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CAPITULO I – COMPREENSÃO DO MUNDO DIANTE DA

1.1 UMA ANÁLISE REFLEXIVA: CONHECIMENTO,

Analisar a realidade social é fundamental para compreender suas contradições e transformá-la. A aproximação para compreender o real deve estar vinculada com o conhecimento teórico e é somente pelo estudo teórico que conseguiremos compreender o fenômeno social para além de sua mera aparência. Segundo Lukács (2010, p. 340) “o conhecimento adequado das séries causais sempre foi e será a base da práxis humana, do conhecimento da realidade que a fundamenta”. Nesse sentido, é essencial o conhecimento do desenvolvimento da complexidade social para uma melhor compreensão da realidade na qual estamos inseridos.

Dessa maneira, torna-se necessário compreender que a configuração da realidade social na sociabilidade capitalista – como todo fenômeno social – corresponde a uma totalidade social. Esta é composta por múltiplas mediações que geram a possibilidade de sua existência; assim, a esfera jurídica, o complexo educativo, a política, entre outras, são imprescindíveis para a regulação e sua reprodução social.

A análise da história tem sido um dos elementos que permitem adquirir subsídios para, em vez de limitar, alargar a ação da classe dominante, quando, por exemplo, adultera e falsifica o entendimento sobre as relações sociais vigentes.

[...] as deturpações desse tipo são a regra quando há riscos realmente elevados, e assim é, particularmente, quando eles são diretamente concernentes à racionalização e à legitimação da ordem social estabelecida como uma “ordem natural” supostamente inalterável.

Na mesma linha de pensamento, Thompson (1981, p. 57) assinala que a história

[...] não é uma fábrica para a manufatura da Grande Teoria, como um concorde do ar global, também não é uma linha de montagem para a produção em série de pequenas teorias [...] seu objetivo é reconstruir, “explicar”, e “compreender” seu objeto: a história real.

Na compreensão desse “objeto real”, o conhecimento que procura desvelar o mundo fantasmagórico e mistificado, de determinadas compreensões, fenomenológicas, positivistas, etc. possibilita a intervenção das ações humanas, “ajuda a conhecer quem somos, por que estamos aqui, que possibilidades humanas se manifestaram, e tudo quanto podemos saber sobre a lógica e as formas de processo social” (THOMPSON, 1981, p. 58). Como afirma Lukács (2013, p. 211),

[...] a conservação dos fatos passados na memória social influencia ininterruptamente todo acontecimento posterior. Isso de modo algum abole a legalidade objetiva do processo, mas certamente a modifica, às vezes até decisivamente.

E, nessa direção, segundo Thompson (1981, p. 58), “qualquer momento histórico é ao mesmo tempo resultado de processos anteriores e um índice da direção de seu fluxo futuro”. Assim, passado e futuro estão em movimento no presente e cabe ao pesquisador estruturar sua análise em direção a uma compreensão profícua da realidade histórico- social. Escreve Marx (2008) que os homens fazem a sua história, mas não a fazem segundo sua vontade, em circunstâncias escolhidas imediatamente dadas e transmitidas pelo passado. “Essas circunstâncias” determinadas nas quais os homens formulam finalidades são as relações e situações humanas mediatizadas pelas coisas. “[...] é a unidade de

forças produtivas, estrutura social e formas de pensamento” (HELLER, 2008, p. 11). Vemos aqui uma ideia que retira qualquer tipo de “sorte fortuita”, já que o sujeito singular está incluído no processo da história.

O conhecimento, no entanto, deve ser um instrumento que permite aos homens desvendar o passado e, na medida dessa compreensão, contribuir na construção de elementos que possibilitem a transformação social no presente. Afirma Thompson (1981, p. 61) que

a explicação histórica não revela como a história deveria ter se processado, mas porque se processou dessa maneira, e não de outra; que o processo não é arbitrário, mas tem sua própria regularidade e racionalidade; que certos tipos de acontecimentos (políticos, econômicos, culturais) relacionam-se, não de qualquer maneira que nos fosse agradável, mas de maneiras particulares e dentro de determinados campos de possibilidades; que certas formações sociais não obedecem a uma “lei”, nem são os “efeitos” de um teorema estrutural estático, mas se caracterizam por determinadas relações e por uma lógica particular de processo.

