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A SI MESMO SE ESVAZIOU PARTE 1

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A SI MESMO SE ESVAZIOU MARCOS MORAES 1

A SI MESMO SE ESVAZIOU

PARTE 1

CAPÍTULO 1

CONHECENDO A JESUS

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti,

O único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

Jo 17.3

O que é a vida eterna.

Estas palavras foram ditas pelo próprio Senhor Jesus. Ele está orando diante de seus discípulos. É sua última oração com eles. Seu coração está angustiado com a proximidade da morte ainda encontra forças para amá-los: “amou-os até o fim” (Jo 13.1). Nesta oração ele se refere à vida eterna, e então, como que pensando que os discípulos possam não entender o que isto significa, ele diz: “que te conheçam ti...e a Jesus Cristo...”.

A vida eterna não é uma vida sem fim. Os ímpios terão uma vida sem fim na condenação, mas não terão vida eterna! O que Jesus chamava de vida eterna (no grego – Zoe), é, na verdade, um tipo de vida. É a própria vida divina inserida no homem. E qual é a essência básica desta vida? Jesus está dizendo que é conhecer ao Pai e ao Filho.

Muitos vêm a Deus buscando bênçãos. E Deus, que é infinitamente bondoso e poderoso, as concede. Mas o que Deus mais deseja é dar-se a si mesmo. Ele é a maior benção, que recebemos quando o conhecemos.

Conhecê-lo é a maior e mais bendita aventura desta vida. Aquele que conhece o ama, pois vê nEle a sua maior rique-za.

Como conhecemos a Deus?

Nesta oração Jesus fala sobre conhecer ao Pai e ao Filho. Mas antes ele já havia falado em conversa com seu discípulo Filipe que ao Pai seria conhecido através do Filho, pois o Filho encarnado revela como o Pai é.

“Filipe, há tempo estou convosco e não Me tens conhecido? Quem me vê a mim vê Ao Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?Não

Crês que eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que eu vos digo não as digo Por mim mesmo, mas ao Pai que permanece em

Mim, e faz suas obras”. (Jo 14.9-10).

Esta verdade depois foi salientada pelos apóstolos. O próprio João afirma na introdução de seu evangelho: “Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito

que está no seio do Pai, é quem o revelou”. (Jo 1.18).

Em uma das suas cartas aos coríntios, Paulo faz uma afirmação cheia de profundo significado. “Porque Deus disse: das trevas resplandecerá a luz -”,

Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para Iluminação do conhecimento da glória de Deus na

Face de Cristo”. (2Co 4.6).

A linguagem desse texto é um pouco complicada, mas a revelação contida nele é muito simples: o mesmo Deus que colocou luz nas trevas do universo também colocou luz em nossos corações. Quando ele fez isto, nós co-meçamos a conhecer a sua glória. Mas aonde nós vimos esta glória? Na face de Cristo!

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2 Então:

A vida eterna está em conhecer ao Pai e ao Filho. Nós conhecemos ao Pai na face do Filho. Portanto, a vida eterna está em conhecermos a Jesus.

A questão básica da vida não está em uma religião, ou em uma doutrina, ou em um conceito, mas está em uma pessoa, Jesus. Concordo que precisamos ter um conceito correto sobre a pessoa de Jesus, e a definição deste conceito se tornará uma doutrina. Mas o importante é conhecer Jesus e colocar nossos olhos nele. Necessitamos de um conhe-cimento interior realizado pelo próprio Deus, pois “ele mesmo resplandeceu em nossos corações...”.

A questão básica da vida não está em

Uma religião, ou em uma doutrina, ou

Em um conceito, mas está em uma pessoa,

Jesus.

Recebendo revelação de Cristo

Revelação: palavra não muito bem compreendida. Geralmente quando um irmão fala que teve uma revelação, está se referindo a algum fato, ou alguma verdade que ele desconhecia, mas que agora percebeu, descobriu ou enten-deu. De fato, isto é um tipo de descoberta, mas a obra de Deus em nossos corações se refere a algo mais profundo do que isto. Muitas vezes ocorre quando uma verdade já conhecida em nosso intelecto é iluminada diante de nossos olhos espirituais e passamos a conhecê-la de uma forma pessoal e experimental. O que já conhecíamos mentalmente, agora cremos e experimentamos.

Pedro

Muitas vezes Jesus falou aos discípulos quem ele era, mas eles custaram a entender. Jesus esperava que o Pai lhes abrisse os olhos. Um dia Jesus perguntou: (Mt 16.13-17).

- Quem dizem os homens que eu sou? – e depois – E vocês o que dizem? Pedro então falou – e eu imagino com que sorriso e voz enfática:

- Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Jesus então se alegrou.

- Pedro, tu és bem-aventurado. Tu não aprendeste isto só porque ouviste com teus ouvidos humanos. Não está apenas registrado em teu cérebro. Tu crês nisto, Pedro? Então meu Pai falou contigo! Tu és um felizardo!

Isto é revelação!

O ladrão da cruz

Esta história é bem mais impactante que a anterior. Ela nos traz um claro ensino sobre como Deus atua. Lembremo-nos do ambiente. Jesus tinha declarado: “Esta é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22.53). Deus tirou toda a luz. Todo o ambiente era de cegueira e de pavor. Os discípulos de Jesus estavam confusos e ame-drontados. Pensavam: “O mestre foi derrotado”. Maria, sua mãe, e João, seu mais intimo amigo, não estavam escon-didos como os demais, mas estavam ali diante da cruz, perplexos e confunescon-didos. Onde estavam os amigos de Jesus? Onde estavam os milhares que haviam sido curados e abençoados? Estavam todos desolados. Pensavam: “O sonho acabou”. Era a hora e o poder das trevas. Hora de cegueira total.

Jesus, sozinho na cruz, foi abandonado pelo próprio Pai. Os pecados mais vis da raça impura estavam sendo colocados sobre ele. O Pai que não pode suportar o pecado, se afastou. Ao lado de Jesus apenas duas vozes. Prova-velmente, nas últimas horas de fraqueza física eram as únicas vozes que ele podia ouvir. E o que eles diziam? Os dois blasfemavam. Os dois! Mateus e Marcos registraram isto (Mt 27.44; Mc 15.32)

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Mas eis que o Pai resolve colocar os seus limites. Ele gosta de surpreender. Não quero ser irreverente, mas permito-me especular o que o Pai pensou: “Mesmo na hora e poder das trevas eu vou reinar. Agora eu quero falar e vou falar. Vou mostrar o meu poder. Mandar um recado para meu Filho amado, e mostrar-lhe que eu estou no contro-le”. E então ele falou com um dos dois ladrões, e foi fantástico! Maria não entendia! João não entendia! Pedro e os demais não entendiam! Ninguém entendia. Mas quando o Pai resolveu falar, um miserável ladrão que havia passado sua vida no pecado e na maldade e que acabara de blasfemar contra Jesus; de repente enxergou. E o que ele viu? Viu

um Rei! Ele disse:

- Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.

Quando todos viam um fracassado e derrotado, aquele homem viu um rei! Aleluia! Então imediatamente ele reconheceu seu pecado e maldade (Lc 23.39-41), e se sujeitou a Cristo suplicando salvação (Lc 23.42).

Isto é revelação.

Os efésios.

Em sua carta aos efésios, Paulo diz que estava orando para que eles entendessem algumas coisas: a esperança do seu chamamento, a riqueza da glória da sua herança nos santos e a suprema grandeza do seu poder (Ef 1.18,19). Mas se Paulo queria que os Efésios entendessem estas coisas por que simplesmente não as explicava? Ora certamente Paulo já tinha ensinado todas estas coisas, pois ficou três anos com eles. Já não era mais questão de falar e ouvir, mas sim de que recebessem revelação. Por isso Paulo estava orando. E o que pedia? Pedia: “Espírito de sabedoria, de

revelação e de conhecimento dele, tendo os seus corações iluminados” (Ef 1.17-18).

Isto é revelação.

Conosco é o mesmo

Desde pequeno eu aprendi o Salmo 23. “O Senhor é o meu pastor”. Lindas palavras. Tremenda verdade. Mas por muitos anos elas não me foram muito úteis. Lembro-me nitidamente daquele dia em que estava angustiado comi-go mesmo. Sentia-me totalmente atrapalhado em minha mente e em meu Espírito. Eu estava tão confuso com minas fraquezas que chegara ao limite, não suportava mais. Então não fui orar. Fui clamar. Desesperadamente pedir, buscar e bater. Você não faz isto quando pensa que é espiritual. Faz isto quando descobre que não é nada espiritual. Foi en-tão que eu ouvi aquela voz. Amada e doce voz. Ela não disse que de agora em diante eu seria muito espiritual. Disse-me algo bem simples: “Eu sou o teu pastor”. Lembro-Disse-me que chorei muito. Eu pensava assim: “Mas eu sou uma ove-lha muito boba e atrapaove-lhada”. E eu perguntava: “Mas onde posso ir com um coração tão ruim?” E a voz falava: “Eu sou o pastor do teu coração. Eu vou conduzir teu coração”. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Então pude começar a dizer: “O Senhor é meu pastor”. A palavra já não estava apenas em meu intelecto, estava viva no meu co-ração. E agora podia crer de fato e de verdade.

