• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO I – COMPREENSÃO DO MUNDO DIANTE DA

1.4 APROXIMAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O SER JOVEM

1.4.1 O ser jovem: contextualizações teóricas

Um importante estudioso sobre as teorias da juventude é o autor Isla (2008). O autor explica, no texto: “Juventud: un concepto en

disputa”, que existem três vertentes que abordam a concepção moderna

sobre a juventude: a da pedagogia, a da psicologia e a social. Sendo Rousseau um dos pioneiros dessas vertentes e se destaca a partir da sua obra “Emílio”, publicada em 1762, nesta obra é quando separa a compreensão de criança e adolescente e influenciará diretamente essas concepções (ISLA, 2008).

De acordo com Isla (2008 p. 9-10),

as tres vertientes se desarrollaron prácticamente en caminos paralelos, con algunos intentos por conectarse, pero en su mayoría imprimieron miradas distintas y en ocasiones contrapuestas en la construcción de objeto teórico llamado adolescencia, educación o juventud.

A vertente social, conforme Isla (2008), é a etapa que aborda o jovem como parte da população com características próprias e que se modifica e diversifica no decorrer da história como produto das transformações da sociedade e suas instituições que fazem parte, conforme suas formas organizativas e de expressão social, econômica, cultural e política. O autor aborda as principais correntes teóricas antropológicas e sociológicas que estudam sobre a juventude.

Ao investigar os três principais autores clássicos da sociologia: Marx, Durkheim e Weber, segundo Isla, poucas coisas se dizem

diretamente sobre os jovens. O autor explica, por exemplo, que Marx não escreveu diretamente sobre a juventude, mas,

en la sección tercera del primer tomo sobre la

plusvalía absoluta, concretamente en el capítulo

VIII donde aborda la jornada de trabajo, Marx como usualmente hace, da múltiples ejemplos del sistema de explotación capitalista, particularmente sobre los niños y jóvenes, a quienes se le hacía trabajar en ocasiones casi 36 horas seguidas, o sobre su inicio en la vida productiva a los siete años, o del empleo de la jóvenes a los 13 años en talleres de costura donde además de trabajar, comían y dormían en condiciones insalubres y de hacinamiento; en paralelo, narra las luchas y avances logrados en materia legislativa para disminuir las jornadas laborales de 14 horas diaria a 12 para los jóvenes entre los 13 y 18 años y a ocho horas para el trabajo infantil. En algún momento Marx concluye que estas condiciones sólo generaban que “las horas de descanso se conviertan en horas de ocio forzado, que empujaban al obrero joven a la taberna y a la obrera joven al prostíbulo”.

Otro ámbito donde Marx pudo tocar algunas temáticas juveniles es al referir-se a la educación, pero él fue uno de los adversarios más combativos e incisivos sobre este asunto, planteando que se debería substituir “la ideología de la educación por una teoría de la formación humana”, donde no se separe al niño (joven) del adulto, porque la enseñanza estaría unida al trabajo, produciéndose” (ISLA, 2008, p. 11).

No caso de Weber, a questão sobre jovens é escassa e sem uma postura clara. Entretanto, na perspectiva de Durkheim (1911) entende que

la educación como la acción de los adultos sobre los jóvenes: para que se tenga educación es

menester que exista la presencia de una generación de adultos y una generación de jóvenes, así como también una acción ejercida por

los primeros sobre los segundos. (DURKHEIM apud ISLA, 2008, p. 12).

O debate sociológico sobre a construção teórica da juventude também se encontra em duas correntes principais: a corrente geracional e a corrente classista. A corrente geracional tem caráter que concebe a juventude como uma fase da vida sob o enfoque da socialização. Tal teoria remonta a Auguste Comte, em princípios do século XIX até John Stuart Mill nos finais do século XIX. Explicitamente José Ortega e Gasset publicam, em 1923, o artigo “La ideia de las generaciones”, no qual, segundo Isla (2008, p 17), se explica

[…] que la “generación” es el compromiso más dinámico entre masa e individuo; pueden ser los hombres del más diverso temple y pensar diferente, ser reaccionarios o revolucionarios, pero son individuos de su mismo tiempo.

