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Julgamento com difamação.

No documento A SI MESMO SE ESVAZIOU PARTE 1 (páginas 34-36)

Eis uma questão controvertida que provoca inúmeros males. Controvertida porque temos dificuldade de en- tender o nosso limite. Como conseqüência, podemos causar profundas mágoas e algumas perdas.

Por um lado Jesus disse que não devemos julgar (Mt 7.1-2); mas por outro lado, Jesus e Paulo se referiram muitas vezes a um tipo de julgamento que deve haver na igreja. Aquele que é espiritual deve julgar (1Co 2.15); a igreja deve julgar os que se dizem irmãos, mas demonstra conduta ímpia (1Co 5.11-13); não somente podemos, mas até devemos julgar os falsos irmãos (2 Jo 7.11), discernir os falsos profetas (Mt 7.15) e os falsos apóstolos (Ap 2.2); na igreja deve haver quem julgue os lítigos (1Co 6.3-5); devemos julgar todas as profecias (1Co 14.29) e julgar todas as coisas (1Ts 5.21). Na verdade estamos todo o tempo julgando. É impossível viver sem julgar. Cedo as crianças aprendem a julgar entre seus parentes quais são os que lhe agradam e dos que devem fugir. À medida que vão cres- cendo, aprendem a julgar cada vez melhor.com base neste julgamento escolhem amigos, cônjugue, trabalho e tudo mais.

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Então do que Jesus estava falando quando nos proibiu de julgarmos uns aos outros? É necessário que interpre- temos as suas palavras do contrário ficaremos confusos com os textos bíblicos que nos mandam julgar. Creio que está relacionado com o orgulho. O julgamento que Jesus proibiu é aquele que nos faz presunçosos e chegamos a tomar o lugar que é de Deus. Ele se expressa das seguintes maneiras:

1. Quando julgamos sem ouvir a pessoa que está sendo acusada. Esta forma de julgamento nos faz piores que os ímpios, pois neste mundo a pessoa que é julgada tem o direito de defender-se, e o faz através de um advogado, um profissional que passou anos numa universidade para aprender como fazer a defesa de um acusado. Pois na igreja é muito comum que se julgue sem que a pessoa em questão possa manifestar- se. Quando julgamos assim, estamos nos colocando orgulhosamente no lugar de Deus, pois julgamos co- mo se soubéssemos todas as coisas e não precisássemos ouvir a ninguém.

2. Quando o julgamento é sobre as motivações e o caráter daquele a quem julgamos. Quando Paulo dis- se para julgarmos todas as coisas, estava falando das coisas em si e não das pessoas envolvidas nela (exce- tuando-se nos casos de pecados graves ou de heresias, nos quais já vimos os textos em que as próprias pes- soas devem ser julgadas, para que sejam disciplinadas u para que delas nos afastemos). Mas há muitas coi- sas que temos que julgar. Podemos e devemos julgar aquilo que outros irmãos estão pregando. Podemos até mesmo demonstrar nosso desacordo. Mas a presunção e o orgulho afloram quando somamos a este jul- gamento lícito, um julgamento de caráter e aí concluímos: “Fulano faz assim ou procede desta maneira porque ele é...” E após este “é...” fazemos penosas acusações de caráter. Novamente estamos agindo como se fôssemos o próprio Deus e trazendo sobre nós mesmos o seu juízo.

3. Passamos adiante este juízo que fazemos. Esta atitude presunçosa raramente se detém nas duas manifes- tações anteriores. Se temos a presunção de nos colocar no lugar de Deus e julgar nossos irmãos sem ouvi- los, ou se mesmo ouvido-os chegamos ao ponto de estabelecer um veredicto do tipo (é interesseiro, quer aparecer, quer a primazia, é frouxo, é radical, é proselitista, é isto, é aquilo outro), por certo que vamos considerar como direito e até dever apregoar este veredicto aos quatro ventos. É nessa hora cruel, da difa- mação, que se consuma a presunção de tomarmos o lugar de Deus como legislador e juiz (Tg 4.11-12).

O orgulho de manifestar humildade.

Quem de nós nunca participou de alguma conversa bem humorada, aonde alguém, brincando, disse – eu me orgulho da minha humildade – ou algo parecido com isto? Nessa hora nós nos rimos. Ninguém com um mínimo bom senso falaria isto seriamente.

