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Capítulo 2 Mercados para o etanol: Brasil e exterior

2.2. Mercados internacionais para etanol

2.2.6. Japão

O Japão apresenta condições peculiares que favorece a utilização de etanol na gasolina, já que é o segundo maior consumidor de gasolina do mundo (56 bilhões de litros, em 1999) e importa quase todo o combustível que utiliza (e.g., 99,5% do petróleo). Em 2001, após constatação de contaminação de águas subterâneas com MTBE, foi proibida a utilização deste aditivo. Já em abril de 2003, o “Renewable Portfolio Standard Act” estabeleceu metas para a substituição de combustíveis fósseis por renováveis (Macedo e Nogueira, 2005).

Conforme amplamente noticiado pela imprensa, “trading companies” japonesas têm procurado o governo e empresas brasileiras com a intenção de discutir a importação de etanol combustível51. O Japão, neste momento, está iniciando um programa visando a adotar o etanol como aditivo da gasolina, inicialmente em algumas regiões e ainda de forma espontânea, mas objetivando estender o seu uso a todo o país e em caráter compulsório. Como anfitrião da Conferência de Quioto e estando incluído no Anexo I do Protocolo de Quioto, o Japão tem como meta reduzir suas emissões de gases precursores do efeito estufa para 94%, até 2012, dos níveis verificados em 1990. Entre 1990 e 1999, entretanto, as emissões aumentaram em 6,8%. Em 2000, cerca de 20% do total das emissões japonesas – estimadas em 1.225 milhões de toneladas de CO2 – foram provenientes do setor de transportes. O diretor de política para o clima do

Ministério do Meio Ambiente japonês, Tsuneo Takeuchi, previa em 2001 que a adição de apenas 10% de etanol à gasolina já seria suficiente para reduzir as emissões do país em 1% (Petrobrás, 2005).

A diversificação da matriz energética japonesa também deve favorecer a adoção de biocombustíveis, como o etanol, e nesse sentido é pertinente ver as diretrizes da estratégia da diplomacia energética do Japão, segundo o seu Ministério do Exterior: manter e aprimorar as medidas de resposta a emergências; manter e aprimorar relações amigáveis com países do Oriente Médio, outros países produtores de energia e países ao longo das rotas marítimas internacionais; promover a diversificação das fontes de suprimento de energia e da matriz energética adotada; promover o uso eficiente de energia e o desenvolvimento e uso de fontes alternativas de energia (Petrobrás, 2005).

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Por exemplo, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas, a Petrobras, e a Mitsui & Co. Ltda, principal grupo empresarial japonês, assinaram em Maio de 2005 memorando de entendimento para desenvolver em conjunto estudos de logística para exportação pelo Brasil de álcool para uso combustível para o mercado japonês e outros mercados. É a primeira vez que as três grandes empresas juntaram esforços no sentido de buscar as melhores soluções logísticas e, assim, viabilizar a exportação de álcool brasileiro para o mercado japonês e mundial. Pelo acordo a CVRD, Petrobras e a Mitsui vão conduzir estudos para buscar o melhor aproveitamento de seus ativos logísticos para o transporte do etanol. Os estudos de viabilidade devem durar até nove meses, a partir da assinatura do acordo (Jornal Valor Econômico – Rio de Janeiro, 27/05/2005 - CVRD - Companhia Vale do Rio Doce - Fernando Thompson - Gerente Geral de Imprensa).

Recentemente o parlamento japonês aprovou legislação permitindo, mas não obrigando, a adição de até 3% de etanol à gasolina. O Ministério do Meio Ambiente pretende introduzir mistura com 3% de etanol em curto espaço de tempo, e tornar padrão a adição de 10% por volta de 2010. A morosidade na adoção de um compromisso com índices mais elevados está relacionada à incerteza no fornecimento seguro e regular do etanol, e a resistência por parte das refinadoras de petróleo devido a ameaça de redução do volume de gasolina comercializado.