Outro autor, Karl Mannheim, sociólogo húngaro, também segue essa perspectiva. Em 1928, escreve “Das Problem der Generationen”, que aborda a teoria das gerações, com uma análise nova, devido à sua influência com a teoria marxista e seu racionalismo, que baseava sua teoria em relacionismo que,

su propuesta entonces parte de rechazar el tiempo cronológico como base del concepto generación y plantear el tiempo vivencial, al que se accede mediante múltiples percepciones según los estratos generacionales donde el sujeto este ubicado (ISLA, 2008, p. 18).

Essa concepção define-se como uma análise mais complexa já que considera aspectos para além da idade cronológica e biológica. Sofre críticas porque muitos consideram que a teoria das gerações substitui os conflitos de classes pelo conflito de gerações.

Nos estudos da juventude, também se torna importante considerar o enfoque da perspectiva estrutural-funcionalista, que, em 1942, se destaca por meio das obras de Talcott Parsons. É a partir daí que se fala de “cultura juvenil”, em especial no texto “Age and Sex inthe Social

Structure of the United States”, que conforme Isla (2008, p. 19), neste

[…] la cultura juvenil surge como una acción que se opone al rol adulto, conflicto que tiene su ‘cristalización’ en las relaciones de los jóvenes con las obligaciones del trabajo curricular que exige la escuela.

Seguindo o pensamento de Isla, em 1961, também desponta como um sociólogo da cultura juvenil James S. Coleman, que escreve a obra

“The Adolescent Society”. Na mesma linha de Parsons, estuda a

“cultura juvenil” ou “sociedade adolescente” que, conforme explicita Coleman, vive de forma separada em geral dos adultos mediante pequenas sociedades adolescentes.

Los resultados que obtiene confirman que esta cultura juvenil se ha extendido a todos los jóvenes estudiantes, pero además se ha convertido en un agente de la inserción social de la juventud” (COLEMAN apud ISLA, 2008, p. 20).

Coleman e outros autores da perspectiva em foco desenvolvem o seguinte pensamento: que a falta de influência dos adultos na vida dos jovens resulta na cultura juvenil, que é um reflexo do que acontece na cultura adulta, pois cada vez há menos diferença entre vida adulta e jovem. Nas palavras de Coleman (2008, p. 111):

Nuestra sociedad cambia cada vez más rápido; los adultos no pueden darse el lujo de moldear a sus hijos a su imagen. Los padres son con frecuencia obsoletos en sus habilidades, entrenados para desempeñar empleos que están desapareciendo; por lo tanto, son incapaces de transmitir su conocimiento acumulado. Termina estando “fuera de época” e incapaces de entender, mucho menos inculcar, los estándares de un orden social que ha cambiado desde que eran jóvenes.

Também nessa mesma linha de raciocínio destaca-se Shmel N. Eisenstadt, com seu texto “From Generation to Generation de 1964”. Eisenstadt concentra-se nos períodos das revoltas juvenis da década de 1960, mostrando os enfoques funcionalistas desse momento histórico. Caracteriza a nova cultura juvenil como menos superficial, explica os

movimentos de protestos e mudanças que acontecem no contexto da modernização (ISLA, 2008).

Importante destacar que, no transcorrer desta investigação, enunciaremos algumas compreensões com relação ao jovem e sua vida de trabalhador nos primórdios da Revolução Industrial, mediante a explanação de Engels, que oferece alguns elementos significativos sobre esse momento histórico. Sabemos que a análise a respeito da concepção de classe social é polêmica, porém se faz essencial para entender o pensamento sobre os jovens. Consideramos que a compreensão da juventude, por meio da análise da classe, é um componente necessário, porque permite uma análise dos aspectos de diferenciação juvenil ligada à origem social; as expectativas que tem sobre o mundo, sobre a geração, etc.

Isla (2008) explica que embora Marx não tenha se dedicado a estudar à temática sobre a juventude, outros marxistas, como Lenin, por exemplo, estudaram. Os temas estudados por Lenin enfatizam o jovem e a reprodução social e a necessidade de um alto nível de compreensão que permita a transformação social e a construção da sociedade comunista. Lenin aponta a necessidade da crítica do ensino aos jovens, que instrui os trabalhadores a favorecer os interesses da burguesia.

Entretanto Isla (2008, p. 22) atenta que “la misma centralidad del análisis de clase retardó la atención académica de esta corriente sobre sectores específicos, como las mujeres o los jóvenes, que siempre terminaban subsumidos en su origen de clase”.

