no quarto e tinha até um mal cheiro. Ele chegava a estar verde, de tão ruim que ficou. Os médicos chegaram até a desenganá-lo” (sic). R. diz que desde que o filho nasceu, sabia que havia algo errado com ele, mas que os médicos não quiseram escutá-la. Quando recebeu alta e foi com F. para casa, percebeu que ele estava com febre e voltou para o hospital em que ocorrera o parto, mas não se dispuseram a atendê-los. Decidiu levá-lo a outra instituição, onde F. foi internado e permaneceu por 60 dias.

Recuperado destas patologias e não tendo sido constatada nenhuma seqüela do ponto de vista médico-clínico, seus pais notaram um atraso em seu desenvolvimento, relatando adoecimentos freqüentes e a impossibilidade de ingerir alimentos sólidos até os 4 anos de idade. Sua mãe afirma que sempre desconfiou de que F. sofresse de “alergia a leite” (sic), mas esta só foi constatada em 2005, o que será discutido mais adiante.

Para compreensão deste caso, é importante ressaltar um aspecto que se refere a escolha do nome próprio de F., o qual podemos relacionar aos sintomas que apresenta. Quando questionada a este respeito, a primeira resposta que R. forneceu foi a de que seu marido teria escolhido o nome do filho, quase sem o seu consentimento. “Meu marido que escolheu. Foi lá e registrou quando eu ainda estava no hospital”. Ao ser pontuada pela psicóloga, R. afirmou que “Não foi bem assim. Ele perguntou o que eu achava e eu concordei com o nome. Mas esse nome ele escolheu depois que o F. nasceu”.

Segundo a mãe, o significado literal do nome de F. é “Aquele que gosta de cavalos” (sic), e na realidade concreta da criança, isto está posto. Os avós de F., tanto paternos quanto maternos, vivem em uma cidade do interior no estado de Minas Gerais. Sempre que vai visitá-los com seus pais, adora andar a cavalo. Também é marcante o fato de, entre os animais de brinquedo, designar apenas os cavalos sempre com a mesma onomatopéia, “tcló”, o que não se aplica aos demais bichos que num primeiro momento não diferencia.

R. também relata que o nome de F. é bíblico, mas que é seu marido quem pode falar melhor sobre esse assunto. D. revela que, na Bíblia, F. é aquele que tem o Dom da palavra. E frisa o fato de que, diferente dos outros seguidores de Cristo, “F. confiou nos dizeres do Pai mesmo antes de receber provas de que fosse realmente o filho de Deus” (sic). Voltaremos a esta questão adiante.

Ao colher o histórico familiar ao longo dos atendimentos, constata-se que tanto sua mãe quanto seu pai são provenientes de famílias grandes, marcadas pela morte precoce de alguns de seus membros. Do lado da linhagem materna, também encontramos uma parente que apresentou “algum problema na cabeça” (sic).

R. relata ser a 15ª filha de uma prole de 19 crianças, as quais nasceram com intervalo médio de um ano entre si. Mesmo antes de seu nascimento, afirma que a mãe havia perdido um filho no parto, que deveria ser o irmão gêmeo da 13º criança, P.. Após esta perda nasce a 14ª irmã, que vamos chamar de M., e em seguida, a própria R..

P., o gêmeo que ficou só, é descrito por R. como um rapaz “...esquisito. Nunca quis arrumar uma namorada, tinha muitas dificuldades na escola, mas sempre soube lidar muito bem com dinheiro” (sic). Vive até hoje com os pais e é quem cuida das terras da família.