Mas sem perceber, podemos fazer algo semelhante. Querendo parecer humildes podemos condescender com o que é de Deus. Se alguém, para agradar a outros, pretende ser humilde abrindo mão daquilo que Deus falou, creio que se equivoca. Se desprezarem a nós, devemos aceitar, mas se desprezarem aquilo que Deus nos falou, não devemos condescender.

Creio que só há uma forma de nos livrarmos desse erro: mantermos em nosso coração o firme propósito de agradar a Deus e não aos homens. O Senhor não está buscando simplesmente atos que demonstrem humildade. Ele olha para o nosso coração. O que ele busca é uma atitude como a de seu amado Filho. O esvaziamento, a sincera re- núncia da glória dos homens. E muitas vezes colocará isto a prova para que aprendamos. Muitas vezes exigirá de nós um procedimento que levará os homens a nos julgarem orgulhosos. Então estaremos diante de um dilema. – Obedeço ao Senhor e sou julgado como um orgulhoso pelos demais, ou me calo e sou tido por humilde? Não pense que Deus não o colocará diante desta prova, pois certamente o fará. Ele quer o nosso coração inteiramente para si e vai nos le- var ao despojamento de todo orgulho, inclusive o da fachada de humilde.

Deus exigiu isto dos profetas, dos apóstolos e principalmente de seu Filho Jesus. A maior acusação contra o Senhor Jesus foi de orgulho, por querer fazer-se igual a Deus. E Jesus não tinha o direito, para parecer humilde, de retirar esta afirmação. Assim também Paulo, aos olhos de alguns parecia orgulhoso ao acusar fortemente aos judai- zantes, mas também não tinha o direito de se calar para parecer um humilde conciliador.

Se estas últimas palavras o confundem e você começa a pensar que é muito difícil saber como agir em cada situação, não se aflija. Há uma direção simples e segura. Ame sinceramente ao Senhor e queira agradá-lo acima de tudo. Ele o guiará. E se alegrará.

Mas cuidado! Jamais use este argumento, de querer agradar a Deus, para simplesmente manter sua teimosia e inflexibilidade diante dos irmãos, pois Ele verá isto e não o aprovará.

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O orgulho do “nós”

Em Mc 9.38 vemos João falando com Jesus. Ele dizia: “Mestre, vimos um homem que em teu nome expelia

demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco”. Jesus imediatamente corrigiu aos

discípulos: “Não lho proibais. Quem não é contra nós é por nós”(vs . 39).

Certa vez ouvi de meu pai que os discípulos aqui estavam fundando a primeira seita da história da igreja. A seita do “nós”. É assim até hoje. Perto de minha casa há um templo evangélico que por muitos anos exibiu uma placa assim: “Igreja... a igreja que prega o que a bíblia ensina”. Ou seja, no conceito deles, todos os demais não respeitam a palavra de Deus.

Esta forma infantil de orgulho é uma das mais comuns na igreja. Geralmente é um orgulho grupal e não indi- vidual. É comum encontrar irmãos que influenciados pelo meio em que vivem pensam que estão no único lugar do mundo em que verdadeiramente se conhece a Deus. Em todos os demais não há poder de Deus nem conhecimento das escrituras.

Não creio que sejamos orgulhosos por crermos fielmente naquilo que nos ensinaram no meio cristão em que vivemos. Se nós cremos que o ensino vem da palavra de Deus devemos nos apegar a ele e nunca nos desviar. Mas isto não nos dá direito de nos sentirmos melhores que os outros, nem como grupo, nem como indivíduos. Paulo tinha maior e mais clara revelação do que todos os demais. E lutava bravamente em defesa daquilo que o Senhor lhe havia revelado, mas nunca se considerou pessoalmente superior a ninguém. Pelo contrário, via-se como o principal dos pecadores e como um indigno do apostolado.

Procurei destacar acima algumas das manifestações de orgulho que considero como as mais danosas para a comunhão e edificação da igreja. Mas há muitas outras que não vamos abordar aqui.

CAPÍTULO 8

ORGULHO NO SERVIÇO DA CASA DE DEUS

No documento A SI MESMO SE ESVAZIOU PARTE 1 (páginas 34-36)

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