De acordo com o Isla (2008), três são os enfoques que se destacam na década de 1970. A ala crítica norte-americana, que apresenta muitos intelectuais que, no período histórico da guerra fria, denunciaram e buscaram analisar e defender os direitos humanos em um movimento pacifista diante da conjuntura da guerra, e perceber como a juventude agia diante desse contexto histórico. Sendo que, Paul Goodman (1960) se destaca – atuou como poeta, filosofo, sociólogo – pioneiro da contracultura e que ficou conhecido principalmente por seu livro “Growing Up Absurd. Problems of youth in the Organized

Society”, sua ideia central é que,

los jóvenes viven una crisis de identidad y una crisis de pertenencia, debido a que hay una contradicción entre el crecimiento individual y el crecimiento de la sociedad; el joven es un exiliado de su propia patria y de sus propias comunidades,

por eso pierde el sentido de continuidad y de historia (GOODMAN apud ISLA, 2008, p. 23).

Nesse mesmo viés, na compreensão crítica da década de 1960, aparece o pensador Bennett Berger (1960) estadunidense, que questiona o foco de transição que se dá ao período juvenil, “ya que en dado caso dicho período puede no transitar a nada y quedarse siendo joven para siempre, ya que algunos de ellos no pueden o no quieren crecer” (BERGER apud ISLA, 2008, p. 24).

E, por fim, Kenneth Keniston, (1971), psicanalista, estuda, com base na psicologia social juvenil, a diferença entre adolescência e juventude. Explicita que juventude não é o mesmo que adaptação de causas, modas, retóricas ou posturas juvenis (KENISTON apud ISLA, 2008).

La cuestión juvenil no sólo es asunto de los jóvenes, sino de los adultos que no quieren dejar de ser también jóvenes. Es una nueva clase de edad que engloba no sólo a los adolescentes, sino la precocidad, ahora incluye a la infancia, además a los adultos mismos, convirtiéndola en “adolescencia permanente (ISLA, 2008, p. 29).

Esse enfoque das repentinas transformações na vida humana, acompanhada pelos avanços em tecnologias e em informação, é uma das problemáticas abordadas constantemente por psicanalistas, que tentam diagnosticar esses movimentos e modificações na vida dos indivíduos, principalmente na vida de adolescentes e jovens.

Destacamos, nessa sequência de autores citados por Isla (2008), outros que fazem parte da referência teórica desta tese: a obra História

dos Jovens, dividida em dois volumes e organizada por Giovanni Levi e

Jean Claude Schmitt (1996), que trata de um conjunto de artigos e ensaios sobre os vários momentos da história da humanidade e a relação com o jovem. O livro História dos jovens permite-nos compreender uma concepção da juventude e o lugar desempenhado pelo jovem no processo histórico pela compreensão de historiadores.

Sobre a questão do jovem e a juventude no Brasil, muitos são os estudiosos que se dedicam à referida temática. Dentre os que podemos citar que tratam sobre as relações histórico-sociais desses jovens, encontram-se: Sposito (1997, 2003, 2010), principalmente o artigo

levantamento sobre a produção do conhecimento sobre jovens e juventude. A autora realiza a análise de dissertações e teses defendidas na Pós-graduação em Educação de 1980 até 1995.

As pesquisas de Foracchi (1972, 1977) tratam do tema a propósito dos jovens, apresentando a realidade dos jovens na década de 1970, entre a luta diária do trabalho e a qualificação da força de trabalho, por meio dos estágios, articulando a empiria com a análise teórica. Sobre a relação entre trabalho e educação, também citamos Pochmann (2000), Künzer (2001, 2008), Frigotto (2008, 2009), Alves (2014), Machado (1982). A pesquisadora Mariléia Maria da Silva (2004, 2012) também apresenta estudos significativos sobre a temática: mercado de trabalho e jovens na perspectiva teórica marxista.

Referenciamos esses autores, pois são centrais quando se trata de analisar a relação entre juventude, trabalho e educação, cada qual com seus aspectos próprios de análise. Importante frisar que não nos deteremos em aprofundar cada perspectiva adotada pelos autores, somente alguns serão citados ao longo desta tese.

CAPÍTULO II – O SER JOVEM: CONTEXTUALIZAÇÃO