M., a 14ª irmã, saiu cedo de casa para trabalhar como empregada doméstica numa cidade vizinha, mas segundo R., “logo que se viu longe dos pais, teve uma crise nervosa e voltou para casa” (sic). Um dia sua patroa chegou em casa e a encontrou gritando em desespero, enquanto quebrava os utensílios da casa. Ao regressar para a residência dos pais, passou alguns meses de cama sem conseguir se mexer, “mas foi se recuperando quando começou a tomar o remédio controlado” (sic), o qual utiliza até hoje. Quando questionada sobre o que pensa ter acontecido à irmã, R. diz que a família acha que ela teve “algum problema na cabeça, mas ninguém sabe explicar o que causou isso não” (sic).

Quando R. está com aproximadamente 1 ano de vida, sua mãe da à luz uma nova criança, a 16ª, que vamos chamar de J.. Quando se refere a irmã pela primeira vez, não a inclui na contagem dos 19 irmãos, assim como não incluiu o gêmeo de P. que faleceu. Nesta primeira oportunidade também afirma não ter certeza, mas acha que a irmã morreu vítima de pneumonia. Como a psicóloga insiste em questioná-la sobre este assunto, fica de se informar melhor com as irmãs que na época já eram mais velhas.

Com o pretexto das férias de julho, quando os pacientes da Clínica costumam se ausentar por duas semanas, R. viaja com F. para a casa de seus pais, e questiona as irmãs sobre os acontecimentos referentes ao falecimento de J.. Depois esclarece que de fato a irmã veio à óbito com menos de um mês de vida e que na ocasião sua mãe ficou “perturbada da cabeça” (sic).

R. conta que pela primeira vez após dar a luz, sua mãe teve o que chamou de “depressão pós-parto” (sic). Ficou muito deprimida e não quis levar a menina para casa assim que saíram do hospital. Desta forma, entregou a criança para a avó de R. cuidar, mas a mesma definhou aos poucos e veio a falecer antes de completar um mês. Após o ocorrido, a mãe apresenta uma piora, mas logo engravida e depois disso não mais se deprime.

Apesar de não se lembrar destes acontecimentos, podemos supor que R. em sua tenra infância foi submetida à ausência desta mãe que passou por um período de adoecimento e luto. A referida depressão pós-parto de sua mãe também teve ressonância na ocasião do nascimento de seu próprio filho, que vamos abordar mais adiante.

Em função das inúmeras gravidezes e perdas que sua mãe sofreu, R. relata que desde pequena sentia muito medo de engravidar. Ela afirma que:

“Pra mim gravidez era coisa de outro mundo, era um sofrimento só. A mãe não conversava com a gente como hoje em dia, então a gente prestava atenção na conversa das mais velhas e escutava uns comentários de que o parto doía muito, de que na gravidez era só sofrimento, que a mulher só sentia enjôo. Eu cresci com isso na cabeça e me dava muito medo.” (sic).

Depois de casada, passou dois anos tomando anticoncepcionais até que se decidiu por ter um filho com o marido. Após a decisão, tentaram por 3 anos sem obterem sucesso, de modo que na época já estavam pensando em procurar algum tipo de tratamento. Logo após discutirem sobre esta possibilidade, R. se descobre grávida.

Já na linhagem paterna, constata-se o falecimento de dois irmãos de D.. Sendo o 6º filho de uma prole de 15 crianças, perdeu dois irmãos quando ainda era muito pequeno, ao completar um ano de vida. Ambas as crianças, respectivamente a 4ª e a 5ª a nascerem, faleceram de uma patologia não especificada no fígado, quando estavam aproximadamente com 2 e 3 anos de idade. Chamaremos o menino mais velho de Mo., e a menina de Ma., revelando que o nome deles era idêntico, com exceção da última letra que indicava o sexo a que pertenciam.

A patologia que os acometeu não pôde ser diagnosticada, pois as crianças faleceram abruptamente, sem que os pais se dessem conta da gravidade do que estava acontecendo. Ambos apresentavam vômitos, diarréia, enjôos e dores abdominais, de forma que a família pensou tratar-se de uma virose própria da infância. Não sem importância que é justamente o inchaço do fígado de F. que vem a impressionar os pais quando é internado ainda recém- nascido.

