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Justificativa e Metodologia

No documento marciamathiasdemiranda (páginas 101-106)

3 A TRAJETÓRIA DO TRABALHO DE PESQUISA: PROJETO E

3.3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

3.3.2 Justificativa e Metodologia

A realidade de campo e a impossibilidade de dar continuidade à pesquisa, tal como foi inicialmente proposta, revelou-nos nosso primeiro dado de análise: uma lacuna na implementação política e, até que chegássemos a ela, muitos questionamentos foram se colocando. Não tínhamos uma pesquisa empírica que confirmasse o Brasil ou, mais especificamente, Minas Gerais, como um “estado punitivo”; assim, tínhamos como hipótese que a condição punitiva brasileira denunciada pelos dados de aprisionamento do DEPEN relacionava-se aos dados em termos absolutos. Em termos relativos, alguns estados brasileiros correpondiam a esse status e outros não. Minas Gerais, com o destaque nos investimentos preventivos, confirmava que a condição punitiva brasileira não o incluía enquanto um “estado punitivo”, afinal, conforme consta no planejamento, investimentos punitivos concorrem com investimentos de prevenção. Não tínhamos a dimensão (empírica), no início da pesquisa, da condição punitiva do estado de Minas Gerais. O primeiro pensamento sobre o local onde estavam os criminosos foi no Centro de Remanejamento, que sofre, atualmente, com a superlotação. E, logo, seguiu-se o questionamento: a crítica a esse quadro cabe aos juízes, ao investimento político ou à cultura punitiva que produz aos dois? O campo institucional determina a política ou cabe à política (enquanto a única esfera possível) intervir no campo institucional por meio de uma condição especializada e estratégica (como convém à implementação)? Achamos, inicialmente, que a família seria um instrumento importante para compreendermos o processo de reabilitação de indivíduos condenados ao cumprimento de pena em liberdade e, diante da realidade de campo, que, inclusive, remeteu-nos à realidade das famílias, questionamos: afinal, o que, de fato, reabilita?

As hipóteses, já descritas nesta tese, nortearam nossa busca em campo. Voltamos nossas análises (com os objetivos também já descritos) para as ações do Estado no campo da execução penal, mais especificamente, na implantação da

estratégia que responde pela reabilitação do criminoso, considerando que a ausência de técnicas adequadas é tão passível de análise e discussão em uma pesquisa quanto a técnica que se encontra em evidência.

a) Metodologia

A metodologia utilizada neste estudo divide-se em duas etapas:

1. A primeira etapa envolveu uma análise de documentos tornados públicos (que descrevem os programas e seus objetivos na área da Segurança Pública), bem como um levantamento do que se encontra em termos de investimento político nas esferas criminal e na execução penal, em implantação na cidade de Juiz de Fora.

Esta etapa, que partiu de dados disponibilizados publicamente via sites oficiais, teve como objetivo conhecer o quadro de investimento e planejamento político, por meio da definição das propostas.

2. A segunda etapa contou com a análise do processo institucional presente na política criminal no Brasil e com a investigação do processo de implementação dos programas.

Essa etapa contou com entrevistas semiestruturadas com a rede de atores envolvidos na execução penal, entre eles burocratas e atores não governamentais. Essa fase favoreceu a investigação da implementação das políticas em sua dimensão operacional e institucional.

Paralelamente à execução das etapas desta pesquisa, realizamos uma busca à produção de estudos científicos sobre os investimentos na política criminal e discussões acerca das técnicas de execução penal, bem como o posicionamento político do país nesse campo de atuação. Contextualizar esta investigação com o que se encontra no Brasil não só enriqueceu o processo de análise, como também nos possibilitou a compreensão do quadro político e social mineiro, uma vez que a análise dos processos institucionais compõe um dos objetivos deste estudo.

b) Público entrevistado

Na readaptação de nosso projeto, os criminosos não mais compuseram o grupo de atores entrevistados – no caso das Políticas Públicas Criminais, os policytakers (destinatários) não participam de nenhum momento do ciclo das políticas, pois eles, sequer, votam. As entrevistas, portanto, incluíram atores que

nos permitiram investigar alguns de nossos questionamentos: como a temática da reabilitação está representada na ação social e política? Como se dá a implementação das Políticas Públicas nessa esfera de atuação?