Isto é revelação.

A manifestação exterior.

Não estou dizendo que toda revelação deve ter características dramáticas, com desespero, com choro, com in-tensa alegria. Se pensarmos dessa forma poderemos errar, buscando apenas emoções. Quando não aprendemos separa alma de espírito confundimos toda experiência emocional com obra do Espírito Santo e isto produz muita confusão. Toda obra que vem do Espírito Santo tem característica de envolver revelações sobre a natureza humana, sobre o pecado,a justiça e o juízo; ou sobre a face de Cristo em quaisquer de suas manifestações e perfeições. Não fico entu-siasmado com manifestações que não são resultados de que Deus falou ao homem. Geralmente elas trazem grande aparência de espiritualidade e parecem conter grande fogo. Mas depois demonstram ser da emoção e para a emoção. Não têm valor eterno.

Não fico entusiasmado com

Manifestações que não são o

O resultado de que Deus falou

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Por outro lado podemos nos perguntar: Pode o homem receber o conhecimento dos céus e ficar impassível? Pode contemplar com os olhos do seu coração a face de Cristo sem que todo seu interior estremeça? Creio que com choro ou sem choro; seja com intensa vibração ou na quietude da devoção silenciosa, a revelação sempre produz forte impacto no homem interior e muda tanto a ele como à sua história.

Antes do pentecoste os discípulos estavam cheios da palavra de Cristo. Contudo, não havia intensa revelação. Por isso, estavam inoperantes e Jesus mandou que esperassem. Após o pentecoste tudo se tornou coerente e cheio de sentido. Então eles saíram a proclamar e a conquistar o mundo. Tiveram clara revelação de Cristo e sua glória. Ama-ram-no como nunca antes. Não ficaram esperando outro pentecoste. Hoje é comum na igreja a busca por novos pen-tecostes. Alguns recebem experiências intensas e saem a propangandeá-las. Mas depois, não vivem com cristo nem tampouco o anunciam. Ficam esperando e propagando o próximo evento onde haverá um novo pentecoste. Falta re-velação. Falta a face de Cristo.

A revelação de Cristo encanta e cativa

Certo dia Jesus começou a colher o que já havia plantado (Mt 4.18-22). Encontrou a Simão Pedro e a André, seu irmão. Os dois estavam pescando. Então Jesus lhes fez um chamamento inusitado. Foi uma verdadeira loucura para o homem natural.

- Vinde após a mim. Sigam-me. - Mas e o barco e as redes Senhor? - Deixem tudo aí.

- E o que nós vamos fazer?

- Vou ensinar a vocês outro tipo de pescaria.

- Como seria isto Senhor? Nós já conhecemos todo tipo de pescaria desta região. E tu és um carpinteiro! Nun-ca te vimos pesNun-cando.

- Já disse que é outro tipo de pescaria. Vou ensinar vocês a pescarem homens.

Penso que eles ficaram perplexos, cheios de interrogações. Mas as escrituras dizem que eles deixaram imedia-tamente as redes e o seguiram. Logo depois Jesus encontra outros dois, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Também eram pescadores e estavam dentro do barco consertando as redes junto com seu Pai. Parece que Jesus gostava de atrapalhar o trabalho do pessoal. Estava começando a abalar a indústria pesqueira da região. Novamente a mesma conversa estranha. Agora em diante do pai deles. Imagino Zebedeu reclamando:

- Mas esta é a empresa de nossa família! Como vou levá-la adiante sem meus filhos?

- Zebedeu, creio que você dará conta sozinho. Vou pedir ao meu pai e ele vai lhe dar forças. Deixa os rapazes decidirem.

Tiago e João se olham com um sorriso e decidem

- Vamos nessa! – Deixaram não apenas o barco, mas também o seu pai. Que loucura!

Anos atrás, quando a princípio estávamos aprendendo sobre o evangelho do reino, ouvimos e meditamos mui-to nessa passagem. Muitas vezes ouvi comentários do tipo: - Que obediência tão imediata! Façamos assim também! Entender estas foi fundamental para nossa carreira com Cristo. Um discípulo é alguém que ouve e obedece.

Nos últimos anos, tendo descoberto um pouco mais da beleza de Cristo, passei a ver nesta passagem algo que não via antes. Ninguém faria o que estes homens fizeram se não tivesse um mínimo de revelação. Muitos não o fize-ram. O jovem rico não o fez, porque não tinha revelação. Mas que revelação eles tinham neste momento? Pouca! Penso que isto é o mais maravilhoso!

Lembremos bem o que conhecemos sobre Cristo hoje e o que estes homens não conheciam e não poderiam saber naquele momento:

 Eles não sabiam que estavam diante do próprio Criador de todo universo.

 Não sabiam de todos os milagres que Jesus iria realizar, dos mortos que ele iria ressuscitar, ou que andaria sobre as águas.

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 Não sabia do impacto quer iria causar à nação.

 Não sabiam da perseguição que iria sofrer.

 Não sabiam que iria morrer cheio de amor por eles. E que esta morte seria a redenção de suas vidas.

 E o que eles poderiam imaginar sobre a sua ressurreição e sobre os quarenta ensinando após ressuscitar?

 Tampouco sabiam que Jesus seria recebido nos céus e teria um nome sobre todo nome!

 E edificaria um novo povo celestial chamado igreja onde os gentios teriam lugar junto a Deus.

 E que viria habitar neste povo e este seria sua casa.

 E derramaria sobre este povo o seu Espírito e poder para conquistar as nações.

 E depois de tudo voltaria para casar com sua noiva e reinar sobre a terra por mil anos.

 E assim habitaria com eles para todo sempre. O que sabiam eles?

Eles não sabiam quase nada do que conhecemos hoje sobre Jesus. No entanto, deixaram tudo e o seguiram! Como é possível? Na verdade, se nos é revelada uma pequena parte daquilo que é a face de Jesus Cristo, isto será suficiente para nos cativar o coração. Eles conheciam pouco sobre Jesus, mas isto foi suficiente. Talvez já tivessem ouvido alguns ensinamentos. Na convivência com Jesus observaram seu cuidado com as pessoas, a majestade de sua calma e paciência. E viram a mais pura sinceridade e honestidade nos seus olhos. E o Pai lhes revelou algo que era bem menos do que conheceriam mais tarde, mas já era o suficiente para que deixassem tudo. Era só um pouquinho, mas era revelação. Revelação da face de Cristo. Quão admirável e amável é este Jesus!

Antigamente, quando eu lia esta passagem ficava muito impressionado com a obediência daqueles homens. Mas agora percebo que muito mais impressionante foi o poder de atração que havia no Senhor e que os cativou. Que homem tão amável é este? Ele é Jesus, o Verbo encarnado. Vale a pena deixar qualquer coisa para andar com ele. E nós que hoje conhecemos muito mais do que os discípulos conheciam naquela ocasião, temos revelação? Estamos impactados? Já brilhou sobre nós a luz do seu rosto? Consideramos a renúncia como um peso incômodo, ou deixa-mos as redes alegremente para segui-lo a pescar homens?

Na verdade, se nos é revelada uma

Pequena parte do que é a face de

Jesus Cristo, isto será suficiente

Para cativar nosso coração.

A revelação de Cristo é crescente

Oséias disse: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor”. (Os 6.3).

Em sua carta aos colossenses Paulo diz que eles deveriam estar: “crescendo no pleno conhecimento do

Se-nhor” (Cl 1.10).

Já vimos que Paulo orava para que os Efésios tivessem mais conhecimento de Cristo. E mais adiante fala que a maturidade viria com o “pleno conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4.13).

Pedro falou sobre o “conhecimento completo daquele que nos chamou...” (2Pe 1.3).

O conhecimento pessoal é dinâmico. Precisa crescer. Em nosso relacionamento matrimonial, a

cada ano que passa vamos conhecendo melhor nosso conjugue. E a cada dia o relacionamento

vai ficando mais íntimo. Sabemos melhor como agradar um ao outro. Conhecemos nossos

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gostos e necessidades. É assim também com respeito a Cristo. A diferença é que com Jesus o

relacionamento é inteiramente espiritual e depende de fatores espirituais.