Quando chegou para os primeiros atendimentos psicológicos, F. demonstrava dificuldades para se expressar oralmente, não sendo capaz também de fazer uso da leitura ou da escrita. Sua linguagem se restringia a verbalização de vogais e sílabas, emitidas em profusão e dificilmente associáveis a alguma intencionalidade. Em contraponto, sempre que a psicóloga lhe fazia uma pergunta ou lhe pedia para pegar algum objeto, demonstrava compreender o que lhe era dito. Entre sua produções vocais, podemos destacar duas que costumavam ser repetidas em diversas situações ao longo dos atendimentos: “Ô ô” e “Cói”.

Se num primeiro momento nenhuma delas tinha sentido aparente, mais adiante a primeira pôde se ligar a uma representação, fato este, produto do trabalho de análise.

Ao incluir bonecos e animais nas brincadeiras, se constatou que não era capaz de diferneciá-los ao designá-los. Assim, um boneco que chamava de “Vô”, bem podia ser chamado de “Pai” ou “Mãe” no instante seguinte, não havendo distinção consistente a partir de suas verbalizações. O mesmo se aplicava aos animais, de modo que um leão poderia ser nomeado a partir das onomatopéias “grrrrr”, “múúú” ou “au”, não associando um som específico para cada espécie. Mas, vale lembrar que, os cavalos constituíam uma exceção neste ponto desde o princípio.

Como os primeiros atendimentos realizados ocorriam com o par mãe-criança presente, foi possível notar como se operava esta relação. F. sempre olhava primeiro para a mãe quando a psicóloga lhe fazia alguma pergunta, esperando que esta pudesse falar por ele. Uma vez autorizado pela mãe a falar, emitia sons em geral ininteligíveis. Quanto ao processo lúdico, foi interessante constatar a dificuldade apresentada por R. ao simbolizar as ações filho.

Como exemplo, podemos citar algo que ocorria constantemente nas sessões. F. pegava um revólver de brinquedo e atirava enquanto a psicóloga nomeava os objetos que acertava. Ao mirar a psicóloga, esta, entrando no jogo, se fazia apavorada e se escondia, produzindo risos na criança. F. procurava fazer o mesmo com sua mãe, mas ao apontar a arma para ela, R. lhe dizia que não gostava de brincadeiras com armas e verbalizava incomodo pelo filho fazer tanto barulho ao brincar de atirar.

Há outra sessão que ilustra o relacionamento mãe-filho nestes primeiros atendimentos. F. pega uma vaca e a coloca diante da mãe, esperando que esta diga de que animal se trata. R. se dirige ao filho, dizendo “É um boi, uma vaquinha”. Fica evidente que no discurso desta mãe em relação ao filho, não está colocada a linguagem enquanto mediadora de uma ordem, uma Lei. Tanto faz como designa o animal, não é importante a diferença entre os sexos, não é capaz de transmití-la para a criança.

Isto também pode ser evidenciado na fala de F., sempre que questionado pela psicóloga com formulações que exigiam uma resposta binária, “sim” ou “não”. A diferença entre essas respostas não se mantinha. Para a criança o “sim” vinha sempre em continuidade ao “não”, ou vice-versa, sem que se operasse uma distinção entre os termos.

As primeiras mudanças que puderam ser notadas, surgiram quando F. impediu que sua mãe entrasse na sala de atendimento com ele, empurrando-a para que voltasse a se sentar na sala de espera. A partir de então, a cada sessão, a psicóloga passou a lhe perguntar se gostaria que R. entrasse ou não na sala, ao que F. respondia sempre com o mesmo gesto da cabeça, sinalizando um “não”.