A esfera política dialoga com a esfera cultural e social inevitavelmente, resta saber, portanto, como os atores se colocam nesse campo, contribuindo para a nossa análise, também, sobre o impacto das instituições na Política Pública voltada para o controle do crime. O estado de Minas Gerais construiu uma rede integrada de ações ou programas isolados? Isso foi acompanhado de avaliação e de alternativas adequadas à realidade factual? Há articulação entre os atores que se envolvem com o campo da Segurança Pública e outras secretarias? Como é a interação dos atores envolvidos na execução dessa política criminal? O estado de Minas Gerais fez mudanças institucionais necessárias à reabilitação do criminoso? Quais mudanças seriam necessárias para o sucesso de um programa de penas alternativas? E, principalmente, quais mudanças e propostas podem impactar o campo da reabilitação do criminoso? Essas e outras perguntas (anexo A) compuseram a parte estruturada do questionário aplicado nas entrevistas.

Os atores entrevistados foram os burocratas (profissionais do programa CEAPA, profissionais da Vara de Execuções Criminais, profissionais do sistema prisional) e entidades não governamentais atuantes na execução penal (rede social parceira da CEAPA e integrantes da Mesa Diretora do Conselho da Comunidade na Execução Penal).

Os entrevistados foram selecionados por comporem a rede de atores da execução penal, favorecendo, portanto, uma pesquisa da implementação dessa estratégia e a análise do investimento e da realidade empírica das penas alternativas, das práticas punitivas e do investimento na reabilitação do criminoso no estado de Minas Gerais. Tais entrevistas favoreceram não só a investigação das ações políticas existentes, como também a identificação dos valores culturais e a presença do campo institucional nas políticas criminais. Da mesma forma, permitiu- nos identificar as lacunas existentes entre as etapas do planejamento e da implementação no ciclo da política, que revelam a realidade empírica da política criminal em Juiz de Fora.

A equipe do programa CEAPA (programa de penas alternativas, responsável pelo acompanhamento da prestação de serviço à comunidade) fez parte do público selecionado para as etrevistas desde o projeto inicial. Também faz

parte desse grupo a rede social parceira. No programa CEAPA, entrevistamos todos os profisisonais (dois psicólogos e uma assistente social), com exceção de apenas uma nova funcionária (advogada) contratada na semana das entrevistas. A gestora do Centro de Prevenção também foi entrevistada. Tomamos as entrevistas da CEAPA e da rede parceira importantes para conhecermos a realidade da execução da pena com o indivíduo em liberdade.

Na rede parceira, estabelecemos como critério para a seleção das entrevistas o de ter em cumprimento de pena ao menos um indivíduo e há mais de 6 (seis) meses. A escolha, como eram muitas instituições, foi aleatória e realizada por sorteio.

A Vara de Execuções Criminais foi selecionada por ser o órgão do estado de Minas Gerais responsável pelo acompanhamento e pela fiscalização da execução penal, podendo, assim, ter conhecimento das lacunas e das ilegalidades cometidas pelo próprio Estado que nos interessa pesquisar. Foram entrevistados o Juiz da Vara, a Promotora e duas defensoras.

Da mesma forma, o Conselho da Comunidade da Execução Penal foi selecionado – este é o órgão da sociedade civil criado para acompanhamento e fiscalização da execução penal, podendo, assim como a Vara, fornecer informações sobre a realidade da política criminal que nosso foco de estudo priviliegiou enquanto objeto de pesquisa.