As chaves para receber a revelação

Estamos convencidos de que precisamos contemplar a face de Cristo. Sabemos que este não é um conheci-mento intelectual, mas vem através da revelação dada pelo Senhor. Como podemos obter mais revelação de Cristo? Nas escrituras vemos que há dois aspectos aparentemente opostos, mas que paradoxalmente andam juntos.

Por um lado a revelação é Soberana. Pedro recebeu revelação, porém Judas não a recebeu. Um ladrão com-preendeu, mas o outro não. Jesus disse que ninguém poderia ir a ele se não fosse concedido pelo Pai. Paulo estava pregando em Filipos para um grupo de mulheres. O Senhor abriu o coração de Lídia para entenderas coisas que Paulo dizia (At 16.14), e não abriu o entendimento de outras pessoas que estavam presentes. Vemos então que Deus é sobe-rano e se revela a quem quer.

Mas então o que podemos fazer? Cruzamos os braços e esperamos? Se Deus quiser se revelar a nós ficaremos gratos, do contrário somos desprezados por Deus e destinados à perdição? Não. Deus não é assim. Deus quer revelar-se a todos os homens. E não o faz por quê?

Sendo pequeninos

Jesus nos dá a primeira chave. Ele ora ao Pai e diz: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque

ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25).

Esta é a chave. Queremos receber revelação? Temos que ser pequeninos. Como é o pequenino? É o contrário do sábio e do entendido, que na linguagem de é o nossos dias é o “sabichão”. Isto não quer dizer que devamos ser ignorantes e iletrados. Não é algo inerente ao intelecto, mas ao coração. Qualquer homem, seja ele culto ou iletrado, pode ser um “sabichão”, se ele confia nas suas próprias opiniões. Este homem nunca poderá aprender nada com Deus. Ele discute com Deus e refuta as escrituras. Por outro lado, qualquer homem, mesmo o mais culto de todos, pode ser um pequenino, se tiver consciência de sua pequenez. Sabe que toda a sua cultura não serve para nada no reino Deus.

Queremos conhecer mais de Cristo? Não há escolha; já está determinado. Temos que ser pequeninos. Do con-trário o Pai não revelará, mas nos esconderá a verdade. Sejamos, portanto, pequeninos. Não saibamos nada diante de Deus, então poderemos conhecê-lo mais. E por que as coisas são assim? Jesus disse: “porque assim foi do teu

agra-do” (Mt 11.26). Se isto foi suficiente para Jesus, também deve ser para nós. Ao invés de especularmos sobre os

de-sígnios de Deus para com as pessoas, devemos repetir: “assim foi do teu agrado”.

Olhando para Jesus

Outra chave nos é dada na carta aos Hebreus. “Olhando firmemente ao autor e consumador da fé” (Hb 12.2). Em nenhum lugar diz para ficarmos olhando para a face do Pai. Queremos conhecer ao Pai? Jesus diz: - Olhem para mim que vocês vão ver como é o Pai. A escritura não diz em nenhum lugar para ficarmos olhando para o Espírito Santo. O Espírito não é o “revelado” é o “revelador”. Ele não ilumina nossos olhos para vermos a ele mesmo, mas para vermos o Filho.

Paulo disse que as coisas que ocorreram com os antigos eram alegóricas (Gl 4.24). Isto é: eram acontecimen-tos reais que tinham um sentido simbólico e espiritual que ia além dos faacontecimen-tos, pois apontavam para verdades que só mais tarde seriam compreendidas.

No Velho Testamento há uma bela figura da trindade em ação. Em Gênesis, no capítulo 24, nós vemos a his-tória do casamento de Isaque com Rebeca, onde Abraão manda o servo Elieser buscar uma noiva para seu filho. Nes-ta história, podemos ver uma tipologia da Trindade atuando com a igreja. Abraão faz o tipo do Pai, que quer uma noiva para o Filho. O Filho, Jesus, é tipificado por Isaque que espera a noiva. E Rebeca é um tipo da igreja, a noiva. Onde está o Espírito Santo? O Espírito Santo é tipificado pelo servo Elieser, que foi buscar e preparar a noiva. Os presentes que são levados por ele, tipificam os dons, os ministérios e a graça concedida. Servem para mostrar a rique-za e a granderique-za do noivo. É interessante observar como o servo Elieser teve cuidado para não chamar atenção sobre si mesmo. Ele queria “encher” os olhos de Rebeca com a riqueza de Isaque.

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Há doutrinas modernas que procuram modificar o lugar do Espírito Santo. Parece muito bíblico e bonito, mas traz o prejuízo de afastar os nossos olhos da pessoa de Cristo. Nunca houve problema nem competição na trindade. Ela é perfeita em seu amor e “humildade divina”. O Pai quer centralizar todas as coisas no Filho e elevá-lo sobre toda criação. O Filho então se humilhou, esvaziou-se e sujeitou-se ao Pai. O Espírito Santo não encarnou, nem se esvaziou ou morreu numa cruz. Por isso, ele só quer exaltar a glória do Filho e iluminar os olhos de todos os homens para que o adorem. Maravilhosa trindade! Necessitamos do Espírito, dependemos do Espírito, sem ele não podemos andar. O Espírito Santo é quem nos comunica a vida de Cristo. É quem nos ilumina e nos consola. Ele quer que olhemos para Jesus. Do contrário ele não pode trabalhar em nossas vidas. Creio que o Espírito Santo nem goste de trabalhar se não for para a glória de Cristo na igreja.

Assim, pois: Sejamos, pequeninos e

Olhemos para Jesus.

A grande alegria

Era ainda o começo das eras. Os anjos haviam sido criados. Quase não se falava sobre as criaturas de barro. Não passava de um projeto. Ninguém tinha visto, nem conseguia imaginar como seriam. Entretanto, os anjos, em suas mais variadas ordens, apenas comentavam entre si sobre a grande alegria e gozo que sentiam por conhecer e Adorar a Deus. Quando não estavam diante do trono adorando e servindo ao criador, quase não conseguiam pensar em nada a não ser no retorno àquele lugar bendito. Deslumbrael e Admirael, em um momento destes se encontram. Admirael inicia a conversa:

- Amado Deslumbrael, como estás brilhando hoje! Não me lembro de que estavas assim da última vez que te vi há dois séculos eternos¹ atrás.

- Ah! Admirael. É que acabo de passar um tempo eterno muito precioso diante do trono. - Hum... Posso entender. Estivestes admirando a sua beleza.

Deslumbrael não diz nada. Fecha os olhos em silêncio e seu rosto parece que brilha mais um pouco. No seu coração ressoam as palavras. Santo! Santo! Santo!

Admirael percebe e espera um pouco para não atrapalhar seu querido amigo. Depois de um pequeno instante que pode ser toda uma eternidade ele fala.

- Eu não era e agora sou. Para vê-lo ele me formou. De olhos me dotou. Oh quão satisfeito estou.

- Lembro-me da primeira vez – diz Deslumbrael. – Creio que foi quando abri meus olhos. Lá estava ele. De alguma maneira eu soube imediatamente que eu vinha dele e era para ele. Foi muita bondade do meu Senhor!

Ao que Admirael responde, pensando na trindade.

- É... Muita bondade! O mais incrível é que ele (s) não precisava (m) ter feito isto. Ele (s) se basta (m)!² Ele (s) não precisava (m) de nós para reconhecer sua beleza e adorá-lo (s), mas mesmo assim nos criou (criaram)!

- Tu és um bem-aventurado Admirael. - Tu és um bem-aventurado Deslumbrael. - Somos felizes.

- Realmente felizes. - Ele é Santo. Ele é belo.

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Eles se olham com pureza. Os olhos de ambos brilham como uma estrela. Suas asas se tocam. Então eles se afastam. Dentro de alguns séculos eternos vão se encontrar novamente. Certamente estarão ainda mais brilhantes, deslumbrados e admirados.

Notas

¹Um século eterno é algo imaginável para a nossa mente acostumada com o tempo. Talvez coubesse em um segundo eterno toda história da humanidade e ao mesmo tempo um século eterno inteiro dentro de um segundo nos-so.

²Aqui há uma linguagem angelical impossível de ser traduzida em qualquer língua humana. Ocorre quando eles se referem ao Deus Triuno, pois ao mesmo tempo o número é singular e plural...

CAPÍTULO2

O CRIADOR E A CRIATURA

“Eu sou o Senhor que faço Todas as coisas”.

