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Jigoro Kano e a educação

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4. CAPÍTULO II A integração Oriente-Ocidente: Jigoro Kano, fundamentos

4.2 Jigoro Kano e a educação

“Quando eu era jovem, após me graduar na universidade, pensei em me tornar primeiro-ministro ou milionário, mas achei que nenhuma dessas opções seria satisfatória. Eu conclui que a educação é a única coisa a qual um homem poderia devotar sua vida sem arrependimentos, e assim busquei uma carreira

na área da educação”. (KANO, 2008. p. 120) O forte componente educativo que conhecemos sobre a origem do judô certamente se deu pela grande atividade docente e administrativa em instituições educacionais que assumiu Jigoro Kano em sua carreira.

Além das escolas que fundou no início de sua atuação docente e do 1º cargo como professor de ciências econômicas e políticas no Gakushuin, Kano (apud WATSON 2011, p. 68) nos conta que de março de 1884 a 1887 foi nomeado professor de economia da Escola Agrícola Komaba. Em 1885 foi indicado, com a aprovação do imperador Meiji, para cargo de diretor do Gakushuin.

Kano faz sua 1ª viagem pela Europa de 13 de setembro de 1889 a 16 de janeiro de 1891 para realizar pesquisas educacionais. Ao retornar torna-se conselheiro do Ministério de Educação. Em 1893 é chamado pelo Ministério de Educação com a tarefa de credenciar livros didáticos para as escolas do país e nesse mesmo ano teve que renunciar o cargo de Diretor da Escola Superior de Kukamoto, para atender ao Ministério. Por ocasião desse fato, Kano (apud WATSON 2011, p. 99) afirma: “Por desejar que introduzissem no Japão reformas

educacionais semelhantes às que haviam sido implantadas na Europa, fiquei muito interessado e entusiasmado com a idéia. Depois de muito refletir, decidi

Fukuzawa Yukichi, Tsuda Mamichi e Nishi Amane ambos enviados para estudar em países ocidentais. A Meirokusha publicava diversos artigos sobre temas ligados ao processo democrático e, em 1975 foi suprimida suas publicações por ordem governamental. Mesmo assim a Associação introduziu no Japão muitos aspectos das filosofias de A. Comte, J.S.Mill e H.Spencer marcando a entrada definitiva no positivismo no Japão. (VALLES, 2002, p. 197-198)

renunciar a meu cargo em Kukamoto”. Após a conclusão de seu trabalho de

avaliação e seleção dos livros didáticos é convidado para dirigir o Ginásio Número Um. Neste mesmo período assume o cargo de reitor da Faculdade de Formação de Professores de Tóquio em setembro de 1893. Kano nessa época acumula três atribuições concomitantes: conselheiro do Ministério da Educação, Diretor do Ginásio Número Um e Diretor da Faculdade de Formação de Professores de Tóquio.

Devido à dificuldade de se manter nas três funções, Kano acaba por dedicar-se em tempo integral como diretor da Faculdade de Formação de Professores cargo que ocupou por 3 vezes entre 1893 e 1921.

Kano (apud WATSON, 2011, p. 105) tão logo tem seu método definido, estabelece a relação do judô como processo educativo e seu desejo de torná-lo uma prática por todo o Japão como ele mesmo relata:

Minha ambição era uma expansão sistemática do judô por todo o país. Alguns anos antes, em 1888, eu tinha delineado esses planos para a Associação Imperial de Educação em minha palestra: O valor do judô na educação. Estavam presentes a essa palestra o ministro da Educação Takeyaki Enomoto, e o ministro (representante diplomático) italiano.

Como diretor da Faculdade de Formação de Professores Kano, por volta de 1894, monta um dojô na faculdade, a princípio numa sala improvisada e depois num ginásio denominado Ushokan que serviria para aulas de ginástica e de judô. Nesta mesma instituição organiza um curso especial em 1906, que combinava estudos de humanidades com treinamento de ginástica e, mais tarde, outros cursos que combinavam as disciplinas acadêmicas e o ensino de judô, kendô e outros esportes. O curso de Educação Física vai tomando forma, como Kano (apud WATSON 2011. p. 110-111) relata: “Por isso decidi estender o curso de

Educação Física de três para quatro anos e ampliei o currículo de modo a incluir ética, educação, fisiologia e anatomia, junto com aulas de ginástica, judô, kendô e outras artes”.

Kano (apud WATSON 2011, p. 112) também descreve como deveria ser um instrutor de judô ideal:

É desejável que os instrutores treinem diligentemente para dominar as técnicas de ataque e defesa. Além de mestres hábeis num combate sem armas, os instrutores de judô devem ser habilidosos nas artes de bojutsu45 e kenjutsu46. É igualmente importante que saibam como um homem pode valer-se de uma situação em seu proveito e vencer uma competição e porque o outro é derrotado. Precisam ter um conhecimento detalhado de Educação Física, de método de ensino e entendimento profundo do significado da educação moral. Por fim, o bom instrutor deve saber empregar os princípios do judô extensivamente para ajudar na vida cotidiana e como esses princípios podem ser benéficos para a sociedade em geral.

Nota-se que, na descrição acima, podemos identificar que a formação de um professor de judô ideal, ou, nas palavras de Kano, um educador de primeira

linha, é necessário reunir conhecimentos provenientes da cultura oriental, como as

técnicas de judô, bojutsu e kenjutsu; com as de origem ocidental, como as teorias de educação física e os métodos de ensino. Fica evidenciada a questão da moralidade que se fundamenta em parte no pensamento oriental e, em parte, no ocidental como veremos mais adiante.

Sobre este tema, durante o mandato na Escola de Formação de Professores, Kano (apud WATSON, 2011, p. 152-153)aponta:

Durante meu longo mandato de diretor da Faculdade de Formação de Professores de Tóquio, fui descobrindo cada vez mais a importância de transmitir a educação moral aos jovens. (...) herdamos dos nossos ancestrais e reconhecemos as normas de moralidade características do Japão, noemas essas baseadas em nossa relação com os membros imediatos da família e com os de fora do círculo familiar. Essas normas, observadas e transmitidas de geração a geração, foram fortemente influenciadas pela sabedoria do tradicional confucionismo e do budismo. (...) Nos últimos anos, um número crescente de escritos oriundos de fontes estrangeiras também tem influenciado o pensamento japonês nesse importante aspecto. Grifo nosso.

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A arte de manejar o bastão, conhecida no Japão como Bojutsu, é uma arte presente em muitas outras culturas orientais. No Japão, seu refinamento aconteceu nos períodos Azuchi-Momoyama (1573-1603) e Edo (1603-1868). Kano publicou na Revista "Judô", em abril do ano Showa 10 (1935) a relevância deste tipo de prática associada ao judô. Mais detalhes deste assunto podem ser encontrados em http://www.judo-educazione.it/Judo/bojutsu.html

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Quais seriam essas fontes estrangeiras que influenciavam o pensamento do povo japonês em torno da moralidade? Por que está temática era tão importante para Kano?

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