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Capítulo 2 Mercados para o etanol: Brasil e exterior

2.2. Mercados internacionais para etanol

2.2.2. União Européia (UE)

A UE tem agido para diminuir as emissões dos Gases precursores de Efeito Estufa (GEE) e, assim, tem aumentado seus esforços na utilização de combustíveis renováveis. O compromisso dos membros da União Européia com as metas de redução das emissões previstas no Protocolo de Quioto, para 92% do total emitido em 1990, exigirá medidas consistentes. Neste sentido, os biocombustíveis líquidos podem colaborar com o cumprimento das metas de redução das

aumento no consumo doméstico do cereal deve reduzir a quantidade disponível para exportação, tornando-o mais caro no mercado internacional.

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O custo da produção de etanol de milho nos EUA é quase duas vezes maior quando comparado com o custo da produção brasileira através da cana-de-açúcar. Segundo Macedo e Nogueira (2005) é difícil avaliar o custo real de produção do etanol em situações em que há grandes subsídios de naturezas diferentes, como é o caso dos EUA. Valores indicativos para situações normais não são representativos de casos específicos. Há uma flutuação constante nos preços dos subprodutos, que influenciam os resultados, como, aliás, é o caso para qualquer produto agrícola. A análise de uma planta de 53 Mm3/ano (2003) de capacidade, instalada em North Dalota, usando o processo dry

milling e produzindo etanol anidro, considerando créditos para subprodutos e sem subsídios estadual e federal,

resulta custo de produção de US$ 0.33/l. Plantas maiores devem se beneficiar da redução de custos por efeito de escala (Macedo e Nogueira, 2005).

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Um acordo comercial (CBI – Caribean Basin Initiative, assinado em 1983 e válido até 2008) permite a importação de etanol processado no Caribe e América Central (mesmo que originário de outras regiões) até o limite de 7% da demanda nos EUA, com isenção da taxa de importação. Desde 2002, o etanol brasileiro passou a dominar esta cota, que antes era suprida por excedentes de etanol de vinho da Europa. Com a RFS, a demanda de etanol nos EUA poderá atingir 19 milhões de m3 em 2012, abrindo espaço para 1,33 milhão de m3 importados, via CBI.

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O Brasil é o maior exportador de etanol anidro para os EUA, em 2003 e 2004 foram exportados 45 e 425 milhões de litros, respectivamente. São volumes pequenos por se tratar de um mercado consumidor de 14 bilhões de litros.

emissões de CO2. Entretanto, parece não ser esta uma opção preferencial, visto os percentuais

modestos de adição de biocombustíveis sugeridos pelas diretrizes48 2003/30/EC e 2003/96/EC.

Em maio de 2003 foi aprovada pelo Parlamento Europeu a diretiva 2003/30/EC que permite a adoção, por parte dos países membros, de leis que garantam um consumo mínimo de 2% de biocombustíveis para transportes até 31 de dezembro de 2005, o que geraria uma demanda potencial aproximada de 4 bilhões de litros por ano. Para dezembro de 2010 está previsto um percentual de 5,75%, e para 2020 o percentual deve chegar a 20% (Petrobrás, 2005; Revista Agroanalisys, 2005).

A evolução do percentual mínimo de biocombustíveis exigido pela diretiva, crescendo 0,75% ao ano, sugere uma política cautelosa, que de tempo para o desenvolvimento de novas tecnologias (e.g., para aumentar o rendimento e baratear os processos de produção) antes da sua adoção em larga escala, principalmente considerando que, com as atuais tecnologias, a Europa seria fortemente deficitária se adotasse um percentual mais robusto, ou seja, o crescimento da demanda deve-se dar a medida em que se aumenta a capacidade de produção (Petrobrás, 2005; Revista Agroanalisys, 2005).

A diretiva 2003/96/EC, que sugere aos países membros a adoção de políticas de redução ou de isenção fiscal para todos os biocombustíveis, foi aprovada em outubro de 2003. A diretiva é parte de programas locais de incentivo ao seu uso, que deverão se estender por seis anos a contar de 1 de janeiro de 2004, podendo ser prorrogados a critério de cada país até 31 de dezembro de 2012.

Segundo Macedo e Nogueira (2005), a intenção clara de proteger os produtores locais pode ser vista nos cenários analisados pela European Commission – (EC) em 2003. Esta visão é

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Atualmente a UE tem sua política com relação a biocombustíveis norteada por duas diretrizes: uma para promoção de biocombustíveis líquidos para transportes e a outra para eliminação das taxas sobre biocombustíveis. A promoção de políticas baseadas nessas diretivas permite metas diferenciadas entre países, mas há consenso sobre os combustíveis a utilizar. Nos prazos propostos, somente etanol, biodiesel e biometano estão em condições de utilização.

complementada pela posição dos produtores agrícolas, que apóiam os programas para biocombustíveis mas não a concorrência com etanol importado:

• Cenário 01: se as barreiras de proteção aos produtores de etanol nos países membros forem quebradas pela ação dos países exportadores na Organização Mundial do Comércio – OMC ou na Comissão Européia, a produção de etanol na UE colapsará e, assim, os países membros ou se voltariam para o biodiesel ou aguardariam desenvolvimentos tecnológicos futuros (e.g., via gaseificação);

• Cenário 02: ainda caso as importações de etanol se tornem expressivas no mercado europeu, os ministros da UE tentarão retornar com as taxas sobre bioetanol para evitar o eventual subsídio de alguns países exportadores.

• Cenário 03: corresponde ao desenvolvimento de um mercado estruturado, com importação de etanol em certas quantidades e vários países membros produzindo localmente. Assim, o mercado de etanol pode ser desenvolvido em competição “limpa” com outros biocombustíveis, e os objetivos políticos poderão ser alcançados.

Incentivados pelos subsídios e por barreiras protecionistas49, vários países membros da UE estão produzindo etanol, a custos elevados e em pequena quantidade, a partir de plantas como a beterraba, ou cereais (principalmente o trigo), ou batata. O etanol produzido pode ser utilizado como aditivo nos combustíveis na sua forma pura, ou como ETBE (uma composição química obtida a partir da reação de 45% de etanol com 55% de isobutileno). No Anexo II, tendo por base

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O custo médio da produção de etanol (e.g., de trigo, de beterra, etc.) na UE é cerca de três vezes maior quando comparado com o custo da produção brasileira através da cana-de-açúcar. Segundo Macedo e Nogueira (2005), é difícil analisar o custo de produção do etanol na UE devido a complexidade dos sistemas de subsídios de naturezas diferentes. Estimativas realizadas para unidades hipotéticas de 50 e 200 Ml/ano de capacidade (2003), na Alemanha, elucidam alguns pontos. As plantas operariam 214 dias/ano, 90 dias (safra) com beterraba e o restante com trigo (64% do etanol viria do trigo e 36% da beterraba). O plantio do trigo e da beterraba foi considerado em áreas disponíveis, não ocupadas com culturas alimentares. Os custos para a planta de 200 Ml /ano (para 50 Ml/ano os custos de produção de etanol seriam cerca de 13% maiores) indicam 0,5068 US$/litro de etanol anidro. Este custo considera créditos por subprodutos (do trigo e da beterraba). Estima-se que seria possível reduzir estes custos em cerca de US$ 0.07/l etanol anidro, atingindo cerca de US$ 0.43/l etanol anidro, com avanços em variedades de insumos, economia de energia nos processos e economias de escala (Macedo e Nogueira, 2005).

um estudo elaborado pela Petrobras (2005), é descrita a situação de cada país da UE no que diz respeito aos biocombustíveis líquidos.