• Nenhum resultado encontrado

3.2 ENGAJAMENTO CÍVICO E PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

3.2.4 Juventude e novas mídias

O aparecimento de novas mídias transforma, para o bem e para o mal, a natureza da comunicação de uma época em questões cívicas gerais e de significância política. O uso do rádio e da televisão em diversos contextos, como o de debates político-eleitorais, é um exemplo. As mídias em ascendência neste início de século, como sites de redes sociais, blogs, videogames e telefones celulares, estão promovendo uma nova transformação, como explicam Kahne, Middaugh e Allen (2012):

New technology and associated practices, facilitate networked, many-to-many, and mobile communications. Online networks support both structured interactions among people and more open-ended participation in a range of activities. Traditional barriers to cultural production and circulation are now much lower. These technologies and practices have a profound impact on all aspects of our lives – from work to play, from shopping to socializing, from romance to research. We see new media playing a pivotal role throughout the world, in developing as well as postindustrial societies, in democracies and in more autocratic regimes. (KAHNE; MIDDAUGH; ALLEN, 2012, p. 1)

As mídias sociais, como Twitter e MySpace, e as plataformas que facilitam a interação, como sites com possibilidade de comentários, tornaram-se canais de informação política e a principal arena pública de expressão, troca de ideias políticas e mobilização para os cidadãos. Ao oferecer ferramentas para essas ações, as novas mídias criam novas

possibilidades para o engajamento cívico e a política participativa. O aumento da audiência de blogs, o uso de sites como o YouTube por políticos, a arrecadação instantânea de recursos em épocas de tragédias e a influência política entre amigos no Facebook, comprovada em estudos sobre as eleições americanas de 2010, são exemplos desse novo contexto. Para Kahne, Middaugh e Allen (2012), junto com as mudanças culturais geradas pelo crescente uso dessas novas mídias na vida pública, mudanças nas expectativas e práticas políticas também podem estar ocorrendo.

Cohen e Kahne (2012) afirmam que limitadas oportunidades e poucos dados disponíveis dificultam uma exploração compreensiva da relação entre novas mídias e a política dos jovens, mesmo nos Estados Unidos, aonde a Fundação McArthur e o Pew Internet and American Life Project conduzem pesquisas frequentes na área. Todavia, os autores acreditam que mudanças importantes estão ocorrendo nas expectativas e práticas políticas, especialmente, entre os jovens. Os dados que eles coletaram em uma pesquisa quantitativa nacional com jovens americanos indicam que a juventude está tirando vantagem da expansão das práticas participativas na realidade política de forma a amplificar sua voz e até sua influência, incrementando as formas pelas quais os jovens participam da vida política.

A pesquisa conduzida por Cohen e Kahne (2012) identificou que quase 100% dos jovens americanos, independente da raça ou da etnia, têm acesso a um computador com internet e o utiliza regularmente para diversos fins, e quase a metade deles engajou em pelo menos um ato de política participativa. Atividades online de interesse do jovem são o fundamento para o engajamento em políticas participativas, e as novas mídias tem o potencial de facilitar uma distribuição equitativa da participação política entre os jovens de diferentes origens. Além disso, muitos jovens buscam notícias em seus canais de participação e acreditam que seria bom aprender como julgar a credibilidade das informações que eles encontram online.

Quando consideradas as práticas da política participativa, focar na juventude é uma escolha estratégica. Os jovens são os primeiros a adotar as novidades tecnológicas e as usam massivamente. Além disso, estão geralmente envolvidos em atividades de cultura participativa online e são os primeiros a aplicar suas expectativas e práticas na realidade política. As pesquisas indicam que eles também usam muito as novas mídias para temas cívicos e políticos. “[…] focusing on youth practices provides a logical place from which to assess the civic and political significance of new media and the nature of future engagement in this fast changing domain.” (KAHNE; MIDDAUGH; ALLEN, 2012, p. 8)

Além do mais, há um contraste intrigante sobre a juventude, destacam os autores. Quando são considerados os padrões tradicionais, os níveis de comprometimento, capacidade e atividade cívicos e políticos dos jovens são baixos e declinantes em todos os grupos demográficos, como vimos anteriormente. Ao mesmo tempo, eles são altamente engajados com as novas mídias, que são envolventes e alinhadas com formas de vida cívica e política. Isso quer dizer que eles estão investindo e inovando em novas formas de participação, as online, as quais facilitam sua participação nas atividades políticas tradicionais, mas são diferentes das concebidas pelas gerações anteriores.

Os autores citam ainda os resultados da pesquisa que aprofundam as perguntas sobre o papel das novas mídias e da política participativa no engajamento político da juventude: políticas participativas são uma dimensão importante da política; há elos entre cultura participativa e política participativa; a política participativa é equitativamente distribuída entre os grupos raciais e étnicos, mas desigualmente distribuída por níveis de educação; e muitos jovens buscam notícias por canais participativos e acreditam que se beneficiariam se aprendessem como julgar a credibilidade das informações. Kahne, Middaugh e Allen (2012) defendem o estímulo dos jovens:

We have some reason to believe that these practices are a significant aspect of youth political participation and that they are enacted relatively equitably. However, pressing questions remain about whether these practices will result in more widespread political participation. Lessons from history suggest that this may be a critical moment to pay attention to and maximize the potential of participatory politics. (KAHNE; MIDDAUGH; ALLEN, 2012, p. 18)

Outros dados indicam a disposição dos jovens. Bennett, Wells e Freelon (2011) salientam que a vasta maioria da juventude americana está online. Mesmo que a maioria deles use a internet para entretenimento, a metade dos jovens entre 18 e 29 anos declarou que a usou para buscar informações políticas durante a campanha presidencial de 2008. Eles também se mostraram mais dispostos a assistir vídeos políticos pela internet, a usar as redes sociais e fóruns online para expressar suas opiniões políticas. Enquanto, alguns dados indicam que, no cotidiano, os indivíduos de faixas etárias mais jovens buscam menos notícias políticas do que os que estão acima dos 30 anos, por exemplo, outros dados mostram que eles estão usando novas formas de conectarem-se politicamente.