Is 44.24

Uma diferença infinita

Se quisermos assimilar melhor o ato da encarnação do Verbo na pessoa de Jesus Cristo e o quanto isto foi al-go espantoso e inexplicável, devemos dedicar algum tempo para meditar na diferença fantástica entre o Criador e sua criatura. Nunca poderemos entender claramente. Só Deus sabe a dimensão disto. Nós, como criaturas, não temos a vivência da grandeza da deidade. Não sabemos o que é ter todo poder e autoridade, toda a ciência, e estar em todo lugar enchendo tudo e todos. Só podemos pensar que a diferença é infinita. É tão imensa que não conseguimos nem imaginá-la. Pensemos um pouco:

1. Deus sempre existiu. Antes da criação do mundo ele era por toda a eternidade. Nossa pequena mente não consegue nem imaginar o que seja isto. “Antes que os montes nascessem e se criassem a terra e o

mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).

2. Deus sabe todas as coisas. Tudo o que já aconteceu, todo ato de cada criatura, qualquer pensamento, bom ou mau, revelado ou oculto aos demais, Deus o sabe. E não somente isto. Ele sabe também todo o futuro. Tudo o que há de acontecer ele o sabe em todos os detalhes.

3. Ele também pode todas as coisas. Não há coisa alguma que seja impossível para Deus. Ele criou o imenso universo do nada. Pense bem. DO NADA! Apenas falou e tudo veio a existir. Um universo ri-quíssimo. Os detalhes são todos uma surpresa e uma revelação da mente exuberante e criativa de Deus. Milhares de milhões de estrela no céu. Animais de tantas e tão belas espécies. Há peixes na pro-fundidade dos mares que homem nenhum viu ainda. Há estrelas que telescópio algum jamais alcançou. O universo microscópio das células compostas de moléculas, formadas por átomos, constituídos de prótons e elétrons, e estes, por fótons de composição ignorada. E toda esta abundância de seres e coi-sas criadas coexiste harmoniosamente, compondo um universo surpreendentemente equilibrado e coe-so. A vida jorra como um milagre contínuo a ponto de ser considerada comum e destituída de admira-ção. Basta olhar com atenção para uma simples abelha e ficaremos novamente surpresos e maravilha-dos. Seis mil anos de ciência humana não foram suficientes para desvendar todos os segredos deste universo. Quando o homem tenta compor suas próprias teorias não consegue produzir algo menos es-túpido do que a macaquice de Darwin. Mas a consciência de cada homem grita que há um Deus nos céus. E quão grandioso ele é!

4. E Deus não é somente eterno, onisciente, onipotente Criador. Ele está presente em todo universo e sus-tenta todas as coisas pela palavra do seu poder. Nele está toda a santidade. Dele emana amor perfeito e inextinguível. Ele é absolutamente justo. Nunca comete um erro de julgamento, nunca equivoca. Cria-tura nenhuma poderá acusá-lo de nada. Ele é a perfeição absoluta. De seu amor fluem paciência e

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ganimidade incomparáveis. Seu perdão é a coroa de sua justiça. Nunca pensou nem projetou nada que não fosse revestido do mais puro e límpido amor.

Pensemos um pouco agora sobre nós, simples criaturas. O que somos? “Que é o homem, que dele te

lem-bres?” (Sl 8.4). Certamente, fomos maravilhosamente formados. Nossos pensamentos são cheios da capacidade

de-dutiva e criativa. Amamos, nos reproduzimos, instruímos nossos filhos, construímos edifícios, aviões, medicamentos e toda espécie de diversão e entretenimento. Todavia, devemos ter cuidado! Porque o primeiro ser que admirou sua própria beleza esqueceu-se de que ela não foi criada por ele mesmo, mas dada por Deus. Então encheu-se de orgulho e soberba, corrompeu-se e perdeu-se para sempre.

Não temos que nos comparar com as demais criaturas. Se quisermos ter uma visão mais clara do nosso lugar de criatura devemos nos comparar ao Criador. Assim descobriremos nosso lugar. Se nos compararmos com um rati-nho, por exemplo, provavelmente vamos achar que somos grande coisa, pois estamos comparando uma criatura supe-rior – homem – com outra infesupe-rior – ratinho. Nosso pensamento vai ser representado por um gráfico mais ou menos assim:

CRIATURA X CRIATURA

O homem O ratinho

Estamos muitíssimo acima dos ratinhos

Mas se colocarmos Deus nesse gráfico, vamos ter um grande problema, pois não haverá papel onde ele caiba. Precisaríamos de uma folha de papel de tamanho infinito. Ficaria mais ou menos assim:

DEUS X CRIATURA DEUS

O homem O ratinho

Deus está infinitamente acima de nós

Você compreendeu? Não haveria onde colocar Deus no gráfico, porque ele ficaria no infinito. Milhões de fo-lhas não seriam suficientes para desenhar este gráfico.

Compreendemos que há duas ordens de seres em todo universo. Uma delas é composta pelas criaturas. Nesse grupo estão os anjos, os homens e os animais de todas as espécies: os peixes, os cachorros, os tatus, os ratos e até os

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insetos e vermes. Todos fazem parte desta ordem de seres inferiores que não vieram a existir nem substituem por si mesmos, foram criados. A outra ordem é composta por três pessoas apenas: O Pai, O Filho e o Espírito Santo. A trin-dade eterna. O Deus criador de tudo que subsiste por si mesmo.

De maneira que, segundo a essência de nosso ser, por termos sido criados à imagem de Deus, estamos bem mais próximos dele do que de um ratinho. Mas segundo a ordem de grandeza estamos mais próximos do rato do que de Deus.

A diferença entre o Criador

E a criatura é infinita

Penso que isto era o que Deus queria comunicar a Israel quando dizia: “não temas, ó vermezinho de Jacó,

po-vozinho de Israel...” (Is 41.14). Em outro lugar diz: “Eis que as nações são consideradas por ele como uma gota de

um balde, e como o pó miúdo das balanças” (Is 40.15).

A reflexão sobre estas palavras leva-nos a admirar ainda mais – compreender nunca – a encarnação do Verbo, a beleza de Belém. Esta é a cidade mais bela da história da humanidade.

A essência da vida

Alguns séculos eternos depois, Admirael e Deslumbrael se encontram novamente. Seus olhos agora já não pa-reciam uma estrela distante. Assemelhavam-se mais a uma explosão, à criação de uma nova estrela. O rosto deles expressava um deslumbramento amadurecido. Séculos de adoração haviam transformado este serviço, que agora já não era apenas deslumbrante e excitante. Era mais do que isto. Era como uma fonte de vida. Admirar ao Deus Triuno já não era questão de prazer e de alegria. Tornou-se a essência de suas vidas.

Deslumbrael diz:

- Amigo Admirael. Vejo que se passou contigo o mesmo que se passou comigo. Vejo em teus olhos a essência da mais profunda admiração.

- Sim, amado Deslumbrael. E vejo nos teus a mais profunda satisfação. - Ó precioso amigo. A Trindade é perfeita! Como eu não estaria satisfeito? - Sim amigo. Ele (s) é (são) perfeito (s).

- Hoje eu não sei o que me dá mais prazer: adorá-lo ou obedecê-lo. Quando ele me ordena fazer algo, eu tenho que sair da sala do trono para cumprir sua ordem. Mas não sei como explicar. Parece que a sala do trono vai junto comigo aonde quer que eu vá. Tenho grande satisfação em obedecer suas ordens. Quando volto com a ordem cum-prida à sala do trono, sinto que a adoração ma dá mais satisfação do que antes! É impressionante, parece que isto não tem mais fim.

- Glória a Deus, o todo poderoso! Disse Admirael. - Glória a Deus em tudo e em todos! Disse Deslumbrael. CAPÍTULO 3

A INSENSATEZ DA CRIATURA

A loucura de pretender se igualar ao Criador!

“Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-se E dizer-te: É este o homem que fazia estremecer

A terra e tremer os reinos?” Is 14.16

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“Inexidade”

Naqueles tempos eternos houve perplexidade geral. Algo inusitado em todas as eras agora acontecera. Os se-res fiéis custavam a crer que de fato aquilo havia ocorrido, pois demonstrava um contra senso, uma quase impossibi-lidade. Depois de tantas eras de adoração como podia acontecer semelhante coisa?

Logo após o comunicado oficial que veio do trono, as notícias correram rapidamente. No pulsar de uma es-trela todos já estavam sabendo, embora muitos continuassem com dificuldade para compreender a razão dos fatos e todas as suas implicações. O que ocorreu foi inédito. Algo dantes nunca conhecido. Não havia palavras para definir estes sentimentos. As línguas dos anjos tiveram que ser acrescidas de novos termos tais como: insensatez, queda ira, desgosto e muitos outros.

