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JC 907 39,72 1262 55,27 114 4,99 2283 99,98 Fonte – Dados da autora.

A IRONIA NOS TEXTOS DE JORNAIS

JC 907 39,72 1262 55,27 114 4,99 2283 99,98 Fonte – Dados da autora.

A partir da Tabela 4, é possível avaliar que O Liberal e Zero Hora não só foram os jornais com maior número de textos, mas também os que apresentaram preferência pela modalidade informativa, vindo em seguida a forma opinativa e, com margem grande de diferença, a modalidade informativo-opinativa. Quanto à Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Commercio, o maior número de textos esteve na modalidade opinativa, seguido pela informativa e, por último, a informativo-opinativa. Neste segundo grupo, a diferença entre eles é que o percentual de textos informativo-opinativo na Folha e em O Globo é muito maior que no Jornal do Commercio.

Os dados permitem sugerir que a estratégia enunciativa da Folha e de O Globo é mais centrada na emissão aberta de opinião, a partir de textos assinados, seja na forma opinativa ou na informativo-opinativa. Caso se desconsiderasse a modalidade informativo-opinativa, repassando seus textos à informativa, esta passaria a ser superior em número de textos, com exceção do Jornal do Commercio, em que os opinativos ainda continuariam mais numerosos. Em O Globo, os opinativos e informativos ficariam praticamente empatados, enquanto em Zero Hora, na Folha e em O Liberal a diferença seria significativa a favor dos informativos.

Os dados da Tabela 4 podem ser reorganizados em ordem percentual decrescente do número de textos, com outra visualização.

Tabela 5 – Percentual decrescente dos textos por modalidade jornalística, nov/2002

Posição Percentual (%) Modalidade Jornal

1º 55,27 opinativa Jornal do Commercio 2º 53,38 informativa O Liberal

3º 49,71 opinativa O Globo

4º 49,18 informativa Zero Hora

5º 45,52 opinativa O Liberal

6º 43,45 opinativa Zero Hora

7º 41,04 opinativa Folha de S. Paulo 8º 39,72 informativa Jornal do Commercio 9º 39,23 informativa Folha de S. Paulo

10º 30,19 informativa O Globo

11º 20,09 inform-opinat O Globo 12º 19,72 inform-opinat Folha de S. Paulo 13º 7,36 inform-opinat Zero Hora 14º 4,99 inform-opinat Jornal do Commercio 15º 1,08 inform-opinat O Liberal Fonte – Dados da autora.

A Tabela 5 possibilita visualizar com maior clareza a ordem de ocorrência dos textos por modalidades. Até o quarto lugar, há uma alternância entre as formas opinativa e informativa; do quinto ao sétimo lugar, apenas a opinativa; do oitavo ao décimo, apenas a informativa; e do décimo primeiro até o décimo quinto, somente a informativo-opinativa, que ocupou apenas as últimas posições. Daí, é possível dizer que há um certo equilíbrio entre as modalidades

informativa e opinativa em volume percentual de textos, com algumas particularidades entre os jornais analisados, enquanto o tipo informativo-opinativo apresenta número bem inferior.

No conjunto, os números não apresentam uma homogeneidade em determinada direção, impossibilitando conclusões mais consensuais a partir do critério estatístico quanto à enunciação dos jornais analisados. Os dados representaram uma certa surpresa, pois a nossa expectativa era que os textos informativos fossem mais numerosos que os opinativos com uma margem maior. Entretanto, dados quantitativos podem ser enganosos, quando se contabiliza de um para um uma nota de algumas linhas e uma reportagem de página inteira. Então, maior número de textos informativos não significa necessariamente maior superfície textual. Do ponto de vista do valor da informação dada, novamente se deve relativizar, pois dependendo da nota e da reportagem, uma determinada nota pode provocar no público até maior discussão que uma reportagem e aí se inverte novamente a balança a favor dos textos opinativos.

Na terceira modalidade, os números de textos são bem diferentes entre os jornais, em que se observa uma proximidade grande entre O Globo e Folha de S. Paulo. Do ponto de vista da enunciação jornalística, o que pode significar um maior ou menor número de textos nessa modalidade? Dois critérios para a definição dessa terceira possibilidade de textos foram a manutenção de uma redação próxima a dos textos informativos e a presença da assinatura pelos jornalistas-enunciadores. A concessão da assinatura de um texto depende do valor da notícia e do status do seu autor como profissional. Em decorrência, a assinatura possibilitaria não só a inserção de avaliações em maior quantidade e de forma mais explícita, mas também uma quebra das formas usuais de redação dos textos informativos, que têm a supremacia do lide. É nas reportagens assinadas, por exemplo, que o enunciador pode se apresentar como testemunha ou participante do evento que narra ou mesmo adotar uma forma mais poética e literária (ver Coimbra, 1993). Se nem todas as reportagens ou notícias assinadas talvez possam ser consideradas como dentro da modalidade informativo-opinativa, da mesma forma o contrário se aplica, pois há textos desses gêneros que seriam claramente incompatíveis com as duas modalidades já clássicas.