É fundamental salientar que, para realizar uma análise teórica que possibilite uma compreensão coerente da sociedade contemporânea, seus percalços e avanços, diante do humano, o intelectual necessita ter clara a posição que fundamenta sua teoria. A consistência na escolha do referencial teórico possibilita elaborar questionamentos e uma atitude crítica diante da realidade social a ser analisada, que consinta desnudar a lógica do discurso dominante. E, assim, compreender não apenas o fenômeno social, em sua concreticidade imediata, mas também entender sua essência, seus nexos e suas conexões.

De acordo com Moraes (2007), apreender o complexo, essência e aparência, demanda recursos de um realismo crítico e científico, pois concebe o mundo como uma totalidade estruturada, diferenciada e em mudança. Só compreendemos o mundo social se identificamos as estruturas em funcionamento que geram os eventos, as aparências ou os discursos, sendo essa tarefa primordial do pesquisador. Porque desvelar as dimensões que estão postas nos fenômenos implica, entre outras coisas e por um lado, um aprimoramento o mais adequado possível – a partir da materialidade do mundo externo – dos processos cognitivos que permitem refletir e elaborar aquilo que está fora de nós,

independente de nós, mas que existe porque “existimos”, e por outro lado, esse conhecer orienta os futuros atos de intervenção e transformação da realidade (TORRIGLIA, 2013).

O marxismo torna-se o referencial fundamental; na análise do fenômeno social para além da mera aparência, considera que toda objetividade é histórica como produto e como produtora, o presente é uma transição do passado para o futuro, “só em Marx a história adquire um significado objetivamente mais adequado à realidade, como forma- base fundante de todo o ser” (LUKÁCS, 2010, p. 279). O marxismo é enfático ao afirmar que

[...] em relação ao futuro são os próprios homens que fazem a sua história; que eles mesmos e o sistema de relações em que vivem com seus semelhantes são produtos da sua própria atividade; que todos os conteúdos e formas do futuro resultam e resultarão do concreto vir-a-ser da humanidade, independentemente do fato de que este processo ocorra com verdadeira ou falsa consciência (LUKÁCS, 2009, p. 219-220).

Quanto ao processo de conhecimento do fenômeno social, Duayer (2006) explica que estamos cercados por crenças que contribuem para o entendimento sobre a realidade social. Sendo assim, necessitamos, como pesquisadores, levantar certos questionamentos acerca das crenças. Conforme Duayer (2006, p. 109),

crenças são convicções sobre a realidade ou verdade de qualquer coisa. Mas são convicções que sempre trazem consigo interrogações que nos assediam continuamente. Como emergem as crenças? Por que são cridas? Como distinguir as críveis das incredíveis? As falsas das verdadeiras?

O autor segue com os questionamentos, portanto, é perceptível nesse trecho, um instigar para analisar O quê? O como? e o Por quê? conhecer, pois, para intervir na realidade, o ser humano precisa fazer uma constante leitura da realidade social. O esforço de apropriação do real por meio do pensamento, poderá permitir e fundamentar a compreensão das relações sociais em que o sujeito vive. Esse entendimento sobre questões contemporâneas, que, em alguns casos, foram compreendidas como crenças e que se apresentaram como falsas

ou verdadeiras, críveis ou incredíveis e que, por serem partes da realidade, de algum modo interferem no processo de constituição dessa realidade. Duayer (2006, p. 110) diz que: “[...] é por meio dessa totalidade articulada de crenças, ou sistemas de crenças, que os sujeitos significam o mundo para si, criam para si um espaço de significação”. Isto é, as crenças sobre o mundo têm uma função prática sobre as atividades que os homens exercem no mundo objetivo.

Por sua vez, Moraes (2009, p. 601) afirma que o conhecimento mais aprofundado possibilita concretizar escolhas mais adequadas das ações cotidianas, “somente com o conhecimento dos mecanismos, dos nexos causais, é possível a efetivação da finalidade”. Nesse sentido, alguns questionamentos são necessários quanto à responsabilidade do pesquisador diante da sociedade e a forma de analisar seu objeto de pesquisa. Dependendo de suas escolhas teóricas estaria este intervindo na compreensão da realidade em que está inserido?

1.2 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO NO MODO