Era isto o que Deslumbrael sentia, quando absorto pensava nos últimos acontecimentos. Desgosto. Como aquele querubim pudera ter feito semelhante coisa? Foi quando eterna e instantaneamente apareceu seu amigo Admi-rael que foi logo falando.

- Estás pensando nele também, não?

- Surpreendido, Deslumbrael respondeu – Sim, como todos os demais. - Tu o conheceste pessoalmente? – indagou Admirael.

- Sim. Nunca conversamos, mas pude vê-lo várias vezes quando estive na sala do trono. E tu?

- Também o conheci – respondeu Admirael. Era maravilhosamente belo, mais do que todos nós. Não me re-cordo de uma única vez em que ali estive e que ele não estivesse também.

- E chegaste a falar com ele?

- Sim. Por um breve instante eterno. Na última vez em que o vi, ele já tinha uma aparência estranha. Sua bele-za exterior ainda era a mesma, mas seus olhos pareciam não ter mais o deslumbramento crescente. Tive sentimentos novos que não conhecia. Ele também começou uma conversa estranha comigo sobre um outro reino. Não sei expli-car, mas senti uma necessidade de me afastar dele. Nunca entendi bem isto. Mas agora estou entendendo. Sou feliz por haver me afastado.

Houve um momento de silêncio entre os dois. Estavam perplexos com seus novos sentimentos. Quase não sa-biam o que dizer.

Depois de alguns momentos eternos Admirael quebrou o silêncio. – Que inexidade¹! É esta palavra, não? – disse ele. Ao que Deslumbrael respondeu – É isto. Grande inexidade!

- Mas por que ele sentiu necessidade disto? – perguntou Admirael.

- O Altíssimo disse que foi por algo chamado mentira. O que eu não consigo entender como ele pôde pensar que teria sucesso contra o Todo Poderoso Deus Triuno! Como ele pôde imaginar tal coisa?

- Isto é o que está sendo chamado de loucura – respondeu Admirael. - E houve tantos que creram nesta mentira e abraçaram a loucura! - Sim, na verdade foi um terço de nós todos. Incrível não?

- Sim, incrível! Se é que eu já entendo bem o significado desta nova palavra.

Passou-se mais um século eterno antes que um deles voltasse falar novamente. Foi Admirael quem começou. - Apesar de toda nossa perplexidade nada mudou. O Glorioso segue cada dia mais belo e maravilhoso aos nossos olhos.

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- Sim – respondeu Deslumbrael – como glorificou ele a sua majestade fulminando os inimigos! O querubim perdido agora se chama Satanás. É a mais feia e abominável de todas as criaturas e juntamente com ele os seus segui-dores. Foram destituídos e aniquilados. Novas palavras tiveram que ser criadas para expressar toda a desventura de-les.

- Mas para o Altíssimo tudo continua como antes.

- Sim. Com exceção de uma coisa. Ele começou a falar muito sobre a raça de barro. Parece que o projeto já está em pleno andamento. Os que estão mais próximos do trono dizem que nunca o viram tão grandiosamente feliz. A felicidade dele é sempre infinita. Ele não precisa de nada mais. Porém, este projeto tornou-se o centro de todas as suas atividades. Observe como o Altíssimo tem planos que excedem nosso entendimento!

- Ele é santo. Ele é belo.

- Ele é santo – repete Deslumbrael. – Ele é santo e magnificamente belo. - Glória a Deus o todo poderoso! Disse Admirael.

- Glória a Deus em tudo e em todos! Afirmou Deslumbrael.

Neste momento eles são surpreendidos com a chamada. É o seu bendito turno de adoração. Pela primeira vez vão estar juntos na sala do trono. Suas asas se elevam. Partem em direção à glória excelsa, o trono de seu bendito Criador, o Deus Triuno. Seus olhos brilham ainda mais. No seu coração ressoa potentemente: Santo! Santo! Santo!

Notas

¹ Inexidade – Como os anjos estavam se adaptando a novas palavras que surgiram no seu vocabulário, esta-vam usando esta para qual não temos uma boa tradução. Inexidade significa uma coisa para qual nunca poderá haver uma explicação completa.

A estupidez do belo querubim

Estupidez. Palavra grosseira. Mas que expressa bem tudo o que aconteceu com o querubim. Isto pode ser ob-servado na leitura dos textos a seguir:

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as

nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.”

Isaías 14.12-15

“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jar-dim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito era nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou ini-qüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lança-rei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Ele-vou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por lancei-terra, dianlancei-te dos reis lancei-te pus, para que lancei-te conlancei-templem. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do lancei-teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; vens a ser objeto de espanto e jamais subsistirás..” Ezequiel 28.11-19.

A quem se referem às Escrituras nestas passagens? A princípio parece ser a um homem, porque cita o rei de Tiro (Ez 28.12). Mas logo nos damos conta de que está se referindo a um ser espiritual, pois “estava no Éden” (vs.13) e era o “querubim da guarda”. Era, portanto, um ser celestial. Vejamos o que diz sobre ele:

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A riqueza e esplendor de Lúcifer

Ele era um ser belíssimo e majestoso entre as criaturas:

 Estava no Éden (vs.13) – dá entender que foi criado antes do homem;

 Os ornamentos foram preparados no dia em que ele foi criado (vs.13) – isto significa que tais ornamentos vieram existir por causa da criação deste ser;

 Era o querubim da guarda (vs.14) – isto fala de sua autoridade;

 Ungido (vs.14) – refere-se ao poder que lhe foi outorgado;

 Te estabeleci (vs.14) – não tinha apenas autoridade e unção. Recebeu também um posto. Um alto lugar na hierarquia celestial;

 Permanecia no monte santo de Deus (vs.14) – tinha livre acesso a Deus e estava sempre em sua presença;

 Andava no brilho das pedras (vs.14) – destaca a aparência que ele tinha. Era luminoso, brilhante, lindo, destacava-se entre todos;

 Perfeito eras (vs.15) – sendo que Deus atribui imperfeições aos anjos (Jó 4.18). Mas não encontrava im-perfeições neste querubim!

É difícil imaginar tudo o que isto significava. Ele estava sempre diante de Deus, o que fazia dele um assistente e participante muito ativo nos projetos e no governo de Deus sobre a sua criação. O respeito demonstrado pelo arcanjo Miguel (Jd.9) indica que este havia estado sob autoridade antes de sua queda. Grande formosura e po-der tinha este ser celestial.

A vaidade de Lúcifer.

Os olhos. Sempre os olhos. O querubim, assim como todos os demais seres celestiais, tinha olhos para ver a Deus, ser plenamente satisfeito em contemplar sua glória e encher-se de gozo ao bendizê-lo. Entretanto, em determi-nado momento, o querubim colocou seus olhos no lugar errado. Colocou-os em si mesmo.

Neste momento, ele começou a apreciar sua própria formosura e resplendor (vs.17), passou a considerar-se digno de reconhecimento, esquecendo-se de que aquela beleza tinha sido dada por Deus quando o criou. Ele não ha-via criado a si mesmo, portanto não tinha nenhum mérito em ser tão belo. Toda sua beleza era expressão do poder criador e da bondade de Deus. Como a vaidade é ridícula!

A corrupção da Sabedoria de Lúcifer.

Esta corrupção da sabedoria é que estamos chamando de insensatez. Lúcifer era cheio de sabedoria dada por Deus, mas no momento em que começou a envaidecer-se, sua sabedoria foi corrompida, pervertida e degenerada. Então ele tornou-se um inconseqüente, um louco, perdendo toda a sensatez.

O absurdo da vaidade nunca é parcial. Quando ela entra corrompe todos os pensamentos e destrói qualquer indício de juízo. O querubim começou com vaidade e prosseguiu com total cegueira a respeito de Deus. Em algum momento ele começou a duvidar da bondade e da justiça de Deus pensando mais ou menos assim: “Não é justo que Deus receba todas as honras e tenha o controle de tudo. Eu também tenho muita beleza para ser reconhecida e muita autoridade que deve ser atacada. Deus está equivocado. Ele é muito centralizador. Ele quer mandar, mandar e man-dar. Quer receber glória e adoração a todo tempo. E nós, pobres criaturas só temos que obedecer, obedecer e obede-cer. E entregar-lhe toda a honra e reconhecimento por tudo. Isto não é justo!”