A presença ou ausência de reportagens e notícias assinadas, a partir dos critérios listados há pouco, pode indicar a valorização ou desvalorização de uma enunciação centrada em informação com opinião, diferente dos informativos, ainda envolvidos pela aura da imparcialidade. A Folha, por exemplo, já reconhece em seu manual de 1994 que a objetividade não existe no jornalismo, mas a aconselha como ideal a ser buscado. As reportagens e as notícias assinadas podem ser um sintoma dessa reorientação do fazer

jornalístico, que se pode observar de maneira mais significativa nos jornais de maior expressão nacional, como a Folha e O Globo, de maneira intermediária em Zero Hora e no Jornal do Commercio e de forma bastante reduzida em O Liberal.

Como o segundo jornal em volume de textos no corpus analisado, O Liberal apresenta sua enunciação equilibrada entre textos informativos e opinativos e bastante acanhada no que se refere à terceira modalidade. Isso parece revelar uma postura mais tradicional e conservadora a respeito do fazer jornalístico, mas também pode ser algo de outra natureza, como a decisão de não investir publicamente no nome de seus jornalistas, liberando suas assinaturas nos textos. De uma maneira ou de outra, o resultado é o mesmo, em que se vê uma enunciação centrada na prática de dois modelos de jornalismo, o informativo e o opinativo, em que o primeiro teve supremacia no período analisado no estudo.

Poderíamos nos alongar mais tratando das modalidades e dos gêneros jornalísticos, mas esse percurso deve ser interrompido pela impossibilidade de se fazer uma discussão mais amiúde e particularizada sobre o assunto, que não é o foco principal deste estudo. É possível que as modalidades jornalísticas interessem mais aos propósitos deste trabalho que o enfoque nos gêneros separadamente. O levantamento dos gêneros no corpus segue, em linhas gerais, a classificação de Melo (1994), mas também obedeceu aos critérios que norteiam a prática jornalística, o que nos pareceu suficiente no momento, por estarmos tratando da enunciação jornalística. Além disso, faz-se necessário introduzir agora um elemento que motiva a abordagem feita até aqui: a ironia ou o efeito de sentido irônico possível nas enunciações dos jornais impressos a partir das modalidades jornalísticas.

4.3 A ironia de acordo com as modalidades jornalísticas

[No jornalismo, a ironia pode ou deve ser usada] sempre que possível. A realidade brasileira e mundial hoje é surreal. A ironia fina e bem dosada é o instrumento lingüístico adequado para evidenciar tal estado de coisas.

(Repórter pesquisado, há 30 anos no jornalismo)

A partir da análise sobre os cinco jornais que compõem o corpus deste estudo, a proposta foi apresentar, nos tópicos anteriores, alguns dados mais gerais acerca da produção noticiosa dos próprios jornais, assim como dar uma noção da amplitude e diversidade de textos que

foram observados. Neste tópico, o interesse é discutir, ainda com recurso a dados estatísticos, a ocorrência de ironia por modalidade jornalística e assim começar a nos aproximar da discussão que tem como um dos objetivos iniciais “identificar diferenças no uso da ironia pelos jornais investigados, no contexto dos gêneros textuais jornalísticos e dos tipos ou modalidades de jornalismo (ditos opinativo e informativo)”. A título de observação, lembramos que no início do trabalho – e portanto, quando da formulação das hipóteses e dos objetivos - estávamos adotando a existência de duas modalidades jornalísticas, que, após a análise, propusemos ampliar para três, como já explicado em tópico anterior.

Dessa forma, em relação às três modalidades, a ocorrência de um possível efeito de sentido irônico resultou na seguinte configuração entre os jornais observados no corpus:

Tabela 6 – Número total de textos e de textos com ironias por modalidade/jornal, nov./2002 MODALID

JORNALIST

NÚMEROS ABSOLUTOS E PERCENTUAIS DE TEXTOS E DE IRONIAS