Após este acontecimento F. logo desenvolveu uma brincadeira que foi lhe permitindo adentrar na questão da dimensão da voz. O jogo lúdico que criou consistia em se utilizar de carros que deslocava de diferentes maneiras para produzir mudanças de entonação e ritmo na vocalização da psicóloga, que servia de voz para narrar seus atos, já que ele mesmo não era capaz de fazê-lo. Aos poucos, ele também pode começar a emitir sons e ficar em silêncio, o que era sinalizado nas sessões.

Em meio ao jogo com os carros, em uma das sessões F. trocou um passageiro imaginário de lugar, de um carro para o outro. Quando questionado sobre o que estava acontecendo, disse apenas “Pai”. A psicóloga lhe pergunta se era o pai que estava mudando de lugar de um carro para o outro e ele faz um gesto com a cabeça, sinalizando um “sim”. Neste movimento da criança, pudemos notar a entrada de um elemento da fantasia em suas brincadeiras, o que não foi sem efeito.

Após esta sessão, em entrevista com o pai de F., este revela que estava percebendo o filho agir de forma diferente também em casa. Ele passou a brincar de “culto religioso” (sic), o que consistia em imitar as ações que observava na igreja ao acompanhar os pais. D. disse que “F. age como se fosse o pastor que está proferindo a missa para pessoas que deve imaginar” (sic).

Também nas sessões apresenta mudanças após a troca do elemento fantasioso que destaca dos carros. F. começar a “se ver” fazer algo diante do espelho. Podemos citar como exemplo, uma brincadeira que consistia em fazer de conta que visitava sua avó. Se num primeiro momento este jogo se restringia a tocar uma campainha imaginária e esperar que a avó atendesse (o que ficava marcado em sua fala por cumprimentá-la), se tornou o “ver-se esperando diante do espelho”, até que a avó imaginária “aparecesse”. A figura da avó também passou a poder estar ausente, de modo que por vezes F. dizia apenas “Nhão”, para expressar que ela não se encontrava em casa.

Nesta fase dos atendimentos, F. também passa a “se atingir”, atirando contra seu reflexo no espelho e se deixando cair. Após a queda, levantava e caminhava pela sala fingindo desconforto, apontando as partes de seu corpo “machucadas” para que a psicóloga pudesse nomeá-las. Aos poucos, para além da nomeação, pede cuidados na forma de injeção, a qual denomina de “piiiii”.

Outro acontecimento marca uma nova virada nos atendimentos. F. se utilizava dos animais para brincar, quando decide pegar uma folha de papel para desenhar. Escolhe o marrom para pintar sua produção, aponta para um dos animais de brinquedo e diz “cavaô”. Esta primeira palavra, que só pode ser emitida após a representação gráfica da coisa a nomear, não podia ser outra senão uma referência direta ao significado de seu nome e vem a produzir uma série de transformações.

Sua mãe é a primeira a notar que F. estava se comportando de modo diferente em relação a outras crianças, de forma que começou a reagir agressivamente quando os demais o excluíam nas brincadeiras. Ela revela que antes ele simplesmente não dava provas de se importar com a presença dos outros e continuava brincando sozinho.

R. demonstra preocupação quanto as atitudes do filho, mas a psicóloga lhe fala sobre o aspecto positivo desta reação agressiva de F., uma vez que é o indicador de que passou a se contar no meio das outras crianças e que se incomoda ao ser deixado de lado. É dito a mãe da importância de conversar com F. quando este tipo de situação se coloca, no sentido de poder nomear e legitimar seus sentimentos de raiva ou abandono, para que ele mesmo os identifique e venha a poder nomeá-los um dia.

Nas sessões, F. passa a emitir outros sons que parecem ganhar valor de nomeação, apesar de ainda estarem vinculados ao sons próprio emitido pelos objetos que tenciona nomear. Ao se referir aos carros, passa a se utilizar sempre da mesma onomatopéia, “vrrum”. O relógio da parede, que muitas vezes o incomodava, recebe o nome de “tic”. E a expressão “ô ô” ganha um sentido, passando a ser utilizada sempre que acontecia algo errado, como por exemplo, ao deixar uma carro cair no chão.