Neste momento, a sabedoria do querubim já estava completamente destruída. Não havia mais o mínimo equi-líbrio. Se ele meditasse um segundo apenas sobre a infinita diferença entre o Criador Eterno e a criatura, talvez tives-se escapado do próprio laço. Mas não. Ele persistiu, acreditou nos tives-seus próprios pensamentos e nestives-se momento trou-xe à existência a única coisa que foi criada por ele. Algo que até então não existia em toda criação. Ele criou a

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menti-A SI MESMO SE ESVmenti-AZIOU MARCOS MORAES

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ra. Sua mais estimada filha que tomou conta do seu coração. Ele foi a primeira vitima de sua criação. Todos estes pensamentos equivocados a respeito da justiça e da bondade de Deus passaram a reinar em seu coração iníquo e vie-ram a tornar-se sua bandeira e seu estandarte. Tornou-se conhecido como pai da mentira (Jo 8.44).

A loucura de Lúcifer posta em ação.

Já afirmamos que a vaidade nunca é parcial. Ela leva à completa loucura. Toma conta da criatura e a leva aos atos mais inimagináveis. Pois foi assim com o querubim. Tanto ele creu que podia se igualar ao Criador que resolveu desafia-lo. O texto de Isaías 14 nos mostra que:

 Quis estar acima das estrelas de Deus (vs.13).

 Ambicionou um trono (vs.13).

 Desejou ser semelhante ao altíssimo (vs. 14).

A partir daí ele se tornou Satanás que quer dizer “O inimigo”. Então começou a agir. Saiu a fazer comércio in-justo e violento (Ez 28.16, 18). O que significa isto? Certamente Satanás usou seu poder, influência e dons pa-ra seduzir os anjos e demais seres celestiais. Ofereceu-lhes cargos e posições superiores aos que eles tinham no reino de Deus. Estava agora criando o reino das trevas. E Deus considerou que Satanás agira com violência e injustiça contra a soberania divina.

A insensatez é demonstrada como absurda.

A insensatez é absurda, inconseqüente e risível. Lembre-se: A DIFERENÇA ENTRE O CRIADOR E A CRIATURA É INFINITA. Como pode a criação competir com o Criador? Que loucura! O que Deus faz quando vê a criatura querendo enfrentá-lo? Ele se ri e se ira! Leia o Salmo 2.1-5 e aprenda a rir-se com Deus desta vã imaginação. Imagine a seguinte situação: Você entra em sua casa com sua mulher e filhos e encontra um presunçoso rato sentado na poltrona da sala que olha para você e diz: “A partir de hoje vou governar sua casa junto com você. E que-ro todo o respeito e reconhecimento da parte de sua mulher e de seus filhos”. Seria uma loucura! Imediatamente você procuraria uma vassoura para encerrar de vez com esta história. Se não a encontrasse, um simples chute poderia aca-bar com o problema.

O que Deus fez? Ele “varreu” a Satanás de sua posição e o lançou por terra (Ez 28.17), o destinou ao abismo (Is 14.15), o consumiu com fogo e o reduziu a cinzas (Ez 28.18). Satanás então passou a ser criatura mais horrível e asquerosa de todo o universo. Tornou-se imundo e repulsivo.

Seria muito mais fácil e possível, um pequeno rato tornar-se governante de sua casa do que qualquer criatura enfrentar a Deus. Pois a diferença entre uma criatura superior como um homem e uma inferior como um rato pode ser enorme, mas a diferença entre o Criador e a criatura é muitíssimo maior. Como já vimos, é infinita.

Seria mais fácil um rato tornar-se o

Governador de sua casa do que qualquer

Criatura poder competir com Deus.

A insensatez de Adão

Ó se a loucura tivesse alcançado apenas os anjos! Mas não foi assim. Deus é livre e desejou uma família de muitos filhos à sua imagem, e por isso, também livres. O amor não pode ser obrigatório. Não pode ser a única opção. Deve ser uma escolha consciente, caso contrário não é amor. Que marido lúcido teria alegria em uma esposa que se casou com ele porque não tinha outra opção? Ele quer ser escolhido e amado. Assim é Deus. Ele quis que Adão op-tasse: a árvore da vida – que significava viver constantemente dependendo de Deus – ou a árvore do conhecimento do bem e do mal, que significava viver por si e para si próprio.

Adão era feliz, encontrava-se com Deus todos os dias, aprendia com ele e pouco a pouco poderia conhecê-lo melhor. Certamente chegaria o dia em Adão poderia ver a Deus em toda a sua glória e esplendor. Mas antes deveria

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passar pela grande escolha: árvore da vida, que dá vida abundante em uma eterna dependência, ou a árvore do conhe-cimento do bem e do mal que dá para morte por meio da independência.

A semente de Lúcifer

Ao ler Gênesis 3 podemos entender verdades importantes referentes a desobediência e morte espiritual de nossos pais. E compreender a rebelião como essência do pecado. Com esta clareza, chegaremos mais facilmente ao real significado do arrependimento anunciado por Jesus e pelos apóstolos, pois esta é a condição proposta a todos que querem fazer parte do reino de Deus. Que façam o oposto do que fez Adão. Ele era dependente de Deus e se tornou independente. Quem quiser fazer o caminho de volta precisa crer em Jesus, arrepender-se, negar-se a si mesmo, abandonando sua independência.

Isto já está bem claro, tanto no referido livro “Jesus Cristo é o Senhor”, como também em muitos estudos e publicações que se multiplicam pela igreja em todo lugar nos últimos 30 anos. Quero enfocar apenas um aspecto, um importante detalhe do relato de Gênesis 3, a afirmação de Satanás: “como Deus sereis...”.

Esta havia sido sua mentira, loucura e insensatez: propor a Adão e Eva serem como Deus. Ainda que fosse apenas em um aspecto – ser como Deus em conhecer o bem e o mal – esta era proposta. E ela foi aceita por nossos pais. Eles acreditaram na mentira e tornaram-se parte da loucura deste século. Qual é a loucura? A de não perceber que:

A diferença entre o Criador e

A criatura é infinita.

Já sabemos o resultado. A corrupção e a degradação que havia em Satanás passaram também ao homem. Este se tornou malévolo e homicida. Toda a descendência de Adão agora estava também contaminada. Ao invés de encher a terra com filhos e filhas à imagem de Deus, Adão gerou homens à sua própria imagem corrompida, e temos em Gênesis o relato de uma raça degenerada e imunda que entristeceu e desfaleceu o coração do Deus Santo e cheio de glória. O relato de Gn 6.5-6 nos dá uma idéia do que se passou em seu coração amoroso e santo. – Me arrependo – disse Deus.

Qual se tornou a marca dessas criaturas? Elas passaram a ser idênticas ao querubim caído. O que ele queria? Governo, reconhecimento e glória. Esta podridão morta que impera no anjo insano passou agora para dentro dos ho-mens e estranhou-se em sua carne. Eles amam a posição, o reconhecimento e a glória que pertencem unicamente a Deus. Tornaram-se raça louca e leviana (Dt 32.5-6; Is 1.2-6).

Os que já foram libertos da cegueira sabem que a história não termina assim. Antes dos tempos eternos tudo já havia sido planejado (Ef 1.3-5; Ap 13.8). Não vamos rever toda a história, apenas o fundamental. Precisamos enten-der onde está o remédio para tanta loucura. Antes, fantasiemos um pouco mais.

Os homens querem liberdade para

Governar suas vidas e amam a

Posição, reconhecimento e a glória que

Pertencem unicamente a Deus.

O dia da grande tristeza

Eles tornaram-se amigos muito íntimos. O Todo – Poderoso seguidamente lhes atribuía tarefas para cumpri-rem juntos. E estavam juntos no dia eterno que ficou conhecido como “O dia da grande tristeza do Altíssimo”. Foi um abalo muito maior do que o anterior. Não que tenha surpreendido ao Altíssimo. A verdade é que o problema já era esperado e toda a solução já estava planejada, mas mesmo assim os céus inteiros puderam sentir o que acont eceu com o seu glorioso Senhor.

- Alguns serafins estão dizendo que viram lágrimas descendo pelas escadarias do trono – disse Deslumbrael. - Sim – respondeu Admirael. Naquele dia não ficamos conhecendo o significado da palavra tristeza?

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- Isso mesmo confirmou Deslumbrael – Como poderíamos estar alegres se o nosso glorioso Criador estava triste?

- É espantoso como O Glorioso se importa com eles, não? A reação dele foi tão diferente daquele dia da rebe-lião do anjo enlouquecido! Os mais chegados ao trono dizem que emana dali algo que está sendo chamado de “ini-gualável amor”. O que será que significa isto?

Deslumbrael então mudou um pouco o assunto – Conheceste alguém que viu os de barro? – perguntou.

