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6 DIALOGANDO COM OS DADOS

6.2 JOVENS-ESTUDANTES-TRABALHADORES

Para levantar o perfil do sujeito social da nossa pesquisa, optamos por utilizar dois momentos para a coleta de dados. No primeiro, houve a aplicação de um questionário voltado para todos os estudantes de 2° e 3° anos. Com o questionário, conseguimos levantar o perfil

destes jovens-estudantes que estão cursando o Ensino Médio noturno, e entendemos que esta primeira etapa do levantamento de dados auxiliou na identificação dos sujeitos da pesquisa, por possibilitar um levantamento preciso de informações gerais, levando em conta fatores econômicos e sociais, por exemplo. Diante disso, chegamos aos seguintes dados: foram aplicados no total 217 questionários nas escolas selecionadas, entre as turmas de 2° e 3° anos. Na Escola “A”, foram aplicados 132 questionários. Nesta escola, encontramos três turmas de 2° ano (2°G, 2°H, 2°I), e três turmas de 3° ano (3°D, 3°E, 3°F). Já na Escola “B”, foram aplicados 85 questionários, e encontramos na referida escola duas turmas de 2° ano (2° I e 2°H), e duas turmas de 3° ano (3°G e 3°H).

No segundo momento, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas com os jovens- estudantes-trabalhadores selecionados. O processo de seleção foi configurado da seguinte forma: consideramos a nossa escolha pelas duas séries finais da última etapa de ensino por entendermos que, do meio para o final do Ensino Médio, a inserção no mercado de trabalho é ampliada, e a perspectiva futura destes jovens ganha maior intensidade ao chegarem ao término do Ensino Médio. Na Escola “A”, do total de questionários aplicados, 28% dos estudantes estavam trabalhando; já na Escola “B”, este percentual de jovens-estudantes- trabalhadores subiu para 35%. Outro ponto relevante diz respeito às quatro categorias que constituíram a escolha dos sujeitos sociais desta pesquisa: a) estudantes-trabalhadores; b) renda (de um salário mínimo); c) instrução dos pais (terem Ensino Médio completo); d) idade correspondente à matrícula no Ensino Médio (15 aos 17 anos). Entretanto, esta última categoria foi modificada após nos depararmos com os dados dos questionários, e tivemos que ampliar a faixa etária para assim podermos atingir o maior número de jovens-estudantes- trabalhadores nas entrevistas.

Ao realizarmos o levantamento de dados, o segundo passo se caracterizou em agrupar os sujeitos sociais que estavam aptos a participar da pesquisa. Assim, neste primeiro levantamento, 99 jovens-estudantes-trabalhadores estavam enquadrados em nosso recorte. Entretanto, mudanças no perfil destes jovens foram necessárias para aumentar a participação na pesquisa.

Como apresentado anteriormente na Figura 2, para alcançarmos um maior número de participantes, foi necessário ampliar também a faixa etária dos sujeitos sociais. Inicialmente, a proposta era focar nos jovens de 15 aos 17 anos, contudo, com os dados preliminares obtidos através dos questionários, foi observado que a população estudantil noturna sofreu uma significativa mudança no que diz respeito à sua faixa etária. Diante disso, aumentamos a faixa etária dos estudantes selecionados para que pudéssemos obter um maior número de jovens-

estudantes-trabalhadores participando da nossa pesquisa. Deste modo, iniciamos com 99 jovens-estudantes-trabalhadores selecionados. Em um primeiro recorte de faixa etária, o quantitativo alcançado foi de 18; já com o segundo recorte, ampliando a faixa etária, alcançamos 34 jovens-estudantes-trabalhadores aptos a participarem do segundo levantamento de dados.

Estes números nos ajudam a identificar que a escola do Ensino Médio Noturno não é composta somente por estudantes trabalhadores, ponto perceptível no contato com o campo de pesquisa. Na verdade, o que a nossa pesquisa encontrou corresponde a uma verdadeira amplitude de variáveis buscadas pelos nossos sujeitos sociais, desde a continuidade da sua formação, sua interrupção e retorno, e também a sua volta aos estudos após um longo tempo de abandono.

Isso ajuda a pensar como a escola de ensino médio noturno foi historicamente constituída para o seu público alvo.

Em busca da resposta, somos obrigados a considerar o que Marques (1997) nos lembra: ver no aluno da escola noturna somente o jovem que trabalha inviabiliza qualquer projeto pedagógico que procure responder às suas necessidades – inclusive porque muitos dos jovens que estudam à noite nem sequer estão inseridos no mundo do trabalho; e, entre aqueles que estão inseridos, o índice de desemprego é altíssimo. Assim, parece-nos que o(a) jovem aluno(a) da escola noturna apresenta particularidades que vão além das de um jovem trabalhador. Muitas vezes procuram na escola não só a qualificação ou aprimoramento para o trabalho, mas também (e às vezes apenas) um espaço de sociabilidade e de troca de experiências que ultrapassam as exigências institucionais (COSTA, ZANIN e DALVI, 2010, p. 312).

A colocação dos autores nos ajuda a perceber como o ambiente da escola noturna no Brasil se caracterizou primeiro pela relação entre trabalho e educação, algo que identificamos em nossos dados, e, posteriormente, foi adquirindo outros vínculos diante da crescente demanda de pessoas que começaram a procurar esta etapa do Ensino Médio. Podemos identificar essa escolha através das afirmações disponibilizadas a seguir:

Quadro 5 - Entrada no ensino noturno

Entrevistados Qual o motivo que levou você a estudar no ensino médio noturno?

J-E-T (4) F, 17 Eu trabalho numa empresa de ônibus chamada Borborema. E eu trabalho

quatro horas por dia. Enfim, eu consegui esse emprego e tive a necessidade de estudar à noite. E como eu disse, eu estudava integral e não tinha como conciliar com o emprego.

J-E-T (10) F, 18 Estudar e se esforçar, focar mais nos meus estudos.

J-E-T (6) F, 18 Foi o meu trabalho e o meu filho

a noite. Se não, não daria para eu chegar na escola no horário.

J-E-T (3) M, 18 Foi a minha prima, eu vim para cá porque este ano consegui um estágio com

ela.

J-E-T (1) M, 20 O motivo pelo qual vim estudar à noite foi pela minha necessidade de

trabalhar, para iniciar meus objetivos que antes eu não tinha, e porque a minha família não podia me atender com aquilo que eu precisava verdadeiramente.

J-E-T (18) F, 17 Por causa do meu filho, tenho um filho de três anos.

J-E-T (15) F, 16 Meu filho de um mês.

J-E-T (16) M, 21 Trabalho. Eu estudava de manhã, fazia integral, aí consegui um trabalho aí

não dava para estudar mais de manhã e à tarde, daí tive que vir para a noite mesmo.

J-E-T (11) F, 15 Foi o estágio, Menor Aprendiz que faço, o estágio é à tarde e eu estudo de