No decorrer da análise, precisamente no mês de novembro de 2005, sua mãe informa que a pediatra de F. confirmou sua alergia a leite, decorrente de uma doença hereditária denominada “Galactosemia”. Esta, que em muitos casos chega a ser letal,

poderia ser a causa concreta de seu adoecimento quando ainda era recém-nascido, além de ter como uma de suas conseqüências o comprometimento da linguagem.

R. refere que mesmo antes dos médicos realizarem a confirmação diagnóstica, havia interrompido a administração de leite de vaca nas refeições do filho, substituindo-o pelo leite de soja já no ano de 2004, coincidentemente com o início do tratamento na Clínica com a estagiária anterior. Com a constatação da patologia, R. também começa a se questionar sobre a possibilidade de F. se desenvolver, mesmo sabendo que os exames não atestaram seqüelas neurológicas.

Com o fim das atividades na Clínica em 2005, o atendimento é retomado em fevereiro de 2006 em consultório particular, onde permanece até a presente data. Como os pais de F. puderam verbalizar algumas questões a medida que o filho foi apresentando mudanças em seu comportamento, o que por vezes os deixava angustiados, foi proposto o aumento do número de atendimento aos mesmos, que passaram a ocorrer quinzenalmente. Tal mudança no enquadre se deu também pela dificuldade de R. em reconhecer o filho em sua subjetividade, se referindo a ele sempre através dos exames que fez ou deixou de fazer, a partir do atraso que demonstra em relação as crianças com a mesma idade e por não conseguir falar de sua própria história, alegando sempre que questionada a respeito que após o nascimento de F. “vive a vida dele” (sic).

Com o aumento da freqüência dos atendimentos dos pais, R. insiste em afirmar que tem muita dificuldade de falar de sua história, pois passou muito tempo “vivendo só para o F.” (sic). Tanto ela quanto seu marido afirmam que a medida que F. tem apresentado melhoras, ela também aparenta estar mais saudável, “como se estivesse voltando a viver” (sic). É neste momento que retoma as dificuldades que enfrentou na ocasião do nascimento do filho e que pela primeira vez aponta que ficou “ruim da cabeça como minha mãe quando perdeu a J.” (sic). Ela relata que:

“Foi como uma depressão pós-parto, como aconteceu com minha mãe. Só que minha mãe perdeu o filho, e o F. sobreviveu. Mas eu fiquei com a cabeça ruim mesmo, só pensava bobagens. Acho que eu não tinha vontade nem de viver. Quando o F. teve alta e foi pra casa, demorou ainda uns dois meses para eu me recuperar. Como ele tinha passado muito tempo no hospital, eu não tinha

nem leite para ele. Também na época não sabia o que era psicólogo, nada disso, e tive que me recuperar sozinha.

Lembro que na época minha mãe veio pra cá conhecer o F., porque ele tava internado e a família toda tava preocupada. Nem para ela eu contei o que estava se passando na minha cabeça. Guardei tudo pra mim, só fazia alguns comentários com meu marido. Graças a Deus o F. agora já tá bem melhor, só vai pro hospital pra fazer exames. Agora que eu não tenho mais tanta preocupação com ele, parece que eu até engordei, tô mais forte.” (sic).

Após essa articulação na fala de R., ocorre nos atendimentos uma nova virada. F. desenvolve outra brincadeira, que consiste em caçar leões imaginários. Passa a denominar estes sempre de “grrau” e demonstra irritação quando a psicóloga pergunta se está caçando qualquer outro animal. Nestas caçadas aos poucos surge a possibilidade dos leões fugirem, ou seja, faltarem, marcando seu lugar de fantasia.

Também ao fingir que está telefonando para seu tio, o qual chama de “tchi”, para contar sobre as citadas caçadas aos leões, começa a poder se deparar com sua ausência, a

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