- Sim. Falei com alguns serafins. Disseram-me algumas coisas estranhas. Falaram que os de barro parecem muito inferiores a nós. Estão presos num lugar chamado terra e de lá não podem sair. Não têm asas, não voam e não têm nenhuma de nossas capacidades e dons. Precisam constantemente alimentar-se de alguns elementos de sua pró-pria terra, e algumas vezes fecham os olhos e ficam horas deitados sem fazer nada. Parece que precisam disto, do contrário ficam muito fracos.

- Eu também encontrei um querubim que esteve por lá. Ele agora é o encarregado de guardar o lugar de onde eles foram expulsos.

- Sim? E o que ele falou?

- Disse-me algumas coisas sobre algumas promessas que foram feitas pelo Altíssimo referindo-se a um dos descendentes das criaturas de barro. Diz ele que é algo que ninguém em lugar nenhum conseguiu até agora compre-ender, pois é um mistério que só vai ser revelado no devido momento.

- Também ouvi dos serafins algumas coisas semelhantes. Disseram que a partir de agora tudo o que acontece-rá com os de barro e com o referido descendente seacontece-rá um espetáculo¹ para todos nós. Dizem ainda que haveacontece-rá surpre-sas grandiosurpre-sas, duas grandes festas, e muitas outras festas menores², em cada uma delas veremos o Altíssimo cheio de alegria e vamos nos alegar com ele. O que será tudo isto?

- Ainda não sabemos, mas certamente surgirá ainda maior beleza no Grandioso Triuno. Não é sempre assim? - É confirmou Admirael. É sempre assim, para glória de nosso poderoso Deus Triuno, e para o deleite de to-dos nós que temos olhos para vê-lo. O Altíssimo e Santo Senhor será ainda mais glorificado.

Deslumbrael e Admirael começaram a dançar. Primeiro lentamente, num compasso suave, pouco a pouco com maior vibração. A cadência celestial cheia de música e de intensidade da mais pura adoração. Mesmo não estan-do na sala estan-do trono seus olhos brilhavam intensamente. Em seu interior cantavam, não, bradavam. E quase toestan-dos os seres podiam ouvir. Santo! Santo! Santo!... Santo! Santo! Santo!

Notas

¹ Esta parte do diálogo esta respaldada em Ef 3.10-11 e Co 4.9

² Estas duas festas referem-se à exaltação de Cristo e às bodas do Cordeiro. E as festas menores ao regozijo entre os anjos por todo pecador que se arrepende.

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17 CAPÍTULO 4

A GRANDE SURPRESA DO UNIVERSO

O esvaziamento infinito

“Porque um menino nos nasceu, Um filho se nos deu”

Is 9.6

Os de Barro

Há muito que o principal assunto entre todos era os de barro. Deslumbrael e Admirael estavam naquele mes-mo mes-momento eterno trocando idéias sobre a história deles. Ainda era muito difícil entender o conjunto dos fatos. Na verdade, a raça era toda muito rebelde. Nenhum dos seres celestiais podia compreender por que o Altíssimo não con-sumia com fogo todo aquele lugar e seus habitantes. Era notícia a diferença entre o juízo que houvera para com o querubim louco e seus seguidores, e o que agora vinha sobre os de barro.

Admirael falava:

- Algumas vezes o Juiz Excelso parece que se ira ao extremo e consome os rebeldes com fogo, mas isto é muito raro.

- Mas lembra-te do dilúvio, Admirael? Quase toda a raça foi exterminada!

- Sim, mesmo assim ele poupou alguns. Há algo a este respeito que está acima do meu entendimento. Deus nunca desiste deles!

- Isto é realmente novo – disse Deslumbrael. – Alguns deles até dizem querer servi-lo, mas nunca obedecem completamente. Numa hora obedecem e noutra não. São seres realmente muito estranhos. Até agora não houve nin-guém que entendesse bem a razão deste tratamento dado por Deus.

- Creio que comecei a perceber alguma coisa no dia da prova de Abraão, o pai da raça especial que até agora é chamada de Israel. Talvez eu pudesse ter entendido melhor se soubesse o que é ter um filho. Os de barro dão grande valor a isto.

- É verdade, pois temos observado que um filho é muito capaz de mudar muito o comportamento deles. Aprendem até mesmo a exercer alguns atos de bondade e generosidade que nunca tinham feito antes, pois gostam mais dos filhos do que de qualquer outra pessoa.

- Pois foi isso mesmo que me fez pensar. – explicou Admirael. – Ouviste sobre o quanto o Grandioso Triuno se alegrou naquele dia?

- Sim, todos souberam disto.

- Ocorre que este Abraão nem sempre foi tão obediente assim. Nasceu numa casa que tinha muitos ídolos. Demorava a entender bem as ordens, mentiu a respeito de sua esposa, e quando pensou que Deus estava demorando a fazer as coisas, inventou uma solução! Com isso ele conseguiu um grande problema para ele mesmo, pois ficou sem saber o que fazer com o seu primeiro filho que era da escrava.

- É isto que me espanta. Que o Altíssimo aceite alguém assim! Alguém que inventa as próprias ordens que vai obedecer!

- Veja, Deslumbrael. Este Abraão não foi rebelde em tudo. Veja o grande sacrifício que foi para ele, se dispor a obedecer à ordem do Senhor, quando mandou que oferecesse seu próprio filho!

- Pensar nisto só me deixa perplexo! Tenho cada vez menos respostas e mais perguntas! Como um desobedi-ente pode obedecer com sacrifício? Como um obedidesobedi-ente pode desobedecer? Mas o que mais me surpreende é como o Altíssimo gosta deles, e como se contenta com apenas um pouco de obediência, misturada com desobediência. Será

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que ele vai aceitar que eles fiquem aprendendo a obedecer pouco a pouco? Eles morrem sem nunca aprender a ser totalmente obedientes e adoradores!

- Começo a pensar – disse Admirael, que O Grandioso Criador não está satisfeito com isto. Certamente, ele tem um plano maior. Se não aceitou a desobediência do querubim, não vai aceitar a de ninguém.

- Mas como será isto? Já se passaram 4 mil anos terrenos e nunca surgiu até agora um único de barro que fos-se totalmente obediente como nós e fos-sem nenhum resquício da vaidade e do orgulho. Eles surgem no mundo dessa forma e mesmo vivendo 120 anos, nunca aprendem completamente.

- Estes são os fatos, Deslumbrael. Estes são os fatos. Mas tenho uma inexplicável certeza de que algo vai acontecer e estas coisas vão mudar. As coisas não vão permanecer assim.

- Como você pode ter tanta certeza disto Admirael? Milhares já nasceram e todos são inúteis. Os melhores en-tre eles não poderiam viver um só segundo aqui no céu. O Altíssimo nunca permitirá. Como você tem esta certeza?

- Não te lembras de que ele falou de um descendente?

- Sim, mas já nasceram milhares deles e todos foram iguais. Mesmo os mais tementes praticam muitos atos de desobediência. Acredito que sempre serão assim. Por que pensas diferente?

- É por causa dele, meu amigo. Por causa dele. Ele nunca fez nada errado. Esta raça de barro não pode ser um engano. Ele gosta demasiado dela. Ele a ama – e até hoje nenhum de nós entendeu nem como nem por quê. Mas eu sei que algo grande há de acontecer. Algo grande há de acontecer.

- Por fim Deslumbrael assentiu – É verdade Admirael. É verdade. Tenho muitas interrogações e muitas sur-presas, mas nenhuma dúvida, nenhum questionamento. Seja como for, aconteça algo ou não, tenho absoluta certeza de que o Altíssimo nunca fará nada contra sua própria santidade.

Tudo o que foi escrito até aqui visa ajudar nossa mente limitada a meditar um pouco mais na grandeza do que foi a encarnação do Verbo. Vamos revisar resumidamente:

1. A diferença entre o Criador e a criatura é infinita.

2. O querubim perfeito olhou para si mesmo e se envaideceu.

3. Em seu coração criou-se a mentira – tanto a respeito do caráter de Deus como a respeito de si mesmo. 4. Sua sabedoria, corrompeu-se totalmente e ele então passou a considerar a rebelião e a instituição de

um novo reino uma coisa justa e possível.

5. A partir daí ele consumou sua loucura, barganhou com os anjos e foi violento contra o Senhor.

6. Deus criou para si mesmo uma nova raça, o homem, à sua imagem, para formar uma família que se deleitasse nele e o glorificasse.

7. Satanás então comercializava seu próprio homem seduzindo-o com sua mentira e levando-o a partici-par da sua loucura. Isto levou o homem à morte.