Desse modo, do sistema prisional, selecionamos todas as três unidades da região: o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (CERESP), a Penitenciária Professor Arioswaldo Campos Pires e a Penitenciária José Edson Cavalieri. Todas as unidades foram selecionadas para as entrevistas por serem consideradas inevitáveis a nossa proposta, pois, nas Unidades Prisionais, encontravam-se os indivíduos envolvidos com o crime de furto. Tornou-se essencial conhecer como as unidades conduzem o processo de reabilitação desses indivíduos (afinal, na prática, é esta a opção que Minas Gerais lhes oferece). Para tal, em cada Unidade pesquisada, foram entrevistados o Diretor Geral da Unidade, o Diretor de Ressocialização e dois integrantes da equipe Comissão Técnica de Classificação (CTC), responsável pela condução dos internos aos programas de ressocialização – em todas as Unidades, foram selecionados um assistente social e um psicólogo.

As entrevistas foram realizadas mediante autorização formal dos entrevistados, com a coleta dos dados devidamente registrada em gravador, e em acordo o Código de Ética relativo à atividade de pesquisa.

As entrevistas realizadas foram gravadas e, ao final, diante da observação da pesquisadora de constrangimentos dos entrevistados diante do gravador, a entrevista continuava, sem o gravador e, a partir de tal entrevista, conduzida como um “bate-papo”, também eram feitos registros dos quais, assim como o material de entrevista gravado, muitas informações tornaram-se extremamente relevantes para a pesquisa. Todo o relato das entrevistas que geraram os dados para nossas análises foi feito no decorrer desta tese, preservando os entrevistados de qualquer exposição pública indevida; assim, estaremos nos valendo de nomes fictícios para nos referirmos aos entrevistados. Eles não serão identificados nem pelo nome, nem pela profissão, com exceção daqueles que nos autorizaram a identificá-los.

Vale assinalar que esta pesquisa não teve como proposta uma avaliação de Política Pública ou de estudo de caso.

c) Procedimentos

A segunda etapa, que se valeu de dados qualitativos, buscou analisar o conteúdo específico de itens expostos no planejamento da política e a ação política. Essa etapa conta com uma discussão da participação do governo federal, estadual e dos municípios nas políticas criminais. Iniciamos a investigação dos fatores que se relacionam à realidade das políticas criminais em Minas Gerais.

A coleta dos dados qualitativos foi realizada nos meses de fevereiro, março e abril do ano de 2013.

d) Instrumentos

 Levantamento documental, por meio de análises de dados públicos (via sites oficiais) sobre os investimentos do estado de Minas Gerais em políticas criminais e ações desse estado na execução penal.

 Foi feita uma análise descritiva das falas a partir de entrevistas semiestruturadas, cujo roteiro consta no apêndice desta tese.

 Esta pesquisa também se valeu, no decorrer de seu processo de análise, de pesquisa exploratória. Tais informações foram registradas em papel, e todos os entrevistados foram informados de que as

informações poderiam ser utilizadas nas pesquisas e de que seus nomes e identidade, assim como os outros entrevistados, seriam preservados da exposição pública.

As entrevistas contaram com um roteiro fixo, que incluiu um roteiro geral e um roteiro específico, direcionando o trabalho de campo. Todas as perguntas previstas no roteiro foram feitas, embora em algumas entrevistas a pesquisadora tenha refeito a mesma pergunta, mudando as palavras usadas na primeira tentativa, buscando tornar clara a pergunta para o entrevistado.

O questionário se organizou a partir de três eixos temáticos: a) a compreensão da implementação da política; b) a compreensão do perfil do usuário incluído no programa PSC (prestação de serviço à comunidade) por crime de furto, ou dos ingressos no sistema prisional e público atendido pela Vara de Execuções Criminais e Conselho da Comunidade na Execução Penal; c) as representações acerca da ressocialização.

Também foi usado o computador para pesquisa na Internet, a folha de entrevista, um gravador e uma folha de anotações, contendo as informações relevantes dos entrevistados. Os dados coletados foram registrados em computador, em um arquivo pessoal reservado à pesquisa.

3.4 O PERCURSO QUE CONDUZIU À CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE

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