Com relação ao mercado japonês para o etanol, os dados da Petroleum Association of Japan estimam os volumes em função do consumo projetado de derivados usados como combustível em transportes: a demanda por gasolina para 2006 é estimada em 61,047 bilhões de litros. Na tabela 6 abaixo são apresentadas estimativas da demanda de etanol para adição à gasolina em 2006:

Tabela 6: Estimativa da demanda de etanol para adição à gasolina no Japão (mil m³). 3% 5% 10% Estimativa de adição de

etanol à gasolina em 2006 1.831 3.052 6.105 Fonte: METI apud Petrobras (2005).

Dentre os principais mercados internacionais para o etanol brasileiro, considera-se o mercado japonês como o mais promissor devido aos seguintes fatores: o declarado objetivo governamental de implementar a obrigatoriedade da adição do etanol à gasolina; o Japão praticamente não possui capacidade de produção própria, necessitando recorrer à importação para suprir seu mercado potencial; o forte comprometimento do Japão com as metas do Protocolo de Quioto, que exigirão certamente uma redução considerável das emissões veiculares; o interesse por parte do governo japonês em diversificar as suas fontes de energia, reduzindo o risco de desabastecimento; e a necessidade de redução da exposição ao risco do Oriente Médio.

Acredita-se que, em consonância com sua política energética, o governo japonês terá interesse em implementar as condições fiscais e regulatórias propícias para o estabelecimento de contratos de fornecimento de longo prazo, o que permitiria aos “players” brasileiros operarem em um futuro mercado internacional de etanol com escala suficiente para aproveitar as oportunidades de negócios que certamente surgirão devido a fatores tais como: quebras de safra em países produtores, sazonalidades, surtos de crescimento de um mercado mundial ainda em desenvolvimento, etc.

Em maio de 2005 lideres de governos do Japão e Brasil se encontraram em Tóquio e o assunto etanol foi um dos principais temas da agenda bilateral. Foi colocado pelos japoneses que o obstáculo para adição do etanol carburante no Japão está na poderosa indústria petrolífera do Japão. As companhias de petróleo japonesas alegam que, para criar uma infra-estrutura de armazenagem, transporte e distribuição de etanol, precisariam investir US$ 3,5 bilhões. O governo japonês, por sua vez, se vê impedido de financiar esse investimento, uma vez que não traria benefícios à indústria local52. Como autoridade do governo japonês e especialista no assunto, Naoki Nishio53, que participa das comissões criadas para avaliar a possibilidade de seu país vir a adicionar etanol à gasolina, está convencido de que a tendência japonesa será a adoção do ETBE54 e não do etanol para mistura na gasolina. "Esta deverá ser a solução mais provável, se prevalecer o ETBE, o Japão também precisará de etanol de qualquer maneira”, sustentou Nishio, acrescentando que, as petrolíferas japonesas poderão fazer o ETBE realizando pequenas modificações em suas plantas de produção de MTBE. Com isso, poderão fornecer a nova mistura (gasolina + ETBE) aos postos de gasolina através dos canais de distribuição existentes e não arcarão com investimentos adicionais. No entanto decisão oficial do governo japonês ainda não foi tomada, sendo que o Ministério da Fazenda, interessado em aumentar o valor agregado dos produtos, estaria defendendo o uso do ETBE, enquanto o do Meio-Ambiente teria optado pelo etanol.

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Valor Econômico - Indústria japonesa rejeita etanol brasileiro - Cristiano Romero, 30/05/2005, em Tóquio.

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Presidente da New Energy and Industrial Technology Development Organization (Nedo), estatal que detém desde 1937 o monopólio da importação e produção de álcool no Japão.

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ETBE (Éter Etil Terc-Butílico) uma reação de etanol com o isobutileno (47% etanol e 53% isobutileno, em massa) (Petrobrás, 2005).