Querido leitor, você está convencido de que a diferença entre o Criador e a criatura é infinita? Vê com clareza que o Criador é Deus excelso, infinito, incomparável, indizível, inexplicável, grandioso a um ponto tal que nossas mentes não podem compreendê-lo? Percebe que ele é o único digno de Glória honra e poder, pois criou todas as coi-sas e todos seres que existem, e criatura nenhuma tem absolutamente nenhum mérito por aquilo que é ou pelas capa-cidades e dons que possui? Está o seu coração convencido de que a rebelião de Satanás e do homem que foi completa loucura, pois a criatura nunca poderá se igualar ao Criador? Entende que isto é uma estupidez, tanto por ser uma idéia perversa que desconsidera a grandeza do Criador como por ser uma impossibilidade?

Se você está consciente de todas estas coisas, então junte-se a mim para olharmos aquela que hoje eu conside-ro a mais maravilhosa demonstração da perfeita santidade de Deus: a Encarnação do Verbo.

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Uma maravilha inexplicável

Toda vez que vou falar disto sinto-me um pouco frustrado. Nunca senti ter conseguido colocar em palavras o que vejo e o que sinto. Creio simplesmente que não há palavras. Penso também que nem mesmo no céu poderemos compreender completamente. Como poderíamos? Deus, Criador, se fez homem, criatura! É isso mesmo! O criador desceu ao lugar da criatura! Mas a diferença entre um e outro não era infinita? Como isso poderia ser possível? Não sei. E nunca vou saber. Eu nunca fui Deus. Sempre fui uma criatura. Nunca tive toda sabedoria, nunca criei o mundo e seres incontáveis, nunca fui o possuidor de toda a glória e dignidade. Como vou saber o significado desta viagem infinita, deste esvaziamento, inconcebível? Só Jesus sabe. Foi ele quem fez esta viagem.

Não tenho a mínima condição de explicar esta maravilhosa encarnação, mas desde o dia em que esta verdade saltou aos meus olhos de forma tão clara e surpreende, não há nada que me constranja o coração mais do que isto. Não posso entender, mas posso me maravilhar – como é bom! Não posso captar, porém posso adorar – e sinto que encontrei meu lugar. Não posso explicar, contudo levo dentro de mim uma forte vontade de proclamar, bradar e até gritar – e sinto que estou fazendo o melhor que uma criatura pode fazer. Há uma outra coisa que eu devo fazer, mas disto falarei mais adiante.

Junte-se a mim para olharmos aquela

Que hoje eu considero a mais maravilhosa

Demonstração da perfeição da santidade de Deus:

A encarnação do Verbo.

Certa vez estávamos em uma reunião com os líderes da igreja. Era um momento de muita oração e louvores. Havia uma doce presença do Espírito entre nós. Eu estava envolvido por aquela atmosfera, quando em dado momen-to abri meus olhos e Eduardo, um dos amados companheiros de ministério, estava ajoelhado ao meu lado. Olhei mais atentamente e vi que ele chorava muito sobre a sua bíblia aberta. Então pensei: “certamente a uma benção aí. Quem sabe não poderia haver algo para mim também?”. E havia. Eu me inclinei e perguntei ao irmão o que Deus lhe estava falando. Eduardo então apontou enfaticamente para o texto aberto diante dele – Lc 22.41 – e entre lágrimas me disse: “Olha aqui. Jesus de joelhos! Deus não deve se ajoelhar e pedir! Deus deve mandar e ordenar, mas Jesus está ajoe-lhado e pedindo!”. E seguiu chorando e adorando enquanto me levantava. Ele estava maraviajoe-lhado. Eu estou maravi-lhado. Você também não está?

Ó Belém, cidade amada, Tão pequena e singela. A ti desceu o meu Rei. Não és porventura a mais bela?

Reis nasceram na Pérsia. O no Egito Faraós. Mas eu teu seio Belém querida,

Um menino, minha vida. Quisera eu ser poeta, Expor em palavras meu coração.

Mas juntos, todos os versos Insuficientes serão. Belém Efrata preciosa, Rainha de todas cidades. Em ti nasceu a beleza do universo.

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A SI MESMO SE ESVAZIOU MARCOS MORAES

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Um impressionante contraste

Pensemos nisto. Vejamos alguns contrates.

 A criatura, limitada e necessitada quis ser grandiosa como o Deus Criador. O bendito Verbo de Deus, o próprio Criador de todas as coisas se dispôs a tornar-se para todo o sempre uma criatura. Ele encarnou na pes-soa de Jesus e vai ser Deus-Homem Jesus por toda a eternidade, e isso em nada o constrange, pois ele se ale-grava em referir-se constantemente a si mesmo como “o Filho do homem”. E na hora mesma da encarnação ele disse: “Sacrifício e oferta não quiseste, antes corpo me formaste... eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua

vontade” (Hb 10.5-7). Foi um esvaziamento infinito!

 A criatura considerou a submissão e obediência ao Criador como coisa injusta e enfadonha e quis inde-pendência e governo. O Deus sempiterno que tem o direito de governar sobre tudo, dispôs-se a ser uma sim-ples criatura e como tal veio para obedecer, obedecer e obedecer, e nisto também se gloriava “A minha

comi-da consiste em fazer a vontade comi-daquele que me enviou, e realizar a sua obra” (Jo 4.34); e também: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8.29); e na hora de maior angústia: “Não seja como eu quero e sim como tu queres” (Mt 26.39); e “Faça-se a tua vontade” (Mt 26.42); “Não procuro a minha própria vontade, e, sim, daquele que me enviou” (Jo 5.30); e mais: “Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade, e, sim, a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38); Não se cansava de repetir: “Assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou” (Jo 14.31). Foi um esvaziamento

práti-co!

 A criatura necessitada e dependente quis bastar-se a si mesma. O dono de todos os recursos e fonte de to-do bem, alegrou-se em ser uma criatura que de si mesma nada podia fazer e em tuto-do e para tuto-do dependia to-do Pai. Ele dizia: “Eu nada posso fazer de mim mesmo” (Jo 5.30); e “As palavras que eu vos digo não as digo

por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, faz suas obras” (Jo 14.10). Lembremo-nos de que Jesus,

na terra, estava destituído de sua glória anterior (Jo 17.5). Após a sua ressurreição e exaltação passou a ser homem plenamente Deus de que Paulo fala em Cl 2.9, mas antes não. Por isso, ele necessitou da unção e ori-entação do Espírito Santo para fazer a obra do Pai como qualquer um de nós necessita (Mt 3.16). Foi um

es-vaziamento completo!

 A criatura nada fez e nada criou. Tudo o que tinha havia recebido. Mesmo assim, quis ter o reconhecimen-to, a honra e a glória. Enquanto que o Deus de toda glória e digno de todo reconhecimento e louvor, tornou-se uma criatura e deu sempre toda a glória reconhecimento e louvor ao Pai. “O Pai é maior do que eu” (Jo 14.28). Jesus nunca procurou glória e reconhecimento. Fazia milagres tremendos, mas proibia que fossem di-vulgados (Lc 8.56). Não buscou a glória de nascimento (Jo 1.46), nem de cultura (Jo 7.15), nem de posses (Mt 8.20) ou de aparência agradável (Is 53.2). Veio disposto a ser “desprezado e o mais rejeitado entre os homens” Foi um esvaziamento com plena humilhação.

 A criatura, gerada para servir, quer ser o centro das atenções e quer que todos ao seu redor a sirvam. Aquele que é o Senhor, tornou-se servo para sempre. Viveu hoje para interceder por nós (Hb 7.25; Rm 8.34). E o mais incrível: depois de tudo, lá no céu, há de cingir-se, dar-nos lugar à mesa e, aproximando-se nos ser-virá (Lc 12.37). Seu esvaziamento não foi apenas em relação a Deus, mas em relação ao homem, e isso, para todo o sempre! Foi um esvaziamento eterno.

Jesus, a alegria da terra.

Dizem que o conhecido compositor Johan Sebastian Bach foi um genuíno cristão. Não pesquisei sua biografia para confirmar isto, mas creio que deva ter sido mesmo, pois tinha o coração voltado para compor músicas em home-nagem ao Senhor. Uma de suas mais conhecidas composições é “Jesus, a alegria dos homens”. Estamos acostumados a ouvi-la em toda parte principalmente em casamentos.

Um dia ao meditar neste título tão original, pensei no quanto ele é verdadeiro. Nesta terra tão aflita, e cheia de perversidades, sofrimento, angústia e desesperança provocadas pelo pecado e maldade dos homens. Neste mundo de alegrias vãs e passageiras, ilusões, mentiras e esperanças que insistem em desvanecer. Neste lugar tenebroso e vil há uma única alegria que não perece e que satisfaz plenamente. Ela tem um nome precioso que é Jesus.

Referências

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