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Esse anúncio, como tantos outros referentes à marca “A Saúde da mulher”, traz o depoimento da própria consumidora que utilizou o produto e se sentiu satisfeita com os resultados oferecidos pelo medicamento. No caso desse anúncio de 1917, a cliente precisou tomar 8 (oito) vidros do remédio para que este fizesse efeito. Vejamos que para hoje, século XXI, tomar 8 (oito) frascos de um determinado medicamento é um número bastante alto para

29 O primeiro curso de parteiras criado no Brasil foi em 1832 com a implantação nas faculdades de medicina. Até esse período, não havia parteiras diplomadas e as mulheres que atendiam às parturientes recebiam apenas uma documentação legal a qual autorizava a prática da obstetrícia. O ensino formal de Enfermagem só foi instituído no País em 1890. Com a reforma universitária de 1938, as duas profissões, parteiras e enfermeiras-obstetras, foram fundidas (RIESCO, 1998).

Figura 11: Jornal das Moças, 03/09/1936

a cura de uma enfermidade tão simples, porém, tratando-se da década de 1910, a partir da declaração feita pelo anúncio, essa quantidade utilizada pela consumidora representa pouco, uma vez vem que é intensificado pela palavra “apenas” na seguinte frase: “após haver tomado

apenas 8 vidros, me encontro completamente estabelecida”.

Também foi possível observarmos, em vários periódicos, anúncios de festas, eventos, peças de teatro, entre outras formas de entretenimento que faziam parte do cotidiano da alta

sociedade fluminense. Na edição nº 446, de 03 de janeiro de 1923, temos a seção “Sociaes”

que retrata os aniversariantes da semana, os batizados, os nascimentos, as festas e os eventos ocorridos nos clubes. A seção retrata, principalmente, fatos relacionados a pessoas pertencentes à elite carioca.

Na década de 1930, os inúmeros modelos de indumentárias e ocasiões apresentadas nas edições de JM demonstram que as leitoras da revista saíam de casa para se divertir. Também podemos salientar que esse divertimento estava associado somente às mulheres da elite, da alta sociedade carioca. De acordo com Almeida (2008, p.161)

O divertimento não só feminino, mas da sociedade carioca, era o mote da crônica social feita difusamente pela revista, mas especialmente em quatro ou cinco páginas, em papel brilhante e de gramatura mais alta – o que sugere o destaque dos eventos e das pessoas destacadas –, em que se viam mulheres, famílias, grupos de amigos e ou afiliados a clubes sociais – estas últimas instituições, os símbolos de distinção social que substituíram os títulos nobiliários do Império –, passeando, conversando, mas principalmente se divertindo.

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Vejamos que na imagem da direita temos fotos de pessoas, sobretudo mulheres, na praia de Copacabana, se divertindo e demonstrando estar bem felizes. Já na imagem da esquerda, também pertencente à mesma edição de 1936, temos modelos de roupas que devem ser usadas em passeios, como mesmo define a legenda da edição 1107 da revista JM. Além disso, os três modelos de indumentárias apresentam elegantes estilos de chapéu como acessório, sugerindo, assim, o alto poder aquisitivo da elite carioca abordado tanto nas páginas da revista quanto no estilo de vida das suas leitoras.

Outro fator que também nos remete a ideia de camada social referente às leitoras de JM é o fato de as publicações apresentarem partituras de piano em tamanho ideal para que fossem colocadas em suporte próprio para esse fim. Nessa época, início do século XX, ter um instrumento musical como o piano só era possível para pessoas com alto poder aquisitivo (ALMEIDA, 1998). Mesmo com todos esses indícios de que a revista JM destinava-se, sobretudo, às mulheres da elite carioca, não podemos assegurar que as mulheres pertencentes a camadas sociais mais baixas não tivessem acesso às revistas.

Ancorando-nos em Almeida (1998), temos o perfil social traçado para as mulheres leitoras da revista JM, de acordo com uma pesquisa feita pelo IBOPE em 194530.

Quadro 10 - Classes sociais das leitoras do Jornal das Moças (ALMEIDA, 1998, p.162)

Até esse ponto, preocupamo-nos em mostrar somente o perfil das leitoras pretendidas pela revista JM, entretanto não podemos deixar de mencionar que o periódico também remetia a outros leitores. As crianças também estavam inclusas como possíveis consumidores das

30Para Almeida (1998, p.162), “a nomeação das classes sociais é a mesma utilizada pelo IBOPE na pesquisa. O Instituto, no entanto, não indica o que entende por cada uma das classes”.

revistas, uma vez que a seção Cantinho das crianças31 assegura que a revista também era utilizada por outros membros da revista.

Os homens também eram leitores das revistas JM, uma vez que pudemos encontrar anúncios que eram destinados a este tipo de público, como, por exemplo: o tônico “Maratan”,

que apresenta a imagem de um homem forte no anúncio e tem por objetivo combater a “falta

de forças, anemia, pobreza de sangue, digestões difíceis e velhice precoce” (JM, 1918, nº 156); alguns produtos de higiene pessoal que serviam para ambos os sexos, como por

exemplo o sabão “Aristolino”. Os produtos “Azeite vegetal Aso” (tintura que cobria os cabelos brancos), a loção “Flor Brasil” (tônico para controle da calvície) e o medicamento

“Pérolas Titus”(remédio que servia para recuperar as funções sexuais masculinas) apareciam

em anúncios destinados especificamente para os leitores homens da revista JM. Também podemos encontrar na edição 262, de 20 de junho de 1920, do JM a exposição de fotografias de alguns leitores masculinos da revista. Vejamos.

Figura 12: Jornal das Moças, 20/06/1920

Conforme assegura Almeida (1998), a pesquisa IBOPE feita em 1945 confirma que 2,6% dos homens liam a revista JM, demonstrando um resultado surpreendente para os pesquisadores.

Na década de 1950, a mulher ainda deveria se dedicar exclusivamente à casa, ao marido e aos filhos. Assim como afirma Luca (2012, p.450), “é preciso não perder de vista a força das permanências, como evidencia o fato de as mulheres seguirem atadas, ainda no século XXI,

sobretudo, à esfera privada, à domesticidade”. Por isso era comum encontrarmos anúncios que

remetessem à ideia da mulher dona de casa. É o caso do exemplo a seguir.

31 Trata-se de uma pequena seção em que eram colocadas algumas brincadeiras que fossem capazes de distrair e entreter as crianças.

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